Abu Iáia Abu Becre ibne Abdalaque
Abu Iáia Abu Becre ibne Abdalaque I,[2] Abde Alhaque I,[3] ou Abde Alaque I[2] (em árabe: أبو يحيى أبو بكر بن عبد الحق; romaniz.: Abu Yahya Abu Bakr ibn ʿAbd al-Ḥaqq; 1207—1258[4]) foi o quarto chefe dos Benamerim (merínidas) e sultão do Império Merínida (no atual Marrocos), de 1244 até 1258.[5] Foi sucedido por seu irmão Abu Iúçufe Iacube (r. 1258–1286).[6][7]
Abu Iáia Abu Becre | |
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Dinar de ouro de Abu Iáia Abu Becre | |
Sultão do Império Merínida | |
Reinado | 1244—1258 |
Antecessor(a) | Abu Marufe Maomé I |
Sucessor(a) | Abu Iúçufe Iacube |
Nascimento | 1207 |
Morte | 1258 |
Descendência | Abomar[1] |
Casa | merínida |
Pai | Abdalaque I |
Religião | Islão |
Vida
editarAbu Iáia Abu Becre era filho de Abdalaque I (ca. 1195–1217). Em 1244, aos 37 anos, assumiu o controle dos Benamerim na sequência da morte de seu irmão Abu Marufe Maomé I (r. 1240–1244) combatendo tropas do enfraquecido Califado Almóada perante Fez. Pouco depois de ascender, teve que lidar com a aliança do califa Alboácem Assaíde Almutadide (r. 1242–1248) e do sultão ziânida Iaguemoracém ibne Zaiane (r. 1236–1283), fundador do Reino de Tremecém, que o obrigou a recuar ao leste do atual Marrocos. Essa parceria seria a causa do estado constante de litígio entre merínidas e ziânidas nas décadas que se seguiram.[8] Algum tempo depois, Abu Iáia conquistou Mequinez e ordenou que o sermão orado na mesquita local fosse feito em nome do sultão do Reino Haféssida de Túnis, Abu Zacaria Iáia (r. 1228–1249),[8] que desde 1236/37 havia assumido o título califal de miralmuminim.[9] Seu reconhecimento do sultão de Túnis como califa fazia com que, formalmente, os merínidas fossem rivais políticas dos almóadas daquele ponto em diante.[8] O controle de Mequinez foi efêmero, pois os almóadas eram numericamente superiores e obrigaram Abu Iáia a negociar uma trégua. Assaíde aproveitou a oportunidade para obrigá-lo a ajudar numa campanha contra Iaguemoracém de Tremecém, mas o califa foi morto numa emboscada em 1248 e Abu Iáia eliminou o que restava do exército almóada em Guercife.[4]
Abu Iáia obrigou a rendição de Fez naquele ano e então partiu à conquista de Taza. Pouco depois, Salé e Rabat também caíram e os merínidas alcançaram o oceano.[10] Todos os territórios conquistados foram governados em nome dos haféssidas,[8] enquanto o domínio almóada basicamente se restringiu ao Alto Atlas, Suz, a região de Marraquexe e a área entre esta cidade e o rio Morbeia.[4] Em 1249, Abu Zacaria Iáia morreu e isso pode estar relacionado à revolta pró-almóada que eclodiu em Fez em nome do califa Abu Hafes Omar Almortada (r. 1248–1266) e teve assistência de Iaguemoracém. Abu Iáia agiu contra os insurgentes, que foram brutalmente suprimidos e derrotou os ziânidas.[8] A luta contra os almóadas continuou por muitos anos, e entre 1251 e 1255, ele tomou Tédula, o vale do Drá e Sijilmassa, em Tafilete, um dos principais centros comerciais daquela região, após longo conflito com os ziânidas.[11] Ao falecer de doença em 1258,[4] legou ao seu irmão Abu Iúçufe Iacube (r. 1258–1286) um território economicamente coerente que seria a base às futuras conquistas. Por sua vez, estabeleceu o sistema de concessões territoriais (icta) que caracterizaria a organização administrativa merínida.[11]
Referências
- ↑ Mediano 2010, p. 110.
- ↑ a b Serrão 1992, p. 4.
- ↑ Coelho 1989, p. 101.
- ↑ a b c d Agabi 1984, p. 92.
- ↑ Shatzmiller 2012, p. 572.
- ↑ Bosworth 2004, p. 41.
- ↑ Garcin 1995, p. 51.
- ↑ a b c d e Mediano 2010, p. 109.
- ↑ Abun-Nasr 1987, p. 119.
- ↑ Hrbek 2010, p. 97.
- ↑ a b Mediano 2010, p. 109-110.
Bibliografia
editar- Abun-Nasr, Jamil M. (1987). A History of the Maghrib in the Islamic Period. Cambrígia: Cambridge University Press
- Agabi, C. (1984). «Abū Yahya». In: Camps, Gabriel. Encyclopédie berbère. I: Abadir–Acridophagie. Aix-en-Provence: Edisud. ISBN 2857442017
- Bosworth, Clifford Edmund (2004). The new Islamic dynasties: a chronological and genealogical manual. Edimburgo: Imprensa da Universidade de Edimburgo
- Coelho, António Borges (1989). Portugal na Espanha Árabe: História. Lisboa: Editorial Caminho. ISBN 9722104209
- Garcin, Jean-Claude (1995). Etats, sociétés et cultures du monde musulman médiéval: L'évolution politique et sociale. Paris: Imprensas Universidades de França
- Hrbek, Ivan (2010). «IV - A desintegração da unidade política no Magreb». In: Niane, Djbril Tamsir. História Geral da África – Vol. IV – África do século XII ao XVI. São Carlos; Brasília: Universidade Federal de São Carlos
- Mediano, Fernando Rodríguez (2010). «4 . The post Almohad dynasties in al Andalus and the Maghrib (seventh ninth/thirteenth !fteenth centuries)». In: Fierro, Maribel. The New Cambridge History of Islam. II: The Western Islamic World Eleventh to Eighteenth Centuries. Cambrígia: Imprensa da Universidade de Cambrígia
- Serrão, Joel (1992). «Abdalaque ou Abde Alaque». Dicionário de História de Portugal. 1. Porto: Livraria Figueirinhas e Iniciativas Editoriais. 3500 páginas
- Shatzmiller, Maya (2012). «Marīnids». In: Bearman, P.; Bianquis, Th.; Bosworth, C.E.; van Donzel, E.; Heinrichs, W.P. The Encyclopaedia of Islam. Vol. VI - Mahk-Mid. Leida e Nova Iorque: Brill