Eugênio Chipkevitch

estuprador e pedófilo ucraniano-brasileiro
(Redirecionado de Caso Eugênio Chipkevitch)

Eugênio Chipkevitch (Ucrânia, 26 de abril de 1954) é um ex-médico e estuprador pedófilo em série condenado por abusar de dezenas de jovens pacientes, todos do sexo masculino, em sua clínica, chamada Instituto Paulista da Adolescência, tendo inclusive gravado cenas dos crimes em vídeos. Foi preso e condenado a 114 anos de prisão por atentado violento ao pudor e corrupção de menores.[1][2][3]

Eugênio Chipkevitch
Data de nascimento 26 de abril de 1954 (70 anos)
Local de nascimento  Ucrânia
Nacionalidade(s) Ucraniano naturalizado brasileiro
Crime(s) Abuso sexual de menores
Pena 114 anos de prisão
Situação Preso

Em 2018, após dez anos de sua condenação, o Domingo Espetacular divulgou uma reportagem especial sobre o que chamou "um dos maiores escândalos de pedofilia do Brasil".[4]

Já o canal especializado Anatomia do Crime, em agosto de 2021, considerou que se trata de um dos "piores casos de pedofilia do Brasil". A psiquiatra Dinah Akerman falou no episódio para o canal que "ele usava da sua capacidade profissional e de sua inteligência exclusivamente para satisfazer um desejo sexual pervertido, uma perversão sexual de pedofilia".[5]

Biografia

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Infância e juventude

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Eugênio Chipkevitch nasceu em 1954 na República Socialista Soviética da Ucrânia, que na época pertencia à União Soviética. Seus pais, contrários ao regime soviético, fugiram do país e Chipkevitch posteriormente foi naturalizado brasileiro.[6]

Formou-se em 1978 na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), foi chefe do Serviço de Adolescentes do Hospital Infantil Darcy Vargas, na capital paulista, e membro de associações como a Society for Research on Adolescence (Sociedade para Pesquisa em Adolescência) dos Estados Unidos.[7]

Mencionado no ranking dos dois mil cientistas mais importantes do Século XX, com direito a verbete na respeitada publicação Who’s Who in Science and Engineering (Quem é Quem na Ciência e na Engenharia), introduziu no Brasil a especialidade médica conhecida como hebiatria (o tratamento dos adolescentes e de seus problemas).[8]

Na época em que os crimes foram descobertos, ele era um profissional respeitado na área médica e acadêmica, tendo seus livros sido adotados em diversas universidades.[6][9]

Antes da prisão, ele estava prestes a lançar mais um livro, Adolescência: Os Segredos Que Seus Filhos Não Contam, que seria apresentado na Bienal do Livro em abril. A publicação porém foi suspensa quando os fatos que o levariam a ser processado e condenado e a seu registro de médico cassado se tornaram conhecidos.[10]

Instituto Paulista da Adolescência

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Em sua clínica na cidade de São Paulo, o Instituto Paulista da Adolescência, havia o cadastro de cerca de dois mil clientes, que pagavam honorários acima da média para serem atendidos pelo médico conceituado.[9]

Crimes

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Em 2002, um técnico de uma empresa telefônica que fazia um conserto da linha telefônica com um ajudante, estranhou ao ver um saco de lixo grande e de formato quadrado ao lado do poste, numa caçamba de entulho. Ao verificar seu conteúdo, encontrou várias fitas de vídeo no formato de filmadora portátil.[11]

Ele então decidiu levar as fitas para casa para saber quais delas tinham qualidade para que ele pudesse assistir a elas. No saco havia 35 fitas e, ao assistir a elas, o técnico ficou surpreso com o conteúdo: um homem abusando de crianças e adolescentes. Nos dias seguintes, ele repassou duas fitas à Rede Globo e ao SBT e levou o restante para Polícia Civil.[12]

Nas mais de 15 horas de gravações, das quais apenas uma pequena parte foi ao ar, apareceram cenas de abusos sexuais cometidos contra cerca de 40 vítimas – todos meninos, com idade entre 8 e 17 anos. Seu modus operandi consistia aos pais que aguardassem na sala de espera para que pudesse conversar a sós com os jovens. Uma vez sozinho, ele sedava os pacientes, sob o pretexto de aplicar-lhes uma vacina, depois os despia e os acomodava na maca. Enquanto estavam inconscientes ou semiconscientes, o médicos os acariciava, pegava-os no colo e manipulava seus órgãos genitais.

Na noite de 20 de março de 2002 foram ao ar, no Programa do Ratinho, no SBT, imagens de um médico molestando sexualmente seus pacientes. Nesse momento, a identidade do médico ainda era desconhecida, mas a mãe de um dos pacientes assistiu ao programa, reconheceu de quem se tratava e na mesma noite apresentou queixa à polícia. [13][14]

"Ele deve ter sido anestesiado porque a veia do pênis estava muito alterada. Eu sempre aguardava do lado de fora do consultório. Somente após o término de cada consulta, que durava cerca de uma hora meia, eu podia entrar na sala”, disse a mãe do jovem que apareceu nas primeiras imagens divulgadas num de seus depoimentos.[15]

Prisão, julgamento e pena

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No dia seguinte à divulgação das imagens, o criminoso foi preso em casa, e a polícia começou então o trabalho de identificar as demais vítimas, com o caso ganhando rapidamente grande repercussão na mídia.[14]

Os policiais apreenderam computadores para apurar se Chipkevitch divulgava pornografia infantil pela Internet, mas nada nesse sentido foi provado, embora fotos de crianças nuas tenham sido encontradas em seu carro.[16]

O processo tramitou rapidamente e já estava definitivamente concluído em 2004, quando o médico foi condenado em primeira instância a uma pena total de 128 anos de prisão em regime fechado mais multa por crimes de atentado violento ao pudor com violência presumida, por se tratar de vítimas impossibilitadas de defesa. A pena foi agravada pelo fato de ter usado sua posição de médico para cometer os crimes. Posteriormente, o Tribunal de Justiça reduziu a pena para 114 anos, mantendo o regime fechado. O médico está cumprindo sua pena num presídio na cidade de Sorocaba em que se encontram em sua maioria pedófilos e estupradores.[17][18]

Nos anos 2010, o criminoso tentou por diversas vezes a progressão de pena para o regime semiaberto, mas a Justiça vem negando os pedidos. "Em um dos recentes desses pedidos, o desembargador Ricardo Cardozo de Mello Tucunduva, do Tribunal de Justiça de São Paulo, afirmou que o condenado não possui condições para deixar a prisão neste momento. 'Os planos para o futuro mostram-se vagos, e, ainda, há presença de elementos que não recomendam o benefício pleiteado. Aliás, é claro que a sociedade não pode, simplesmente, receber de volta um indivíduo como o agravante', disse, citando Eugênio", escreveu a Veja São Paulo em 24 de fevereiro de 2022.[15]

A revista também reportou que, segundo o Teste de Rorschach, as fantasias infantis ainda estão presentes em seu modo de pensar e ele ainda mostra imaturidade psicológica, apresentando dificuldades para lidar com ansiedade, frustração e para compreender o comportamento humano.

Ver também

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Referências

  1. Lopes, Juliana (1 de abril de 2002). «Vítimas de terror». Terra. Consultado em 29 de outubro de 2019 
  2. Diamante, Fabio (29 de março de 2003). «Chipkevitch vs. Mídia». Último Segundo. Consultado em 29 de outubro de 2019. Cópia arquivada em 2 de junho de 2004 
  3. Mageste, Paulo (25 de março de 2002). «O médico é um monstro». Época. Consultado em 29 de outubro de 2019. Cópia arquivada em 18 de junho de 2002 
  4. «Veja o caso do pediatra Eugênio Chipkevitch». R7.com. 15 de julho de 2013. Consultado em 1 de março de 2022 
  5. ANATOMIA DO CRIME - EUGENIO CHIPKEVITCH, consultado em 1 de março de 2022 
  6. a b «Pedófilo é indiciado». G1. 17 de maio de 2002. Consultado em 29 de outubro de 2019 
  7. «Eugênio Chipkevitch é condenado a 124 anos de prisão por pedofilia». Globo.com. 24 de março de 2003. Consultado em 29 de outubro de 2019 
  8. «Pediatra acusado de pedofilia admite estar nas fitas, diz polícia». ConJur. 22 de março de 2002. Consultado em 29 de outubro de 2019 
  9. a b «Preso pediatra acusado de abuso de menores». Folha de S. Paulo. 22 de março de 2002. Consultado em 29 de outubro de 2019 
  10. «O médico monstro». IstoÉ. 27 de março de 2002. Consultado em 29 de outubro de 2019 
  11. «O consultório de Chipkevitch». Globo.com. 25 de março de 2002. Consultado em 29 de outubro de 2019 
  12. «Médico pedófilo escreveu obra que indica conhecimento em abuso». UOL. 22 de março de 2002. Consultado em 29 de outubro de 2019 
  13. «Pediatra de renome é preso em SP sob acusação de pedofilia». Terra. 21 de março de 2002. Consultado em 29 de outubro de 2019 
  14. a b Silva Castro, Laura Weruska (25 de maio de 2018). «Caso Eugenio Chipkevitch: o médico pedófilo». Canal Ciências Criminais. Consultado em 29 de outubro de 2019 
  15. a b «Ex-pediatra Eugênio Chipkevitch, que violentou seus pacientes, tenta mudar de regime». VEJA SÃO PAULO. Consultado em 1 de março de 2022 
  16. «Cadastro do pediatra deve identificar as 28 vítimas restantes». Folha de S. Paulo. 26 de março de 2002. Consultado em 29 de outubro de 2019 
  17. Quintella, Sérgio (6 de maio de 2019). «Justiça nega semiaberto para pediatra que abusou sexualmente de meninos». MSN. Consultado em 29 de outubro de 2019 
  18. «Reportagem entra no presídio dos pedófilos no interior de São Paulo». R7. 30 de maio de 2010. Consultado em 29 de outubro de 2019. Cópia arquivada em 17 de janeiro de 2011