Boris Vian
Boris Paul Vian (Ville-d'Avray, 10 de Março de 1920 — Paris, 23 de Junho de 1959), foi um Polimata (engenheiro, escritor, Poeta, Tradutor e cantautor francês), identificado com o movimento surrealista e ao anarquismo enquanto filosofia política. Hoje em dia é sobretudo lembrado pelos seus romances e canções. O seu estilo caracterizou-se por ser altamente individual, com numerosas palavras inventadas e enredos surrealistas passados sempre num universo muito próprio do autor. Como exemplo, o seu romance Outono em Pequim não se passa nem no Outono nem em Pequim!
Boris Vian | |
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Nome completo | Boris Paul Vian |
Pseudônimo(s) | Vernon Sullivan; Bison Ravi |
Nascimento | 10 de março de 1920 Ville-d'Avray |
Morte | 23 de junho de 1959 (39 anos) Paris |
Causa da morte | Enfarte do Miocárdio |
Nacionalidade | francês |
Progenitores | Mãe: Yvonne Ramenez Pai: Paul Vian |
Filho(a)(s) | Patrick Vian; Caroline Vian |
Ocupação | Engenheiro mecânico, escritor, cantautor, tradutor |
Magnum opus | A Espuma dos Dias |
Para além da sua veia literária, Vian foi também um membro muito influente no Jazz francês, servido de elemento de ligação em Paris de Hoagy Carmichael, Duke Ellington e Miles Davis. Escreveu inúmeros artigos para as revistas de Jazz Le Jazz hot e Paris Jazz e até mesmo em revistas norte-americanas da especialidade.
Escreveu muitas canções que alcançaram e continuam a alcançar uma grande notoriedade fazendo hoje parte do património cultural francês como Le Déserteur, La Java des bombes atomiques. Chegou a ter uma banda Jazz formada por si e pelos seus dois irmãos que tocava no famoso clube de Jazz do Quartier Latin Le Tabou. Vian foi o responsável pelo lançamento de vários intérpretes da canção Francesa, nomeadamente Serge Reggiani e Juliette Gréco.
Biografia
editarInfância
editarNascido em Ville-d'Avray, em Ilha-de-França, em 10 de Março de 1920, os seus pais foram Paul Vian, um Jovem rendeiro e Yvonne Ramenez, pianista e harpista amadora. Do seu pai, Vian herdou a desconfiança pela Religião e o Exército e o amor pela vida Boémia. Boris foi o segundo de 4 irmãos; os outros eram Lélio (1918), Alain (1921-1995) e Ninon (1925). A família vivia na vivenda Les Fauvettes O nome Boris não indica qualquer ascendência russa; foi o nome escolhido por Yvonne, que era uma grande melómana clássica, após ter visto uma encenação da Ópera de Mussorgsky, Boris Godunov.[1]
Boris Vian sofreu de problemas de saúde e foi educado em casa até aos 5 anos. Entre 1926 e 1932 estudou num pequeno liceu e depois no Liceu de Sévres, onde estudou principalmente línguas (latim, grego e alemão). Após a crise de Wall Street em 1929, a situação financeira da família piorou bastante e eles mudaram-se para um pequeno pavilhão perto da casa, por terem que alugar a vivenda à família de Yehudi Menuhin.
Pouco tempo depois do seu 12˚ aniversário, Vian desenvolveu uma Febre reumática e logo depois Febre tifóide. Esta combinação de doenças levou a sérios problemas de saúde que afectaram o seu coração que mais tarde o levaria à sua morte prematura.
Juventude
editarEntre 1932 a 1937, Vian estudou no Liceu Hoche em Versalhes. EM 1936, ele e os seus irmãos começaram a organizar festas-surpresa. Estas festas tornaram-se na base das suas primeiras novelas como Trouble dans les Aindains (1943) e Vercoquin et le plâncton (1943-1944. Foi também em 1936 que Vian se interessou pelo Jazz. No ano seguinte começou a tocar trompete e juntou-se à orquestra do Hot Clube de França.
Em 1937, Vian obteve o seu baccalauréat em Matemática, Filosofia, Latim, Grego e Alemão no Liceu Hoche. Subsequentemente Vian inscreveu-se no Liceu Condorcet em Paris onde estudou matemáticas especiais até 1939. Em Paris, Vian envolveu-se completamente no mundo do Jazz, tendo em 1939 ajudado à organização do segundo concerto de Duke Ellington em França.
No inicio da Segunda guerra mundial, Vian foi dado como inapto para todo o serviço militar devido ao seu estado de saúde muito frágil. Aproveitando o facto, ele inscreveu-se na Escola Central de Paris em Engenharia. Com a invasão de França pelo exército Alemão, Vian acompanhou a escola até Angoulême.
Em 1940 Vian conheceu Michelle Léglise, com quem casará em 1941. Ela ensinou Boris a falar Inglês e deu-lhe a conhecer a literatura Americana. Ainda em 1940, Vian conheceu Jacques Loustalot, que se tornará numa personagem recorrente – O Major – nas suas primeiras novelas e contos. Em 1942, Vian e os seus irmãos juntam-se a uma orquestra Jazz sob a direcção de Claude Abbadie, que também será personagem no romance Vercoquin et Plancton. Em 1942, Vian obteve o Diploma em Metalurgia pela Escola Central de Paris e nasceu o seu primeiro filho, Patrick.
Carreira
editarEm 24 de Agosto de 1942, Vian foi admitido como Engenheiro na Associação Francesa de Normalização – AFNOR. Por este facto Vian e Michèle mudaram-se para Paris e fixaram residência no 10˚ Distrito. Nesta altura, Vian era já um trompetista reconhecido e em 1943 escreve a sua primeira novela Trouble dans les andains, que apenas será publicada após a sua morte em 1966. Também em 1943 publicará, sob o pseudónimo de Bison Ravi (Anagrama de Boris Vian) o seu primeiro poema no Boletim do Hot Clube de França.
Em 1944, Paul Vian foi assassinado em casa por um ladrão que nunca seria capturado. Nesse mesmo ano, Vian acaba o romance Vercoquin et le plâncton, uma novela inspirada pelas festas-surpresas da sua juventude e pelo seu trabalho (Muito satirizado) na AFNOR. Em Fevereiro de 1946, Vian demite-se da AFNOR e aceita um emprego público no Escritório Profissional das Indústrias do Papel e Cartão através de um amigo, pois para além de ser mais bem pago que na AFNOR, Vian não tem praticamente nada para fazer.[2] Aproveitando esse facto Vian aproveita para escrever. No início de 1946, Boris Vian estabeleceu relações de amizade com Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Albert Camus e a equipa da revista Temps Modernes, na qual iniciará uma colaboração com a publicação das suas novelas e poemas.[3]
Raymond Quenau e Jean Rostand ajudaram Vian a conseguir a publicação, em 1947, nas Editions Gallimard desta e outras obras completadas em 1946. Nestas, estava incluída as suas primeiras grandes novelas, A Espuma dos Dias e Outono em Pequim. Apesar de, hoje em dia serem as obras mais aclamadas de Vian, sobretudo a primeira, considerada hoje uma obra-prima, na altura não atraíram as atenções, sendo falhanços comerciais
Frustrado pelo falhanço comercial dos seus trabalhos, Vian escreve “Irei cuspir-vos nos túmulos”, mas devido à natureza da história, por precaução, apenas assina a introdução, anunciando-se como o Tradutor de um escritor Norte-Americano Vernon Sullivan. Vian, persuadiu o seu amigo Jean d’Halluin (um editor em inicio de carreira) a publicar o livro. O livro tornou-se, graças a queixas por parte de sectores puritanos, num campeão de vendas desse ano, levando Vian a escrever mais 3 novelas Vernon Sullivan entre 1947-1949.
Anos finais
editarApesar do desenvolvimento da sua carreira literária, Vian nunca abandonou o Jazz. Em 1947, abre na Rue Dauphine o “Le Tabou” que terá uma orquestra Jazz dirigida por Vian e seu irmão Alain. Ainda em 1947, Viana apoia Charles Delaunay na cisão do Hot Clube de França.[2] Em 1948, nasce a sua filha Caroline Vian. Boris abandona o Le Tabou e funda Club Saint German des Prés com um carácter mais elitista que o Le Tabou e por onde irão passar os grandes nomes do Jazz mundial como Duke Ellington, Charlie Parker, Kenny Clarke, Miles Davis, Django Reinhardt, etc.
Em 1950, Vian conhece Ursula Kluber, com a qual irá viver em 1951, e casar em 1954, após se ter divorciado de Michelle.
A ultima novela de Vian, O Arranca-Corações foi publicada em 1953 com poucos resultados comerciais o que leva a Vian abandonar a ficção e a dedicar-se à composição e interpretação de canções e à poesia. Ao contrário da escrita de ficção, Vian começou logo a obter sucesso no campo da canção. Em 1954 ele inicia a sua primeira Tourné como cantor. Em 1955, Vian foi contratado pela Philips-Edições discográficas. Será nomeado director artístico em 1957, enquanto ao mesmo tempo se dedicava a vários campos, como a escrita de óperas, argumentos, peças de teatro. O seu primeiro álbum – Chansons Possibles et Impossibles foi publicado nesse mesmo ano e imediatamente proibido devido à Canção “Le Déserteur”.
Ainda em 1956, Vian produz os primeiros discos de Rock and Roll francês, interpretados por Henry Salvador e Magali Noël em que as letras eram quase todas da autoria de Vian.
Em 1957 a sua Opera Le Chavalier de la Neige é estreada em Nancy com boa recepção por parte do público e da crítica. No ano seguinte escreverá o libreto da Opera Fiesta com música de Darius Milhaud que será estreada na Opera de Berlim em Outubro.[2]
Em 8 de Junho de 1952 Vian entra para o Colégio de Patafísica com a categoria de Esquartejador (Equarrisseur) de 1ª Classe e em 1954 é promovido a Promotor insigne da Ordem da grande Guidouille (Guidouille – Barriga do Pai Ubu). No mesmo colégio pontificam Jacques Prévert, René Clair e outros vultos da cultura francesa. A 11 de Junho de 1959 numa festa para a entronização de um novo curador do Colégio, o Satrapa já Látis fará o elogio de Boris Vian, que se tornará, 12 dias depois no seu próprio elogio fúnebre.[4]
A 23 de Junho de 1959 no cinema Marbeuf, Boris Vian morre de enfarte do miocárdio durante uma projecção privada do filme Irei cuspir-vos nos túmulos durante a qual Vian se exaltou com os desvios que o filme tinha em relação à sua obra, recusando que o seu nome aparecesse no genérico.
Obras literárias
editarCanções
editarEntre outras:
- 1952: Allons z'enfants
- 1954: Le Déserteur (O Desertor), escrita sobre a derrota da França na Batalha de Dien Bien Phu.[5]
- 1955: La Complainte du progrès
- 1955: La Java des bombes atomiques
- 1955: Le Petit Commerce
- Blouse du dentiste
- Les Joyeux Bouchers
- Fais-moi mal Johnny
- J'suis snob
- On n'est pas là pour se faire engueuler
- L'Arbre des pendus
- Mozart avec nous (adaptando-se à Marcha Turca de W.A Mozart)
- 1954-1959: À tous les enfants
Poesia
editarProsa
editarNovelas
- Como Boris Vian:
- Como Vernon Sullivan:
Contos
- Les Fourmis (1949;
- Les Lurettes fourrées (1948–49, publicado em 1950 como um adenda à edição de L'Herbe rouge);
- Le Ratichon baigneur (1946–52, publicado postumamente em 1981);
- Le Loup-garou (publicado postumamente em 1970);
Teatro
editar- L'Équarrissage pour tous (1950)
- Le Dernier des métiers (1950)
- Tête de Méduse (1951)
- Les Bâtisseurs d'Empire (1959)
- Le Goûter des généraux (publicado postumamente em 1962)
- Série Blême, tragedy in three acts (1952?, published 1971 by U.G.E.)
- Le Chasseur français, vaudeville (1955, published 1971 by U.G.E.)
Traduções
editar- The Big Sleep, de Raymond Chandler (com o título Le grand sommeil, 1948)
- The Lady in the Lake de Raymond Chandler (com o título La dame du lac 1948)
- The World of Null-A de Alfred Elton van Vogt, (com o título Le Monde des A~ 1958)
Referências
- ↑ Boris Vian: La schiuma dei giorni (em italiano)
- ↑ a b c Arnaud, Nöel (1982). «Les vies de Vian - Chronologie détaillée d'une existence surmenée». Le Magazine littéraire (182)
- ↑ Arnaud, Nöel (1982). «Les vies de Vian - Chronologie détaillée d'une existence surmenée». Le Magazine littéraire (182)
- ↑ Cousinne, Laurent (1999). «Biografia de boris Vian»
- ↑ Le déserteur
Fontes
editar- Martin Weiss: Boris Vian. La langue qui trébuche. Jeux de mots dans l'oeuvre d'un génie. Grazer Linguistische Studien 20, Université de Graz, 1983, réédition (eBook) 2014