Água e Sal
Água e Sal é um filme luso-italiano[2] de 2001 do género drama, realizado e escrito por Teresa Villaverde e produzido por Paulo Branco.[3][4] A longa-metragem de ficção é protagonizada por Galatea Ranzi, no papel de Ana, uma mulher cuja concentração parece ameaçada durante as suas deambulações diárias pela aldeia junto ao mar, os seus habitantes, visitantes, e pela praia.[5] Água e Sal estreou a 31 de agosto de 2001 no Festival Internacional de Cinema de Veneza, onde foi contemplado com uma menção honrosa no Prémio Elvira Notari.[6] Comercialmente, Água e Sal foi lançado nos cinemas de Portugal a 15 de fevereiro, e em Itália, a 6 de dezembro de 2002.[7]
Água e Sal | |
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Acqua e Sale | |
Portugal · Itália[1] 2001 • cor • 117 min | |
Género | drama |
Realização | Teresa Villaverde |
Produção | Paulo Branco |
Argumento | Teresa Villaverde |
Elenco | Galatea Ranzi Joaquim de Almeida Alexandre Pinto Maria de Medeiros |
Música | Chico Buarque de Hollanda |
Diretor de fotografia | Emmanuel Machuel |
Edição | Andrée Davanture |
Distribuição |
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Lançamento |
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Idioma | português, italiano |
Sinopse
editarAna vive numa pequena aldeia junto ao mar, com o marido e a filha. Esta mulher está presa a um casamento deteriorado. O marido parte por uns dias para Milão, levando a filha consigo.[5] Ana fica e tenta concentrar-se para terminar um projeto que há muito começou. Porém, em vez de a ajudarem a atingir o seu objetivo, as suas deambulações diárias pela aldeia e pela praia ameaçam a sua concentração.[8]
Ana salva um desconhecido da morte no mar, conhece Alexandre, fica a par dos problemas pessoais de Emília e recebe a visita da sua amiga Vera. Neste momento, tudo muda na sua vida. O desconhecido que salvou não esconde o seu interesse romântico em Ana. O seu amante surge para uma visita que se inicia tão rápido quanto termina. O marido de Ana retém a filha em Itália.[9]
Elenco
editar- Galatea Ranzi, como Ana (voz dobrada por Carla Bolito).[10]
- Joaquim de Almeida, como Marido.
- Alexandre Pinto, como Alexandre.
- Miguel Borges, como Desconhecido.
- Lúcia Sigalho, como Senhora.
- Maria de Medeiros, como Vera.
- Chico Buarque de Hollanda, como Amante.[11]
- Clara Jost, como Filha de Ana.
- Joel Miranda, como Rapazito.
- Ana Moreira, como Emília.
- Lula Pena, como Senhora #2.
Produção
editarÁgua e Sal é uma co-produção europeia entre Portugal e Itália, liderada pela produtora Madragoa Filmes (produção executiva de Paulo Branco), com a Titti Films e Rádio e Televisão Portuguesa, com o apoio financeiro do Instituto Português do Cinema, Audiovisual e Multimédia, Eurimages e Tele+.[11] A longa-metragem de 117 minutos de duração, foi gravada num formato 35 mm – dolby SR. O filme é dedicado a Clara Jost, filha de Teresa Villaverde, com a frase: «Que um dia há-de perceber as coisas que se podem perceber».[12]
Desenvolvimento
editarTeresa Villaverde escreveu o argumento de Água e Sal na Primavera de 2000, enquanto habitava em Trastevere (Roma).[13] Atribuiu ao mesmo um tom intimista e autobiográfico, tendo admitido "que este filme foi o que mais precisei de fazer, pessoalmente".[14]
Casting
editarIntegram o elenco colaboradores frequentes de Villaverde, como Alexandre Pinto, Maria de Medeiros e Ana Moreira.[10] A atriz Galatea Ranzi, terá sido escolhida para interpretar Ana, em parte, por ser fisicamente muito parecida com Teresa Villaverde, tendo depois sido caracterizada para acentuar as semelhanças.[13] A filha da realizadora, Clara Jost, interpreta também o papel de filha da protagonista. Admiradora confessa de Chico Buarque, a realizadora tentou convencer o artista a participar no filme até ser bem-sucedida. "Primeiro mandei-lhe um argumento. (...) Leu, e, pelo que me disseram — porque nunca falei com o Chico —, gostou muito. Mas disse que não, que não podia. Estava quase a começar a filmar quando recebi uma mensagem da pessoa intermediária (de Buarque) que me dava a entender que devia insistir."
Rodagem
editarÁgua e Sal foi filmado no Verão, até o mês de outubro de 2000 em Cabanas, freguesia de Tavira (Algarve), um lugar ao qual estava familiarizada, uma vez que a família de Villaverde tinha aí um apartamento de férias.[15] A sequência com o amante de Ana, interpretado por Chico Buarque, foi rodada em duas noites e sem anunciar a presença do artista no local. Segundo Villaverde, Buarque "chegava, ia-se embora e ninguém o chateava. Eu dizia-lhe: «Filma só uma noite». Ele dizia: «Tem de ser duas, porque se fizer tudo mal na primeira, quero poder repetir na segunda»". Lúcia Sigalho admitiu ter sentido dificuldades durante a rodagem na adaptação de um registo de teatro à técnica de interpretação em cinema: "Acho que estraguei o filme todo à Teresa Vilaverde, se ela não fosse tão boa realizadora, aquilo tinha sido uma tragédia".[16]
Temas e estética
editarEsta é uma obra de texturas e de luzes: do mar, de ruas ao mesmo tempo vibrantes e austeras, de noites espetrais e céus azuis.[15] De facto, esteticamente, o filme é dominado pelo mar e a sua energia em contraste com os sentimentos das personagens.[17] Neste aspeto, os espaços evocados em Água e Sal ecoam À Flor do Mar, filme de João César Monteiro no qual Teresa Villaverde integrou o elenco.[18]
Há algumas referências à cultura brasileira no filme, sendo a mais proeminente, a arte de Chico Buarque, que interpreta um personagem e tem a sua canção O que Será que Será incluída na banda sonora.[19] Villaverde assume que "o meu trabalho é mais influenciado pelo Chico que pela obra de qualquer cineasta".[12]
Na sua nota de intenções, Teresa Villaverde, escreve: "Este filme é sobre alguém que precisou que o tempo parasse. A poesia sabe fazer parar o tempo, o cinema tenta".[9] Expandindo esta ideia, a realizadora admitiu que pretendia fazer um filme que levasse os espetadores a interrogar-se sobre o seu próprio tempo e como o usam, mas acima de tudo, questionar-se acerca da necessidade de mudar de rumo.[20] Este tem sido apontado como o filme mais autobiográfico da carreira da realizadora. Comparando consigo, Villaverde descreveu a protagonista, Ana, enquanto alguém que "queria que o tempo parasse para que pudesse respirar e inventar outro tempo, outra coisa onde se sentisse melhor. Em relação a mim, são coisas distintas. Se fiz este filme foi porque precisei de o fazer."[20]
Distribuição
editarLançamento
editarÁgua e Sal foi selecionado para edição de 2001 do Festival Internacional de Cinema de Veneza, onde estreou na secção Cinema del Presente a 31 de agosto.[21] Em Portugal, a ante-estreia do filme decorreu a 7 de fevereiro de 2002, no Cinema King (Lisboa). A distribuição comercial do filme em Portugal, pela Atalanta Filmes, iniciou-se a 15 de fevereiro do mesmo ano, onde estreou nos cinemas King e Monumental-Saldanha (Lisboa). A mesma distribuidora viria a editar Água e Sal em VHS.[22] Em França, a longa-metragem foi distribuída a partir de 8 de maio de 2002, pela Gémini Filmes, e em Itália, a partir de 6 de dezembro de 2002, pelo Gruppo Pasquino.[7]
Retrospetivas
editarApós as suas estreias, o filme foi consecutivamente incluido em sessões de retrospetiva da filmografia de Teresa Villaverde, em Festivais internacionais de cinema de entre os quais se destacam os seguintes:
Receção
editarAudiência
editarEm Portugal, Água e Sal teve 3 600 espetadores nos cinemas.[27] Nos cinemas franceses totalizou em sala 555 espetadores e, em Itália, 392.[28]
Crítica
editarAquando a sua apresentação no Festival Internacional de Cinema de Veneza, Água e Sal foi contemplado com uma menção honrosa no Prémio Elvira Notari.[6]
Esta obra é geralmente menos referida, quando não considerada "menor" na filmografia de Villaverde.[17] Os cinéfilos do Público escreveram críticas negativas do filme. Kathleen Gomes destaca a dificuldade da realizadora em fazer o que o filme pretendia, parar: "Há uma mulher (Ana) em processo de recomposição, à procura do que nem ela sabe definir. Mas, se o filme tratará de lhe responder - anda à procura de uma libertação -, tudo o resto permanecerá em falta, com personagens que nem chegam a existir."[29] Mário Jorge Torres, em concordância, comenta como "Alexandre Pinto e Ana Moreira, vindos de Os Mutantes, anterior (e mais sólida) aventura fílmica de Teresa Villaverde, aparecem também como sombras desamparadas de desejo incumprido de personagens, arrastam a sua impotência, ao sabor de um olhar intenso e fatalista."[18] Luís Miguel Oliveira também compara negativamente com a anterior longa-metragem de Villaverde: "Percebe-se que é, em boa parte, um filme cifrado, e o problema talvez venha daí. Não pela cifra, mas pela necessidade, que Teresa Villaverde terá sentido, de preencher o filme com algumas âncoras narrativas para que ele não se resumisse à cifra - ou seja, para que não fosse incompreensível para o comum dos espetadores".[30]
Internacionalmente, semelhantes reparos foram apontados ao filme. Emiliano Morreale (FILMTV) elogia a entrega de Galatea Ranzi, mas considera que "o problema é que, quando a relação entre a mulher e a paisagem é substituída por breves encontros com as personagens, o filme torna-se esquemático e mostra uma ausência imperdoável de curiosidade".[31]
Ver também
editarReferências
- ↑ «Water and Salt» (em inglês). Consultado em 10 de abril de 2023
- ↑ LEFFEST. «Water and salt / Films // LEFFEST'23 - Lisboa Film Festival - 10 to 19 November 2023». LEFFEST'23 - Lisboa Film Festival - 10 to 19 November 2023 (em inglês). Consultado em 10 de abril de 2023
- ↑ «Visão | Teresa Villaverde: "Os afetos não se alteram por ordem governamental"». Visão. 19 de março de 2018. Consultado em 20 de janeiro de 2021
- ↑ «Teresa Villaverde». APR - Associação Portuguesa de Realizadores. Consultado em 20 de janeiro de 2021
- ↑ a b Portugal, Rádio e Televisão de. «ÁGUA E SAL - Filmes - Drama - RTP». www.rtp.pt. Consultado em 20 de janeiro de 2021
- ↑ a b «Leão de Ouro de Veneza entregue a cineasta indiana». PÚBLICO. Consultado em 20 de janeiro de 2021
- ↑ a b SAPO. «Água e Sal - SAPO Mag». Consultado em 20 de janeiro de 2021
- ↑ LEFFEST. «Água e Sal / Filmes // LEFFEST'21 - Lisbon & Sintra Film Festival - 11 a 20 de Novembro 2021». LEFFEST'21 - Lisbon & Sintra Film Festival - 11 a 20 de Novembro 2021. Consultado em 20 de janeiro de 2021
- ↑ a b Público. «Água e Sal». Cinecartaz. Consultado em 20 de janeiro de 2021
- ↑ a b Villaverde, Teresa; Ranzi, Galatea; Almeida, Joaquim de; Pinto, Alexandre; Borges, Miguel; Madragoa Filmes (Firm); Titi Film (Firm); Radiotelevisão Portuguesa; Tele + (Firm) (2001). «Água e sal = Acqua e sale». Medusa Video. OCLC 214278500. Consultado em 20 de janeiro de 2021
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- ↑ Gonçalves, Flávio (31 de agosto de 2011). «O Sétimo Continente: Um naufrágio na confusão do mar algarvio». O Sétimo Continente. Consultado em 20 de janeiro de 2021
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- ↑ Redacção (15 de novembro de 2018). «Todo o cinema de Teresa Villaverde em Serralves». Comunidade Cultura e Arte. Consultado em 20 de janeiro de 2021
- ↑ Nascimento, Frederico Lopes / Marco Oliveira / Guilherme. «Água e Sal». CinePT-Cinema Portugues. Consultado em 20 de janeiro de 2021
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- ↑ «Retrospetiva Teresa Villaverde no Festival de Créteil». Camões, I.P. 29 de março de 2011. Consultado em 20 de janeiro de 2021
- ↑ «Água e Sal [PT]». Olhares do Mediterrâneo. 25 de maio de 2015. Consultado em 20 de janeiro de 2021
- ↑ LEFFEST. «Água e Sal / Filmes // LEFFEST'21 - Lisbon & Sintra Film Festival - 11 a 20 de Novembro 2021». LEFFEST'21 - Lisbon & Sintra Film Festival - 11 a 20 de Novembro 2021. Consultado em 20 de janeiro de 2021
- ↑ «Filmes Produzidos 1990 a 2003 - ICA». webcache.googleusercontent.com. Consultado em 20 de janeiro de 2021
- ↑ «LUMIERE : Film #17201 : Água e sal». lumiere.obs.coe.int. Consultado em 20 de janeiro de 2021
- ↑ Gomes, Kathleen. «Procura de uma libertação». PÚBLICO. Consultado em 20 de janeiro de 2021
- ↑ Oliveira, Luís Miguel. «"Incompreensível" intensidade». PÚBLICO. Consultado em 20 de janeiro de 2021
- ↑ «Água e sal di Teresa Villaverde - la recensione di FilmTv». FilmTv (em italiano). Consultado em 20 de janeiro de 2021
Ligações externas
editar- Água e Sal. no IMDb.