Arquitetura minoica
A arquitetura minoica é representada por todas as obras de construção realizadas pela própria civilização cretense durante a Idade do Bronze (cerca de 3 000 - 1 050 a.C.); A civilização minoica (que leva o nome do famoso rei de Creta Minos) representa, juntamente com a civilização micênica, o exemplo mais importante e significativo da cultura arquitetónica da bacia do Mediterrâneo, uma encruzilhada entre a Europa, o Egito e o Oriente, durante o III e o II milénio a.C..[1]
Estas culturas conseguiram expressar um elevado nível arquitectónico, único, original e, em muitos aspectos, precursor da arquitectura grega. A arquitetura minoica, que se desenvolveu na ilha de Creta, em particular nas cidades de Cnossos,[2] Festo e Mália, é dividida cronologicamente pelos historiadores em quatro períodos, ligados aos acontecimentos dos grandes palácios:[1]
- Período Pré-Palacial (2500–2000 a.C.);
- Período dos primeiros palácios ou Protopalacial (2000–1700 a.C.);
- Segundos Palácios ou Período Neopalacial (1700–1400 a.C.);
- Período Pós-palacial (1400–1100 a.C.).
Edifícios cretenses
editarNo Período Pré-Palacial os edifícios apresentam as características construtivas típicas do Neolítico: são feitos de tijolos de barro cru secos ao sol, colocados sobre uma base de pedra. Só mais tarde o uso da pedra foi alargado a toda a construção: emblemático é o caso dos aglomerados urbanos encontrados em Myrtos e Vasilicí, na parte oriental da ilha. No contexto funerário, é muito difundido o túmulo de tolo, uma construção circular em pedra com cobertura em cúpula falsa, composta por fiadas concêntricas de elementos de pedra salientes.[1]
É durante o período dos primeiros palácios que assistimos ao nascimento nas cidades de Cnossos, Festo e Mália dos imponentes complexos palacianos pelos quais a ilha de Creta é conhecida há séculos. O palácio é a residência do soberano, o verdadeiro núcleo gerador em torno do qual se desenvolve todo o centro habitado, através de sucessivas estratificações e agregações. Está implantado em torno de um grande pátio retangular, paralelo ao eixo norte-sul, em torno do qual se desenvolve uma densa rede de espaços de convivência, salas de recepção, armazéns, laboratórios, caminhos e escadas: todos organizados segundo uma planta livre. - ditada mais por necessidades contingentes do que por um modelo rígido - e caracterizada pela rica decoração e pelo elevado nível tecnológico dos sistemas.[1]
Na extrema articulação e complexidade dos espaços, muitos estudiosos identificaram referências ao mito do labirinto, uma construção lendária erguida pelo rei Minos para encerrar o Minotauro, figura mitológica de um homem com cabeça de touro, que então foi morto por Teseu com a ajuda do fio que Ariadne lhe deu. Além das suas dimensões majestosas, os palácios da civilização minoica apresentam outras peculiaridades importantes: decorações suntuosas (entre as quais se destacam numerosos frescos murais e os revestimentos de gesso de alabastro que embelezam os pisos), sistemas de abastecimento de água e drenagem através de um sistema de tubos de terracota. (tecnicamente avançado para a época) e ausência de estruturas defensivas, tornadas supérfluas durante muitos séculos pela presença do mar.[1]
Tipologias
editarCom exceção das salas de culto no interior dos palácios, a arquitetura minóica não deixou testemunhos de templos, a explicação reside no carácter naturalista da região, que se servia de grutas nas montanhas para celebrar os seus ritos. A arquitetura funerária, pelo contrário, está documentada pelos inúmeros exemplos situados nas necrópoles, que circundam os grandes centros. Eram tumbas de inumação, onde o cadáver era depositado na terra, ou em sarcófagos (entre estes, é de destacar o belo exemplar pintado procedente da Hagia Tríada).
Os tipos de sepulturas eram três: em poço, em cova e em câmara; as tumbas escavadas na rocha também podiam estar reunidas num único edifício com várias compartimentos (necrópole de Crisolacos, ao norte de Mália), onde se situavam os altares para as oferendas e os enxovais funerários com objetos de ouro.[3]
Palácio de Cnossos
editarO maior palácio de Creta era Cnossos (por volta de 1 900 a.C.[4]). Ali foram encontrados os primeiros dados sobre a sociedade e a economia de Creta, escritos em tábuas de argila. Na mitologia grega clássica, Cnossos era o palácio do rei Minos. Como sabemos graças aos trabalhos arqueológicos, era muito grande, e pouco elegante por fora, pelo menos comparado com os palácios da Assíria e da Pérsia; não foi construído na tentativa de encontrar tal efeito de unidade e grandeza. Por dentro, com os tecto baixos, os corredores e salas não eram muito grandes. Em qualquer caso, as galerias com colunas, as escadas e os pátios ventilados dariam uma agradável sensação de amplitude e abertura. Algumas das paredes, decoradas com pinturas requintadas, preservaram até hoje uma elegância vazia. O trabalho de alvenaria também é excelente nos palácios minoicos. Não é possível afirmar com total certeza quem foram os governadores que mandaram construir os palácios, se foram príncipes guerreiros, reis santos como os do Egito e da Mesopotâmia, ou mercadores, mas depois de examinar os vestígios que vieram à luz no trabalho arqueológico, parece que há razões para dizer que teriam sido comerciantes, no mínimo, os de armazéns, fábricas que aí foram descritos e os arqueólogos mostraram que o palácio não era uma simples residência real, mas um grande centro administrativo e de atividades comerciais.
Em torno de 1700 a.C., um terremoto destruiu palácio que, posteriormente, foi reconstruído com vários andares, e as construções, unificadas ao longo de um pátio. Acredita-se que o pátio era utilizado para rituais teatrais e jogos cerimoniais. Na ala Oeste do pátio, situava-se o espaço cerimonial, composto por edificações de três pavimentos. Na ala Leste, predominava o setor habitacional. Todavia, foram encontrados também tecelagens e depósitos, além do mégaron da rainha e a sua sala de banho. Na parte Noroeste, ficava a mais antiga fonte, acessada por uma escadaria com poço de luz. O novo palácio continha inúmeras pinturas murais com motivos naturalistas que representavam cenas de natureza. Algumas pinturas – descobertas nas escavações – se destacam, como o afresco do aposento da rainha, que retrata peixes e golfinhos dando cambalhotas no mar, e o afresco do toureiro, que representa o ritual em que os participantes saltavam sobre as costas do animal. A partir da interpretação dos afrescos,[5] concluíram que os "minoicos eram alegres, cheios de energia, e apreciavam sua beleza e a do mundo natural, contrastando sua arte com a rigidez e a formalidade da arte egípcia". As pinturas evidenciam, ainda, que as mulheres ocupavam posições importantes, algo sem precedentes para a época. A arquitetura do palácio de Cnosso não era monumental. Segundo Janson (1996), os cômodos eram pequenos e os tetos, baixos. O palácio tinha mais de 1.400 cômodos, dispostos de maneira entrelaçada, tortuosa e complicada, que formavam um verdadeiro labirinto. Também tinha água corrente e um sistema de canalização de água e esgoto extraordinário para a época1.
“ | Tubos [...] de terracota transportavam água limpa por uma série de tanques de decantação e sifões para então abastecer as banheiras; esgotos sanitários levavam as águas residuais dos lavatórios e bacias sanitárias. | ” |
— FAZIO et al., 2011, p. 59 |
“ | O palácio foi construído em alvenaria. Porém, as colunas, em madeira. Embora nenhuma delas tenha sobrevivido, sua forma característica (o fuste sem relevos, encimado por um capitel amplo em forma de almofada) é conhecido a partir de representações em pintura e escultura. | ” |
— JANSON, 1996, p. 42 |
Referências
- ↑ a b c d e Tomei, Marcello. Tutto architettura. Schemi riassuntivi, quadri d’approfondimento. Milão: De Agostini
- ↑ Hussey, Matt (2011). «Ailtireacht Mhionóach [sic]». Fréamh an Eolais (em irlandês). Coiscéim. p. 20
- ↑ Luiz Fernando Da Silva Pinto. O trigo, a água e o sangue: as raízes estratégicas do ocidente, 2015, editora FGV, ISBN 9788522510450
- ↑ Fazio et al. (2011).
- ↑ Fazio et al. & 2011 (p. 59).
Bibliografia
editar- W. Müller; G. Vogel (1992). Hoepli, ed. Atlante di architettura. Milano: [s.n.] ISBN 88-203-1977-2
- D. Watkin (1999). Zanichelli, ed. Storia dell'architettura occidentale. Bologna: [s.n.] ISBN 88-08-13946-8