Adelanthaceae é uma família pertencente à classe Jungermanniopsida, conhecidas como plantas hepáticas e agrupa 11 gêneros.

Descrição

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São plantas de colorações que variam de verde escura a amarronzada, podendo possuir tons acastanhados em regiões mais secas, e são pertencentes à divisão Marchantiophyta, conhecidas como plantas hepáticas, sendo essas avasculares, e portanto de tamanho pequeno a médio.[1] Seu talo, com estruturas parecidas com folhas, é folhoso na maioria das espécies, sendo que essas “folhas” podem ser lobadas ou divididas, e suas margens podem ser inteiras ou dentadas.[2] Seus rizoides podem ser multicelulares ou unicelulares, e sua função se resume à absorção de água, nutrientes e na fixação ao substrato.[2] Essas briófitas também possuem estruturas chamadas anfigastros, que são parecidas com folhas, localizadas na face ventral do talo e com tamanho menor do que as folhas laterais, mas podem variar em tamanho e ser lobados ou inteiros, a depender da espécie.[2]

Algumas plantas desta família podem apresentar óleos essenciais com aromas característicos, além de papilas que ajudam na retenção de água, encontradas nas superfícies das folhas e com aparência de pequenas protuberâncias.[3]

A distribuição natural da família é ampla e está situada na maioria dos habitats, sendo mais presente em regiões úmidas e de clima temperado e quente, ainda assim há registros em regiões extremas como no norte da Rússia.[4] No Brasil, Adelanthaceae ocorre no bioma da Mata Atlântica, em locais como florestas nebulares, campos de altitude e encostas úmidas.[5]

Importância Ecológica

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As hepáticas, incluindo as da família Adelanthaceae, são fundamentais para a estabilização dos ecossistemas e a formação do solo. Elas também atuam como bioindicadores da qualidade ambiental e desempenham um papel importante na retenção de umidade no solo, contribuindo para o equilíbrio ecológico.[6] [7]

Paisagismo

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Devido à sua capacidade de reter água e melhorar a qualidade do solo, as hepáticas têm sido consideradas úteis em projetos de paisagismo ecológico e jardinagem sustentável. Seu uso é especialmente relevante em áreas destinadas ao controle da erosão e à recuperação de solos degradados.[8]

Gêneros

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Os gêneros registrados[9][10] na família, seguidos do número de espécies:

  • Adelanthus Mitt. – 11 spp.
  • Cuspidatula Steph. – 7 spp.
  • Denotarisia Grolle – 1 sp.
  • Jamesoniella (Spruce) Carrington – gênero não mais aceito
  • Nothostrepta R.M.Schust. – 2 spp.
  • Pisanoa Hässel – 1 sp.
  • Protosyzygiella (Inoue) R.M.Schust. – 1 sp.
  • Pseudomarsupidium Herzog – 5 spp.
  • Syzygiella Spruce – 56 spp.
  • Vanaea (Inoue & Gradst.) Inoue & Gradst. – 1 sp.
  • Wettsteinia Schiffn. – 4 spp.

Ocorrência no Brasil

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O único gênero nativo do território brasileiro é o Adelanthus Mitt, com registros de duas espécies ocorrendo:

Adelanthus carabayensis

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De ocorrência registrada no Rio de Janeiro,[10] são plantas medianas, com caulídeos rígidos e epiderme diferenciado, filídeos inseridos transversalmente e base decurrente, delicadamente bilobados com o ápice agudo, margens denteadas e margem dorsal do filídio plana ou encurvada. Células quadráticas de parede celular uniformemente espessada, células da margem do filídio com a parede mais espessa e formando uma borda diferenciada, base do filídio algumas vezes com uma vitta fraca, cutícula lisa, óleo corpos granulares. Poucos rizoides, usualmente sobre os estolões, gametângios em pequenos ramos curtos sobre a axila dos filídios ou nos estolões. Esporófito protegido por um perianto ou uma caliptra delicada.

Adelanthus decipiens

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De distribuição nos estados: Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo,[11] são plantas médias, reconhecidas pela margem ventral do filídio inteira ou ligeiramente denteada na metade superior ou algumas vezes bordeada, quanto as células do filídio, apresentam paredes finas e com trigônios distintos. Trata-se de uma espécie de ocorrência rara, aparentemente associada a grandes altitudes.

Relações filogenéticas

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A família Adelanthaceae está contida na ordem Jungermanniales, dentro da subordem Lophocoleineae, que inclui hepáticas com características morfológicas e genéticas que se assemelham, enquanto a ordem Jungermanniales representa a maioria das hepáticas folhosas.[2]

Segundo alguns estudos moleculares,[3] Adelanthaceae tem uma relação bastante próxima com as famílias Plagiochilaceae e Lophocoleaceae, que também representam hepáticas folhosas. Em alguns estudos ela pode até ser classificada como igual ou parte de Plagiochilaceae, por razão das grandes semelhanças entre esses grupos.[1] Essa posição é bastante discutida atualmente nas relações filogenéticas, bem como a possibilidade da fusão de Adelanthaceae com Lophocoleaceae.[5] Para esclarecer melhor tais relações, análises filogenéticas recentes baseadas em genes específicos foram realizadas, e os resultados revelaram que Adelanthaceae pertence a um clado distinto na ordem Jungermanniales, mas, uma vez que a ciência está em constante mudança e descoberta, essa classificação não é imutável.

Referências

  1. a b GRADSTEIN, S. R.; COSTA, D. P. The Hepaticae and Anthocerotae of Brazil. Nova York: The New York Botanical Garden Press, 2003. Acesso em: 13 fev 2025.
  2. a b c d SCHUSTER, R. M. The Hepaticae and Anthocerotae of North America. Nova York: Columbia University Press, 1966-1992. Acesso em: 13 fev 2025.
  3. a b CRANDALL-STOTLER, B.; STOTLER, R. E.; LONG, D. G. Morphology and classification of the Marchantiophyta. In: GOFFINET, B.; SHAW, A. J. (Eds.). Bryophyte Biology. 2. ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2009. p. 1-54. Acesso em: 13 fev 2025.
  4. Polar-Alpine Botanical Garden-Institute. "Specimens of Adelanthaceae." Acesso em 12 de dezembro de 2024. Disponível em: https://scientific-collections.gbif.org/institution/9b90bc21-f704-4c92-8f17-c66ea53219e5/specimens?catalogNumber=108897&taxonKey=8268133.
  5. a b FLORA E FUNGA DO BRASIL. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: https://floradobrasil.jbrj.gov.br/. Acesso em: 13 fev 2025.
  6. BioDiversity4All. "Família Adelanthaceae." Acesso em 12 de dezembro de 2024. Disponível em: https://www.biodiversity4all.org.
  7. García, L. M. C. (2024). "Levantamento de briófitas e interações ecológicas em um remanescente da Floresta Atlântica no Sudeste do Brasil." Locus UFV. Acesso em 12 de dezembro de 2024. Disponível em: https://locus.ufv.br/server/api/core/bitstreams/0874a55d-9598-4a83-bbb0-11d80c492d61/content.
  8. Soares de Lima, J. "Dissertação sobre briófitas." Universidade Federal de Viçosa. Acesso em 12 de dezembro de 2024. Disponível em: https://locus.ufv.br/communities/c162d003-15e4-400a-bfc2-70a5362d2f78
  9. GBIF. "Adelanthus Mitt." Acesso em 12 de dezembro de 2024. Disponível em: https://www.gbif.org/species/2689049.
  10. a b Reflora. "Figura de Adelanthaceae." Acesso em 12 de dezembro de 2024. Disponível em: https://reflora.jbrj.gov.br/reflora/geral/ExibeFiguraFSIUC/ExibeFiguraFSIUC.do?idFigura=284450128.
  11. Peralta, D. F., Bordin, J., & Yano, O. (2008). "Novas ocorrências de briófitas nos estados brasileiros." Hoehnea, 35(1), 123–158. DOI: 10.1590/S2236-89062008000100009.