Carolina Bori
Carolina Martuscelli Bori (São Paulo, 4 de janeiro de 1924 — 4 de outubro de 2004) foi uma psicóloga brasileira, pesquisadora na área de psicologia experimental.
Carolina Martuscelli Bori | |
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Nascimento | 4 de janeiro de 1924 São Paulo, Brasil |
Morte | 4 de outubro de 2004 (80 anos) São Paulo, Brasil |
Nacionalidade | brasileira |
Alma mater | Universidade de São Paulo (graduação e doutorado) |
Orientador(es)(as) | Annita de Castilho e Marcondes Cabral |
Instituições | Universidade de São Paulo |
Campo(s) | Psicologia |
Tese | Experimentos de Interrupção de Tarefas e a Teoria de Motivação de Kurt Lewin (1954) |
Comendadora da Ordem Nacional do Mérito Científico[1], Carolina foi professora emérita da Universidade de São Paulo.[2]
Uma das primeiras psicólogas brasileiras a realizar trabalhos de campo. Sua opção pela área experimental deu-se pela crença no rigor científico em psicologia. Uma das primeiras pesquisas realizadas por ela foi publicada no final da década de 1940 e tratava do preconceito racial e social. Carolina trabalhou, ao mesmo tempo, pela consolidação da Psicologia como ciência na universidade e na sociedade, e pela contribuição da Psicologia para a Educação em todos os níveis.[2]
Biografia
editarFilha de Aurelio Martuscelli e Maria Teresa Colombo, ambos imigrantes italianos, ele de Camerota (Salerno) e ela de Lagonegro (Potenza). Além de Carolina, o casal teve outros cinco filhos[3].
Aos seis anos já frequentava a escola alemã, próxima à sua casa, no centro de São Paulo. Estudou na Escola Normal Caetano de Campos. Graduou-se em Pedagogia pela Universidade de São Paulo (USP) em 1947, especializando-se em Psicologia educacional também pela USP em 1948.[2]
Concluiu o mestrado em 1952 na New School For Social Research (NSSR) de Nova Iorque (Estados Unidos). Doutorou-se em psicologia pela USP em 1954, orientada por Annita de Castilho e Marcondes Cabral, com a tese Experimentos de Interrupção de Tarefas e a Teoria de Motivação de Kurt Lewin.[4]
Carreira
editarLiderou várias campanhas sobre o exercício profissional do psicólogo e foi o registro numero um no conselho da categoria por ser a única mulher dentre os constituintes. Batalhou pelo currículo mínimo para a graduação e pela implantação do curso de pós-graduação em Psicologia. Presidiu e participou de inúmeras comissões para criação de cursos de Psicologia e de pós-graduação em todo o país defendendo a obrigatoriedade de uma porcentagem de disciplinas com trabalho de campo ou laboratório e solicitando auxílios às instituições de fomento.[2]
Carolina Bori intermediava contatos com a administração da universidade para importar equipamentos em tempos difíceis. Fazia congressos com grupos de colaboradores e divulgava os princípios de análise do comportamento pelo Brasil propiciando condições para a vinda do professor Fred Keller, fato fundamental para a Psicologia no Brasil, como vemos em diversos artigos de revistas cientificas da época (Keller, Bori e Azzi, 1964; Keller, 1974; Bori, 1974; Kerbauy, 1983)[5].
Como uma das poucos doutoras em Psicologia nos anos 60 e como professora em cursos de pós-graduação, Carolina orientou mais de cem teses e dissertações em uma época na qual não havia limite no número de orientandos, dadas as condições existentes. Teve parceria de trabalho e pesquisas com Lígia Maria de Castro Marcondes Machado. Formação de pesquisadores e produção de conhecimento eram suas preocupações e sempre as via como necessidade urgente. Partia da formulação do problema para tomar decisões, buscar soluções e conseguir resultados.Traduziu livros básicos para a formação dos alunos, quando eram poucas as opções bibliográficas existentes.[2]
O nome de Carolina está ligado a associações como a Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP), a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e, antes disso a Associação de Psicologia de São Paulo. Foi presidente de todas elas e membro atuante, mesmo que não estivesse participando diretamente da diretoria.[2]
Participou das lutas para o desenvolvimento da Psicologia e Ciência no Brasil. Até o fim de seus dias, Carolina participou de comissões e organizações cientificas, debatendo o significado de ações e a necessidade de pontuar outras. Convivendo com cientistas de várias ciências no Conselho da SBPC, Carolina tinha uma visão sobre como a Psicologia deveria trabalhar para ganhar respeito de outras áreas do saber e auxiliar a sociedade em geral. Manteve a ênfase em pesquisa básica e aplicada e na colaboração com outras áreas de conhecimento.[6][7][8]
Morte
editarCarolina morreu em 4 de outubro de 2004, aos 80 anos, na capital paulista. Com o jornalista italiano Giovanni Bori teve um filho, Mario Eppler Bori, em 28 de fevereiro de 1956.[2]
Prêmios e honrarias
editarSegundo a análise de Cândido e Massimi, em artigo publicado em 2012, dentre as importantes contribuições de Carolina Bori destaca-se sua luta para melhorar a formação profissional dos psicólogos no Brasil.[9]
- Em 1969 recebeu o título de livre-docente pela USP.
- Em 1999 recebeu o Prêmio "Fred Keller" dado pela Divisão 25 da APA
Assumiu vários cargos de presidência, dentre eles:
- Em dois períodos (Entre 1954 e 1955 e entre 1963 e 1965) – Presidente da ABP (Associação Brasileira de Psicologia)
- Entre 1984 e 1986 – Presidente da ANPEPP (Associação Nacional de Pesquisa e Pós graduação em Psicologia)
- Entre 1985 e 1987 – Presidente de Área da Comissão de Acompanhamento e Avaliação de Cursos de Psicologia do MEC (Ministério da Educação).
- Entre 1986 e 1989 – Presidente da SPBC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência)[10][11]
- Entre 1990 e 1994 – Presidente da SBP (Sociedade Brasileira de Psicologia - na época ainda como Sociedade de Psicologia de Ribeirão Preto "SPRP")
- Entre 1995 e 1996 – Presidente da Comissão de Especialistas de Psicologia do MEC (Ministério da Educação)
Publicações
editarArtigos em periódicos
editar- Bori, C. M (1953). O papel do experimentador e do sujeito na situação experimental. Boletim de Psicologia, 5, 9-17.
- Bori, C. M. (1954). Um curso de estatística aplicada à experimentação psicológica. Ciência e Cultura, 18, 19, 20, 18 – 21.
- Bori, C. M. (1956). Como o laboratório de psicologia estuda a expressão da personalidade. Boletim de Psicologia, 25, 26 e 27, 7-26.
- Bori, C. M., (1964). Aparelhos e o laboratório de psicologia. Jornal Brasileiro de Psicologia, 1(1), 61-65.
- BORI, C. M. ; ZANNON, C. M. L. C. SBP, 1972: relato do Plano Brasília por Fed S. Keller. Psicologia: Teoria e Pesquisa, São Paulo, v. 12, n.3, p. 191-192, 1996.
- BORI, C. M. ; TODOROV, J. C. ; SOUZA, D. G. Momentary maximizing in concurrent schedules with a minimum interchangeover interval. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, Bloomington, v. 60, n.2, p. 415-435, 1993.
- BORI, C. M. . SBPC, ciência e tecnologia. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 41, n.3, p. 211, 1989.
- BORI, C. M. ; DIAS, T. R. S. Proposta de um procedimento para identificar funções relativas de eventos quantitativamente diferentes. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 39, n.7 supl., p. 892, 1987.
- Martuscelli, C. (1950). Uma pesquisa sobre aceitação de grupos nacionais, raciais e regionais em São Paulo. Boletim CXIX, Psicologia, 3. São Paulo: Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras.
- Martuscelli, C. (1955). Desenho no estudo da personalidade: a prova de desenho da figura humana. Boletim de Psicologia, 21, 22, 23 e 24, 59-62.
- Martuscelli, C. Estudo psicológico do grupo. In: Queiroz, M. I. P., Castaldi,C., Ribeiro, E. T., Martuscelli, C. (1957) Estudos de sociologia e história. São Paulo: Ed. Anhembi, pp. 84-125.
- Martuscelli, C. (1958). Percepção e arte. Boletim de Psicologia, 35 e 36, 101.
- Martuscelli, C. (1959). Experimentos de interrupção de tarefas e a teoria de motivação de Kurt Lewin. Tese doutorado. Universidade de São Paulo, SP.
Livros
editar- BORI, C. M. Famílias de categorias baixa e média de status social de centros urbanos: caracterização das relações formais e informais dos membros e dos papel social dos cônjuges. São Paulo: , 1969. 158p .
- BORI, C. M. Experimentos de interrupção de tarefa e a teoria de motivação de Kurt Lewin. São Paulo: , 1959. 174p
Ver também
editarReferências
- ↑ «Ordem Nacional do Mérito Científico - Agraciados». Canal Ciência. Consultado em 27 de março de 2021
- ↑ a b c d e f g Maria Amelia MatosAna e Maria Almeida Carvalho (ed.). «Carolina Martuscelli Bori: uma cientista brasileira». Psicologia: Reflexão e Crítica. Consultado em 17 de fevereiro de 2022
- ↑ Schuma Schumaher e Érico Vital Brazil (200). Dicionário Mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade. [S.l.]: Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro. 676 páginas. ISBN 978-85-378-0215-1
- ↑ Maria Ângela Guimarães Feitosa (ed.). «Doutora Honoris Causa Carolina Martuscelli Bori (1924-2004)». Psicologia: Teoria e Pesquisa. Consultado em 17 de fevereiro de 2022
- ↑ «Centro de Memória - Instituto de Psicologia |». citrus.uspnet.usp.br. Consultado em 11 de dezembro de 2016
- ↑ «Biografia Carolina Bori». Centro de Memória do Instituto de Psicologia da USP. Consultado em 17 de fevereiro de 2022
- ↑ Rachel Rodrigues Kerbauy (ed.). «A presença de Carolina Martuscelli Bori na psicologia». Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva. Consultado em 17 de fevereiro de 2022
- ↑ César Ades (ed.). «Lembranças a Respeito de Carolina:1968». Psicologia USP. Consultado em 17 de fevereiro de 2022
- ↑ Gabriel Vieira Cândido e Marina Massimi (ed.). «Contribuição para a formação de Psicólogos: análise de artigos de Carolina Bori publicados até 1962». Psicologia: Ciência e Profissão. Consultado em 17 de fevereiro de 2022
- ↑ Ademar Freire-Maia (ed.). «Carolina SBPC Bori». Psicologia USP. Consultado em 17 de fevereiro de 2022
- ↑ «Carolina Bori». Clip Psyche UERJ. Consultado em 17 de fevereiro de 2022