Branquinho da Fonseca

escritor português

António José Branquinho da Fonseca GOSE (Mortágua, Mortágua, 4 de Maio de 1905Cascais, Cascais, 7 de maio de 1974[1]) foi um escritor português. Os seus primeiros textos eram assinados com o pseudónimo António Madeira. Experimentou vários modos e géneros literários, desde o poema lírico ao romance, passando pela novela, o texto dramático e o poema em prosa, mas, como o próprio dizia, a sua expressão natural[2] era o conto. Como artista, interessou-se também pela fotografia, o desenho, o cinema e o design gráfico.[3] Foi conservador do Registo Civil em Marvão e Nazaré, e do Museu-Biblioteca Conde de Castro Guimarães em Cascais. Por proposta sua,[4] foi criado em 1958, o Serviço de Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian, o qual havia de dirigir até o ano da sua morte. Em sua homenagem, a Câmara Municipal de Cascais criou o Prémio Branquinho da Fonseca de Conto Fantástico[5] em 1995 e, em 2001, foi instituído o Prémio Branquinho da Fonseca Expresso/Gulbenkian[6] numa parceria entre a Fundação Calouste Gulbenkian e o jornal Expresso.

Branquinho da Fonseca
Pseudónimo(s) António Madeira
Nascimento António José Branquinho da Fonseca
4 de maio de 1905
Mortágua
Morte 7 de maio de 1974 (69 anos)
Cascais
Nacionalidade Portugal portuguesa
Ocupação Director do Serviço de Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian
Género literário conto, novela, poesia
Movimento literário Modernismo
Magnum opus O Barão

Filho de Clotilde Madeira Branquinho e do escritor Tomás da Fonseca, Branquinho da Fonseca nasceu em Mortágua, Mortágua, e completou os primeiros anos do Liceu em Lisboa, partindo depois para Coimbra, onde termina os seus estudos secundários. Formou-se em direito na Faculdade de Direito de Coimbra, no ano de 1930. Ainda como estudante participa da fundação da revista Tríptico (1924 – 1925), da qual se publicaram 9 números.

Em 1926 faz sua estréia literária com a obra "Poemas". No ano seguinte, mais precisamente no dia 10 de março, quando ainda era estudante de Direito, funda, juntamente com José Régio e João Gaspar Simões, a revista Presença, considerada o marco inicial da segunda fase do modernismo português, ou "presencista". Para compreendermos Branquinho da Fonseca, "deveremos lembrar a principal característica desse movimento: a total liberdade de criação artística, movida pela necessidade de cada qual poder assumir a sua própria verdade e sensibilidade, donde a assumpção de um individualismo subjectivo bastante descomprometido com o social e o político [...]".[7] Exerceu o cargo de director da revista até 16 de Junho de 1930, data em que, conjuntamente com Miguel Torga e Edmundo de Bettencourt, se desliga definitivamente da Presença, indignado com os novos rumos que esta tomava, uma vez que considerava haver imposição de limites à liberdade criativa.[8] Ainda nesse ano, funda em conjunto com Miguel Torga a revista Sinal, da qual apenas um número foi publicado, tendo sido substituído na direcção da Presença por Adolfo Casais Monteiro.

Foi iniciado na Maçonaria em 1931 no Triângulo de Vagos, com o nome simbólico de Gil Vicente.[9]

Em 1942 passa a exercer a função de Conservador no Museu Biblioteca Conde de Castro Guimarães.[nota 1]

No exercício das suas funções como Conservador cria, em 1953, o projecto de uma biblioteca-itinerante, a primeira.[4] do género em Portugal. Consequentemente, é convidado, em 1958, por Azeredo Perdigão para fundar e dirigir o Serviço de Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian. Entre esta data e o ano em que faleceu (1974), período em que permaneceu à frente do referido projecto, o escritor não voltou a publicar nenhum livro de criação pessoal, tendo-se limitado à edição de antologias temáticas.[3] Tem uma rua com o seu nome na Amadora e outra em Cascais, Portugal, e outra ainda em Mortágua, sua terra natal.

Formalmente diversificada, a obra de Branquinho da Fonseca não deixa de ser, no entanto, equacionada sob uma orientação estético-literária nitidamente contística,[3] da qual são testemunho as obras Caminhos Magnéticos, O Barão, Rio Turvo e Bandeira Preta. Mesmo o único romance do escritor, Porta de Minerva (1947), afasta-se de uma sintaxe subordinativa típica no romance “mais convencional” e aproxima-se de uma estrutura descosida e fragmentada, sendo constituído por um conjunto de narrativas breves interligadas pela recorrência de um espaço social bem determinado.[11]

Assim, no seu todo, mas de forma mais marcada na vertente do conto, a obra de Branquinho da Fonseca firma-se num "gosto pelo mítico, o simbólico, vinculado a um permanente sabor de aventura literária, evidente na experimentação de novas soluções estruturais e mesmo situacionais",[8] chegando a ser classificada como "realismo fantástico",[12] uma vez que consegue "sugerir um halo de mistério, de medo ou pesadelo indefinido, de constante surpresa na perseguição a um impreciso ideal, sem todavia nos desprender de um senso de verossimilhança, antes como que acordando nesse halo misterioso os ecos emotivos da realidade."[13]

Encontra-se colaboração da sua autoria no semanário Mundo Literário[14] (1946-1948) e na revista Litoral[15] (1944-1945).

O Barão

editar

São várias as fontes[11][8][16] que apontam O Barão como a obra-prima de Branquinho da Fonseca e , também, como uma das mais notáveis espécimes da novelística portuguesa de todos os tempos.[16] Contudo, há discordância quanto ao género a que a obra pertence: uns[8] defendem que se trata de um conto, outros[16] de uma novela.

O texto[17] da obra é composto pela narração da viagem de um inspector escolar a uma zona remota da província, onde irá encontrar, na noite da chegada, a figura de um aristocrata excêntrico e decadente, o "Barão", que pouco a pouco se vai tornando enigmático, exercendo um fascínio cada vez maior sobre o narrador e adquirindo um estatuto mítico, quer pelo modo como domina o seu estranho microcosmos, quer pela magia dessa noite quase irreal em que ambos irão depor uma rosa no "castelo da Bela-Adormecida". O filme "O Barão", de Edgar Pêra, foi baseado nesta obra.

A 13 de Julho de 1981 foi feito Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada a título póstumo.[18]

Obras publicadas

editar

Poesia

editar
  • Poemas - 1926;
  • Mar Coalhado - 1932;
  • Poesias - 1964;

Teatro

editar
  • Posição de Guerra - 1928;
  • Teatro I - 1939;

Contos

editar
  • Zonas - 1931;
  • Caminhos Magnéticos - 1938;
  • O Barão - 1942;
  • Rio Turvo - 1945;
  • Bandeira Preta - 1956;

Romance

editar
  • Porta de Minerva - 1947;

Novela

editar
  • Mar Santo - 1952.

Antologias organizadas

editar
  • Contos Tradicionais Portugueses
  • As Grandes Viagens Portuguesas

Notas

  1. Lugar ao qual Fernando Pessoa também concorrera, a 16 de Setembro de 1932, tendo sido recusado por falta de habilitações.[10]

Ver também

editar

Referências

  1. http://www.cm-mortagua.pt/modules.php?name=Sections&sop=viewarticle&artid=61
  2. Diário de Notícias, 30 de Setembro de 1976.
  3. a b c António Manuel Ferreira, Prefácio in FONSECA, Branquinho da, Obras Completas vol.I, Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa, 2010
  4. a b NEVES, Rui – As bibliotecas em movimento. As bibliotecas móveis em Portugal. Comunicação apresentada no “II Congreso de Bibliotecas Móviles”, que decorreu em Barcelona, de 21 a 22 de Outubro de 2005. (em formato word-pdf) http://www.bibliobuses.com/documentos/ruineves.pdf
  5. Página do Prémio Branquinho da Fonseca no site da Câmara Municipal de Cascais
  6. Prémio Branquinho da Fonseca Expresso/Gulbenkian
  7. Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Lisboa, 1999
  8. a b c d MOISÉS, Massaud, O Conto Português, ed. Cultrix, São Paulo, 1975
  9. Oliveira Marques, A. H. de (1985). Dicionário de Maçonaria Portuguesa. Lisboa: Delta. p. 596 
  10. Carta de Fernando Pessoa requerendo o lugar de conservador-bibliotecário
  11. a b FERREIRA, António Manuel, Contornos da Narrativa Breve na Obra de Branquinho da Fonseca http://www2.dlc.ua.pt/classicos/ConfNarratBreve_123_128pp.pdf
  12. TORRES, Alexandre Pinheiro, O Neo-Realismo Literário Português, Moraes, Lisboa, 1977, p. 171
  13. SARAIVA, A. J. & LOPES Oscar, História da Literatura Portuguesa, 17a. ed., Porto Editora, 1996, p. 1015
  14. Helena Roldão (27 de janeiro de 2014). «Ficha histórica: Mundo literário : semanário de crítica e informação literária, científica e artística (1946-1948).» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 3 de Novembro de 2014 
  15. Helena Roldão (19 de Junho de 2018). «Ficha histórica:Litoral : revista mensal de cultura (1944-1945)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 25 de Janeiro de 2019 
  16. a b c PRADO COELHO, Jacinto do, ed. Dicionário de literatura: literatura portuguesa, literatura brasileira, literatura galega, estilística literária. 5 vols. Porto: Figueirinhas, 1994
  17. FONSECA, Branquinho da, O Barão, Relógio D'Água Editora, Lisboa, 1998
  18. «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "António José Branquinho da Fonseca". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 4 de outubro de 2015 

Ligações externas

editar
  Este artigo sobre uma pessoa é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.