Búcaro
Búcaro[1] (em italiano: bucchero; do português bucare)[2] ou púcaro etrusco[3] foi um tipo de cerâmica negra característica dos etruscos antigos. Acredita-se que começou a ser produzida no início do século VII a.C., na cidade etrusca de Cerveteri.
O método de cozimento tornava a cerâmica negra e fazia brilhar suas superfícies, queimando cuidadosamente as peças depois de cozidas. As urnas e vasos etruscos feitos com esse sistema se parecem bastante com os vasos gregos, construídos igualmente com materiais locais. Não se sabe se há relação com o impasto, cerâmica típica da Cultura Villanova.
O processo de fabricação requeria fornos capazes de suportar temperaturas de 900 °C a 1050 °C.
Etimologia
editarO termo português bucare (variação de "púcaro", latim poculum, "copo")[2] se referia a diversas vasilhas das culturas sul-americanas conquistadas por Portugal. Os italianos tomaram o nome no século XIX, que a arqueologia moderna aplicou a este tipo de cerâmica etrusca.
Histórico do consumo
editarA geofagia, uma das modalidades de alotriofagia, é uma prática relativamente frequente através das épocas e culturas;[4] quando o consumo é feito por meio de vasos de argila, convenciona-se chamar de bucarofagia. Apesar do costume ter sido documentado até meados do século XIX, teve sua maior expressão na cultura ocidental entre as nobres ibéricas durante os séculos XVI e XVII.[4] Na região em questão, eram consumidos os búcaros provenientes da atual região mexicana de Tonalá,[5] herança da cultura olmeca.[6]
Causas bioquímicas
editarA chave para a compreensão dos efeitos da bucarofagia no organismo humano está no metabolismo do ferro: óxidos presentes nas argilas em questão envolvem-se em reações de oxirredução com o ferro iônico disponível no organismo, gerando óxidos de ferro não-absorvíveis. Como resultado da deficiência de ferro, sofre-se de anemia, que é, por sua vez, a causadora dos três principais sintomas reportados pelos bucarófagos: palidez, desregulação menstrual e alterações na percepção da realidade.
Referências
- ↑ «Ocidente». 53. 1957: 3
- ↑ a b "Bucare". Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. 1.ª ed., p. 523
- ↑ Neves, Gonçalo (9 de setembro de 2015). «Nomes portugueses para cerâmica grega e romana». Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. ciberduvidas.iscte-iul.pt
- ↑ a b Seseña 1991.
- ↑ «Let Them Eat Clay!». www.vam.ac.uk. Victoria and Albert Museum =Online Museum. 10 de novembro de 2011. Consultado em 8 de novembro de 2021
- ↑ Blomster et al. 2005
Bibliografia
editar- Blomster, Jeffrey P.; Neff, Hector; Glascock, Michael D. (18 de fevereiro de 2005), «Olmec Pottery Production and Export in Ancient Mexico Determined Through Elemental Analysis», Science (em inglês) (5712): 1068–1072, doi:10.1126/science.1107599
- Bouloumié, Bernard: Le bucchero nero d'Etrurie, in: Latomus 41 (1982), bl. 773-784. (Frans)
- Guarinello, Norberto Luiz. Estruturação visual e consumo cognitivo da cerâmica etrusca de Bucchero. 1986. Dissertação de mestrado. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
- Hirschland-Ramage, Nancy (1970). «Studies in Early Etruscan Bucchero». Papers of the British School at Rome. 38: 1–61
- Lollini, Delia: Bucchero. In: Enciclopedia dell'arte antica clássica e orientale, vol. 2, Rome 1959, bl. 203-210.
- Rasmussen, Tom B. (1979). Bucchero pottery from Southern Etruria. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 0-521-22316-4
- Redaksie Grandi Opere dell'Istituto Geografico DeAgostini: Gli Etruschi e i Romani. Meraviglie dell'Archeologia. Novara: Istituto Geografico DeAgostini S.p.A. 1998 (Italiaans)
- Schneider, Helmuth: Einführung in die antike Technikgeschichte. Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft 1992
- Seseña, Natacha (1991), «El búcaro de las meninas», Velázquez y su tiempo. V Jornadas de arte