O Berbigão do Boca é uma festa e um bloco[nota 1] da cidade brasileira de Florianópolis que tradicionalmente abre os festejos de carnaval da cidade. Criado em 1992 e tendo saído pela primeira vez em 1993, surgiu com o objetivo de estender por mais tempo e animar o carnaval de Florianópolis e se tornou um dos eventos mais tradicionais da cidade, sendo provavelmente o evento de carnaval local mais conhecido nacionalmente.[1]

Berbigão do Boca
Berbigão do Boca
Berbigão do Boca de 2015.
Fundação 05 de março de 1992 (32 anos)
Símbolo berbigão
Bairro Centro de Florianópolis
Site oficial «berbigaodoboca.com.br/» 

Nomeado em homenagem a um de seus fundadores, Paulo Bastos Abraham, conhecido como Boca, e ao berbigão, fruto do mar típico da cidade, a festa tem entre suas tradições o concurso culinário com receitas do molusco e o desfile pelas ruas do Centro ao som da tradicional marchinha do Berbigão com os bonecos gigantes, que representam pessoas que tiveram relevância na vida da cidade e do carnaval local.

História

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Berbigão do Boca próximo a Alfândega em 2008.

No início do anos 1990, o Carnaval de Florianópolis tinha passado recentemente por uma transformação física e estrutural. Alguns anos antes, o aterro da Baía Sul e as pontes mudaram o cenário do Centro da cidade. As festas de carnaval, que tradicionalmente aconteciam no entorno da Praça XV de Novembro, se dividiram, com os desfiles das escolas de samba deixando a praça e indo para a Avenida Paulo Fontes, e depois para a Passarela Nego Quirido. Muitos foliões não gostaram da mudança e diziam que o carnaval florianopolitano estava perdendo sua força de outrora.[2]

 
O pavilhão usado nos anos recentes durante o Berbigão do Boca de 2015.

Na quarta-feira de cinzas de 1992, no bar do Clube Doze, em Coqueiros, um grupo de sete foliões estava reunido. O grupo era formado por Ricardo Bastos Ferreira, o Caco, Euclides Bianchini, o Tico, Paulo Roberto da Rosa, o Paulão, Sérgio Rebelo, o Serginho, Adil Rebelo, o Rebelinho, Leonardo Garofallis, o Nado, e Paulo Bastos Abraham, o Boca. Em entrevista, Nado comenta que Boca estava chateado com o fato de que, naquela mesma hora, em Pernambuco, o Bacalhau do Batata ainda arrastava uma multidão com os bonecos de Olinda, enquanto em Florianópolis o carnaval estava acabado e cada vez mais desanimado, sugerindo a criação de um bloco pra estender a folia como faziam os pernambucanos. Os outros gostam da ideia e sugeriram criar um bloco pra animar as pessoas, mas ao invés de fechar o carnaval como o Bacalhau, abrir a folia, aproveitando que, naquele ano, o tradicional Enterro da Tristeza, que sai na quinta antes do carnaval abrindo a semana, não tinha desfilado.[2][3] Os amigos então fixaram uma data - na sexta anterior a sexta de carnaval - e um local - na região do Mercado Público e no Largo da Alfândega, dois dos locais mais tradicionais do Centro. O nome foi sugerido por Nado, em homenagem ao berbigão, molusco popular da culinária de Florianópolis, e ao Boca, porque, além de ser ele que estava reclamando inicialmente, também era considerado pelos outros o maior folião daquele grupo - ele tinha fundado o bloco de sujos Sou + Eu alguns anos antes. Boca é o diretor do Berbigão até hoje. Nado também ainda faz parte da diretoria.[2][4]

 
O arrastão do Berbigão do Boca, quando a festa toma as ruas do Centro de Florianópolis.

Em 1993, o bloco sai as ruas pela primeira vez, e logo cai no gosto popular. Em 1995, surgem os primeiros bonecos, ligados a uma tradição local, a das maricotas do Boi de Mamão. Até 2000, o vão central do Mercado Público foi usado, mas o sucesso de público leva a festa a ocupar também o Largo da Alfândega, e na atualidade, se usa um pavilhão montado na Avenida Paulo Fontes, ao lado do Mercado.

Em 2003, um decreto declara o Berbigão a abertura oficial do Carnaval de Florianópolis. Em 2012, a festa foi declarada oficialmente Patrimônio Imaterial de Florianópolis.[5][6][7] Em 2017, um livro de receitas de Berbigão foi lançado em comemoração aos 25 anos da festa.[8]

Desde 1993, a festa acontece quase que anualmente - as exceções foram nos anos de 2007, 2017 e, devido a pandemia de COVID-19, entre 2021 e 2022[9][10][11] - atraindo, em seus últimos anos, cerca de cem mil pessoas durante todo o período da festa e entre 50 e 60 mil no arrastão pelas ruas, o auge do evento.[12][13][14]

Bonecos gigantes

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Em 1995 estreiam os bonecões do Berbigão, que remetem as maricotas do Boi de Mamão, uma tradição da colonização açoriana similar aos gigantones. É provável também que os bonecos do carnaval de Olinda, já famosos, também tenham influenciado, mas diferente destes, existe uma regra para sua criação: essas esculturas representam pessoas falecidas que se destacaram em vida na cultura popular florianopolitana e, em especial, mas não obrigatoriamente, no carnaval da cidade. Muitas vezes se brinca dizendo que a pessoa "virou boneco" e não que morreu.[15][16] Atualmente são quarenta e dois bonecões.[17] O artista plástico Allan Cardoso é o criador dos bonecões.[18]

Os bonecos

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Homenageado Motivo Falecido em Estréia do boneco
Hilton da Silva (Lagartixa) Folião famoso desde os anos 1940, foi Rei Momo da cidade por muitos anos. 1997 1995
Luiz Henrique Rosa Cantor e compositor de bossa nova e MPB. 1985 1996
Beto Stodieck Jornalista e cronista social. 1990 1997
Antônio Carlos Costa (Nego Tuca) Músico, DJ e batuqueiro, atuou em escolas e blocos como o Enterro da Tristeza. 1996 1998
Cláudio Alvim Barbosa (Zininho) Cantor e compositor. Compôs o Rancho de Amor à Ilha, o hino de Florianópolis. 1998 1999
Hélio do Amaral Lange (Paru) Folião famoso. 1998 2000
Neide Maria Rosa Cantora. Foi a interprete original do Rancho de Amor à Ilha. 1994 2000
Djalma do Piston Músico. 2001
João da Costa (Negão Tenente) Ritmista. 2002
Ernesto Meyer Filho Artista plástico. 2002
Beatriz Rosa (Bia Rosa) Promoter social. 2000 2003
Carlinhos da Tuba Músico. 2005 2004
Pedrinho do Pandeiro Cantor e compositor. Compôs a música do Berbigão do Boca. 2004
Aldírio Simões da Silva Jornalista, escritor e cronista social, criador do Troféu Manézinho da Ilha. 2004 2005
Cláudio Hahn da Silva (Miro) Colunista social. 2005
Yoldory Bittencourt Folião famoso. 2005 2006
Danilo de Souza Luiz (Serratini) Músico. 2005 2006
Antônio Henrique Bulcão Viana Político. 2007 2008
Ricardinho Bavasso Colunista. 2005 2008
Ademar de Oliveira (Ademar Ben Johnson) Garçom. 2008
Tullo Cavalazzi Maestro. 2008 2009
Abelardo Henrique Blumenberg (Avez-Vous) Folião famoso. Fundou a Copa Lord e atuou em várias escolas e blocos. 2008 2009
Ariel Bottaro Filho Jornalista e cronista social. 2009
Hélio Norberto da Silva (Cabrinha) Folião famoso. Foi presidente da Protegidos por muitos anos. 2009
Nivaldo Machado Filho (Dedão) Folião famoso. 2010
Erotides Helena da Silva (Nega Tide) Foliã famosa, Eterna Cidadã Samba. 2010 2011
Adir Manoel da Cunha (Mestre Dica) Carnavalesco. 2011
Airton Oliveira (Peteleco) Carnavalesco, compositor e apoiador do carnaval. 2012
Franklin Joaquim Cascaes Pesquisador da cultura açoriana. 1983 2012
Adilson Coelho Folião famosa, Cidadão Samba. 2012
Carlos Magno Carnavalesco. 2013
Paulo Dutra Fotógrafo. 2013
Valmir José Mendes (Maestro Mendes) Músico. 2013 2014
Orlando Pessi (Torrado) Folião famoso. 2013 2014
Wilmar Pacheco (Pitanga) Manezinho famoso. 2014 2015
Jorge Luiz Arsênio Carnavalesco. 2016
Hiedy de Assis Corrêa (Hassis) Pintor e muralista. 2001 2016
Maurício Amorim Coordenador do concurso gastrônomico do Berbigão do Boca. 2016 2018
Túlio Carpes Folião famoso, criador da banda Mexe-Mexe. 2017 2019
Hernani Luís Barbosa (Hulk) Rei Momo da cidade por muitos anos. 2019 2020
Osvaldo Gonçalves (Dico) Carnavalesco famoso por suas fantasias. 2021 2023
Nilton Elizeu da Silva (Mestre Rato) Mestre da bateria do Berbigão e de várias escolas de samba. 2022 2024

Eventos

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O arrastão do Berbigão do Boca na Rua Tenente Silveira, próximo ao Palácio Cruz e Sousa.
 
O Rei Momo Hulk recebendo a chave da cidade do prefeito no Berbigão do Boca de 2014.

A festa do Berbigão dura entre dez e doze horas, começando ao meio-dia da sexta anterior a sexta-feira de carnaval e terminando no fim da noite. Diversos eventos acontecem nesse tempo. No início, o festival gastronômico, onde os competidores disputam com pratos que tenham o berbigão como o destaque da receita.[19] O festival foi idealizado por Maurício Amorim, que o coordenou por muitos anos. Também são apresentados os novos bonecos, são dados os troféus Amigo do Berbigão do Boca e bandas, artistas e entidades culturais em geral se apresentam. Já a rainha do Berbigão é eleita alguns dias antes da festa.

Tradicionalmente, no Berbigão o prefeito entrega a chave da cidade ao Rei Momo, momento que simbolicamente dá início ao carnaval.

Finalmente, no início da noite, começa o arrastão, quando a festa vira um bloco que toma as ruas da cidade com a corte do carnaval e os bonecos. O desfile é o auge da festa, e cerca de sessenta mil pessoas participam do desfile, que sai do local da festa no Largo da Alfândega e atravessa o Centro indo até a Praça XV e retornando a Alfândega em cerca de duas ou três horas de bloco.

O Berbigão também oferece, alguns dias depois da festa, o Tamborim de Ouro para a escola melhor avaliada pelos jurados próprios do Berbigão nesse quesito, que não é contemplado nas notas do desfile das escolas de samba.[20]

Música

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Uma das tradições do Berbigão do Boca é que o arrastão toca uma única marchinha, o samba-hino do Berbigão do Boca. Foi composta por Pedro Paulo Fazzini, o Pedrinho do Pandeiro. Dudu França, amigo de Pedrinho, fez a gravação oficial.[21]

Notas

  1. A organização não considera o berbigão um bloco, e sim uma festa. Entretanto, o arrastão no final da festa tem todas as características de um, sendo de facto um bloco de carnaval.

Referências

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  1. «Bonecos gigantes marcam abertura do carnaval em Florianópolis». Jornal Hoje 
  2. a b c «Berbigão do Boca - Histórico». Berbigão do Boca. Consultado em 16 de fevereiro de 2020 
  3. Cardoso, Marcos (1 de fevereiro de 2020). «Entrevista: Leonardo Garofallis (Nado)». Notícias do Dia. Consultado em 16 de fevereiro de 2020 
  4. «Memória do Box: Boca, o maior festeiro da Ilha». Versar. 8 de fevereiro de 2020. Consultado em 16 de fevereiro de 2020 
  5. «BERBIGÃO DO BOCA PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL DE FLORIANÓPOLIS». Berbigão do Boca. Consultado em 16 de fevereiro de 2020 
  6. Damião, Carlos (9 de janeiro de 2017). «Berbigão do Boca resgatou nosso espírito de Carnaval de rua». Notícias do Dia 
  7. «Lei Nº 8812». DISPÕE SOBRE TOMBAMENTO DO BLOCO CARNAVALESCO BERBIGÃO DO BOCA. 11 de janeiro de 2012 
  8. «Berbigão do Boca lança livro com 59 receitas com o mais "mané" dos moluscos». Notícias do Dia. 9 de fevereiro de 2017 
  9. «Berbigão do Boca decide cancelar evento que abre o Carnaval de Florianópolis». Notícias do Dia. 8 de janeiro de 2017. Consultado em 16 de fevereiro de 2020 
  10. «Berbigão do Boca diz que edição 2017 da festa está cancelada». G1. 9 de janeiro de 2017. Consultado em 16 de fevereiro de 2020 
  11. «NOTA OFICIAL - Cancelado o Berbigão do Boca 2021». Berbigão do Boca. 22 de dezembro de 2020. Consultado em 27 de julho de 2021 
  12. «Berbigão do Boca abre o Carnaval de rua 2020 de Florianópolis». Hora de Santa Catarina. 14 de fevereiro de 2020. Consultado em 16 de fevereiro de 2020 
  13. «Berbigão do Boca abre o carnaval de Florianópolis e altera o trânsito». G1. 12 de fevereiro de 2020. Consultado em 16 de fevereiro de 2020 
  14. «Passagem do bloco do Berbigão do Boca, em Florianópolis, é marcada pelo calor e animação». G1. 22 de fevereiro de 2019. Consultado em 16 de fevereiro de 2020 
  15. «Berbigão do Boca tem quatro novos bonecos». Diário Catarinense. 23 de janeiro de 2008. Consultado em 16 de fevereiro de 2020 
  16. «Veja quem é o homenageado no 41º boneco do Berbigão do Boca, no Carnaval de Florianópolis». ND+. 22 de janeiro de 2023. Consultado em 1 de fevereiro de 2023 
  17. «Berbigão do Boca eterniza Mestre Rato no Carnaval de Florianópolis: "Um ás na percussão"». NSC Total. 25 de janeiro de 2024. Consultado em 18 de fevereiro de 2024 
  18. «Berbigão do Boca - Bonecos». Berbigão do Boca 
  19. «CONCURSO GASTRONÔMICO BERBIGÃO DO BOCA REGULAMENTO». Berbigão do Boca 
  20. «Berbigão do Boca - Programação». Berbigão do Boca 
  21. «Música - Berbigão do Boca». Berbigão do Boca 

Ligações externas

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