Desfiladeiro submarino

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Um desfiladeiro submarino (português europeu) ou cânion submarino (português brasileiro), ou ainda canhão submarino, é um vale alcantilado localizado no fundo oceânico de um talude continental. Muitos desfiladeiros submarinos são prolongamentos de grandes rios; contudo, existem alguns que não possuem tal associação. São conhecidos exemplos situados a profundidades maiores do que 2 km abaixo do nível do mar, formados por atividade vulcânica ou sísmica. Muitos desfiladeiros submarinos prolongam-se na forma de vales submarinos que cortam o sopé continental, podendo atingir centenas de quilómetros de extensão.

Canhão da Nazaré, no litoral centro de Portugal (ao centro na fotografia)

São mais comuns nos taludes mais inclinados. Exibem erosão que corta todos os substratos, desde os sedimentos não consolidados até à rocha cristalina.[1]

Origem e formação

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Cânion submarino e seus principais componentes

Durante muito tempo a origem dos cânions submarinos foi debatida, com a criação de diversas teorias sobre. Uma das teorias, com alguns fundamentos aceitos e usados até hoje foi proposta em 1936 por Reginald Aldworth Daly, um geólogo canadense. Em sua pesquisa, Daly associou a formação dos cânions com a regressão marinha que ocorreu no Pleistoceno, que auxiliou na remobilização dos materiais e sedimentos do local pela ação de ondas e marés [1]. Continuando sua teoria, Daly afirmou que esse material em suspensão era responsável pela formação de correntes de turbidez, que transportavam material pelas encostas continentais até o assoalho oceânico. À medida que as correntes vão descendo pelas encostas, vão incorporando material, aumentando assim sua densidade, podendo assim escavar caminhos, formando os cânions submarinos. Daly observou também que algumas plataformas continentais localizadas nas mediações das isóbatas de 100 metros possuem depressões rasas que foram formadas por processos de erosão fluvial. Porém, também há a formação de cânions desse tipo em maiores profundidades, podendo se localizar a 5000 metros abaixo do nível do mar[2]. Estudos mostraram que as correntes de turbidez podem estar relacionadas com outros fatores como terremotos[3], podendo atingir velocidades de 40 até 55 km/h, sendo responsáveis pela quebra de cabos submarinos[4]. Com o passar do tempo, estudos foram feitos afim de determinar um possível padrão na formação e evolução de cânions submarinos. Com os resultados, os cânions foram classificados em dois tipos[5]. As duas principais denominações para os cânions foram a de cânions jovens e cânions maduros, diferindo na largura, tipo de parede e na ligação do cânion com a plataforma continental[5]. Outra diferença apresenta-se na profundidade, onde os cânions jovens são bastante rasos, enquanto os cânions maduros ligam-se com a plataforma e se estendem em grandes profundidades em formato de calha[5].

Importância

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Como alguns cânions possuem conexão da plataforma continental com o oceano profundo, eles acabam se tornando uma forma de conduíte de grandes quantidades de sedimentos para a zona abissal[6]. Assim como o sedimento, os cânions submarinos podem agir como catalisadores no processo de transporte de matéria orgânica pra o oceano profundo [7]. Além disso, processos oceanográficos fazem com que as águas dos cânions sejam misturadas mais rapidamente, possibilitando também ressurgências [8]. Estudos mostram que a taxa de mistura das águas em um cânion submarino pode ser até 1000 vezes maior do que as taxas do oceano aberto[8]. No caso de ressurgências, essa água muito bem misturada acarreta em um aumento na produtividade oceânica, devido a sua grande quantidade de nutrientes, suprindo assim os diferentes níveis tróficos da cadeia alimentar local. Os cânions submarinos tem sido associados com hotspots de produtividade faunal no oceano profundo, visto que as diferentes feições de um cânion suportam animais com características e nichos ecológicos bem variados [9]. As altas taxas de transporte de sedimento para o oceano profundo podem favorecer principalmente animais com nutrição detritívora e animais com capacidade de conversão da matéria orgânica [10][11]. Os cânions também podem influenciar na distribuição em profundidade dos animais nas suas diferentes fases da vida durante o desenvolvimento[12]. Com o transporte de matéria orgânica e nutrientes, os cânions podem prover condições ecológicas favoráveis para animais sésseis filtradores. Estudos relacionam os cânions submarinos e os serviços ecossistêmicos providos por eles[13]. Esses serviços podem ser divididos em 4 tipos [13]: Serviços de provisão, que são os serviços que retornam algo para o ser humano diretamente daquele ecossistema (e.g. minerais, pesca e etc.), serviços de suporte, que são os benefícios que o ecossistema traz, dando suporte à outros serviços ou ecossistemas, serviços de regulação, que são os benefícios que o ecossistema oferece na regulação de habitats e ecossistemas associados, e os serviços culturais, que podem ser obtidos em forma de educação sobre aquele ecossistema [13]. Porém, os cânions submarinos estão sendo impactados em diferentes formas por atividades antropogênicas. As cinco principais atividades que podem prejudicar o ecossistema são: Sobrepesca, exploração de petróleo e gás, poluição, acidificação oceânica e efeitos relacionados com as mudanças climáticas[14].

Exemplos

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  • Cânion da Amazônia, estendendo-se ao longo do rio amazonas
  • Cânion de Bering, o maior cânion submarino do mundo, localizado no mar de Bering.
  • Cânion do Congo, sendo o maior cânion com extensão fluvial do mundo, localizado no fim do rio congo.
  • Cânion de Nazaré, popularmente conhecido como o canhão de Nazaré. Esse é o maior cânion da Europa, e sua topografia junto com a dinâmica oceanográfica local proporcionam um palco para as maiores ondas do mundo, chegando em pouco mais de 30 metros[15].A tabela abaixo mostra o levantamento feito de alguns cânions nos oceanos do globo. A tabela foi adaptada de[16]
Oceano área dos cânions (KM2) Média da área dos cânions (KM2) Número de cânions
ártico 359.650,00 890,00 404
índico 760.420,00 480,00 1.590
Mar mediterrâneo e negro 163.040,00 200,00 817
Atlântico norte 738.430,00 480,00 1.548
Pacífico norte 816.580,00 390,00 2.085
atlântico sul 291.290,00 640,00 453
pacífico sul 694.790,00 350,00 2.009
oceano austral 569.440,00 1.000,00 571
todos os oceanos 4.393.650,00 460,00 9.447

Ver também

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Referências

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  1. a b Daly, R. A. (1 de junho de 1936). «Origin of submarine canyons». American Journal of Science (em inglês) (186): 401–420. ISSN 0002-9599. doi:10.2475/ajs.s5-31.186.401. Consultado em 1 de setembro de 2021 
  2. F. P. Shepard (2), K. O. Emery (3) (1973). «Congo Submarine Canyon and Fan Valley». AAPG Bulletin (em inglês). ISSN 0149-1423. doi:10.1306/83D9102E-16C7-11D7-8645000102C1865D. Consultado em 1 de setembro de 2021 
  3. Thunell, Robert; Tappa, Eric; Varela, Ramon; Llano, Martin; Astor, Yrene; Muller-Karger, Frank; Bohrer, Richard (março de 1999). «Increased marine sediment suspension and fluxes following an earthquake». Nature (em inglês) (6724): 233–236. ISSN 0028-0836. doi:10.1038/18430. Consultado em 1 de setembro de 2021 
  4. Piper, David J. W.; Cochonat, Pierre; Morrison, Martin L. (1999). «The sequence of events around the epicentre of the 1929 Grand Banks earthquake: initiation of debris flows and turbidity current inferred from sidescan sonar». Sedimentology (em inglês) (1): 79–97. ISSN 1365-3091. doi:10.1046/j.1365-3091.1999.00204.x. Consultado em 1 de setembro de 2021 
  5. a b c Stanley, Daniel Jean; Moore, George T., eds. (1983). The Shelfbreak: Critical Interface on Continental Margins (em inglês). [S.l.]: SEPM (Society for Sedimentary Geology) 
  6. Shepard, F.P. (maio de 1972). «Submarine canyons». Earth-Science Reviews (em inglês) (1): 1–12. doi:10.1016/0012-8252(72)90032-3. Consultado em 1 de setembro de 2021 
  7. Epping, Eric; van der Zee, Claar; Soetaert, Karline; Helder, Willem (janeiro de 2002). «On the oxidation and burial of organic carbon in sediments of the Iberian margin and Nazaré Canyon (NE Atlantic)». Progress in Oceanography (em inglês) (2-4): 399–431. doi:10.1016/S0079-6611(02)00017-4. Consultado em 1 de setembro de 2021 
  8. a b Carter, Glenn S.; Gregg, Michael C. (1 de novembro de 2002). «Intense, Variable Mixing near the Head of Monterey Submarine Canyon». Journal of Physical Oceanography (em inglês) (11): 3145–3165. ISSN 0022-3670. doi:10.1175/1520-0485(2002)032<3145:IVMNTH>2.0.CO;2. Consultado em 1 de setembro de 2021 
  9. McClain, Craig R.; Barry, James P. (abril de 2010). «Habitat heterogeneity, disturbance, and productivity work in concert to regulate biodiversity in deep submarine canyons». Ecology (em inglês) (4): 964–976. ISSN 0012-9658. doi:10.1890/09-0087.1. Consultado em 1 de setembro de 2021 
  10. Bianchelli, S.; Gambi, C.; Zeppilli, D.; Danovaro, R. (março de 2010). «Metazoan meiofauna in deep-sea canyons and adjacent open slopes: A large-scale comparison with focus on the rare taxa». Deep Sea Research Part I: Oceanographic Research Papers (em inglês) (3): 420–433. doi:10.1016/j.dsr.2009.12.001. Consultado em 1 de setembro de 2021 
  11. Puig, P.; Martín, J.; Masqué, P.; Palanques, A. (16 de outubro de 2015). «Increasing sediment accumulation rates in La Fonera (Palamós) submarine canyon axis and their relationship with bottom trawling activities». Geophysical Research Letters (em inglês) (19): 8106–8113. ISSN 0094-8276. doi:10.1002/2015GL065052. Consultado em 1 de setembro de 2021 
  12. Farrugio, H. «"A refugium for the spawners of exploited Mediterranean marine species: the canyons of the continental slope of the Gulf of Lion," in Mediterranean Submarine Canyons: Ecology and Governance,». ed M. Würtz (Gland; Málaga: IUCN), 45. 
  13. a b c Armstrong, Claire W.; Foley, Naomi S.; Tinch, Rob; van den Hove, Sybille (dezembro de 2012). «Services from the deep: Steps towards valuation of deep sea goods and services». Ecosystem Services (em inglês): 2–13. doi:10.1016/j.ecoser.2012.07.001. Consultado em 1 de setembro de 2021 
  14. Levin, Lisa A.; Le Bris, Nadine (13 de novembro de 2015). «The deep ocean under climate change». Science (em inglês) (6262): 766–768. ISSN 0036-8075. doi:10.1126/science.aad0126. Consultado em 1 de setembro de 2021 
  15. SurferToday.com, Editor at. «The mechanics of the Nazaré Canyon wave». Surfertoday (em inglês). Consultado em 1 de setembro de 2021 
  16. Harris, P.T.; Macmillan-Lawler, M.; Rupp, J.; Baker, E.K. (junho de 2014). «Geomorphology of the oceans». Marine Geology (em inglês): 4–24. doi:10.1016/j.margeo.2014.01.011. Consultado em 1 de setembro de 2021 
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