Bernardino António de Barros Gomes

Botânico e silvicultor. Eng. , bacharel em Filosofia e sacerdote

Bernardino António de Barros Gomes[1] (Lisboa, 30 de Setembro de 1839 — Lisboa, 5 de Outubro de 1910), humanista, engenheiro, geógrafo e botânico. Bacharel formado em Filosofia pela Universidade de Coimbra.

Bernardino António de Barros Gomes
Bernardino António de Barros Gomes
Nascimento 30 de setembro de 1839
Lisboa
Morte 5 de outubro de 1910 (71 anos)
Convento de Arroios, Lisboa
Residência Rua Barata Salgueiro N.º 56, Lisboa
Nacionalidade Portugal
Ocupação botânico, engenheiro, geógrafo

Engenheiro florestal e botânico, silvicultor responsável pelo estudo, protecção e ordenamento do Pinhal de Leiria, bem como de outras matas públicas e privadas.

Ocupou o cargo de engenheiro sanitário da Delegação de Saúde de Lisboa até 5 de Outubro de 1910, sendo a sua exoneração decretada postumamente a 25 de Outubro de 1910.[2]

Filho do Doutor Bernardino António Gomes, médico, cientista e botânico e de Dona Maria Leocádia Fernandes Tavares de Barros, Directora do Asilo dos Calafates, em Lisboa e era irmão do eminente estadista Henrique de Barros Gomes.

Nasceu em Lisboa, no seio de uma família de naturalistas, após terminar o ensino liceal ingressou na Universidade de Coimbra, onde estudou Filosofia. Formou-se em 1860, partindo para estudar na Academia Florestal e Agrícola de Tharandt (Leipzig), na Saxónia,[3] entre 1861 e 1862, onde e foi aluno externo.

Em Junho de 1866 casa com Elisa Wilcke em Dresden. Até esta data ainda mantinha ligações à Alemanha, e após o casamento mantém essa ligação ao país em que se formou Engenheiro Florestal, o que lhe permitia estar próximo e em permanente contacto com a Universidade de Tharandt, dos seus mestres e das inovações e estudos sobre geografia, botânica e silvicultura.

Do seu casamento com Elisa Wilcke, nasceu uma filha: Alda Luiza Wilcke de Barros Gomes que foi casada com José Augusto de Sampayo Quintela, neto do Conde de Farrobo e filho do 1º Visconde da Charruada.

De volta a Portugal consagrou-se logo aos estudos da sua predilecção e ocupou importantes cargos na Administração Geral das Matas do Reino e em outros serviços oficiais. A ele se deve grande parte do repovoamento florestal do País e os primeiros trabalhos de ordenamento florestal científico de matas como a Machada e Leiria. A par disso colaborou em revistas de agricultura, dando conta das suas investigações e sempre manifestando a sua preocupação pelo problema da silvícola e o melhor aproveitamento das matas.

Amigo próximo de Jaime Batalha Reis, agrónomo mas que foi como Humanista e Geógrafo que se tornou notável e reconhecido. É a partir dos anos que se encontra na Saxónia que Bernardino Barros Gomes e Jaime Batalha Reis trocam um conjunto importante de cartas,[4] do qual existem as enviadas do primeiro ao segundo no espólio de Batalha Reis depositado na Biblioteca Nacional de Lisboa. Nesta permanente e continuada correspondência que se intensificaria no início dos anos de 1870 e que perduraria durante a década seguinte, onde podemos observar inúmeras referências aos trabalhos científicos em curso; como por exemplo estudos sobre resinagem dos pinheiros na mata da Marinha Grande que eram bastante apreciados por J. Batalha Reis e da visita a Portugal do naturalista austríaco Willkomm que Bernardino Barros Gomes conhecera em Tharandt, onde este leccionava entre 1855 e 1868; viagem de estudo que provavelmente originou a publicação de Prodromus florae hispanicae, Heinrich Moritz Willkomm (Stuttgard 1861-1880).

Vida religiosa (1879 - 1910)

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Memorial ao Padre Fragues e Padre Barros-Gomes

Deixou a Vida pública depois de enviuvar em 1879 e entrou na Congregação dos Padres Lazaristas, sendo noviço desde 7 de Dezembro de 1885, professou a 8 de Dezembro de 1887, tendo sido ordenado Presbítero em 22 de Dezembro de 1888. Dedicou-se ao magistério, primeiro na Matriz de S. Louis des Français, escola anexa à paroquia francesa de Lisboa e, depois, no seminário que essa mesma congregação tinha no Convento de Arroios.

Foi na madrugada do dia da implantação da República, a 5 de Outubro de 1910, assassinado na capela do Convento de Arroios em Lisboa. As perseguições religiosas durante a primeira semana do Governo Republicano, levam à prisão centenas de padres e freiras, tendo-se registado apenas duas mortes: Bernardino Barros Gomes e o padre Alfredo Fragues.

Formado na Saxônia (Alemanha) teve em Portugal uma notável carreira como botânico e silvicultor, distinguindo-se pelos seus trabalhos nas matas nacionais do Vale do Zebro e Machada, Valverde e sobretudo na Mata Nacional de Leiria, cujo metódico ordenamento a ele se devem.

Foi adido à repartição da Agricultura no Ministério das Obras Publicas em 1863 e depois nomeado,[5] engenheiro de 2ª Classe.

Desde 1882 ocupou o cargo de Director do Pinhal de Leiria, responsável pelo seu estudo e ordenamento. Foi o autor da planta cadastral do Pinhal de Leiria. Foi por sua proposta que foram abertas as estradas que ligam a Marinha Grande a São Pedro de Moel e Marinha Grande e Vieira de Leiria foi de tal forma importante o seu trabalho como Engenheiro Florestal e Director do Pinhal de Leiria que no centenário de Bernardino Barros Gomes foi feita uma homenagem[6] e construído um monumento[7] em sua homenagem, na entrada do Pinhal.

Depois de 1876, dedica-se á elaboração de um trabalho cartográfico de Portugal para uso escolar, resultando numa das suas mais importantes obras; Cartas Elementares de Portugal,[8] onde apresenta o país dividido por 12 regiões e com um exaustivo trabalho cartográfico. O trabalho está dividido em vários capítulos ou cartas: carta concelhia, carta do relevo, carta dos arvoredos, carta agronómica e carta da povoação concelhia, cada uma delas acompanhada da respectiva nota explicativa.

Foi sócio correspondente da Academia Real das Ciências.

Obras Publicadas

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  • Cultura das plantas que dão a quina, Lisboa 1864.
  • Estudos Florestais, no Arquivo rural, Lisboa 1863 e 1864.
  • Esta memória, composta por ordem do Governo, foi transcrita no Jornal da Sociedade das Ciências Medicas, tomo XXIX, números 1 e 12, Lisboa 1865.
  • Sobre arborizações de Cabo Verde, Gazeta de Portugal, 1865.
  • Relatório florestal sobre as matas da Machada e Vale de Zebro, Lisboa 1865.[9]
  • Condições Florestais de Portugal, Lisboa 1876.[10]
  • Notice sur les arbres forestiers du Portugal, Jornal das Ciências Matemáticas, Físicas e Naturais, Lisboa Dez.º de 1877.
  • Carta Orographica e Regional de Portugal, Bernardino Barros Gomes, 1878[11]
  • Cartas Elementares de Portugal para uso nas escolas, por Bernardino A. Barros Gomes, Lisboa 1878[12]

Bibliografia

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  • Gomes, Bernardino Barros - Cartas Elementares de Portugal. 2ª edição. Lisboa 1990: Imprensa Nacional. Introdução de Nicole Nevy - Vareta, José Resina Rodrigues e João Carlos Garcia.
  • Pereda, Ignacio García, Mário de Azevedo Gomes (1885.1965). Mestre da Silvicultura Portuguesa. Sintra: Parques de Sintra.
  • Almeida, António Mendes de - Elogio histórico do Silvicultor Bernardino de Barros Gomes. Revista Agronómica, vol. XV, 1920, pag. 1 a 21.
  • Ribeiro, Orlando - Barros Gomes, Geógrafo. Revista da Faculdade de Letras, Lisboa 1934, II, 1, pag. 104 a 112.
  • Garcia, João Carlos - Cartas de Bernardino Barros Gomes a Jaime Batalha Reis. Finisterra, Lisboa 1988.
  • Devy-Vareta, Nicole - Bernardino Barros Gomes e a Silvicultura no desenvolvimento da geografia portuguesa oitocentista.[13] Lisboa 1989.

Referências

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  1. Maria Helena Dias (2006). «Bernardino Barros Gomes (1839-1910)». Instituto Camões 
  2. «Direcção geral de Saúde e Beneficência Publica.». Diário da Républica N.º 17, pag. 162. 25 de Outubro de 1910 
  3. Reino da Saxônia - Reino que existiu entre 1806 e 1918 e que a partir de 1871 fez parte do Império Alemão.
  4. Garcia, João Carlos - Cartas de Bernardino Barros Gomes a Jaime Batalha Reis. Finisterra, Lisboa 1988
  5. Ministério das Obras Publicas - Engenheiro de 2ª Classe, por decreto de 24 de Outubro de 1864.
  6. JM Gonçalves. «A homenagem a Bernardino Barros Gomes». Consultado em 15 de março de 2014 
  7. Mendes, José M. Amado; Câmara Municipal da Marinha Grande (1993). «Monumento a Bernardino Barros Gomes 1939». Secretaria de Estado da Cultura - Direcção Regional de Cultura do Centro 
  8. Barros Gomes, Bernardino (1878). Cartas Elementares de Portugal para uso nas Escolas. [S.l.]: Lallement Fréres Typ 
  9. Apresentado à Direcção do Comércio no Ministério das Obras Públicas em 8 de Setembro de 1864
  10. Barros Gomes, Bernardino (1876). «Condições florestais de Portugal». Lalement Fréres, Lisboa 
  11. Barros Gomes, Bernardino António (1875). Lallement Fréres Typ, ed. «Carta Orografica e Regional de Portugal» 
  12. Bernardino A. Barros Gomes (1878). «Cartas Elementares de Portugal». Lallement Fréres Typ 
  13. «Bernardino Barros Gomes e a silvicultura no desenvolvimento da geografia portuguesa oitocentista». FLUP - Artigo em Revista Científica Nacional. 1989 

Ligações externas

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