Amalrico de Bena
Amalrico de Bena (em francês: Amaury de Bène ou Amaury de Chartres; em latim: Almaricus, Amalricus, Amauricus; morto c. 1204–1207) foi um teólogo francês, cujos seguidores são chamados de amalricanos.
Amalrico | |
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Amalrico de Bena e seus discípulos. Iluminura das Grandes Chroniques de France de Charles V, por volta de 1370-1379. BnF, departamento de manuscritos, ms. francês 2813, f. 248 v. | |
Nascimento | 1150 Chartres |
Morte | 1206 Paris |
Cidadania | França |
Alma mater | |
Ocupação | teólogo, professor universitário, filósofo |
Empregador(a) | Universidade de Paris |
Religião | cristianismo |
Biografia
editarAmalrico nasceu na segunda metade do século XII em Bennes, uma aldeia entre Ollé e Chauffours, na diocese de Chartres.[1]
Na Universidade de Paris, adquiriu um profundo conhecimento das artes liberais. Posteriormente, ensinaria, Filosofia e Teologia naquela Universidade, onde ganharia grande reputação como um sutil dialético;[1] suas palestras desenvolvendo a filosofia de Aristóteles atraíam um grande número de ouvintes.[1]
Teve como ponto de partida escritos de João Escoto Erígena e defendeu uma espécie de panteísmo místico, que, décadas depois, seria adotado pelos Irmãos do Livre Espírito.[1]
Em 1204, suas doutrinas foram condenadas pela universidade e, em um apelo pessoal ao Papa Inocêncio III, a sentença foi ratificada, com Amalrico sendo ordenado a retornar a Paris e retratar seus erros.[1]
Sua morte foi causada, diz-se, pela dor da humilhação a que foi submetido.[1]
Em 1209, dez de seus seguidores foram queimados diante dos portões de Paris, e o próprio corpo de Amalrico foi exumado e queimado e as cinzas dadas ao vento.[1] As doutrinas de seus seguidores, conhecido como os amalricanos, foram formalmente condenadas, em 1215, pelo Quarto Concílio de Latrão.[1]
Proposições
editarAmalrico parece ter derivado seu sistema filosófico de Erígena, cujos princípios ele desenvolveu em uma forma unilateral e fortemente panteísta.[1]
Apenas três proposições que podem com certeza ser atribuídas a ele:[1]
- de que Deus é tudo (omnia sunt deus) e, assim, todas as coisas são uma, porque o que quer que seja, é Deus (omnia unum, quia quidquid est, est Deus);
- de que cada cristão é obrigado a acreditar que ele é um membro do corpo de Cristo, e que essa crença é necessária para a salvação;
- de que quem permanece no amor de Deus não pode cometer nenhum pecado.
Por causa da primeira proposição, o próprio Deus é pensado como invisível e só é reconhecível na sua criação.[1]
Estas três proposições foram desenvolvidas por seus seguidores, que sustentavam que Deus se revelou em uma revelação tríplice, a primeira no patriarca bíblico Abraão, sinalizando a época do Pai; a segunda em Jesus Cristo, que deu início à época do Filho; e a terceira em Amalrico e seus discípulos, que inaugurou a era do Espírito Santo.[1] Sob o pretexto de que um verdadeiro crente não poderia cometer nenhum pecado, os amalricianos se entregaram a todo excesso.[1]
Os amalricanos achavam que:[2]
- O Inferno é a ignorância, portanto, o Inferno está dentro de todos os homens, "como um dente ruim na boca";
- Deus é idêntico em tudo que existe, mesmo o mal pertence a Deus e prova a onipotência de Deus;
- Um homem que sabe que Deus atua através de tudo não pode pecar, porque todo ato humano é, então, o ato de Deus;
- Um homem que reconhece a verdade de que Deus age através de tudo já está no Céu e esta é a única ressurreição. Não há outra vida; a realização do homem está apenas nesta vida.
Devido às perseguições, esta seita parece não ter sobrevivido por muito tempo logo após à morte de seu fundador. Pouco tempo depois da queima de dez dos seus membros (1210), a seita perdeu sua importância, enquanto alguns dos sobreviventes amalricanos se tornaram Irmãos do Livre Espírito.[3]
De acordo com Hosea Ballou, depois Pierre Batiffol[2] (1911) e George T. Knight[4] (1914) Amalrico acreditava que todas as pessoas acabariam por serem salvas e este foi um dos motivos pelo qual foi declarado herege pelo Papa Inocêncio III.
Ver também
editarNotas
- ↑ a b c d e f g h i j k l m Chisholm, Hugh. «Amalric, de Bena». Encyclopædia Britannica (em inglês). 1 1911 ed. Cambridge: Cambridge University Press. p. 779
- ↑ a b Pierre Batiffel. «Apocatastasis». Catholic Encyclopedia (1913)
- ↑ Eckhart Triebel. «Geschichte Häresie» (em alemão). Pinselpark
- ↑ «Apocatastasis». New Schaff-Herzog Encyclopedia of Religious Knowledge, Vol. I
Referências
- Este artigo incorpora texto (em inglês) da Encyclopædia Britannica (11.ª edição), publicação em domínio público.
- Chisholm, Hugh, ed. (1911). «Amalric, of Bena». Encyclopædia Britannica (em inglês) 11.ª ed. Encyclopædia Britannica, Inc. (atualmente em domínio público)
- Este artigo incorpora texto da Catholic Encyclopedia, publicação de 1913 em domínio público.
- W. Preger, Geschichte der deutschen Mystik im Mittelalter (Leipzig, 1874, i. 167-173)
- Haureau, Histoire de la phil. scol. (Paris, 1872)
- C. Schmidt, Histoire de l'Église d'Occident pendant le Moyen Âge (Paris, 1885)
- Hefele, Conciliengeschichte (2ª ed., Freiburg, 1886).
- Christoph Ulrich Hahn: Geschichte der Ketzer im Mittelalter, Vol. 3 (Stuttgart, 1850)
- Arno Borst: Religiöse und geistige Bewegungen im Hochmittelalter, Propyläen Weltgeschichte, Ullstein 1963, Vol. 5, p. 537
- Friedrich Heer Medieval World Europe 1100-1350
- Capelle, G. C., Amaury de Bène, étude sur son panthéisme formel (Paris, 1932).
- Russell, J. B., The Influence of Amalric of Bene in Thirteenth Century Pantheism (Berkeley, 1957).
Ligações externas
editar- Media relacionados com Amalrico de Bena no Wikimedia Commons