Alabas ibne Almamune
Alabas/Alabás[1] ou Abbas ibne Almamune (Al-Abbas ibn al-Ma'mun, lit. "Alabas, filho de Almamune"; m. 838) foi um príncipe e um general árabe, filho do califa abássida Almamune (r. 813–833). Um distinto líder militar durante as guerras bizantino-árabes, ele foi passado pra trás na sucessão de seu pai por seu tio, Almotácime (r. 833–842). Em 838, ele foi preso por seu envolvimento numa conspiração fracassada contra o califa e morreu na prisão.
História
editarAlabas era o filho único de Almamune que, em 828-829, o nomeou como governador de Al-Jazira (Mesopotâmia) e da fronteira militar mesopotâmica ("thughur") com o Império Bizantino. Alabas já havia se distinguido nas campanhas contra Bizâncio por sua bravura.[2] No verão de 830, ele liderou uma expedição contra os rebeldes curramitas de Pabeco no Azerbaijão acompanhado de um contingente de prisioneiros bizantinos sob o general renegado Manuel, o Armênio que, dada a inexperiência de Alabas, pode ter sido real líder do exército.[3] A força de Alabas conseguiu algumas vitórias contra os curramitas e iniciou o retorno para casa. Quando ela passou perto da fronteira bizantina em Adata, Manuel, tenho ganho a confiança de Alabas e de seus oficiais árabes, o persuadiu a cruzar os passos ali próximos e atacar o território bizantino. Uma vez lá, Manuel se aproveitou de uma caçada para desarmar Alabas e seu séquito e desertou novamente para o lado bizantino juntamente com os prisioneiros sob seu comando. Alabas e seus homens foram deixados para trás e, após se reunirem com o exército, recuaram de volta ao território abássida.[4]
No ano seguinte, porém, Alabas, acompanhou seu pai e seu tio numa enorme campanha na Anatólia bizantina. Após o exército árabe ter cruzado os Portões Cilícios e tomado Heracleia Cibistra no início de julho, o califa ordenou que ele fosse dividido em três corpos, liderados pelo califa, por Almotácime e por Alabas, que então realizaram diversos raides por toda a Capadócia. Ao contrário das outras duas forças, Alabas teve sucesso em suas campanhas: ele forçou a cidade de Tiana a se render e a arrasou, além de conseguir uma vitória contra o imperador bizantino Teófilo (r. 829–842) numa batalha menor.[5]
Almamune manteve a pressão sobre Bizâncio em 832, com seu exército capturando a fortaleza de Lulo, de importância estratégica, e, no final do ano, o califa começou a juntar um enorme exército e anunciou sua intenção de conquistar e colonizar a Anatólia passo-a-passo, terminando com a conquista de Constantinopla. Consequentemente, em 25 de maio de 833, Alabas marchou com uma força de vanguarda em direção ao território bizantino e começou a construir uma base militar no local onde estava Tiana. O local foi fortificado e esperava o exército do califa que, por sua vez, entrou na Anatólia no início de julho. Neste ponto, a sorte interveio em prol dos bizantinos, pois o califa ficou doente e morreu, embora alguns estudiosos modernos especulem que sua morte possa ter sido resultado de um golpe.[6][7]
Ascensão de Almotácime
editarEmbora Alabas fosse o filho de Almamune, o califa aparentemente havia nomeado seu irmão, Almotácime, como seu herdeiro pouco antes de sua morte. Alabas rapidamente jurou lealdade ao tio, mas logo se percebeu que o ato era impopular entre as tropas ali reunidas, que tentaram aclamar Alabas como califa. Ele se recusou e conseguiu acalmar os ânimos.[8] Mesmo assim, a situação de Almotácime no trono ainda era precária e ele abandonou a campanha planejada pelo irmão falecido: a nova base em Tiana foi arrasada novamente e o exército retornou para o território do califado.[2][9] Apesar de ter aceitado a ascensão do tio, Alabas se tornou o foco das forças que se opunham ao novo califa e, em particular, à sua dependência - cada vez maior - de seus soldados-escravos turcos (os gulans), que também recebiam as graças do califa.[10]
Este descontentamento resultou numa conspiração liderada pelo general Ujaife ibne Ambaçá que se propunha a assassinar Almotácime e colocar Alabas, que sabia do plano, no trono. A conspiração foi descoberta quando Almotácime estava em campanha contra os bizantinos, logo após o saque de Amório. A investigação subsequente, liderada pelo leal general turco AXinas resultou na execução da maior parte dos conspiradores e numa purga do exército, até então dominado por elementos oriundos da região do Grande Coração em favor dos turcos de Almotácime.[10] O próprio Alabas foi preso e morreu na prisão em Mambije em 838,[2] enquanto que seus descendentes do sexo masculino foram presos e assassinados por AXinas.[11]
Referências
- ↑ Coelho 1989, p. 316.
- ↑ a b c Zetterstéen 1986, p. 11–12.
- ↑ Treadgold 1988, p. 272.
- ↑ Treadgold 1988, p. 273.
- ↑ Treadgold 1988, p. 275–276, 279.
- ↑ Treadgold 1988, p. 279–281.
- ↑ Gordon 2001, p. 47.
- ↑ Gordon 2001, p. 47–48.
- ↑ Treadgold 1988, p. 281.
- ↑ a b Gordon 2001, p. 48–49, 76–78.
- ↑ Gordon 2001, p. 77.
Bibliografia
editar- Coelho, António Borges (1989). Portugal na Espanha Arabe: História. Alfragide: Editorial Caminho. ISBN 9722104209
- Gordon, Matthew (2001). The breaking of a thousand swords: a history of the Turkish military of Samarra, A.H. 200–275/815–889 C.E. Albany, Nova Iorque: State University of New York Press. ISBN 978-0-7914-4795-6
- Treadgold, Warren T. (1988). The Byzantine Revival, 780–842. Stanford, Califórnia: Stanford University Press. ISBN 0-8047-1896-2
- Zetterstéen, K. V. (1986). «al-'Abbās b. al-Ma'mūn». In: Gibb, Hamilton Alexander Rosskeen. The Encyclopedia of Islam, New Edition, Volume I: A–B (em inglês). Leida e Nova Iorque: Brill. pp. 11–12. ISBN 90-04-08114-3