Brasil acima de tudo, Deus acima de todos
Brasil acima de tudo, Deus acima de todos é um lema utilizado pelo governo Jair Bolsonaro que foi apropriado de um brado da Brigada de Infantaria Paraquedista, num contexto em que o próprio político, então presidente do país, havia sido um paraquedista ligado à referida brigada,[1] muito embora tenha se desligado após despencar de 8 metros de altura na Avenida das Américas, uma das principais vias da Barra da Tijuca, na Zona Oeste.[2] Num contexto mais amplo, o brado remete ao lema utilizado pelos nazistas “Alemanha acima de tudo” — no alemão, "Deutschland über alles".[1][3] Sobre esta frase, cuja origem remonta ao hino Deutschlandlied, foi estabelecido que "em solenidades oficiais, cantar-se-á a terceira estrofe." A primeira estrofe deveria ser evitada, por conter os versos "Deutschland, Deutschland über alles, Über alles in der Welt" ('Alemanha, Alemanha acima de tudo/ Acima de tudo no mundo'), o que poderia remeter à crença na superioridade germânica - algo imperdoável num período de desnazificação.[4] Dentre o rol de referências ao nazismo e ao fascismo presentes no governo Bolsonaro, estão o vídeo de Roberto Alvim como Secretário da Cultura, que copiou trechos do discurso de Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda de Adolf Hitler,[5] bem como o uso frequente do lema Deus, Pátria e Família,[6] que no Brasil reunia as propostas da Ação Integralista Brasileira, um movimento conhecido como "fascismo brasileiro".[7][8]
Em 2019, durante um discurso em cerimônia de homenagem na cidade norte-americana de Dallas, no Texas, Bolsonaro chegou a incluir os Estados Unidos no lema de encerramento, mas se esqueceu de manter Deus, dizendo então “Brasil e Estados Unidos acima de tudo. Brasil acima de todos”.[9] Em 2022, a Câmara Municipal de São Gonçalo, um município carioca, criou um título de mérito legislativo chamado “Medalha Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, cujo autor foi o então vereador Vinicius (Solidariedade).[10][11]
Origens
editarO coronel Cláudio Tavares Casali explica em um artigo publicado que o referido brado surgiu no final da década de 1960, pouco depois do decreto do Ato Institucional nº 5, o AI-5, no ápice da Ditadura Militar no Brasil, oriundo de um grupo nacionalista do exército conhecido como Centelha Nativista.[1] De acordo com Piero Leirner, professor da Universidade Federal de São Carlos e especialista em estratégia militar e um dos pioneiros no estudo da “antropologia dos militares”, Jair Bolsonaro provavelmente não esteve ligado diretamente a esse grupo - Centelha Nativista - que já estava muito fraco em 1987.[12] Mas os paraquedistas seriam tão próximos a esses grupos da reserva que se recusaram a se mudar com o resto das Forças Especiais para Goiânia, permanecendo no Rio de Janeiro, onde está o centro desses movimentos.[12] Em uma dessas unidades militares especiais do exército brasileiro em Goiânia, por sua vez, o mote estampado nas paredes de treinamento é "Aqui se Aprende a Matar com Dignidade e Eficiência".[carece de fontes]
Veja também
editarLeituras adicionais
editar- CAVALCANTI, C. R. da S.; AZEVEDO, N P. G. de. O movimento parafrástico de “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” X "Deutschland Über Alles”. Policromias – Revista do Discurso, Imagem e Som, Rio de Janeiro, v. 7, n. 1, p. 51-64, jan.-abr. 2022.
- Faria Carvalho, F., & Andrade de Oliveira Paiva, B. Brasil acima de tudo, Deus acima de todos: uma análise do discurso de posse do presidente Bolsonaro. Revista da Anpoll, 53(1), 215–235. (2022)
Referências
- ↑ a b c Eleições 2018. «Conheça a origem do slogan de Bolsonaro "Brasil acima de tudo"». Gazeta do Povo. Consultado em 22 de abril de 2024
- ↑ «Bolsonaro já escapou da morte na década de 1980 durante curso de paraquedismo». Extra Online. 7 de setembro de 2018. Consultado em 22 de abril de 2024
- ↑ Cavalcanti, Cristiane Renata da Silva; Azevedo, Azevedo Pereira da Silva Gonçalves de (18 de maio de 2022). «O Movimento Parafrástico de "Brasil Acima de Tudo, Deus Acima de Todos" X "Deutschland Über Alles"». Policromias - Revista de Estudos do Discurso, Imagem e Som (1): 51–64. ISSN 2448-2935. doi:10.61358/policromias.v7i1.49295. Consultado em 22 de abril de 2024
- ↑ Por que é tão ofensivo cantar os versos antigos do hino da Alemanha. Por Ubiratan Leal. Rodínia, 14 de fevereiro de 2017.
- ↑ Alessi, Gil (17 de janeiro de 2020). «Secretário da Cultura de Bolsonaro imita fala de nazista Goebbels e é demitido». El País Brasil. Consultado em 22 de abril de 2024
- ↑ Minas, Estado de (26 de abril de 2022). «Bolsonaro repete lema de inspiração fascista: 'Deus, pátria, família'». Estado de Minas. Consultado em 22 de abril de 2024
- ↑ Calil, Gilberto Grassi (2001). O integralismo no pós-guerra: a formação do PRP, 1945-1950. [S.l.]: EDIPUCRS
- ↑ «Bolsonaro repetiu lema integralista ao encerrar discurso na ONU; entenda». Estadão. Consultado em 28 de setembro de 2022
- ↑ «Bolsonaro adapta seu slogan, inclui Estados Unidos e esquece Deus». VEJA. Consultado em 22 de abril de 2024
- ↑ Municipal, Câmara (9 de novembro de 2022). «Câmara cria título "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos"». Câmara Municipal de São Gonçalo - RJ. Consultado em 27 de abril de 2024
- ↑ Municipal, Câmara (23 de maio de 2020). «Conheça o vereador Vinícius». Câmara Municipal de São Gonçalo - RJ. Consultado em 27 de abril de 2024
- ↑ a b «Caminho de Bolsonaro ao poder seguiu "lógica da guerra", diz antropólogo». Exame. 13 de abril de 2019. Consultado em 22 de abril de 2024