Os barmas, também comumente conhecidos como baguirmis (ou escrito como bagirmis),[1][2] são um grupo étnico originário do centro-sul do Chade, tradicionalmente localizados na região do rio Chari, que se estende desde a capital Jamena até Busso.[3][4]

O termo barma também é utilizado como sinônimo de baguirmi, uma referência ao antigo reino fundado e dominado pelos barmas e que contava também com habitantes de origem árabe e fula, tornando-se assim uma sociedade multiétnica.[2][3][5]

A língua falada pelos barmas é o tar barma, que pertence ao ramo centro-sudânico das línguas nilo-saarianas, estreitamente relacionada às línguas faladas pelos povos saras, quengas e bulalapes.[4]

História

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Origens

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Os barmas são historicamente reconhecidos como os fundadores do Reino de Baguirmi, estabelecido no início do século XVI.[6] Segundo a tradição, o primeiro soberano do reino foi Dala Birni Besse, que teria liderado um grupo de seguidores a partir da região de Quenga e fundado o assentamento de Massenya, que se tornaria a capital do reino.[4]

O nome baguirmi pode derivar de palavras árabes que indicavam um tributo, possivelmente relacionado ao pagamento que os primeiros súditos árabes e fulas fizeram ao líder barma, embora o termo também tenha sido associado à administração e organização do reino.[3]

Após a colonização francesa e a independência do Chade em 1960, os barmas, como muitos outros grupos no país, passaram por mudanças significativas.[7] A sociedade que antes era centrada na autoridade do mbang se transformou, mas o legado cultural e linguístico dos barmas permanece forte. Hoje, a maioria dos barmas ainda vive nas áreas rurais do Chade, mantendo suas práticas agrícolas e pecuárias, embora também tenham se integrado nas esferas urbanas e políticas do país.[7]

Estrutura social

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Baguirmi, Cavalaria na África, Representações de nativos em obras europeias, Gambeson

Língua

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O idioma tar barma é um dos principais elementos que define a identidade do povo barma.[4][6][8] É uma língua centro-sudânica, relacionada às línguas de outros grupos do Chade, como os saras e quengas.[2][4] No entanto, muitos barmas contemporâneos também falam árabe chadiano (como os barmas árabes) ou fulani (como os barmas fulas).[6]

Organização social e política

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A organização social dos barmas foi historicamente marcada pela patrilocalidade, ou seja, a prática de viver com o marido na casa da família dele após o casamento.[7] As famílias nucleares coexistiam com a estrutura patrilinear, em que a ascendência e a herança passavam por linha masculina.[7] Embora não houvesse grupos de descendência rígidos como em outros povos africanos, as relações de parentesco eram fundamentais para a organização social.[7]

O mbang (sobenaro) dos barmas era o centro do poder político, e sua corte, composta por nobres e oficiais, governava a região.[7] Embora os barmas tenham enfrentado pressões externas ao longo dos séculos (incluindo a dominação dos impérios vizinhos como Bornu e Uadai),[9] a sua estrutura social e política continuou a ser um símbolo da resistência e da identidade local.

Cultura e sociedade

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A sociedade barma tradicionalmente era baseada em um sistema hierárquico, com um mbang (soberano) no topo, seguido de uma complexa rede de oficiais, clãs e outros grupos sociais.[7] A divisão de classes incluía um sistema político em que o mbang e seus oficiais exerciam grande controle sobre a população, muitas vezes incluindo grupos escravizados, que eram usados como força de trabalho nas propriedades e nas campanhas militares.[7]

A religião dos barmas foi originalmente uma mistura de crenças tradicionais e islamismo.[7] Embora os barmas tenham adotado o islã a partir do século XVI, a prática de cultos locais e a reverência à figura divina do mbang continuaram a ser componentes importantes da identidade religiosa do povo. A maioria dos barmas contemporâneos é muçulmana, com muitos seguindo a tradição islâmica, incluindo a observância do Ramadã, as orações diárias, e o Haje (peregrinação a Meca).[2] Embora a maioria dos barmas seja muçulmana, muitos ainda preservam práticas culturais relacionadas a seu passado e à sua história, incluindo festas, danças e rituais religiosos associados à liderança do mbang e ao culto à sua autoridade.

Economia

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Historicamente, a economia dos barmas era baseada na agricultura e pecuária.[6] Eles cultivavam principalmente milho, sorgo, milheto, feijão, sementes de gergelim, amendoim e algodão.[6][10] Além disso, a pesca nas águas do Chari era uma atividade complementar, especialmente para aqueles que viviam nas áreas mais próximas dos rios.[6][10]

Demografia

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No contexto do Chade moderno, estimava-se que os barmas somavam entre 50 000 a 70 000 as até o início do século XXI[2][11] – com sua distribuição predominantemente em áreas ao longo dos rios Chari e Bar Erguigue, no sul do país.[2][3]

Historicamente, os barmas formaram a espinha dorsal da sociedade do antigo Reino Baguirmi, mas hoje convivem com outros grupos étnicos na região, como das comunidades árabes chadianas e fulanis, que se integraram na sociedade local, tornando-a uma comunidade multiétnica.[4]

Referências

  1. Yakan 1999, p. 357.
  2. a b c d e f Olson 1996, p. 75.
  3. a b c d Reyna 1996, p. 32.
  4. a b c d e f Stokes 2009, p. 89.
  5. Zehnle 2017, p. 30.
  6. a b c d e f Reyna 1996, p. 33.
  7. a b c d e f g h i Reyna 1996, p. 34.
  8. Gearon 2005, p. 227.
  9. Collins 2005, p. 119.
  10. a b Olson 1996, p. 76.
  11. Britannica 2014.

Bibliografia consultada

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  • Britannica, The Editors of Encyclopaedia (2014). «Bagirmi». Encyclopædia Britannica. Consultado em 26 de janeiro de 2025 
  • Reyna, Stephen (1996). «Bagirmi». In: Levinson, David. The Encyclopedia of World Cultures - 10 Volume set, 1st Edition. New York, NY: Macmillan. ISBN 978-0816118403 
  • Yakan, Bagirmi, ed. (1999). «Mohamad». Almanac of African Peoples and Nations (ePub ed.). New York, NY: Routledge. ISBN 978-1560004332 
  • Olson, James Stuart, ed. (1996). «Barma». The Peoples of Africa: An Ethnohistorical Dictionary. Westport, Connecticut: Greenwood. ISBN 978-0-313-27918-8 
  • Gearon, Eamonn (2005). «Central Africa, Northern: Chadic People». In: Shillington, Kevin. Encyclopedia of African History 3-Volume Set. New York, NY: Routledge. ISBN 9781579582456 
  • Collins, Robert O. (2005). «Bagirmi, Wadai, and Darfur». In: Shillington, Kevin. Encyclopedia of African History 3-Volume Set. New York, NY: Routledge. ISBN 9781579582456 
  • Stokes, Jamie, ed. (2009). «Bagirmi & Barma». Encyclopedia of the Peoples of Africa and the Middle East. New York, NY: Facts on File. ISBN 9780816071586 
  • Zehnle, Stephanie (2017). «Baguirmi». In: Aderinto, Saheed. African Kingdoms - An Encyclopedia of Empires and Civilizations. Santa Barbara, Califórnia: ABC-CLIO. ISBN 9781610695794 
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