Adversus Judaeos
Adversus Judaeos (em grego: Κατὰ Ιουδαίων; romaniz.: Kata Ioudaiōn; "Contra os judeus"[1]) é o nome mais conhecido de uma série de homilias de cunho anti-judaico escritas no século IV por São João Crisóstomo. Estes sermões de Crisóstomo reforçaram a ideia de que os judeus são, coletivamente, responsáveis pela morte de Jesus Cristo e promovem um distanciamento de costumes judaicos praticados por cristãos da época.
Propósito e contexto
editarDurante os primeiros dois anos como presbítero em Antioquia (386-387), Crisóstomo denunciou os judeus e os cristãos judaizantes numa série de oito sermões proferidos aos cristãos de sua congregação que ainda participavam dos festivais ou observavam costumes judaicos[2]. É tema de disputa se o alvo principal eram os judaizantes ou os judeus em geral, mas é claro que suas homilias expressam, da forma mais convencional, a retórica convencional conhecida com "psogos" ("culpa" em grego).
Um dos objetivos destas homilias era evitar que cristãos participassem de costumes e festividades judaicas, evitando assim a erosão da fé judaica: foram criticados principalmente a observância do sabá, a submissão à circuncisão e a peregrinação aos locais santos judaicos[3].
Em traduções acadêmicas mais recentes, que alegam que o alvo de Crisóstomo eram os membros de sua própria congregação que continuavam a observar os costumes judaicos, aparece um título para os sermões mais simpático, "Contra os Cristãos Judaizantes"[4].
Alegações controversas
editarCrisóstomo alegou que, nos sabás e festivais judaicos, as sinagogas se enchiam de cristãos, especialmente mulheres, que adoravam a solenidade da liturgia judaica, adoravam ouvir ao xofar do Rosh Hashaná e aplaudiam os pregadores famosos, como era o costume[5]. Uma teoria apologética mais recente defende que ele estaria tentando persuadir os judeo-cristãos, que, por séculos, mantiveram conexões com judeus e com o judaísmo, a escolherem entre o judaísmo e o cristianismo[6].
Ele defendia que os judeus eram responsáveis pela crucificação de Jesus ("deicídio" - veja deicídio judaico) e acrescentou que eles continuavam a comemorar a morte de Jesus[7]. Depois, Crisóstomo comparou a sinagoga a um templo pagão, representando-a como fonte de todos os vícios e heresias[5]. Ele a descreveu como "um lugar pior que um bordel ou um bar: refúgio de malandros, toca de feras selvagens, templo de demônios, esconderijo de ladrões e pervertidos, caverna de demônios, uma assembleia de assassinos de Cristo"[8]. Paládio, o biógrafo contemporâneo de Crisóstomo, relata também que ele alegava que os sacerdotes judeus podiam ser comprados e vendidos por dinheiro[5]. Finalmente, Crisóstomo declarou que, de acordo com os sentimentos dos santos, odiava a sinagoga e os judeus[9], afirmando que "demônios vivem na sinagoga" e "nas almas dos judeus", descrevendo-os como cada vez mais "dignos do abate"[10].
Referências
- ↑ João Crisóstomo, Contra os Judeus (vol. 68 of Fathers of the Church), trans. Paul W. Harkins (Washington, D.C.: Catholic University of America Press, 1979) p.x
- ↑ See Wilken, p.xv, and also "John Chrysostom" in Encyclopedia Judaica
- ↑ Wilken, p.xv.
- ↑ Veja, por exemplo, Discourses Against Judaizing Christians (vol. 68 de Fathers of the Church), trad. Paul W. Harkins (Washington, D.C.: Catholic University of America Press, 1979); e também [1] Arquivado em 6 de dezembro de 2000, no Wayback Machine.
- ↑ a b c "John Chrysostom" in Encyclopedia Judaica.
- ↑ Rodney Stark, The Rise of Christianity. How the Obscure, Marginal Jesus Movement Became the Dominant Religious Force in the Western World in a Few Centuries, (Princeton University Press:1997)p.66-67.
- ↑ William I. Brustein, Roots of Hate: Anti-Semitism in Europe before the Holocaust, (Cambridge University Press:2003) ISBN 0-521-77308-3, p.52.
- ↑ Laqueur 47–48
- ↑ Walter Laqueur, The Changing Face of Antisemitism: From Ancient Times To The Present Day,(Oxford University Press:2006) ISBN 0-19-530429-2, p.47-48
- ↑ João Crisóstomo, Contra os Judeus, 1:6
Ligações externas
editar- «Adversus Judaeos» (em inglês)