Bordado seridoense
O bordado seridoense, também conhecido como "bordado de Caicó" ou "bordado do Seridó", trata-se de um estilo de bordado típico da região do Seridó, no Rio Grande do Norte. No entanto, não se trata de um ponto específico, e sim de um forma de bordar que resulta em um lado avesso perfeito. Devido a esse artesanato peculiar da região, a cidade de Caicó passou a integrar o projeto Caminhos do fazer - Guia de produtos associados ao turismo, desenvolvido pelo Ministério do Turismo, devido a sua identificação e registro de produtos com representatividade cultural e identidade regional.[1]
Histórico
editarSegundo relatos dos habitantes da região do Seridó, o bordado seridoense teve sua origem no bordado típico da Ilha da Madeira; provavelmente a introdução desta prática ocorreu entre o final do século XVIII e o início do século XIX, por meio dos colonizadores portugueses, durante a fase de interiorização da província. Esta arte em Portugal foi, por muito tempo, praticada apenas para ornamentar igrejas e vestes eclesiásticas.[2]. Posteriormente, os bordados madeirinos migraram para as casas e passaram a ser comercializados por meio dos britânicos, no final do século XIX.[3]
A atividade de bordar desde então é uma atividade prioritariamente feminina e executável na esfera doméstica. Os trabalhos de agulha, presentes em enxovais e roupas foram - e ainda o são - realizados no âmbito de espaços tradicionalmente femininos, como a casa ou o atelier de costura, o bordado tem seu espaço nas casas e fora delas, como em eventos importantes e que marcam fases da vida, tais como: batizados, casamentos, festas e rituais religiosas e, até mesmo, os enterros. Era um meio de ocupar o tempo, disciplinar o corpo, prepara-se para o casamento e para o cuidado com a família. Usualmente, trata-se de uma prática cuja transmissão é geracional, daí o uso contínuo da expressão "de mãe para filha" para se referir ao aprendizado oral e também tradicional.
Na região, o bordado tem sido parte da vida das mulheres. Na década de 40 passa a ser comercializado atendendo à demanda de enxovais para a região e para além dela [4], mas é após os anos de 1970 que ele efetivamente se torna trabalho por meio das políticas públicas de geração de trabalho e renda durante os períodos de seca. Assim, a tarefa feminina se transforma em alternativa para obtenção de recursos e possibilidade de trabalho para além da lavoura.
As cidades de Caicó e Timbaúba dos Batistas são os locais onde mais se reflete essa tradição.[5]
Padrão
editarO Bordado Seridoense apresenta características semelhantes ao bordado típico da Ilha da Madeira, em Portugal; tais indícios podem ser comprovados através das estampas atuais, flores e pístilos; Porém as mulheres seridoenses deram características próprias, se utilizando de cores vivas, representando a fauna e a flora locais.
No Bordado Seridoense há a predominância dos elementos florais e uma contínua reinterpretação da natureza. Outro nível de comparação é o estilo dos pontos: alto relevo (ponto cheio, ponto aberto, cordonê e richelieu), matiz, rococó, crivo, ponto sombra, ponto haste, matame, rústico. Muitas vezes, esses bordados também compõem com aplicações de renda, outros tecidos, metálicos e plásticos (como lantejoulas, miçangas e canutilhos); e, mais notadamente, a organização dos motivos e composições para as peças, usualmente, representando, no caso dos florais, "ramalhetes de flores". O processo de produção passa pelo riscado, que é a base de qualquer bordado e onde é elaborado o desenho; o cobrir, que é o bordado propriamente dito, quando se ornamenta o tecido a partir das técnicas dos pontos, lavagem e engoma e, por fim, armazenamento.
O bordado é realizado diretamente sobre o tecido, geralmente utilizando linho, percal ou polialgodão. As técnicas mais utilizadas são o Richilieu, Matiz, Ponto Cheio, turco, granito, ponto reverso, crivo, bainha, ponto aberto e pesponto. Em contraste com o bordado do litoral, totalmente branco, o bordado seridoense é colorido, formando principalmente flores e arabescos.[6] Originalmente, este artesanato era produzido à mão, apenas com agulha e linha, mas atualmente as bordadeiras já se utilizam de máquinas de costura.[7] São realizadas principalmente sobre caminhos de mesa, panos de bandeja, lençóis de cama, toalhas para lavabo, toalhas de banho, redes, camisetas e blusas de cambraia. Usam-se, também, bordados no enxoval de recém-nascidos se utilizando de linha de seda. Atualmente, o bordado ora artesanal se tornou um produto industrializado, feito em série, visando a produção em grande quantidade para atender o mercado brasileiro e europeu.[8]
Referências
- ↑ «Caminhos do Fazer - Guia de Produtos Associados ao Turismo.» (PDF)
- ↑ Daniely Medeiros; Elisabete Mendes; Elitânia Evangelista. «O Atual Cenário do Cluster de Bordado de Caicó: Um estudo de caso na cooperativa das bordadeiras e artesãos do Seridó.»
- ↑ Vieira, Alberto. Bordado da Madeira. Funchal: 2006.
- ↑ Araújo, Adrianna P. M. . Bordando tecidos e memórias: uma etnografia das bordadeiras do município de Caicó-RN. Anais da XIX Semana de Humanidades do CCHLA, Natal, 2011. Disponível em http://www.cchla.ufrn.br/shXIX/anais/GT23/ANAIS%20SH.pdf
- ↑ «Artigo do SEBRAE em pdf» (PDF)
- ↑ [1]
- ↑ «Cartilha em pdf sobre acervo do museu do Seridó» (PDF)
- ↑ Ministério da Integração Nacional do Brasil (24 de julho de 2009). «Bordadeiras do Seridó são capacitadas para comercialização no Rio Grande do Norte»