Chacina do Tibagi
A Chacina do Tibagi foi um massacre contra indígenas que ocorreu no século XVIII no município de Telêmaco Borba, no Paraná.[1][2][3]
Chacina do Tibagi | |
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Data | Século XVIII |
Local | Atual Telêmaco Borba, Paraná |
O vale do rio Tibagi era habitado por inúmeras famílias de índios caingangues. Esse povo era conhecido como coroados, bugres ou botocudos e desde da colonização da região, sofreram com diversos conflitos que dizimou várias ocupações dos nativos.[3]
Com a ocupação dos Campos Gerais do Paraná por sesmeiros, a região foi aos poucos sendo transformada em inúmeras fazendas com forte vocação para o desenvolvimento da pecuária. Entre os principais nomes de fazendeiros que se destacaram no século XVIII no Paraná, está o fazendeiro José Felix da Silva Passos,[4][5] que atuou politicamente na cidade de Castro, onde foi juiz ordinário (1789), juiz de conselho (1793), ajudante de milícias e, em 1796, capitão de ordenanças em Piraí e Furnas. Foi ainda fiscal das minas de ouro e diamante na região do rio Tibagi.[3] A relação entre José Félix e os índios era a pior possível, já que eles eram considerados um obstáculo para a expansão dos domínios do latifundiário, pois invadiam plantações, matavam animais e atrapalhavam a passagem dos tropeiros.[1]
Felix da Silva era proprietário da fazenda Fortaleza[6] e certo dia seu amigo Brígido Álvares fora até a fazenda para o visitar e no retorno até a cidade de Castro foi assassinado pelos índios. Com uma flecha em casa olho, sua cabeça foi espetada num dos portões da fazenda de José Felix. Isso foi a gota d'água no conturbado convívio entre os indígenas e o sesmeiro.[3]
O grande latifundiário resolveu vingar a morte de Álvares, foi então que mandou chamar o comparsa paulista Antônio Machado Ribeiro[7] e assim organizaram a represália aos caingangues.[1][3]
A chacina ocorreu a mais ou menos a 50 quilômetros ao norte da Fazenda Fortaleza e ali aconteceu o que ficou conhecido como “chacina do Tibagi”.[3] Os indígenas foram encurralados pelo grupo armado em um morrinho onde hoje é o hospital de Harmonia e o hotel Ikapê. No massacre, não foram respeitadas nem mulheres e nem crianças. O sangue empapou a relva e correu em filetes para as águas do riozinho próximo. Os cadáveres ficaram amontoados e por muitos dias os corvos sobrevoaram os corpos insepultos. Desde então, o rio e a localidade passou a se chamar Mortandade,[8] nome que só foi mudado cerca de 150 anos depois, em meados do século XX.[1][3]
Os caingangues remanescentes afundaram-se no sertão e deixaram em paz o senhor da Fortaleza, que pelo seu feito requereu e obteve a maior sesmaria da região: os 65.000 alqueires das terras do rio do Alegre, do Monte Alegre, da Fazenda que organizou e chamou Fazenda Monte Alegre.[3] Incorporou-a às terras da fazenda sede. Conduziu para suas pastagens o gado excedente de diversas invernadas. Antônio Machado Ribeiro, obteve como prêmio as terras da Fazenda Tibagi, que abrangia desde as margens desse rio na confluência com o Iapó até a margem esquerda do rio Paranapanema.[3]
Por volta de 1940 a localidade de Mortandade recebeu a instalação das Indústrias Klabin e assim um núcleo de moradores foi estabelecido ao lado do rio Das Mortandades, onde estava sendo instalada a fábrica.[3] A localidade, que no tempo presente faz parte do município de Telêmaco Borba, passou a ser denominada de Harmonia,[9] em sugestão de Ema Klabin[3] que havia mudado em 1941 o nome do rio para Harmonia.[10]
Referências
- ↑ a b c d «Aspectos Característicos do município de Tibagi» (PDF). Prefeitura Municipal de Tibagi. 2015. Consultado em 26 de março de 2016
- ↑ Karine Karoline Goltz (2012). «Grupo Escolar Telêmaco Borba de Tibagi/PR (1915)». Unicamp. Consultado em 26 de março de 2016
- ↑ a b c d e f g h i j k Hellê Vellozo Fernandes (1973). «Monte Alegre Cidade-Papel». Livro. 1. 236 páginas
- ↑ David Carneiro (1941). «O drama da fazenda Fortaleza». Dicesar Plaisan. Consultado em 26 de março de 2016
- ↑ «Historiadores do Paraná». Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense. 1982. Consultado em 26 de março de 2016
- ↑ Ricardo Costa de Oliveira (2001). «O silêncio dos vencedores: genealogia, classe dominante e estado no Paraná». Moinho do Verbo Editora. Consultado em 26 de março de 2016
- ↑ «História de Tibagi». Prefeitura Municipal de Tibagi. 1934. Consultado em 26 de março de 2016
- ↑ David Carneiro (1941). «O drama da fazenda Fortaleza». Dicesar Plaisan. Consultado em 26 de março de 2016
- ↑ Carlos Heitor Cony, Sergio Lamarão, Rosa Maria Canha (2001). «Wolff Klabin: a trajetória de um pioneiro - A maior fábrica de papel do país». FGV Editora. Consultado em 26 de março de 2016
- ↑ Anacília Carneiro da Cunha (1982). «O Homem Papel - Análise Histórica do Trabalhador das Indústrias Klabin do Paraná de Celulose S/A 1942-1980» (PDF). Universidade Federal do Paraná. Consultado em 26 de março de 2016