Béatrix
Béatrix (Beatriz na versão brasileira organizada por Paulo Rónai)[1] é um romance de Honoré de Balzac publicado em 1839. Apareceu inicialmente em Le Siècle em agosto de 1839, antes de ser editado em volume no mesmo ano.
Béatrix | |||||||
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Autor(es) | Honoré de Balzac | ||||||
Idioma | Francês | ||||||
País | França | ||||||
Gênero | Romance realista | ||||||
Série | Scènes de la vie privée | ||||||
Ilustrador | Adrien Moreau | ||||||
Editor | Edmond Werdet | ||||||
Lançamento | 1839 | ||||||
Cronologia | |||||||
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Este romance faz parte das Cenas da vida privada, e se inclui entre os mais belos retratos de mulher da Comédia Humana.
George Sand inspirou o personagem Félicité (Felicidade na edição brasileira), Marie d'Agoult serviu de inspiração para Béatrix (Beatriz), e Franz Liszt, para o músico Gennaro Conti, amante da marquesa de Rochefide. Entre estes três personagens se desenrola um drama sutil que é a expressão do romantismo balzaquiano e das dificuldades da condição feminina no século XIX.
O romance foi escrito entre 1938 e 1944, e entre a redação da primeira metade, que transcorre na "pitoresca, rude e atrasada cidadezinha bretã"[2] de Guérande, e da segunda parte, na agitada Paris, houve um hiato de mais de cinco anos. É forte o contraste entre a "boêmia espirituosa e maliciosa de Paris [segunda metade do romance] e a sociedade sonolenta e mumificada de Guérande [primeira metade]. No romance não haverá, na realidade, interpenetração entre esses dois mundos antagônicos; eles vivem lado a lado sem se misturar. O conflito desenrola-se confinado numa única alma, a do jovem Calisto, que abandona os tranquilos serões de Guérande atraído pela sedução do espírito parisiense."[3]
Balzac descreve Beatriz nestes termos:
Beatriz é uma dessas louras perto das quais a loura Eva pareceria uma negra. É delgada e ereta como um círio e branca como uma hóstia; tem o rosto comprido e pontudo, uma tez variável segundo o dia, hoje cor de percal, amanhã trigueira e com mil pequeninas manchas sob a pele, como se o sangue durante a noite houvesse acarreado poeira; sua fronte é magnífica, mas talvez um pouco audaciosa demais; suas pupilas são verde-mar pálido e nadam num branco sob sobrancelhas delgadas e pálpebras preguiçosas. Tem com frequência olheiras. O nariz, que descreve um quarto de círculo, é apertado nas ventas e cheio de finura, porém impertinente. Tem a boca austríaca, o lábio superior mais espesso do que o inferior, o qual cai de modo desdenhoso. Suas faces pálidas coloram-se somente sob a influência de emoções fortes [...] A natureza deu-lhe esse ar de princesa que não se adquire, que lhe senta e revela à primeira vista a mulher nobre, em harmonia, aliás, com quadris franzinos, mas de curvas deliciosas, com o mais belo pé deste mundo, e essa abundante cabeleira de anjo, tão cultivada pelo pincel de Girodet, a qual se assemelha a jorros de luz...[4]
Enredo
editarNa velha Bretanha aristocrática, em Guérande, joia do feudalismo [...] encerrada dentro de suas poderosas muralhas, o jovem Calyste (Calisto) du Guénic procura um ideal de vida que lhe parece oferecer o convívio com Félicité (Felicidade) des Touches, escritora e musicista célebre sob o pseudônimo de Camille (Camila) Maupin. Mas Calisto tem um rival: Claude (Cláudio) Vignon, escritor célebre e pretendente assíduo de Felicidade. Quando a marquesa Beatriz de Rochefide e seu amante Conti, um músico ex-amante de Felicidade, chegam ao castelo, Calisto é atraído aos braços da marquesa pela própria Felicidade. Após viver um amor breve e intenso com Beatriz, Conti lhe arrebata subitamente a mulher que ele ama. O jovem bretão cai em uma prostração de que a própria Felicidade o tirará levando-o a Paris e encorajando seu casamento com Sabine (Sabina) de Grandlieu, antes de se retirar a um convento. Contudo, ele reencontrará os braços da marquesa, abandonada por Conti, para a grande irritação de sua esposa, que luta para reconquistar seu afeto. Finalmente, através da intercessão do Conde Maxime (Máximo) de Trailles, Beatriz apaixona-se por outro jovem e Calisto recupera o bom senso.
Referências
Bibliografia
editar- (en) Catherine Barry, « Camille Maupin: Io to Balzac’s Prometheus? », Nineteenth-Century French Studies, outono-inverno de 1991-1992, n° 20 (1-2), p. 44-52.
- (fr) Madeleine Fargeaud, « Une Lecture de Béatrix. », L'Année balzacienne, 1973, n° 99-114.
- (fr) Bernard Guyon, « Adolphe, Béatrix, et La Muse du département », L’Année balzacienne, Paris, Garnier Frères, 1963, p. 149-175.
- (en) Owen Heathcote, « “Cet être amphibie qui n’est ni homme ni femme”: Marginalizing Gender and Gendering the Marginal in Balzac’s Camille Maupin », Nottingham French Studies, outono de 2002, n° 41 (2), p. 37-46.
- (en) Joan Hoberg-Petersen, « Ambivalence in Three Novels of the Comédie humaine (La Femme de trente ans, Le Père Goriot, Béatrix). », Extracta, 1969, n° 2, p. 185-89.
- (fr) Catherine Langle, « Béatrix : conversion et réaction », Recherches et Travaux, 2000, n° 58, p. 97-104.
- (fr) Moise Le Yaouanc, « À propos d’une nouvelle édition de Béatrix », Annales de Bretagne et des Pays de l’Ouest, 1963, n° 70, p. 247-254.
- (fr) Arlette Michel, « À propos d’un paysage : présence de la beauté dans le roman balzacien », L’Année balzacienne, 1996, n° 17, p. 321-34.
- (fr) Nicole Mozet, « Féminité et pouvoir après 1830 : le cas étrange de Félicité des Touches (Béatrix) », Revue des Sciences Humaines, 1977, n° 168, p. 553-60.
- (fr) Aline Mura, « Adolphe, un livre “abymé” dans deux romans de Balzac », Réflexions sur l’autoréflexivité balzacienne, Andrew Oliver e Stéphane Vachon, orgs. e prefácio, Toronto, Centre d’Études du XIXe siècle Joseph Sablé, 2002, p. 83-96.
- (fr) Philippe Mustière, « Guérande dans Béatrix, ou L’Extravagance du bien balzacien », Acta Baltica, 1980, n° 1, p. 99-109.
- (fr) Philippe Mustière, « La Mise en fiction de l’histoire dans Béatrix : propositions et hypothèses de travail », L’Année balzacienne, 1981, n° 2, p. 255-266.
- (en) C. A. Pendergast, « Towards a Reassessment of Beatrix », Essays in French Literature, 1972, n° 9, p. 46-62.
- (fr) Jacques Viard, « Balzac et le socialisme : Pierre Lerouxico-sandique. », L’Année balzacienne, 1993, n° 14, p. 285-307.