Capela do Pilar (Ribeirão Pires)
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A Capela de Nossa Senhora do Pilar, conhecida popularmente como Capela do Pilar, é um templo católico consagrado à Virgem do Pilar, fundado em 25 de março de 1714, e localizado no município de Ribeirão Pires (antigo bairro de Caguaçu).
Capela do Pilar (Ribeirão Pires) Capela do Pilar
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Informações gerais | |
Tipo | Capela |
Estilo dominante | Colonial bandeirista |
Início da construção | c. 1713 |
Inauguração | 25 de março de 1714 |
Restauro | 1985 a 1987 e 2008 |
Proprietário inicial | Antônio Corrêa de Lemos |
Função inicial | Religiosa |
Proprietário atual | Mitra Diocesana de Santo André |
Função atual | Religiosa / Cultural |
Religião | Catolicismo romano |
Diocese | Diocese de Santo André |
Ano de consagração | 1714 |
Arcebispo | Dom Pedro Odilo Scherer |
Geografia | |
País | ![]() |
Cidade | Ribeirão Pires |
Localização | Pilar Velho |
Coordenadas | 23° 40′ 38″ S, 46° 23′ 28″ O |
Localização em mapa dinâmico |
O templo é o segundo mais antigo da região do Grande ABC, perdendo apenas para a Capela de Santa Cruz, situada em Rio Grande da Serra (antigo bairro de Zanzalá) e datada de 03 de maio de 1600.[1] Esta, porém, foi demolida e uma réplica foi inaugurada somente em 2011.[2]
Origem
editarEm 1677, Antônio Correa de Lemos[3] foi nomeado no lugar de Domingos Leme da Silva[4] como capitão das ordenanças do bairro de Caguaçu. Lemos também ocupou o cargo de capitão-mor da Capitania de São Vicente e São Paulo, de 1703 a 1706.
Era um respeitado bandeirante que morava no bairro de Morada Santa Tereza, próximo à atual Praça da Sé. Um dos motivos de sua nomeação foi a necessidade de encontrar ouro e prata nos remansos do Taiaçupeba e do Guaió, pois acreditava-se que a região era farta desses minérios, o que em poucos anos acabou não se confirmando. Aliás, a escassez de minérios na região é o que, segundo alguns historiadores, explica a pobreza e simplicidade do templo, diferentemente da Basílica Menor de Nossa Senhora do Pilar, situada em Ouro Preto.
Acredita-se que Antônio Corrêa de Lemos tenha se envolvido pessoalmente na atividade mineira, muito perigosa para a saúde humana. Como consequência, contraiu uma doença que o deixou gravemente enfermo. Por volta de 1713 e 1714, já curado, mandou edificar um templo como pagamento de uma promessa à Nossa Senhora do Pilar, a qual, segundo a sua crença, lhe proporcionou a cura por intercessão divina.
Fundação
editarO dia da fundação da capela foi 25 de março de 1714 e caiu em um domingo, dia de santa missa. Coincidentemente, no calendário litúrgico daquele ano, o dia também foi dedicado à Virgem do Pilar e consagrado à Indulgência Plenária.
Outro fator que explica a denominação do templo é que a Virgem do Pilar foi muito venerada, no decorrer do Ciclo do Ouro, como protetora dos bandeirantes paulistas, em especial no decurso da Guerra dos Emboabas.[5] A historiadora Beatriz Coelho afirma que esse culto mariano tomou impulso no Brasil a partir do ano de 1690, quando os carmelitas fizeram a entronização da Virgem em Salvador (BA). Coelho acredita que a veneração começou a se espalhar a partir das Bandeiras. Em Minas Gerais, por exemplo, teria sido levada pela Bandeira de Bartolomeu Bueno. Wanderley dos Santos também relaciona a Virgem do Pilar aos carmelitas. Ele afirma que o bandeirante e capitão-mor Antônio Correa de Lemos (fundador da capela), era membro da Venerável Ordem Terceira do Carmo (um ramo da Ordem composto apenas por membros leigos) e aparece em documentos eclesiásticos como protetor do templo.[6] Naturalmente, ao falecer em 23 de julho de 1735, ele seria sepultado na Ordem do Carmo, em São Paulo.
Por este motivo, acredita-se que Antônio Corrêa de Lemos, sendo bandeirante e membro da Ordem Terceira do Carmo, tenha seguido essa lógica, a exemplo de outras fundações, como a de São Paulo (dedicada ao dia do Apóstolo Paulo), ou de São Vicente (dedicada ao dia de Vicente de Saragoça).
A fundação da capela não foi um ato aleatório, mas planejada pelo próprio capitão-mor. A presença do bispo Dom Francisco de São Jerônimo, bispo de São Sebastião, e do Frei Pacífico, da Igreja de São Francisco, denota a clara intenção de pagar uma promessa e, ao mesmo tempo, obter a Indulgência Plenária, redimindo-se de seus pecados. Isso porque o contexto era de perseguição religiosa promovida por Dom Francisco de São Jerônimo, que já havia atuado como inquisidor do Santo Ofício em Évora.[7]
Com a morte de Antônio Corrêa de Lemos, em 1735, aos 83 anos, o bairro do Caguaçu passou ao comando de outros capitães, mas nenhum se destacou como ele. Em 1809, um de seus sucessores, o capitão-mor João Franco da Rocha, acrescentou a torre sineira à nave da capela, com o patrocínio de João José Barbosa Ortiz - fazendeiro cujas propriedades tomavam grande parte do antigo Bairro do Caguaçu e da atual cidade de Mauá.
Em 1831, o povoado que ali vivia sob o nome de Caguaçu passou a se chamar Bairro do Pilar, ficando vinculado à recém-criada Freguesia de São Bernardo.
A descoberta das primeiras informações históricas foi feita somente em 1974 pelo historiador Wanderley dos Santos, em sua monografia Ribeirão Pires, publicada postumamente em livro com o título História de Ribeirão Pires.[8] Até então, a escassa historiografia da cidade defendia a tese de que a capela seria a antiga ermida de Santo Antônio, construída por ordens do padre jesuíta Leonardo Nunes, e cumprida por João Ramalho, nos idos do século XVI. Essa teoria foi desmentida pela pesquisa de Wanderley dos Santos.
Patrimônio Cultural
editarEm 1975, a Capela do Pilar foi tombada (protegida legalmente) pelo CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo), firmando-se como um importante exemplar arquitetônico do século XVIII na região. De pequenas dimensões, apresenta em sua elevação frontal uma torre e, no trecho que corresponde à nave, apenas uma porta, com verga em arco pleno. Lateralmente, a fachada apresenta uma varanda reentrante, típica das construções bandeiristas. A edificação chegou até os dias de hoje praticamente inalterada.[9]
Em 1985, teve início a sua restauração, finalizada somente em 1987. Em 2008, ocorreu a sua segunda restauração, ambas coordenadas pelo CONDEPHAAT, desta vez para refazer o telhado. Em 2018, a capela foi tombada na esfera municipal pelo CONDEP (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural e Natural de Ribeirão Pires), em regime ex-officio.[10]
Referências
- ↑ Rio Grande da Serra, Município de. «História». Prefeitura de Rio Grande da Serra. Consultado em 18 de janeiro de 2023
- ↑ Mais Notícias (27 de janeiro de 2011). «Capela de Santa Cruz em Rio Grande completa 400 anos». Jornal Mais Notícias | Notícias e informações de Ribeirão Pires e região. Consultado em 18 de janeiro de 2023
- ↑ CARDOSO, Roberto. «Capitão-mor Antonio Correa de Lemos». Genearc. Consultado em 6 de fevereiro de 2025
- ↑ Registro Geral da Câmara Municipal de São Paulo (1661-1709). [S.l.]: Tipografia Piratininga. 1917. pp. 145–146
- ↑ COELHO, Beatriz (2005). Devoção e arte: imaginária religiosa em Minas Gerais. São Paulo: EdUSP; Vitae. p. 82. ISBN 85-314-0884-9
- ↑ SANTOS, Wanderley dos (1992). Antecedentes históricos do ABC: 1550-1892. São Bernardo do Campo: Prefeitura de São Bernardo do Campo. p. 141
- ↑ MACHADO, Alcântara (1978). Vida e morte do bandeirante. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. p. 182
- ↑ SANTOS, Wanderley dos (2017). História de Ribeirão Pires. São Bernardo do Campo (SP): EdUFABC. 132 páginas
- ↑ «CONDEPHAAT». Consultado em 17 de março de 2017
- ↑ Município de Ribeirão Pires (5 de junho de 2018). «Decreto nº 6827, de 5 de junho de 2018». https://leismunicipais.com.br/. Consultado em 18 de janeiro de 2023