Barco desaparecido (Souza Pinto)
Barco desaparecido é uma pintura a óleo sobre tela de 1890 do artista português Souza Pinto (1856-1939) ligado à primeira geração do Naturalismo e que está atualmente no Museu Nacional de Arte Contemporânea, em Lisboa.
Barco desaparecido | |
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Autor | Souza Pinto |
Data | 1890 |
Técnica | Pintura a óleo sobre tela |
Dimensões | 73 cm × 91 cm |
Localização | Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisboa |
Em Barco desaparecido, Souza Pinto representa a tragédia que repetidamente se abate sobre os pescadores e as suas famílias, na figura de duas mulheres que, num banco de areia de uma praia da Bretanha adoptiva do pintor, choram o desaparecimento de familiares no mar.[1]
Descrição
editarNa duna de areia de uma praia coberta por vegetação rasteira batida pelo vento e sob um céu nublado matinal, duas mulheres choram o desaparecimento no mar de pescadores dado que o barco deles não regressou. A rapariga com o cabelo apanhado numa trança, de camisola castanha e saia azul comprida, face rosada, enxuga as lágrimas no avental, e a mulher idosa, a seu lado, de vestes escuras, mãos rugosas cruzadas no regaço, olha desesperançada para o mar, com a face marcada pela dor.[1]
Na frente das mulheres está uma âncora semi-enterrada na areia, com a corrente partida e enferrujada, a simbolizar a separação do barco de que tinha feito parte, de outro barco que se perdeu, outra tragédia que se consumara antes. Ao fundo, alguns botes desocupados e decerto ancorados, como que silhuetas em acalmia pois que desta vez tiveram a sorte de regressar.[1]
Trata-se de uma pintura de costumes relativa à costa noroeste de França, zona onde Souza Pinto viveu grande parte da sua vida, o que é indicado pelo tipo de socos que as mulheres usam, mas o tema podia referir-se a qualquer zona marítima de pescadores de mar, como é exemplo a obra À espera do barcos (em Galeria) que Marques de Oliveira pintou sensivelmente na mesma época.
A obra foi adquirido pelo Legado Valmor em 1906, tendo sido integrada no MNAC em 1912.[2]
Apreciação
editarSegundo Maria Aires Silveira, a envolvente triste e brumosa desta pintura, que identifica a Bretanha adoptiva de Souza Pinto, após a sua ida para França como bolseiro em 1880, corresponde à face melancólica da sua obra, contraponto dos recantos ensolarados de Benfica, onde tinha morada, oscilando assim a sua obra entre duas sensações de luz diferenciadas.[2]
O quadro, sombrio pelo drama representado, algo cenográfico dada à disposição das duas mulheres e dos símbolos que inseriu (âncora e destroços de barco), remete para uma lamentada tradição marítima, representada pelas mulheres de pescadores, provavelmente da costa da Bretanha, numa cena de grande contenção cromática e mutismo das personagens.[2]
Barco desaparecido revela um tendência para-impressionista, resultante fundamentalmente da névoa que envolve a composição, apesar de se posicionar numa linha de convencionalismo formal que a envolvência das figuras não esbate. Em tonalidades suaves, próximas do pastel, técnica que utilizaria habilmente, o pintor desenvolve um naturalismo tardio e ecléctico influenciado pela obra de Bastien-Lepage (exemplo em Galeria).[2]
Galeria
editarReferências
editarLigação externa
editar- Página oficial do Museu Nacional de Arte Contemporânea, [3]