Canção do Amor Demais
Canção do Amor Demais é um álbum de estúdio da cantora Elizeth Cardoso, gravado em abril de 1958 nos estúdios Columbia, no Rio de Janeiro, e lançado em maio de 1958 pelo selo Festa. Com composições de Vinicius de Moraes e Antônio Carlos Jobim e contando com a presença de João Gilberto tocando violão em duas faixas, é considerado um dos marcos iniciais da bossa nova.
Canção do Amor Demais | |||||||
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Álbum de estúdio de Elizeth Cardoso | |||||||
Lançamento | maio de 1958 | ||||||
Gravação | Abril de 1958 | ||||||
Estúdio(s) | Estúdios Columbia, no Rio de Janeiro | ||||||
Gênero(s) | Samba-canção, bossa nova | ||||||
Duração | 31:43 | ||||||
Idioma(s) | Português | ||||||
Formato(s) | LP | ||||||
Gravadora(s) | Festa | ||||||
Produção | Antônio Carlos Jobim | ||||||
Cronologia de Elizeth Cardoso | |||||||
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Antecedentes
editarO álbum foi gravado pelo selo Festa, de Irineu Garcia, uma pequena gravadora situada no centro do Rio de Janeiro. O selo, no entanto, não tinha finalidade meramente comercial: o objetivo de seu dono era editar discos "falados" de poetas e cronistas brasileiros, como Augusto Frederico Schmidt, João Cabral de Mello Neto e o próprio Vinicius de Moraes, entre outros.[1]
Através da amizade com Vinicius, surgiu a ideia de um álbum com o então vice-cônsul do Itamaraty. Porém, em vez de sua própria voz, Vinicius sugeriu a Garcia que produzisse uma seleção de composições suas interpretadas por uma cantora. Ambos tentaram Dolores Duran que pediu um cachê alto e foi descartada em favor de Elizeth Cardoso.[1][2]
Além do mais, dado à suas relações com o Itamaraty, Vinicius não desejava estar ostensivamente ligado à produção de um disco de sambas. Da mesma maneira, Vinicius optou por agir com cautela ao franquear sua participação no disco, por um duplo receio: o de relacionar sua relação com a música popular com a profissão de diplomata e, também, de seu ofício de poeta com o de letrista.[1]
Gravação e produção
editarAs gravações aconteceram nos estúdios da gravadora Columbia Records, no Rio de Janeiro, em abril de 1958. Apesar de ser lembrado como o primeiro disco onde a famosa batida de João Gilberto aparece (nas faixas "Outra Vez" e "Chega de Saudade"), seu nome não aparece nos créditos da primeira edição do álbum. Além do mais, João fora escalado também para o violão em "Eu Não Existo sem Você", "Luciana" e "Caminho de Pedra". Porém, ficou apenas com o coro - juntamente com Jobim e Walter Santos - na faixa título. O violonista reclamou, também, da falta de autonomia em tentar coproduzir as faixas com Tom. Ele tentou explicar a Elizeth como ela deveria cantar as faixas, pensando que ela tratava as canções de Vinicius como se fossem "peças sacras". De acordo com Castro, a cantora deu a entender que não necessitava dos seus palpites, dando pouca atenção às suas sugestões.[1][3]
Recepção
editarLançamento
editarLançado em maio de 1958, Canção do Amor Demais não foi um sucesso, pelo menos inicialmente. Em parte, isso se deu pelo fato de que - além da prensagem limitada de 2 mil cópias -, em matéria de promoção do produto, a política do selo Festa era de "divulgação zero". Só mais tarde, depois do lançamento do compacto "Chega de Saudade" - com João Gilberto tocando violão e cantando, em julho daquele ano - e com o sucesso da bossa nova no Brasil e no mundo é que o álbum ganhou o status de precursor do movimento.[4]
Fortuna crítica
editarCom músicas de apelo sentimental, em sua maioria sambas-canções, Canção do Amor Demais é caraterizado pelo estilo próprio de Elizeth interpretar que reforça o efeito dramático. É o caso, por exemplo, da canção "Estrada Branca", cujo desfecho é trágico: "vou caminhando com vontade de morrer". Apesar de não ter tido uma grande repercussão na época, o disco foi elogiado pela crítica especializada.[5]
Legado
editarÉ considerado um dos marcos iniciais da bossa nova por apresentar diversas das características que passariam a definir o estilo, como uma banda reduzida em comparação aos boleros e sambas-canções e percussão influenciada pelo jazz norte-americano.[6][7][8][9]
Faixas
editarAs canções foram compostas por Antônio Carlos Jobim com letra de Vinicius de Moraes, exceto onde indicado.[10][11]
Lado A | ||||||||||
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N.º | Título | Compositor(es) | Duração | |||||||
1. | "Chega de Saudade" | 3:28 | ||||||||
2. | "Serenata do Adeus" | Vinicius de Moraes | 3:08 | |||||||
3. | "As Praias Desertas" | Tom Jobim | 2:17 | |||||||
4. | "Caminho de Pedra" | 2:47 | ||||||||
5. | "Luciana" | 1:35 | ||||||||
6. | "Janelas Abertas" | 3:05 |
Lado B | ||||||||||
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N.º | Título | Compositor(es) | Duração | |||||||
1. | "Eu não Existo sem Você" | 1:59 | ||||||||
2. | "Outra Vez" | Tom Jobim | 1:53 | |||||||
3. | "Medo de Amar" | Vinicius de Moraes | 3:07 | |||||||
4. | "Estrada Branca" | 2:27 | ||||||||
5. | "Vida Bela (Praia Branca)" | 2:08 | ||||||||
6. | "Modinha" | 2:00 | ||||||||
7. | "Canção do Amor demais" | 1:43 | ||||||||
Duração total: |
31:43 |
Créditos
editarCréditos dados pela página oficial de Tom Jobim[10] e pelo Discogs.[12]
- Elizeth Cardoso: vocal
- Antônio Carlos Jobim: arranjos, regência, piano e coro (faixa 1)
- João Gilberto: violão (nas faixas 1 e 8) e coro (faixa 1)
- Walter Santos: coro (faixa 1)
- Copinha: flauta
- Irany Pinto: violino
- Gaúcho: trombone
- Maciel: trombone
- Herbert: trompa
- Nídia Soledade: violoncelo
- Vidal: contrabaixo
- Juca Stockler: bateria
Referências
- ↑ a b c d Castro, 2016, pp. 175-178.
- ↑ João Máximo (8 de abril de 2018). «Sessenta anos de 'Canção do amor demais', um disco perene, quase por acaso». O Globo. Consultado em 10 de abril de 2018
- ↑ Amanda Nogueira (10 de abril de 2018). «Considerado prólogo da bossa nova, 'Canção do Amor Demais' completa 60 anos». Folha de S.Paulo. Consultado em 10 de abril de 2018
- ↑ Luiz Américo (2000). «Canção do Amor Demais». Luiz Américo. Consultado em 1 de abril de 2015
- ↑ Cultural, Instituto Itaú. «Elizeth Cardoso». Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 10 de janeiro de 2020
- ↑ Américo, Luiz. «Elizete Cardoso Canção do Amor de mais - 1958». Luiz Américo - A História da MPB. Consultado em 31 de março de 2009
- ↑ Prado, Miguel Arcanjo. «Bossa Nova: Tom Jobim cultuava Ipanema, mas nasceu na Tijuca». Folha Online. Consultado em 1 de abril de 2009
- ↑ «Arquivo G1: Surge a Bossa Nova». G1 - O portal de Notícias da Globo. Consultado em 1 de abril de 2009
- ↑ Ezabella, Fernanda. «Para críticos, João Gilberto e bossa nova ainda são insuperáveis». Reuters Brasil. Consultado em 1 de abril de 2009
- ↑ a b «Canção do Amor demais». Tom Jobim - Site Oficial. Consultado em 1 de abril de 2009
- ↑ «Histórias de discos históricos - Canção do Amor demais». Clube do Tom. Consultado em 1 de abril de 2009
- ↑ «Elizeth Cardoso - Canção do Amor Demais». Discogs. N.d. Consultado em 10 de abril de 2018
Bibliografia
editar- CASTRO, Ruy. Chega de Saudade: A história e as histórias da Bossa Nova. 2ª edição revista e ampliada. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.