Álvaro de Castelões
Álvaro de Castro Araújo Cardoso Pereira Ferraz (Porto, 1 de abril de 1859 – Porto, 9 de julho de 1953), 3.º Visconde de Castelões[nota 1], mais conhecido nos círculos literários por Álvaro de Castelões[4], foi um poeta, engenheiro, deputado e colonizador português. Natural do Porto, residiu e passou temporadas da sua vida na Quinta que possuía na freguesia de Castelões, concelho de Vila Nova de Famalicão.[3]
Álvaro de Castelões | |
---|---|
![]() Álvaro de Castelões com 81 anos.[1]
| |
Nome completo | Álvaro de Castro Araújo Cardoso Pereira Ferraz |
Conhecido(a) por | Álvaro de Castelões, Visconde de Castelões |
Nascimento | 1 de abril de 1859 Porto |
Morte | 9 de julho de 1953 (94 anos) Porto |
Nacionalidade | Português |
Progenitores | Mãe: D. Maria Emília de Brito e Cunha Pai: António Cardoso Pereira Ferraz, 2.º Visconde de Castelões |
Parentesco | Tio-avô: Flórido Rodrigues Pereira Ferraz |
Cônjuge |
|
Filho(a)(s) |
|
Ocupação | Poeta, engenheiro, deputado e colonizador |
Título | Benemérito da Pátria , recebido em 15 de agosto de 1891 3.º Visconde de Castelões, recebido em 27 de fevereiro de 1905 |
![]() Brasão dos Viscondes de Castelões[2] | |
Assinatura | |
![]() |
Biografia
editarNasceu na cidade do Porto em 1 de abril de 1859, filho de António Cardoso Pereira Ferraz, 2.º Visconde de Castelões, e de D. Margarida Augusta de Meireles, solteira,[6] futura esposa em segundas núpcias.[4]
Pelos dois lados descendia de famílias de arreigadas convicções liberais pois seu avô materno, António Bernardo Brito e Cunha, contador da Fazenda no Porto, fora enforcado em 7 de maio de 1829[7] por fidelidade à Carta Constitucional.[8]
Estudou no liceu do Porto e, pelos dezoito anos, sentou praça no Batalhão de Caçadores n.º 9,[7] corpo para onde eram atraídos todos os que queriam seguir a carreira militar.[9] Contudo, por falta de vocação militar, acabou por desistir e formou-se em engenharia na Escola Politécnica de Lisboa (13.7.1885) e na Escola do Exército (1886),[7] tornando-se um dos maiores especialistas portugueses na construção de caminhos de ferro, tanto na metrópole como no ultramar.[8]
Apaixonado por África seguiu para Moçambique em 1889 com o objetivo de vencer as dificuldades de navegação do rio Chire, para que fossem possíveis as ligações entre Chibissa e Matope. Nessa empresa, foi um zeloso companheiro do major Serpa Pinto que pretendia desbravar as zonas geográficas entre Angola e Moçambique. Tendo recebido o comando de uma coluna militar, ocupou a região da Mupassa para impor a soberania portuguesa, o que deu motivo ao protesto de Inglaterra que ficou conhecido na história como Ultimatum de 1890. Pelo seu comportamento heroico foi-lhe atribuído, em sessão parlamentar de 15 de agosto de 1891, o título de Benemérito da Pátria. Seguiu depois para o Estado da Índia como diretor do caminho de ferro de Mormugão. Regressou antes do fim do século a Lisboa a fim de exercer o cargo de diretor das Obras Públicas do Minho e Douro.[8]
A 27 de fevereiro de 1905, é-lhe concedida mais uma vida, no título de Visconde de Castelões, por decreto de D. Carlos,[10] tornando-se o 3.º Visconde de Castelões.[11] Cultivou também as letras como poeta de rara sensibilidade, publicando os seguintes livros: O Sonho do Infante D. Henrique (1936), O Soneto Neo-Latino (1939), A Amorosa Canção (1944) e Rimas Orientais (1945).[8]
Durante o seu percurso literário destaca-se o período marcante entre 1929 e 1933 em que juntamente com Júlio Brandão fundou e dirigiu a Revista Internacional - O Soneto Neo-Latino (1929), com sede em Vila Nova de Famalicão. Também colaborou nas revistas Nova Alvorada, Ilustração Moderna e na Revista de Portugal, esta sob a direção de Eça de Queirós em 1882, com o artigo A Questão Colonial.[12]
Foi sócio honorário da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto e pertenceu à Sociedade de Geografia de Lisboa.[12][13] Conviveu com João de Deus, Gomes Leal, Marcelino Mesquita, Guerra Junqueiro, António Feijó, Gonçalves Crespo, João Penha, Campos Monteiro, entre outros.[14]
Embora nascido no Porto, cidade onde veio a falecer em 9 de julho de 1953, o 3.º Visconde de Castelões ligou-se por laços de família e dons de espírito a Vila Nova de Famalicão, terra onde publicou os três últimos livros e onde existe uma rua a perpetuar-lhe o nome, como um dos mais distintos colonialistas portugueses dos fins do século XIX.[8]
Vida Pessoal
editarA 12 de janeiro de 1893 casou na Igreja de S. Salvador de Matosinhos, pelas 11 horas e trinta minutos, com Amélia de Miranda.[16] O casamento terminou com o falecimento da esposa, sem descendência. Por essa altura, vivia com Maria da Costa, com quem, em 2 de fevereiro de 1912, teve uma filha, Maria Luísa Pereira Ferraz. Foi batizada na capela de Santo António, em Castelões, a 5 de maio de 1912.[17]
A 6 de fevereiro de 1921, nasceu Álvaro Meireles e Sousa, conhecido como “Alvarinho”, filho de Maria Gomes Ferreira, mulher natural de Mogege, solteira. Foi batizado no dia 5 de maio de 1921, na Capela de Santo António, em Castelões.[17]
A 14 de setembro de 1924 viria a casar com Maria Gomes Ferreira. O casamento realizou-se na Igreja Matriz de S. Torcato, tendo sido celebrado pelo Abade de Castelões, padre Francisco Correia Machado.[18]
No dia 28 de janeiro de 1937, faleceu na Quinta de Castelões, Maria Gomes Ferreira, sua segunda esposa e com a qual teve “Alvarinho”. O Visconde tinha 77 anos. O filho Álvaro, 15, e a filha Maria Luísa, 24 anos.[19]
Em 1939, com 80 anos, apaixonou-se por uma filha do povo, “a moleirinha”, Joana da Silva Freitas, 18 anos. O namoro desenrolou-se durante alguns meses, mas acabou por terminar devido a rumores de que ela “namoriscava com outros rapazes”.[20]
Em 6 de agosto de 1944 falece a sua filha Maria Luísa Pereira Ferraz. Álvaro de Castelões vivia, por essa altura, no Porto.[1]
Nos últimos anos da sua vida, teve a felicidade de poder contar com Maria Margarida Pereira de Azevedo, solteira, filha de uma relação extramatrimonial e que veio a reconhecer como filha já nos últimos anos da sua vida. Foi ela o seu anjo da guarda, dado que ficou numa dependência absoluta devido a ter ficado cego.[21]
O seu filho “Alvarinho”, que viveu uma vida boémia[1], faleceu no dia 5 de novembro de 1953, com apenas 32 anos. Teve um fim triste: nos últimos anos da sua vida, viveu de esmolas, dormindo ao relento, sem nenhuma réstia de amor-próprio. Foi casado e teve um filho que, aos 14 anos, emigrou com a mãe para o Brasil.[22] Este filho vive no Brasil e está casado com uma senhora de nome Suely com quem tem 3 filhos (bisnetos) e pelo menos uma neta (trineta). Nesta família corre a representação genealógica do título de Visconde de Castelões.
Vida Política
editarNa vida política alinhou com o Partido Progressista e foi eleito Deputado pelos círculos uninominais de Vila Nova de Famalicão (1897) e de Leiria (1899). Esta eleição por Leiria foi em último recurso, uma vez que falharam as diligências junto do Cónego Vaz e do Barão de Joane para manter a sua eleição no círculo de Famalicão, acabando por ser sufragado o Senador Santos Viegas.[12][10]
Integrou diversas Comissões Parlamentares, conforme a experiência pessoal e profissional: Ultramar (1898, 1899 e 1900), Marinha (1898), Obras Públicas (1898, 1899, 1900 e 1901), Administração Pública (1898) e Reclamações e Vacaturas (1900). Nas Comissões Parlamentares de Obras Públicas (1898 e 1899) e de Reclamações e Vacaturas (1900) desempenhou o cargo de Secretário.[12][10]
Disputa pela Capela de Santo António
editarPerdeu a pendência pela posse da Capela de Santo António para a Confraria de Santo António.[1]
Morte
editarO Visconde faleceu na Rua do Lindo Vale, no Porto, aos 94 anos. Está sepultado no Cemitério da Lapa, no jazigo da família, no Porto.[23]
Poemas
editarA MAGNÓLIA DE CASTELÕES[24]
Árvore colossal que és hoje o encanto
De quem agasalho busca em minha casa,
Velário monstro, portentosa asa,
Abre sobre ela o teu florido manto.
Que seja ao pé de ti, se peso quanto
Tenho vivido já, que a Deus apraza
Deixar que um dia sossegado jaza
Como em modesto e raso campo-santo.
A mim o horror da morte não me assombra,
E quando houverem termo as minhas dores
Possa eu vir escutar à tua sombra.
O requiem dos alígeros cantores,
Descansando dormindo sob a alfombra
Que tu enches de aromas e flores.[25]
SONETO A MARIA[26][nota 2]
A ti, a estremecida companheira,
Solícita, constante e dedicada,
Que encontrei quando já descia a estrada
Em demanda da praia derradeira;
A ti, que espero ter à cabeceira
Do meu leito na hora atribulada
Em que ao suar a extrema badalada
Se nos liberta a alma prisioneira;
A ti, fanal da minha vida escura,
A quem mais quero quanto mais cotejo
Com outros o oiro da tua alma pura;
Que em tudo mostras o maior desejo
De tornar-me a existência menos dura;
A ti, meu coração e um longo beijo!
(1928)[27]
Obras Publicadas
editarHomenagens
editarPossui pelo menos 13 topónimos com o seu nome:
- Rua Álvaro de Castelões, Porto;[29]
- Travessa Álvaro de Castelões, Porto;[29]
- Rua Álvaro de Castelões, Matosinhos;[30]
- Rua Álvaro de Castelões, Castelões;[31]
- Praceta Álvaro de Castelões, Castelões;[31]
- Rua Álvaro de Castelões, Vila Nova de Famalicão;[31]
- Travessa Álvaro de Castelões, Fão;[32]
- Rua Álvaro de Castelões, Luso, Mealhada, Aveiro;[32]
- Rua Álvaro de Castelões, Figueira Castelo Rodrigo, Guarda;[31]
- Largo Álvaro de Castelões, Grândola, Setúbal;[30]
- Rua Álvaro de Castelões, Setúbal;[30]
- Rua Álvaro de Castelões, Montemor-o-Novo, Évora;[33]
- Rua Álvaro de Castelões, Cuba, Beja.[32]
Ver também
editarNotas
Referências
- ↑ a b c d ARAÚJO 2005, p. 113.
- ↑ Cunha, Manuel José (23 de setembro de 2012). «Portais - Brasões - Aldrabas - Tranquetas - Taramelas - Batentes - Caravelhos - etc...: Brasão da família do Visconde de Castelões - Porto». Portais - Brasões - Aldrabas - Tranquetas - Taramelas - Batentes - Caravelhos - etc... Consultado em 1 de outubro de 2022
- ↑ a b Santos, Carlos. «Quem foi "Álvaro de Castelões"?». cscasteloes.blogs.sapo.pt. Consultado em 1 de outubro de 2022
- ↑ a b ARAÚJO 2005, p. 68.
- ↑ ARAÚJO, José Carlos Mendes (2005). São Tiago de Castelões : apontamentos para a sua história 1.ª ed. Vila Nova de Famalicão: Edições Quasi. p. 96. OCLC 449250492
- ↑ Cunha, Manuel José (23 de setembro de 2012). «Portais - Brasões - Aldrabas - Tranquetas - Taramelas - Batentes - Caravelhos - etc...: Brasão da família do Visconde de Castelões - Porto». Portais - Brasões - Aldrabas - Tranquetas - Taramelas - Batentes - Caravelhos - etc... Consultado em 2 de outubro de 2022
- ↑ a b c MÓNICA 2005, p. 119.
- ↑ a b c d e f g h i «Junta de Freguesia de Castelões». Junta de Freguesia de Castelões. Consultado em 1 de outubro de 2022
- ↑ ARAÚJO 2005, p. 68-69.
- ↑ a b c MÓNICA 2005, p. 120.
- ↑ ARAÚJO 2005, p. 96.
- ↑ a b c d «"Quem Foi Quem na Toponímia do Município de Figueira de Castelo Rodrigo"». Ruas com história. 16 de dezembro de 2021. Consultado em 2 de outubro de 2022
- ↑ Futuro, Sistemas do. «Famalicão ID». famalicaoid. Consultado em 2 de outubro de 2022
- ↑ Paranhos, Junta de Freguesia de. «Personalidades Paranhenses». Junta de Freguesia de Paranhos. Consultado em 3 de outubro de 2022
- ↑ a b c ARAÚJO 2005, p. 115.
- ↑ ARAÚJO 2005, p. 95.
- ↑ a b ARAÚJO 2005, p. 100.
- ↑ ARAÚJO 2005, p. 101.
- ↑ ARAÚJO 2005, p. 109.
- ↑ ARAÚJO 2005, p. 110.
- ↑ ARAÚJO 2005, p. 114.
- ↑ ARAÚJO 2005, p. 121.
- ↑ ARAÚJO 2005, p. 120.
- ↑ Álvaro de Castelões — O Sonho do Infante don Henrique. Famalicão: Tipografia Aliança. 1936. p. 37
- ↑ ARAÚJO 2005, p. 102.
- ↑ «Revista Internacional:O Soneto Neo-Latino». Famalicão. 1929: 64
- ↑ a b ARAÚJO 2005, p. 103.
- ↑ Carneiro, Eduardo Santos. «Visconde de Castelões - Vila Nova de Famalicão». anacatarina12.blogs.sapo.pt. Consultado em 1 de outubro de 2022
- ↑ a b «"Álvaro de Castelões" em Código Postal». Código Postal. p. 1. Consultado em 1 de outubro de 2022
- ↑ a b c «"Álvaro Castelões" em Código Postal». Código Postal. p. 1. Consultado em 1 de outubro de 2022
- ↑ a b c d «"Álvaro de Castelões" em Código Postal». Código Postal. p. 2. Consultado em 1 de outubro de 2022
- ↑ a b c «"Álvaro Castelões" em Código Postal». Código Postal. p. 3. Consultado em 1 de outubro de 2022
- ↑ «"Álvaro Castelões" em Código Postal». Código Postal. p. 4. Consultado em 1 de outubro de 2022
Bibliografia
editar- ARAÚJO, José Carlos Mendes (junho de 2005). São Tiago de Castelões: apontamentos para a sua história. Vila Nova de Famalicão: Edições Quasi. 121 páginas. OCLC 449250492
- MÓNICA, Maria Filomena (coord.) (abril de 2005). Dicionário Biográfico Parlamentar 1834-1910. Vol. II (D-M). Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais. p. 122. 955 páginas. ISBN 978-972-671-145-2