Buriti (Santo Ângelo)
Buriti é um dos quatorze distritos rurais do município brasileiro de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul.[3] Situa-se a oeste da cidade. Seu nome deriva do fato de existir na região em abundância a palmeira popularmente conhecida como buriti.
| ||
---|---|---|
Distrito do Brasil | ||
Localização | ||
Mapa de Buriti | ||
Coordenadas | 28° 17′ 58,24″ S, 54° 24′ 02,08″ O | |
Estado | Rio Grande do Sul | |
Município | Santo Ângelo | |
História | ||
Criado em | 17 de julho de 1956[1] | |
Características geográficas | ||
Área total | 41,4 km²[2] | |
População total (2010) | 685[2] hab. | |
Densidade | 16.54 hab./km² | |
Outras informações | ||
Limites | Ressaca da Buriti, União, Restinga Seca, Atafona e Vitória das Missões |
Limita-se com os distritos de Ressaca da Buriti, União, Restinga Seca, Atafona e com o município de Vitória das Missões. O distrito possui 685 habitantes, de acordo com o censo de 2010.[2]
História
editarA história do distrito remonta ao século XIX, quando Frode Uffo Johanssen, engenheiro agrimensor, dono de um título nobiliárquico dinamarquês, passou a desenhar um novo sonho, o qual via que se constituiria longe da Dinamarca. Conseguiu aos seus 31 anos convencer seus irmãos Byarke, que era contador e Axel, farmacêutico com especialização na Alemanha, a partirem com ele para a América do Sul. O destino era a região Sul do Brasil, onde pretendia adquirir uma grande extensão de terras e fundar uma nova sociedade baseada em ideais republicanos. Tanto é fato que em alguns registros históricos alude-se a essa colônia como "República de Frode".[4][5]
Conforme relata a historiadora Marta Weissmantel, consta no cartório de Registros de Imóveis de Santo Ângelo, que em 1897, Frode Johansen adquiriu suas primeiras glebas de terras. Após adquirir a colônia, deu-lhe um nome indígena em homenagem aos antepassados que ele imaginava terem sobrevivido naquelas propriedades, chamando a nova colônia de Burity, que em língua indígena significa "árvore da vida".[5]
Entre 1897 e 1898, Frode comprou duas propriedades que correspondiam ao total de 5.850 hectares. Usando seus conhecimentos de agrimensor, foi logo medindo e demarcando a propriedade, loteando-a em 234 frações de 25 hectares cada uma. Formando cinco linhas ou distritos, que ele nomeou como: Linha do Meio, Linha Burity, Atafona, Olhos d'Água e Ressaca.[6]
Na sequência, passou a virada de século a viajar pelas colônias alemãs, conhecidas como "Colônias Velhas", localizadas nos atuais municípios de São Sebastião do Caí, Santa Cruz do Sul e Cachoeira do Sul, a fim de buscar imigrantes alemães para o povoamento da colônia.[6]
Quase que antes mesmo de realizarem a construção de suas casas, os primeiros moradores deram preferência sobre as ordens de Frode para que fossem construídas a igreja e a escola. No caso da escola, notou-se quase uma diacronia com a prática da época, mas Frode foi inflexível nesta necessidade, selecionando ele mesmo os futuros professores vindos da Alemanha. Edificou, também, a "Casa do Imigrante", para fins de hospedar os primeiros moradores enquanto aguardavam a construção de suas casas. Em poucos anos de dedicação e com o que considerava uma rigorosa seleção de novos moradores, a comunidade logo começou a prosperar, edificaram-se serrarias, moinhos, cervejaria, fábrica de óleo de linhaça, de carrocerias, curtição de couro, selaria, ferraria, marcenaria, sapataria e casas comerciais.[6]
As propriedades adquiridas no final do século XIX ganharam rapidamente casas e pequenas indústrias e em 1910, fundava-se a Colônia Burity. Quando da fundação já possuía quase 500 habitantes de diversas nacionalidades: brasileiros, dinamarqueses, alemães, austríacos, suíços, uruguaios e holandeses. Posteriormente ainda receberia descendentes de poloneses, italianos, húngaros e tchecos. O intendente local, Coronel Bráulio Oliveira, em relatório apresentado ao Conselho Municipal na sessão de 20 de julho de 1913, informa: "Muito tem prosperado esta Colônia devido a atividade de seu fundador. Criada há apenas 3 anos, tem avançado sensivelmente, graças à apurada seleção que seu proprietário faz na aquisição de colonos".[7]
Somente em 1938, Frode levou para registro o loteamento da colônia, oportunidade em que apresentou um elaborado plano de loteamento e todo o histórico da propriedade e os mapas por ele produzidos, datados de 1908. Ele não se descuidou dos mínimos detalhes, inclusive organizando as comunidades religiosas, luterana e católica. O idioma oficial das cinco linhas que ele havia criado era o alemão, portanto a única língua ensinada nas duas escolas surgidas na comunidade, o que se manteve até as proibições ditatoriais do governo de Getúlio Vargas.[7]
A colônia obteve considerável desenvolvimento econômico. Abriram-se indústrias das mais variadas, comércios e clubes. Em 1921, a colônia contava com três casas comerciais, três serrarias, três moinhos, uma ferraria, uma marcenaria, um curtume, uma fábrica de aguardente e até um hotel. Na agricultura, as primeiras plantações foram de milho, mandioca, fumo, feijão e arroz. Havia produção de queijo e manteiga. Tão logo a comunidade foi se formando, foram estendidas linhas telefônicas, construído hospital, fundadas as sociedades de damas e estabelecidas todas as profissões necessárias (médico, dentista, serviço de correios, enfermeiros, sapateiro, carpinteiro...), fundaram-se salões de baile, clube de tiro ao alvo e de lança, decorrentes da motivação particular de Frode e sem nenhuma participação estatal. A partir do advento da Segunda Guerra Mundial, os clubes de tiro ao alvo foram fechados, ocorreu a proibição dos moradores falarem o idioma que lhes era o oficial, teve-se a inserção de uma escola pública, e forçou-se o civismo a pátria e muitas restrições e punições iniciaram-se contra os moradores, bem como a alteração do nome das instituições e festas comunitárias, inclusive a própria grafia do nome Burity, alterou-se para Buriti.[7]
O distrito de Buriti foi o primeiro a ser reconhecido oficialmente, através da Lei Municipal nº 7, de 17 de julho de 1956.
Referências
- ↑ Enciclopédia dos Municípios Brasileiros (2007). «Santo Ângelo - Histórico» (PDF). Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Consultado em 22 de fevereiro de 2013. Cópia arquivada em 22 de fevereiro de 2013
- ↑ a b c Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (16 de novembro de 2011). «Sinopse por setores». Consultado em 22 de fevereiro de 2013
- ↑ Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. «Formação administrativa de Santo Ângelo» (PDF). Consultado em 5 de fevereiro de 2012
- ↑ Odair Deters (12 de setembro de 2017). «Frode». Consultado em 30 de janeiro de 2022
- ↑ a b Odair Deters (7 de julho de 2021). «Um nobre dinamarquês em Santo Ângelo». Rádio Santo Ângelo. Consultado em 30 de janeiro de 2022
- ↑ a b c Odair Deters (15 de julho de 2021). «Um nobre dinamarquês em Santo Ângelo (Parte II de III)». Rádio Santo Ângelo. Consultado em 30 de janeiro de 2022
- ↑ a b c Odair Deters (21 de julho de 2021). «Um nobre dinamarquês em Santo Ângelo (Parte III)». Rádio Santo Ângelo. Consultado em 30 de janeiro de 2022
Bibliografia
editar- FREITAS, Délcio Possebon de, et al. Um olhar sobre os aspectos históricos e geográficos de Santo Ângelo. EdiURI, 2005.
Ligações externas
editar