Bento de Oliveira Cardoso e Castro Guedes de Carvalho Lobo
Bento de Oliveira Cardoso e Castro Guedes de Carvalho Lobo (Baião, Grilo, 8 de Novembro de 1877 — Porto, 3 de Setembro de 1935), primeiro e único visconde de Vila Moura,[1][2] formado em Direito, foi um político, intelectual e escritor decadentista, que, entre outras funções foi deputado às Cortes da Monarquia Constitucional Portuguesa. Correspondente de Fernando Pessoa,[3] foi cronista da revista A Águia e autor de uma vasta e fecunda obra como escritor, novelista, contista, cronista e crítico literário. De entre as suas obras destaca-se Nova Safo (1912), pela coragem na abordagem dos temas do lesbianismo, necrofilia e homossexualidade masculina[4] que provocou grande escândalo à época.
Bento de Oliveira Cardoso e Castro Guedes de Carvalho Lobo | |
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Nascimento | 8 de novembro de 1877 Grilo, Baião |
Morte | 3 de setembro de 1935 (57 anos) Porto |
Nacionalidade | Portugal |
Ocupação | escritor, político, deputado |
Magnum opus | Nova Sapho - tragédia extranha: romance de patologia sensual |
Escola/tradição | Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra |
Biografia
editarNasceu na freguesia de Grilo, concelho de Baião, filho de Alexandre Vicente Rodrigues Cardoso, bacharel em Direito e grande proprietário fundiário, e de sua mulher Maria Cândida de Oliveira e Castro, senhora da Casa da Eira de Portomanso, no mesmo concelho.[5]
Depois de concluir os estudos liceais no Colégio dos Vasconcelos, no Porto, matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde se viria a licenciar em 1900, ano que foi agraciado com o título de 1.º Visconde de Vila Moura por decreto de 25 de Outubro de 1900, do rei D. Carlos I de Portugal. Herdou de seus pais importantes propriedades, tornando-se num dos maiores proprietários do concelho de Baião. Nunca tendo casado, não teve descendência.
Ainda estudante em Coimbra revelou-se um escritor dotado, iniciando, a partir de 1898, a publicação de uma extensa obra literária que inclui diversos géneros, desde o conto, o romance e a novela até ao ensaio literário. Membro do movimento cultural portuense da Renascença Portuguesa, aderiu à estética decadentista, recusando o positivismo e o naturalismo neo-realista. Algumas das suas obras têm um cunho marcadamente sensual, com referências explícitas à homossexualidade, o que foi fonte de escândalo ao tempo.[6]
Na política foi militante do Partido Regenerador, pelo qual foi eleito deputado pelo círculo do Porto Oriental nas eleições gerais de 1908. Prestou juramento a 2 de Maio de 1908, integrando durante o mandato diversas comissões parlamentares. Desempenhou também as funções de secretário da Câmara dos Deputados em algumas sessões. As suas intervenções centraram-se na área das comunicações, com destaque para os caminhos-de-ferro e para o seu funcionamento, para a necessidade de abertura de uma rede viária para os concelhos de Baião e Marco de Canaveses, nas questões referentes à viticultura duriense e em matérias de instrução pública e de saúde.[5]
Com a implantação da República Portuguesa abandonou a política activa, recolhendo-se à cidade do Porto e dedicando-se quase em exclusivo à actividade literária. Foi no período pós-1910 que publicou o essencial da sua obra, revelando-se um escritor de grande mérito.
Obra
editarLista de obras publicada do Visconde de Vila-Moura:[7]
- Antes e depois da minha jornada a Alhandra, em homenagem a Sousa Martins (Coimbra, 1898)
- Carta a Senna Freitas - A Moral na Religião e na Arte (Coimbra, 1906)
- A Vida Mental Portugueza: psychologia e arte (Porto, 1909)
- Vidda Litteraria e Politica (Porto, 1911)
- Nova Sapho - tragedia extranha: romance de pathologia sensual (Lisboa, 1912)
- Doentes da Bellesa (Porto, 1913)
- Camillo inedito (Porto, 1913)
- Bohemios (contos e novelas, Porto, 1914)
- António Nobre - seu génio e sua obra (Porto, 1915)
- Grandes de Portugal (Porto, 1916)
- As cinzas de Camillo (Porto, 1917)
- Fanny Owen e Camillo (Porto, 1917)
- Os Últimos: romance (Porto, 1918)
- Obstinados (Porto, 1921)
- Pão Vermelho: Sombras da Grande Guerra (Porto, 1924)
- Um Homem de Treze Anos (Porto, 1924)
- Cristo de Alcácer: novela (Porto, 1924)
- Calvário de um Violento (Porto, 1924)
- Almas do Mar (Porto, 1924)
- O Imaginário (Porto, 1924)
- Irmã das Árvores (Porto, 1924)
- Uma Família de Ibsen (Porto, 1924)
- Luz Fremente: novela (Porto, 1924)
- Calvário de um Violento (Porto, 1924)
- "Palma Mater": novela (Porto, 1924)
- O Poeta da Ausência (Porto, 1926)
- Cariátide (Porto, 1927)
- Entre Mortos (Porto, 1928)
- Raiz em Flor (Porto, 1931)
- O Pintor António Carneiro (Porto, 1931)
- O Incêndio (1933)
- Dor Errante… (Porto, 1933)
- Piedade (Porto, 1934)
- Novos Mitos (Porto, 1934)
- Prefaciou ainda obras de Bernardo Augusto de Madureira e Vasconcelos (Sol D'Aquino: Sonetos, 1916), Carlos Cochofel (Lírios, 1918) e Maria Cândida Nogueira de Azevedo Pinto (Primaveras, 1927)
Notas
- ↑ Título criado por decreto de 25 de Outubro de 1900, do rei D. Carlos I de Portugal
- ↑ Frequentemente grafado Visconde de Vila-Moura ou Visconde de Villa-Moura.
- ↑ Isabel Murteira França, Fernando Pessoa na intimidade, Lisboa, Dom Quixote; Paisagem, 1987
- ↑ Aníbal Fernandes, in introdução a Sodoma Divinizada, de Raul Leal, Editora Guimarães, 2010
- ↑ a b Maria Filomena Mónica (coordenadora), Dicionário Biográfico Parlamentar (1834-1910), volume II, pp. 607-608. Lisboa: Assembleia da República, 2005.
- ↑ João Alves, O Génio de Vila Moura - Meditação sobre os problemas da literatura contemporânea, Livraria Tavares Martins, Porto, 1937
- ↑ «Porbase: Biblioteca Nacional de Dados Bibliográficos»
Ligações externas
editar- «Nova Sapho - texto integral disponível no Projecto Gutenberg». Consultado em 29 de março de 2010