Casamento consanguíneo

O casamento consanguíneo é o casamento entre membros de uma mesma família. Em termos legais, existem dois tipos: casamentos entre primos e casamentos avunculares (entre tios e sobrinhos). Apenas a Somália e a Suécia permite casamento entre irmãos (no caso desta, apenas para meios-irmãos por parte de pai).

Rainha Elizabeth II do Reino Unido e seu marido, príncipe Philip, em 1950. Elizabeth e Philip eram primos de segundo grau através do rei Cristiano IX da Dinamarca e de terceiro grau através da rainha Vitória[1][2][3].

Presente e comum nas diversas sociedades do mundo desde o início da história[4], os exemplos mais notáveis desse tipo de casório se encontram em famílias reais e nobres. De acordo com Georges Duby, a fortuna da nobreza derivava da agregação desta à família do rei, gerando o interesse de renovar esse vínculo[5]. Além disso, a endogamia aristocrática promovia a reagrupação da herança[6], evitando a divisão indesejada das terras[7]. No caso da realeza, os casamentos consanguíneos eram o resultado de uma estratégia para formar alianças[8]. Ao contrário do pensamento popular, não era visada a pureza de sangue, pois esse termo só se originou no século XV, como uma forma de discriminação contra judeus.[9]

Em países islâmicos, o casamento entre primos é encorajado, chegando a representar 60% dos casamentos no Paquistão [10]. Outras culturas, como a japonesa e a judaica, também incentivam o casamento entre primos, baseado principalmente em elementos históricos e religiosos[11]. No Brasil, casamentos entre primos são permitidos, mas ainda há controvérsias a respeito de casamentos avunculares (o exemplo mais famoso deste último foi Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá)[12].

Um dos maiores temores relacionados aos casamentos consanguíneos é um maior risco de gerar descendentes com anomalias estruturais e fisiológicas, assumindo-se que haja possibilidade de um gene recessivo portador da anormalidade ser carregado por ambos os pais e ser passado para os filhos (manifestando a característica se ocorrer em dose dupla)[13]. Por isso, é recomendado a casais consanguíneos fazer um mapeamento genético para verificar os riscos antes de terem filhos.[14] Entretanto, casais não-consanguíneos estão sujeitos ao mesmo risco, em uma proporção apenas 2% menor.[15][16] A desinformação relacionada ao tema acaba por espalhar desinformação com vieses eugenistas, xenofóbicos e racistas.[17] Países e estados que adotaram a eugenia como política de Estado para coibir casamentos consanguíneos visando a diminuição de nascimentos de crianças com deficiência fracassaram em alcançar o objetivo.[18]

Referências

  1. BOND, Jennie (2006). Elizabeth: Eighty Glorious Years. [S.l.]: Carlton Publishing Group. p. 10. ISBN 1-84442-260-7 
  2. BRANDRETH, Gyles (2004). Philip and Elizabeth: Portrait of a Marriage. [S.l.]: Century. pp. 132–136, 166–169. ISBN 0-7126-6103-4 
  3. LACEY, Robert (2002). Royal: Her Majesty Queen Elizabeth II. [S.l.]: Little, Brown. pp. 119, 126, 135. ISBN 0-316-85940-0 
  4. THURSTON, Kevin J. W. (2024). Primofobia: Como os casamentos entre primos passaram a ser perseguidos. Maringá/PR: Viseu. p. 9. ISBN 978-65-254-8303-0 
  5. DUBY, Georges (1989). A sociedade cavalheiresca. São Paulo: Martins Fontes. pp. 11–12. ISBN 978-20-808-1181-3 
  6. DUBY, Georges (2011). Idade Média, Idade dos Homens. São Paulo: Companhia das Letras. pp. 16; 47. ISBN 978-85-3591-880-9 
  7. DUBY, Georges (2011). Idade Média, Idade dos Homens. São Paulo: Companhia das Letras. pp. 22; 124. ISBN 978-85-3591-880-9 
  8. DUBY, Georges (2011). Idade Média, Idade dos Homens. São Paulo: Companhia das Letras. p. 15. ISBN 978-85-3591-880-9 
  9. LE GOFF, Jacques; TRUONG, Nicolas (2006). Uma história do corpo na Idade Média. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. p. 40. ISBN 978-85-200-0674-0 
  10. SHAMI, S A; SCHMITT, L H; BITTLES, A H (1989). Consanguinity related prenatal and postnatal mortality of the populations of seven Pakistani Punjab cities. Islamabad, Paquistão: Journal of Medical Genetics. 
  11. THURSTON, Kevin J. W. (2024). Primofobia: Como os casamentos entre primos passaram a ser perseguidos. Maringá/PR: Viseu. pp. 14–27; 72; 96. ISBN 978-65-254-8303-0 
  12. Castro, Ligia Lemos de. «Barão de Mauá». Toda Matéria. Consultado em 31 de dezembro de 2024 
  13. THURSTON, Kevin J. W. (2024). Primofobia: Como os casamentos entre primos passaram a ser perseguidos. Maringá/PR: Viseu. pp. 30–32. ISBN 978-65-254-8303-0 
  14. Ribeiro, Krukemberghe Divino Kirk da Fonseca. «Casamento consanguíneo». Brasil Escola. Consultado em 11 de janeiro de 2023 
  15. Bennett, Robin L.; Motulsky, Arno G.; Bittles, Alan; Hudgins, Louanne; Uhrich, Stefanie; Doyle, Debra Lochner; Silvey, Kerry; Scott, C. Ronald; Cheng, Edith; McGillivray, Barbara; Steiner, Robert D.; Olson, Debra (2002). «Genetic Counseling and Screening of Consanguineous Couples and Their Offspring». Journal of Genetic Counseling. 11 2 ed. pp. 97–119. PMID 26141656. doi:10.1023/A:1014593404915 
  16. THURSTON, Kevin J. W. (2024). Primofobia: Como os casamentos entre primos passaram a ser perseguidos. Maringá/PR: Viseu. pp. 32; 51. ISBN 978-65-254-8303-0 
  17. THURSTON, Kevin J. W. (2024). Primofobia: Como os casamentos entre primos passaram a ser perseguidos. Maringá/PR: Viseu. pp. 55–136. ISBN 978-65-254-8303-0 
  18. THURSTON, Kevin J. W. (2024). Primofobia: Como os casamentos entre primos passaram a ser perseguidos. Maringá/PR: Viseu. pp. 79–85. ISBN 978-65-254-8303-0