Brasão de armas do Reino do Algarve
Este artigo trata do brasão de armas do Reino do Algarve e suas variações.
Descrição
editarO brasão de armas do Reino do Algarve consiste num escudo esquartelado, com os rostos de dois reis mouros de perfil no 1º e 4º quartéis em fundo de ouro e rostos de frente de dois reis cristãos no 2º e 3º quartéis, em fundo vermelho. Algumas variações deste padrão poderão aparecer, nomeadamente no que toca às cabeças dos reis mouros, que parecem mais africanos e que são substituídas na versão moderna por rostos de reis mouros de frente cobertos com uma gutra. Outras variantes poderão apresentar os rostos dos reis cristãos no 1º e 4º quartéis e vice-versa, ou poderão ter cores diferentes nos quartéis.
Origem
editarApós a conquista do Algarve, e a querela entre o Rei de Portugal e Castela pela posse deste reino, foi saneada com a concessão do Algarve a Portugal, mas os Reis de Castela continuaram a usar o título do Rei do Algarve nos seus títulos.
Em fins do séc. XV, no casamento da princesa e herdeira do reino Unido de Castela e Aragão Joana I de Castela com Filipe I da Áustria, o pai deste, o sacro imperador romano Maximiliano I vai acrescentar aos territórios seus súbditos o Reino de Castela e com ele o Reino do Algarve.
Por forma a comemorar e a demonstrar o seu poder imperial, o imperador concessiona a criação do chamado Arco Triunfal,[2] estando entre os seus autores o artista Dürer, entre outros. Esta obra consiste num mosaico de xilogravuras com escudos representando todos os reinos em que o imperador teria como súbditos, um escudo com a forma aproximada do escudo moderno com o título de Algibi aparece referenciado. Entre outros, aparecem também os escudos que vieram a tornar-se os escudos das Ilhas da Sardenha e da Córsega, que fazem também de cabeças de mouro em perfil.
O uso de cabeças de mouro não é de uso incomum na Europa: a província de Aragão actual usa num dos seus quartéis as cabeças de quatro mouros, é a cruz de Alcoraz, criada para celebrar a vitória dos aragoneses de Pedro I em 1096 sobre os mouros na batalha de Alcoraz. Quando as ilhas de Córsega e Sardenha estiveram sob domínio aragonês, o uso da referida cruz influenciou a bandeira e brasões dessas ilhas.
Noutra xilogravura de 1515, os filhos de Filipe I e Joana de Castela aparecem a cavalo numa nova xilogravura, figurando no rebordo dela todos os escudos dos reinos sob domínios dos Habsburgo: nele volta aparecer o escudo do Algarve, na legenda junto ao rebordo pode ler-se Allegarbe.[3]
O primeiro uso do escudo num mapa que remonta a 1553 com o título de Nova descriptio Hispaniae.[4] Nela surge o escudo do Algarve no interior do território português.
Documentos que referenciam o escudo
editarSão vários os documentos que referenciam este escudo, cronologicamente são:
- Arco de Maximiliano de Dürer e outros (1515)
- De zes kinderen van Filips de Schone en Johanna van Castilië de Jan van Nieulandt (1521?)[3]
- Nova descriptio Hispaniae[4] de Hieronymus Cock (1553)
- Nova et accurata regnorum Hispaniae descriptio[5] (séc. XVI, sem ano)
- Armorial universel contenant les armes des principales maisons, estatz et dignitez des plus considérables royaumes de l'Europe de Charles Segoing (c. 1660)[6]
- Atlas Contractus de Johann Janssonius (1666),[1] inspirado no mapa de Fernando Álvaro Seco
- Thesouro da Nobreza de Francisco Coelho (1675)[7][8]
- Tabula Portugalliae Et Algarbia F. De Witt (1675)[9][10]
- Atlante du regno di Portugallo de Coronelli (1689)[11][12]
- Compendio das Armas dos Reynos de Portugal & Algarve & das Cidades & Villas principaes delles de Cristóvão Alão de Morais (?1658-1687?)[13]
- Carte nouvelle de la partie meridionale du royaume de Portugal et des Algarves de Jean Covens e Paul Mortier(1710)[14][15]
- Portugalliae et Algarbiae Regna de Matteus Seutter (Augusburg, c. 1730)[16]
- Armorial Português de Guilherme Luiz dos Santos Ferreira (1920)[17]
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Arco de Maximiliano
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De zes kinderen van Filips
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Nova descriptio Hispaniae
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Armorial universel
Influência nos brasões das autarquias algarvias
editarTodas as autarquias do Algarve ostentam no seu escudo pelo menos um rosto de um rei mouro e um rei cristão, com excepção dos municípios de Lagos, Faro e Olhão.
Os autarcas de Silves sentiram a necessidade de 1923[18] em dotar o município de um brasão que representasse a história da cidade, uma vez que, naquela altura, o brasão da cidade era totalmente liso, o que quer dizer em termos de Heráldica, não apresentar qualquer conteúdo dentro da bordadura. Em 29 de Janeiro de 1924 o presidente da Comissão Executiva da Câmara, Sebastião Ramalho Ortigão resolve contactar a Associação dos Arqueólogos Portugueses com intuito de remodelar o brasão da cidade.
A resposta da associação chega finalmente em Julho de 1925, redigida pelo historiador Afonso de Ornelas, que propõe que o novo brasão da cidade seja inspirado no brasão do Reino do Algarve que figura na Carta marítima de Matteus Seutter Portugallieae et Algarbiae Regna,[16] com acrescento das cinco quinas de Portugal dispostas em cruz. O escudo figuraria sob uma bandeira vermelha, pois seria essa a cor usada pelos mouros nas suas bandeiras. Apenas em 1926 a proposta do novo escudo foi aprovado, já sob o novo presidente Aníbal Sant'Anna.
Em 1945 o Governo Civil de Faro emite a circular nº 29 solicitando ao município de Silves que lhe seja enviado o texto da proposta de Afonso de Ornelas com o novo desenho das armas da cidade, a que a Autarquia de Silves responde no mesmo ano. Cinco anos depois, o Governador Civil do Distrito de Faro emite a circular 43, de 10 de Abril de 1950, comunicando as normas a observar para a aprovação do brasão de armas, selo e bandeira dos municípios do distrito de Faro. Desta forma, quase todos os municípios algarvios reviram os seus escudos com excepção dos supra-citados.
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Armas de Silves
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Armas de Vila Real de Santo António
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Armas de Tavira
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Armas de Castro Marim
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Armas de Alcoutim
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Armas de São Brás de Alportel
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Armas de Loulé
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Armas de Albufeira
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Armas de Lagoa
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Armas de Monchique
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Armas de Portimão
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Armas de Vila do Bispo
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Armas de Aljezur
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Armas da freguesia de Estômbar
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Armas da freguesia de Vila Nova de Cacela
Outros brasões do Reino do Algarve
editarNa obra citada de Francisco Coelho,[7] surge outro escudo no folio 10, preenchido de vermelho com nove castelos. A legenda diz "Reino dos Algarves". Supostamente ilustrará os castelos do Algarve, que formam a bordadura do escudo nacional.
Polémica
editarEste brasão, apesar de ter sido usado ao longo dos séculos para se referir, sobretudo a nível cartográfico à região conhecida como Algarve, que chegou a ser considerado a título nominal como reino, no entanto, nunca foi usado oficialmente por autoridades que representassem o estado português. Ao contrário dos brasões das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, o escudo é adoptado a título oficioso, nunca oficial, uma vez que nunca foi publicada qualquer legislação reconhecendo-o como tal. Apenas no edifício da Junta da Província do Algarve, situada em Faro, que aloja a CCDR do Algarve e o Museu Regional do Algarve, à sua entrada foi colocada em 1961 uma pedra de armas mostrando o referido escudo em versão moderna.[2]
Hiperligações externas
editarReferências
- ↑ a b «Portugallia et Algarbia quae olim Lusitania, Amsterdami, [16--] - Biblioteca Nacional Digital». purl.pt. Consultado em 15 de agosto de 2018
- ↑ a b Azevedo, Francisco Simas de (1984). «O Brasão de Armas do Reino do Algarve e Algumas das suas fontes cartográficas». "Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa". Consultado em 15 de Agosto de 2018
- ↑ a b «Karel V, Ferdinand I,Isabella, Eleonora, Catharina en Maria te paard, Nieu (landt) , Jan van, 1521 - 1526 - Rijksmuseum». Rijksmuseum (em inglês)
- ↑ a b «1553 - Nova Descriptio Hispaniae - Colección de Cartografía Antigua GM». www.coleccioncartografiagm.com (em espanhol). Consultado em 15 de agosto de 2018
- ↑ «Nova et accurata regnorum Hispaniae descriptio». Gallica (em francês). 1664. Consultado em 28 de janeiro de 2021
- ↑ Segoing, Charles (1660). «Armorial universel contenant les armes des principales maisons, estatz et dignitez des». Rare & Special e-Zone. Consultado em 26 de agosto de 2018
- ↑ a b c d «"Tombo das armas dos reis e titulares e de todas as famílias nobres do reino de Portugal intitulado com o nome de Tesouro de nobreza" - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 15 de agosto de 2018
- ↑ Pedroso da Silva, José Manuel (2008). Duas Culturas na Heráldica do Algarve. Lagoa: Edição da Câmara Municipal de Lagoa
- ↑ «Tabula Portugalliae et Algarbia, Amsterdam,1670». Consultado em 15 de agosto de 2018
- ↑ WebHorus. «Jonathan Potter: Map : Tabula Portugalliae Et Algarbia ...». www.jpmaps.co.uk (em inglês). Consultado em 15 de agosto de 2018
- ↑ «Regno di Portogallo - Idea Rare Maps». www.ideararemaps.com (em italiano). Consultado em 15 de agosto de 2018
- ↑ «Regno di Portogallo - David Rumsey Historical Map Collection». www.davidrumsey.com. Consultado em 18 de agosto de 2018
- ↑ Alão de Morais, Cristóvão (2013). Compêndio das Armas dos Reynos de Portugal & Algarve & das Cidades & Villas Principaes delles. Porto: Miguel Metelo de Seixas
- ↑ «IDS Basel Bern». aleph.unibas.ch. Consultado em 15 de agosto de 2018
- ↑ «Theatre de la Guerre en Espagne et en Portugal : Dressé sur les Memoires des plus Habiles Ingenieurs &c. Presenté À Charles III Roy D'Espagne, et des Indes &c. &c. Par son Tres Humble, et Tres Obeissant Serviteur Pierre Mortier, Geograp. et Libraire - Mortier, Pierre 1661-1711 - Material cartográfico impreso - 1710?». bdh.bne.es (em inglês). Consultado em 18 de agosto de 2018
- ↑ a b «SEUTTER MATTEUS. - Portugalliae et Algarbiae Regna.». www.libreriaperini.com (em inglês). Consultado em 16 de agosto de 2018
- ↑ Santos Ferreira, Guilherme Luiz dos (1920). Armorial Português. [S.l.]: Lisboa : Livraria Universal de A.J. Tavares
- ↑ «Brasão de Armas e bandeira do concelho» (PDF). Arquivo Municipal de Silves. 1 de setembro de 2016. Consultado em 18 de agosto de 2018