Casimiro de São José Wyszynski

Casimiro de São José Wyszynski M.I.C (Jeziora Wielkie, Kujawsko-Pomorskie, Polónia, 19 de agosto de 1700Convento de Balsamão, Chacim, Macedo de Cavaleiros, 21 de outubro de 1755) foi um padre polaco, que foi o responsável pela introdução da Congregação dos Padres Marianos da Imaculada Conceição em Portugal, em 1753.[1][2][3][4]

Casimiro de São José Wyszynski
Beato da Igreja Católica
Venerável de Deus
Info/Prelado da Igreja Católica
Casimiro de São José Wyszynski
Atividade eclesiástica
Congregação dos Padres Marianos da Imaculada Conceição Frei Casimiro de São José Wyszynski
Entrada solene 18 de novembro de 1723
Mandato 1737- 1755
Ordenação e nomeação
Profissão Solene 19 de março de 1725
Reino da Polónia
Ordenação diaconal 16 de março de 1726
Reino da Polónia
Ordenação presbiteral 20 de abril de 1726
Lema presbiteral "Ecce ego sum mitte Me"
Brasão presbiteral
Dados pessoais
Nascimento Jezioro Wielka
19 de agosto de 1700 (324 anos)
Morte Convento de Balsamão
21 de outubro de 1755 (55 anos)
Nome religioso Casimiro de São José Wyszynski
Nome nascimento Januário Francisco Wyszynski
Nacionalidade polaco
Residência Convento de Balsamão
Progenitores Mãe: Edviges Rogala
Pai: João Casimiro Wyszynski
Sepultado Convento de Balsamão
Categoria:Igreja Católica
Categoria:Hierarquia católica
Projeto Catolicismo

Biografia

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Primeiros Anos de Vida

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Januário Francisco Wyszyński nasceu a 19 de agosto do ano de 1700, no seio de uma família nobre abrasonada. Filho de Jan Kazimierz (João Casimiro) Wyszyński e Jadwiga (Edviges) Rogala (nascida Zawadzka), tinha sete irmãos, dos quais duas irmãs (Ana e Catarina), e cinco irmãos (António, André João, José, Miguel Gabriel Rafael e João).[5]

Vale acrescentar que além dele, dois dos seus irmãos também se dedicaram à vida clerical: André João, que tornou-se escolápio e João tornou-se vicentino.[5] Tinha também um seu tio Józef (José) Wyszyński, que era dominicano.[5]A sua família, Wyszynski, tinha as suas origens na antiga província da Boémia, atual República Checa, e teriam ido para a Polónia no século XIII, estabelecendo-se na região de Sieradz (atual província de Lodz).[5]

A partir de 1695, seus pais eram donos dos senhorios de Jeziora Wielka (onde nasceu) e Załęże Wielkie perto de Grójec.[5] Quando tinha dois anos, a sua família foi forçada a deixar as suas propriedades como resultado da invasão das tropas suecas na Grande Guerra do Norte, retornando em 1708. De seguida, foi enviado, junto com seu irmão João, para o colégio escolápio de Góra Kalwaria, onde o seu tio era o reitor do colégio.[5][6]

No Seminário Escolápio de Varsóvia

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Muito rapidamente, demonstra uma propensão à introspeção pessoal e à adoração de Deus, dedicando maior parte do seu tempo às práticas devocionais e a orações, incluindo missas diárias, ladainhas, rosários e meditações espirituais.[6] Depois de formado nesta escola, foi enviado por seus pais ao Seminário Escolápio de Varsóvia. Enquanto estudava em Varsóvia, decidiu fugir e fazer uma peregrinação a Roma , mas os seus pais, informados disso, obrigaram-no a recuar os 70 km já iniciados de volta a Varsóvia e impediram os seus planos futuros de peregrinações.[5]

O seu pai, desagradado com ele, enviou-o então para a chancelaria do município de Varsóvia para se preparar para a profissão de advogado sob a supervisão do vice-presidente do município de Varsóvia.[5]

Peregrinação a Santiago de Compostela

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Durante esta estadia na chancelaria de Varsóvia, prometeu fazer uma peregrinação ao túmulo do apóstolo Tiago, em Santiago de Compostela.[6] Apesar das dificuldades que o pai lhe causou, iniciou esta peregrinação, e em outubro de 1721 chega a Roma, onde prossegue a sua viagem, agora com um grupo de peregrinos.[4][6]

Continuando a viagem, adoeceu nos Pirenéus, perto da fronteira franco-espanhola e, por decisão dos médicos, regressa a Roma. Enquanto regressa, decide alterar o seu voto de peregrinação substituindo esta por obras de caridade e visitas a igrejas romanas. Em 1723, trabalha temporariamente nas minas de sal marinho administradas pela Santa Sé, e depois como assistente de advocacia, ajudando na transcrição de arquivos.[6]

Ingresso na vida religiosa

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O momento chave da sua vida sucedeu-se aos 23 anos, durante um encontro casual, na segunda metade do ano de 1723, em Roma, com o padre Joaquim Kozłowski, procurador da Ordem Mariana. Soube então por ele que seu irmão José tinha abandonado o serviço militar e, ingressando no noviciado mariano, teria causado muitos danos à Ordem. Em resposta a isso, Januário Francisco, profundamente comovido, respondeu-lhe:

"Eu quero reparar o que o meu irmão destruiu. Peço, à Vossa Paternidade, o hábito dos Marianos."[2][6][1]

A 18 de novembro de 1723 na igreja de Santo Estanislau, vestiu o hábito mariano branco e recebeu o nome religioso Casimiro.[5]Após retornar à Polónia, a 19 de março de 1724 iniciou um noviciado de um ano como monge eremita na Floresta de Korabiew, onde estava um mosteiro de marianos.[6]

Casimiro fez os votos monásticos solenes a 19 de março de 1725 pelas mãos do superior do mosteiro, Padre Joaquim Kozłowski, o mesmo que o fez entrar na vida religiosa.[6]No Sábado Santo, 31 de março de 1725, na Igreja de São João Batista em Varsóvia, Casimiro recebeu tonsura e quatro ordens menores ( ostiário, leitorado, exorcista e acólito).[6][5]

A 22 de dezembro torna-se subdiácono, e depois em 16 de março de 1726, diácono.[5] A 20 de abril de 1726, na mesma igreja de Varsóvia, foi ordenado sacerdote pelo bispo João Joaquim Tarło.[5] Foi nomeado professor de teologia e, após a ordenação sacerdotal, foi nomeado mestre de noviços (até finais de 1730). Entre 1731 e 1734 permaneceu em Roma, onde viveu na Basílica de Santa Maria em Aracoeli com os franciscanos.

Como Superior Geral da Ordem Mariana

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Depois de retornar à Polónia, desempenhou muitas funções monásticas diferentes, incluindo vice sacerdote, teólogo do mosteiro em Puszcza Korabiewska e professor de teologia moral. De seguida, a 12 de dezembro de 1737, foi eleito superior geral da Ordem Mariana. Ocupou este cargo até 8 de agosto de 1741,e tornou-se prior do mosteiro de Góra Kalwaria.[5]

Nessa altura, fez esforços para iniciar o processo de beatificação do fundador dos marianos, padre Estanislau Paczynski, MIC , e contribuiu para o aumento do número de religiosos na ordem, recrutando estrangeiros para a congregação.[5]

A 19 de junho de 1747, foi reeleito geral da Ordem Mariana para o triénio 1747-1750.[5] Durante este período, por sua iniciativa, foram estabelecidas novas fundações marianas em Rasno, na Polésia, um noviciado em Marijampolé e um mosteiro em Berezdovo na Volínia.[5] Depois, nos anos de 1750-1753, foi procurador-geral da Ordem em Roma.[5] Em Roma, entra em contacto com o Corpo Diplomático Português em Roma, onde recebeu informações sobre a possibilidade de empreender uma missão mariana em Portugal.

 
Pintura de Casimiro de S. José Wyszynski, presente no Mosteiro de Balsamão

Vinda para Portugal

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Problemas iniciais

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Casimiro chega a Lisboa a 16 de outubro de 1753, juntamente com o Padre Benon Bujalski, M.I.C. As dificuldades da sua missão foram muitas;Em primeiro lugar, assim que chegaram, descobriram que o convite não tinha vindo da Igreja nem da Coroa portuguesa, mas de um padre (António de Sousa Salazar). Tendo sido hospedados na casa do referido padre e, depois de problemas com o anfitrião e de serem relegados para a Capela de Nossa Senhora da Conceição da Abóbada, sem conseguir abrir a comunidade que desejava o companheiro mariano que o acompanhava desistiu, por não suportar o esforço psicológico. De facto, o referido padre que os tinha acolhido não tinha nenhuma intenção de ajudar a fundar uma comunidade de Marianos em Portugal, mas sim de, alegadamente, satisfazer as suas ambições pessoais. Não obstante todas as provações vividas em terras lusas, Frei Casimiro permaneceu, na fidelidade à missão que o Senhor lhe tinha confiado.[1][7]

Fora isto, no seu primeiro ano de estadia, há um ponto positivo a ressaltar: depois de chegar ao mosteiro de franciscanos reformados de São Pedro de Alcântara, a 25 de março de 1754, vestiu o primeiro português com o hábito mariano, João de Deus da Conceição.[6]

Ida para Trás-os-Montes

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João de Deus da Conceição, sendo Natural de Torre de Moncorvo, tinha conhecimento do Ermitério de Balsamão (na freguesia de Chacim, Macedo de Cavaleiros). Escreveram ao Bispo de Miranda, João da Cruz Salgado de Castilho, que, depois de obter o aval dos referidos Ermitas, os convidou para Balsamão. Saíram de Lisboa no dia 28 de agosto de 1754 e chegam a Balsamão no dia 6 de setembro de 1754. Foi muito bem recebido pela comunidade dos Eremitas de Balsamão, bem como pelas autoridades e povo de Chacim.[1][3]

O Bispo de Miranda, João da Cruz Salgado de Castilho, nomeia, então, Frei Casimiro Superior dos Eremitas e autoriza-o a dar-lhes o hábito dos Marianos, e a admiti-los à profissão religiosa, ficando sob a sua jurisdição do Convento. A 13 de abril de 1755, dá o hábito e admite ao noviciado 5 portugueses e aceita 2 novos candidatos. Frei Casimiro, depois de quase 3 anos de grande dedicação, passando por muitas tribulações, tinha, agora, a alegria de ver fundada a primeira comunidade dos Marianos em Portugal.[1][2]

Poucos meses de se instalar permanentemente no convento de Balsamão, Frei Casimiro, falece, por volta das 03 da madrugada, vítima de malária, no dia 21 de outubro de 1755, respondendo aos noviços, chorosos:

“Não choreis, a Virgem Santíssima é a vossa Fundadora, e eu, do Céu, ser-vos-ei mais útil.”[2]

No mesmo dia, foi sepultado inicialmente sob o chão da Igreja de Nossa Senhora de Balsamão, na areia, sem um caixão.[5] Em 1759, seus restos mortais foram extraídos da areia e colocados em um caixão, onde permaneceram até 1955, quando foram transferidos para um local especial de exposição na parede da igreja, onde ainda repousam.[5]

 
Pintura de Casimiro, por Frei Jan Niezabitowski, segunda metade do século XVIII, presente no mosteiro mariano de Gozlin, Polónia.

Processo de Beatificação

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Poucos anos depois da sua morte, por iniciativa da Congregação dos Padres Marianos, foi iniciado o seu processo de beatificação em Portugal, e depois na Polónia e em Roma. Este processo foi interrompido devido às partições da Polónia no século XVIII e à agitação política em Portugal, pós-terremoto. O processo foi retomado em Roma em 1953. A 14 de outubro de 1986, realizou-se em Roma uma sessão de consultores históricos e, em 1987, redigida a chamada positio , exigida no procedimento de beatificação. A 25 de novembro de 1988, a Santa Sé emitiu um decreto sobre a validade do processo informativo e apostólico e, em 21 de março de 1989, realizou-se em Roma uma reunião de consultores teológicos. A 7 de novembro de 1989, foi realizada uma reunião de cardeais e bispos da Congregação para as Causas dos Santos, e eles aceitaram a documentação do processo. Em seguida, a 21 de dezembro do mesmo ano, o Papa João Paulo II assinou um decreto sobre o vida heróica e virtudes do Servo de Deus , Padre Casimiro de São José Wyszyński. A partir de então, teve direito ao título de Venerável Servo de Deus.[1][3][4][5]

Referências

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  1. a b c d e f Nacional (Portugal), Biblioteca (1992). Imagem da Polónia. [S.l.]: Biblioteca Nacional Portugal 
  2. a b c d Lima, Henrique : de Campos Ferreira (1936). Frei Casimiro de S. José Wyszynski (polaco) introductor da Ordem dos Marianos em Portugal. [S.l.]: Imprensa Moderna 
  3. a b c Neves, João César das (24 de março de 2011). Os Santos de Portugal - 2a Edição. [S.l.]: Principia Editora 
  4. a b c «Novena a Frei Casimiro Wyszynski, MIC». Marianos. Consultado em 20 de novembro de 2024 
  5. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t Bolesław, Jakimowicz (1986). Venerável Servo de Deus Casimiro Wyszyński. Warszawa-Akademia Teologii Katolickiej: Joachim Roman Bar. OCLC 69582107 
  6. a b c d e f g h i j «O. Kazimierz Wyszyński. Mąż modlitwy i umiłowania Eucharystii.» (PDF). 2004. Consultado em 20 de novembro de 2024 
  7. «Capela de Nossa Senhora da Conceição da Abóboda». J.F. São Domingos de Rana. Consultado em 20 de novembro de 2024