Basilica Palladiana
A Basilica Palladiana está incluída no sítio "Cidade de Vicenza e Villas de Palladio no Véneto", Património Mundial da UNESCO. |
A Basilica Palladiana é um edifício público que se perfila na Piazza dei Signori, em Vicenza, capital da província com o mesmo nome na região do Véneto. o seu nome está indissociavelmente ligado ao do arquitecto renascentista Andrea Palladio, que reprojectou o Palazzo della Ragione acrescentando-lhe à preexistente construção gótica as célebres loggias em mármore branco com serlianas.
Em tempos sede das magistraturas públicas de Vicenza, hoje a Basilica Palladiana, dotada de três espaços expositivos independentes, é cenário de mostras de arquitectura e de arte. Está incluida, desde 1994, com as outras obras arquitectónicas de Palladio em Vicenza, na lista do Património da Humanidade da UNESCO como fazendo parte do sítio Cidade de Vicenza e Villas de Palladio no Véneto.
História
editar- Não é possível descrever a impressão que faz a Basilica de Palladio... (Johann Wolfgang von Goethe, em Il viaggio in Italia)
O edifício sobre o qual Palladio viria a intervir era o Palazzo della Ragione, realizado segundo o projecto de Domenico da Venezia, que englobava por sua vez dois edifícios públicos preexistentes, uma importante estrada de comunicação entre o centro, o Borgo di Berga e o Campo Marzo. À esquerda do edifício surge até agora a Torre Bissara (século XII), com 82 metros de altura, cujo pináculo é de 1444.
Realizado em formas góticas em meados do século XV, o Palazzo della Ragione no seu piso superior é inteiramente ocupado por um enorme salão sem suportes intermédios, o Salão do Conselho dos Quatrocentos (Salone del Consiglio dei Quattrocento). A ambiciosa cobertura em forma de casco de navio invertido, recoberta por placas de cobre, em parte levantada por grandes arquivoltas, era inspirada naquela realizada em 1306 para o Palazzo della Ragione de Pádua. O revestimento da fachada gótica foi realizado em losangos em mármore rosa e amarelo de Verona, ainda sendo visível por trás do acrescento palladiano. O edifício era sede das Magistraturas públicas de Vicenza e, no piso térreo, de activo grupo de lojas.
Entre 1481 e 1494, Tommaso Formenton circundou o antigo palácio com uma dupla ordem de loggias. Dois anos depois do fim dos trabalhos, a esquina sudoeste desmoronou e os vicentinos debateram por mais de quarenta anos sobre a modalidade da reconstrução. No decorrer das décadas foram investidos do problema os mais cotados arquitectos activo na região: Antonio Rizzo e Giorgio Spavento em 1496, Antonio Scarpagnino em 1525 e ainda Jacopo Sansovino em 1538, Sebastiano Serlio em 1539, Michele Sanmicheli em 1541 e por último Giulio Romano (1542) que elaborou a singular proposta de elevar a Piazza delle Erbe e isolar o edifício ao centro duma grande praça simétrica.
Apesar dos pareceres de tantos ilustres, em Março de 1546 o Conselho citadino aprova o projecto dum arquitecto local de apenas trinta e oito anos, então decididamente pouco conhecido: Andrea Palladio. A atribição ao seu protegido foi sem dúvida uma das maiores vitórias de Giangiorgio Trissino (o mentor de Palladio), capaz de aglomerar em torno do seu nome a maioria dos consensos. Ainda que ao lado do jovem arquitecto, quase a garantir o seu trabalho, figurasse o especialista e confiável Giovanni da Pedemuro, para dissipar qualquer dúvida o Conselho solicitou a construção dum modelo em madeira duma das novas arcadas para submeter ao juízo dos vicentinos. Depois de outros três anos de discussões, que voltam a por em jogo os projectos de Rizzo-Spavento e Giulio Romano, em Maio de 1549 foi definitivamente aprovado o projecto de Andrea Palladio pelo qual se exprimiram com força os nobres Gerolamo Chiericati e Alvise Valmarana, que nos anos seguintes serão clientes de Palladio para os seus próprios palácios de família, o Palazzo Chiericati e o Palazzo Valmarana, respectivamente.
Conservaram-se diversos desenhos autografados que documentam a precisão desde a ideia de projecto da primitiva versão de 1546 à estrutura depois realizada. A solução proposta por Palladio é uma estrutura, por assim dizer, elástica, capaz de ter em conta os necessários alinhametos com as aberturas e os portões do preexistente palácio quatrocentista; o sistema baseia-se na interacção da chamada "serliana]", ou seja, uma estrutura composta por um arco de vao constante flanqueado por duas aberturas rectangulares laterais, de largura variável e, assim, capazes de absorver as diferenças de tamanho dos tramos. O funcionamento é evidente nas arcadas angulares, onde as aberturas arquitravadas são reduzidas quase a zero, mas estão presentes em todos os tramos, cuja largura varia sempre, ainda que ligeiramente.
A serliana (que Sebastiano Serlio publica no IV Livro do seu tratado, editado em Veneza no ano de 1537) é na verdade uma tradução em linguagem clássica da polífora gótica, utilizada pela primeira vez por Donato Bramante na igreja de Santa Maria del Popolo, em Roma, e já utilizada no Véneto por Jacopo Sansovino na Biblioteca Marciana, em 1537. Todavia, a referência directa da ideia palladiana para Vicenza encontra-se no interior da igreja do mosteiro de San Benedetto in Polirone, reestruturado a partir de 1540 por Giulio Romano, onde as serlianas foram utilizadas para absrver as diferenças de largura dos tramos quatrocentistas da velha igreja.
Com uma certa ênfase rectórica, o próprio Palladio definiu como "basílica" o Palazzo della Ragione circundado pelas novas loggias em pedra, em homenagem às estruturas da Roma Antiga onde se discutia de política e se tratavam negócios. Para a carreira de Palladio, a obra das loggias constitui um ponto de viragem definitivo. Com isto, tornou-se oficialmente no arquitecto da cidade de Vicenza, responsável por uma obra grandiosa (inteiramente em pedra e que consequentemente custará a notável soma de 60.000 ducados) sem igual no século XVI veneto: para obter uma outra encomenda de tal porte, o arquitecto teve que esperar pela década de 1560, com a obra da Basílica de São Jorge Maior em Veneza. Ao mesmo tempo, o salário de 5 ducados ao mês constituirá para Palladio e para a sua família uma indispensável fonte constante de rendimentos, à qual não renunciará por toda a vida. A obra proceder-se-ia lentamente: a primeira ordem de arcadas setentrionais seria concluida em 1561, o segundo nível, começado em 1564, só foi concluido em 1597 (dezassete anos depois da morte de Palladio), e a frontaria voltada para a Piazza delle Erbe em 1614.
O palácio tranaformado deste modo permanece assim recordado como Basilica Palladiana devido ao nome do seu arquitecto e conserva, depois de numerosos restauros (o último em curso desde 2007; o anterior terminado em 2002), o aspecto da obra quinhentista projectada por Palladio. Sob a República de Veneza costituia o fulcro de actividade não só política (Conselho citadino, tribunal) mas também económica. No interior do salão esteve hospedado por um certo período o teatro all'antica, um dos espaços cénicos de uso temporário projectados por Palladio antes do Teatro Olimpico.
No decorrer da Segunda Guerra Mundial, a Basilica foi gravemente danificada, no dia 18 de Março de 1945, durante um bombardeamento, juntamente com a Torre Bissara, apesar de estar inserida pelos Aliados entre os monumentos que não deviam ser atingidos durante os ataques aéreos. Uma bomba incendiária destruiu a cobertura original da Basilica, a qual foi reconstruída no pós-guerra imediato nas suas formas originais. O altopiano dei sette comuni doou a madeira necessária.
Em 1994, a Basilica Palladiana, juntamete com os outros monumentos de Vicenza "cidade de Palladio", entrou na lista do Património da Humanidade da UNESCO.
O restauro
editarNo começo de 2007 tiveram início importantes trabalhos de restauro do monumento: a cobertura doi seccionada para remover os arcos estruturais em cimento armado da reconstrução pós-bélica e substitui-los por mais ligeiros arcos em madeira laminar. Também se interveio, por outro lado, para polir e consolidar todas as fachadas, dotando o edifício duma nova iluminação. O término dos trabalhos deslizou para finais de 2011; portanto, os trabalhos prosseguiram por todo o 2008, o próprio ano em que foram celebrados os quinhentos anos do nascimento de Palladio, com várias polémicas, embora o edifício nunca fosse inteiramente selado pelas armaduras. No decorrer dos últimos meses, as partes restauradas foram progressivamente destapadas e foram promovidas iniciativas que permitiram viver o estleiro, como, por exemplo, Una volta ogni 450 anni, a visita ao próprio estaleiro (com registo de presenças) ou a instalação no andaime dum ecrã onde eram projectados vídeos sobre a cidade e as suas belezas (denominado Palladio Infinito).
O custo total de 15 milhões de euros para o restauro foi inteiramente financiado pela Fondazione Cassa di Risparmio de Verona, Vicenza, Belluno e Ancona.
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Substuição da estrutura de cobertura (Setembro de 2007).
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Vislumbre da reconstrução (Setembro de 2007).
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O salão superior da Basilica com os andaimes.
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Remontagem dos arcos (Junho de 2008).
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As traseiras do edifício vistas do Monte Berico (Setembro de 2008).
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A abóbada da loggia superior acabada de restaurar (Setembro de 2008).
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Baixo relevo com traços cromáticos acabado de restaurar (Setembro de 2008).
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Monumento a Andrea Palladio com as loggias da Basilica em fundo.
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Vista parcial da fachada com a Torre Bissara.
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A fachada vista da Piazza dei Signori.
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Vista da Basilica e da praça à noite.
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Vista parcial da fachada da Basilica e base da Torre Bissara.