Cerco de Santa Cruz do Cabo de Gué (1533)

O cerco de Santa Cruz do Cabo de Gué de 1533 foi imposto pelas tropas do xarife Maomé Xeque contra aquela fortaleza portuguesa. Os portugueses resistiram ao assédio.

Cerco de Santa Cruz do Cabo de Gué 1533
Data Abril-Março de 1533.
Local Agadir, Marrocos
Desfecho Vitória Portuguesa
Beligerantes
Império Português Sádidas
Comandantes
Simão Gonçalves da Costa  Maomé Xeque
Forças
Desconhecido 12,000 homens.[1]
Baixas
Desconhecido. Desconhecido

História

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A Fortaleza de Santa Cruz do Cabo de Gué foi erguida em 1505 por João Lopes de Sequeira mas vendida a D. Manuel em 1512.

O xarife Maomé Xeque havia começado a dominar os senhores e as tribos do sul de Marrocos e os portugueses instalados em Santa Cruz viram-lhes cortados quaisquer abastecimentos do interior e reduzidos ao recinto da fortaleza. O xerife pretendia conquistar Santa Cruz para obter um porto que lhe permitisse exportar o açúcar produzido no Suz e compreendia o prestígio que tinha a ganhar com a expulsão dos cristãos daquele lugar.[1] Muitos mercadores estrangeiros, franceses, castelhanos e genoveses contrabandeavam-lhe armas.[1]

Desde 1531 que a fortaleza de Santa Cruz era pressionada pelas tribos em redor e se antecipava um cerco.[1] Maomé Xeque fortificou-se em duas vilas próximas de Santa Cruz, Tamaraque e Telde, nas quais já se haviam reunido grande número de guerreiros desde inícios de 1533.[1] Espiões portugueses informavam a guarnição das movimentações do inimigo e, na fortaleza, os portugueses já passavam as noites de prevenção e com apertada vigia, sucedendo-se os repiques nocturnos da torre do sino.[1]

Em certo dia de finais de Abril ou inícios de Maio, as muralhas da fortaleza foram escaladas de surpresa, o capitão foi assassinado nos seus aposentos e a torre de menagem invadida.[1] A guarnição e os moradores acorreram ao castelo, a porta da torre foi aberta à machadada e os muçulmanos expulsos, muitos atirando-se do cimo da torre para a praia.[1] Recuperada a torre, os portugueses começaram a dar fogo à artilharia, a que se juntou o fogo das espingardas e a grande multidão de muçulmanos que se havia reunido em torno da fortaleza foi dispersa.[1]

Quando já estavam a festejar a vitória, um homem "velho que levava o murrão açezo", aproximou-se dos barris de pólvora, "e descudado do murrão, abaixou-sse a tomar polvora, e o murrão pegou nella e daquella deu no barril, e do barril nos outros, alevantando a soteya, e parte do cubelinho e o muro e deu con tudo no chão; e os homens hyão pelo ar bradando por Nosso Senhor e por Nossa senhora.[2]

A sorte nessa desventura foi que os muros caíram para dentro sem entulhar a cava, e a torre de menagem não se desmoronou. A muralha da fortaleza ficou aberta quase até ao chão, mas o grande fumo que a explosão ocasionou foi levado pelo vento para os mouros, de maneira que estes não se aperceberam do sucedido, e quando duas horas mais tarde o fumo desapareceu, já os portugueses sobreviventes tinham preenchido parte do buraco com "pedras e páos e banquos e cadeiras e mezas e caliça e pipas cheas de caliça e terra".

Quando os mouros voltaram, mataram muitos cristãos, mas estes protegidos por colchões, continuaram a trabalhar, e durante a noite também, com as mulheres e as crianças, e "com páos e tavoas e pedras e emtulho e pipas cheas d'entulho fizerão hum muro muito forte e grosso e tão alto quasi como era dantes". "E antes que amanhecesse, lançarão dous homens com cal e pinseis e apinselarão todo o muro por fora, que parecesse feito de pedra e cal como parecia pella manhã". Assim enganaram os mouros, que atribuíram o feito a uma bruxaria e foram-se desiludidos, enquanto "não ficavão quarenta homens que pudessem pelejar".[3]

O xerife retirou-se com os seus homens 3 dias depois.[1]

A fortaleza de Santa Cruz seria novamente sitiada pelo xerife Maomé Xeque em 1541 e perdida nessa ocasião.

Ver também

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Referências

  1. a b c d e f g h i j Figanier, Joaquim (1945). História de Santa Cruz do Cabo de Gué (Agadir) 1505-1541 Agência Geral das Colónias, pp. 146-157.
  2. Chronique de Santa-Cruz du Cap de Gué. Texto português do século XVI, traduzido por Pierre de Cenival. Paris, Paul Geuthner. 13, rue Jacob, 13. 1934, p. 68.
  3. Ibidem p. 72.