Massacre de Blumenau
O Massacre de Blumenau foi um massacre escolar no qual morreram quatro crianças em 5 de abril de 2023 na Creche Cantinho Bom Pastor, localizada no município brasileiro de Blumenau, em Santa Catarina. Outras cinco ficaram feridas. O assassino se entregou após cometer o crime e foi condenado em agosto de 2024 a mais de 200 anos de prisão.[1][2][3][4]
Massacre de Blumenau | |
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Local do crime | Blumenau, Santa Catarina |
Data | 05 de abril de 2023 8h |
Tipo de crime | Homicídio qualificado |
Arma(s) | Machadinha |
Vítimas | 9 |
Mortos | 4 |
Feridos | 5 |
Réu(s) | Luiz Henrique Lima |
Juiz | Fabíola Duncka Geiser |
Local do julgamento | Blumenau |
Situação | Preso |
Crime
editarNo início da manhã de 5 de abril, o autor do ataque, que chegou ao local de motocicleta, pulou o muro da Creche Cantinho Bom Pastor e armado com uma machadinha atacou as crianças, principalmente mirando suas cabeças. Após a ação, ele se entregou no 10º Batalhão da Polícia Militar. No momento do ataque, cerca de quarenta crianças brincavam no parque de diversões da creche.[1][5]
Autor
editarNascido em 19 de dezembro de 1997 em Salto do Lontra, no sudoeste do Paraná, Luiz Henrique Lima trabalhava como motoboy em Blumenau, onde também residia.[6][7] As primeiras investigações revelaram que ele tinha passagens por porte de drogas, lesão e dano, incluindo esfaquear o padrasto e um cachorro.[1][8]
Vítimas
editarAs vítimas fatais são:[9]
- Bernardo Cunha Machado - 5 anos
- Bernardo Pabest da Cunha - 4 anos
- Larissa Maia Toldo - 7 anos
- Enzo Marchesin Barbosa - 4 anos
As vítimas fatais foram veladas e sepultadas em Blumenau.[10]
As crianças feridas tiveram alta do hospital no dia seguinte ao ataque.[5]
Reações
editarO presidente Luiz Inácio Lula da Silva repudiou o que chamou de "um ato de violência contra crianças inocentes e indefesas" e expressou seus "sentimentos e preces para as famílias das vítimas e comunidade de Blumenau".[2]
Um vídeo de professor da Escola Estadual Georg Keller, de Joinville, que supostamente apoiou o massacre viralizou na internet. Ele comentou o atentado durante a aula de alunos do primeiro ano dizendo que “mataria uns 15, 20, entrar com dois facões, um em cada mão e pá, passar correndo e acertando”. O vídeo foi filmado pelos alunos e popularizou-se após o perfil Brasil Fede Covid compartilhá-lo.[11][12] Ele foi afastado 60 dias do cargo por decisão da Secretaria de Estado da Educação e a Justiça determinou o uso de tornozeleira eletrônica e o proibiu de chegar a 50 metros de qualquer escola.[13][14] Também, foi instaurado um inquérito na Polícia Civil por apologia ao crime.[15] Os pais e alunos também fizeram outras quatro denúncias por comentários racistas, homofóbicos, xenofóbicos, misóginos e por intolerância religiosa em sala de aula.[12][16]
Possível "janela de efeito contágio"
editarSegundo Michele Prado, pesquisadora do Monitor do Debate Político no Meio Digital da USP (Universidade de São Paulo), a publicação da imagem ou da ação do agressor na imprensa pode incentivar uma janela de "efeito contágio" a novos ataques. Segundo Prado, a literatura indica que essa "janela" dura cerca de 13 ou 14 dias após a repercussão de um ataque acontecer, o que explicaria o curto espaço de tempo desde um outro atentado, perpetrado na semana anterior, o ataque à Escola Estadual Thomazia Montoro, que ocorreu em 27 de março na cidade de São Paulo.[17]
Durante esse período chamado de "janela", houve algumas tentativas malsucedidas de massacres. No dia 30 de março, na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Prof.º Palmira Gabriel em Icoaraci, distrito de Belém, o ataque a faca de um aluno deixou um colega ferido.[18] Em 10 de abril, outro ataque a faca praticado por um aluno de treze anos no Colégio Adventista de Cachoeirinha, em Manaus, deixou uma professora e duas alunas com ferimentos leves.[19][20] No dia seguinte (11 de abril), outro ataque a faca praticado por um aluno de treze anos, agora no Colégio Estadual Dr. Marco Aurélio em Santa Tereza de Goiás, deixando três alunos com ferimentos leves.[21] Além disso, passaram a circular nas redes sociais, ameaças de massacres em boa parte do país, que causaram suspensão de aulas, remarcação de provas e reuniões administrativas nas escolas.[22][23]
Consequências
editarCobertura jornalística
editarEm função da "janela de efeito contágio" e de estudos indicarem que muitos dos criminosos procuram a fama ao perpetrar os ataques, no mesmo dia o Grupo Globo anunciou uma mudança na política de cobertura de massacres, anunciando que nomes e imagens dos criminosos, bem como imagens das ações, nunca mais seriam divulgadas. Antes, segundo explicado por jornalistas como William Bonner, que deu a informação no Jornal Nacional, a política era de divulgar estes dados apenas uma única vez. "Essa política muda nesta quarta-feira (5) e será ainda mais restritiva: o nome e a imagem de autores de ataques jamais serão publicados, assim como vídeos das ações. A decisão segue as recomendações mais recentes de prestigiados especialistas no tema, para quem dar visibilidade a agressores pode servir como um estímulo a novos ataques", explicou ele.[24]
Já O Estado de S. Paulo não divulgou fotos ou vídeos do atentado. No portal, pouco após o crime, junto à notícia divulgada, havia a seguinte nota:
“ | O Estadão decidiu não publicar foto, vídeo, nome ou outras informações sobre o autor do ataque, embora ele seja maior de idade. Essa decisão segue recomendações de estudiosos em comunicação e violência. Pesquisas mostram que essa exposição pode levar a um efeito de contágio, de valorização e de estímulo do ato de violência em indivíduos e comunidades de ódio, o que resulta em novos casos. A visibilidade dos agressores é considerada como um “troféu” dentro dessas redes. Pelo mesmo motivo, também não foram divulgados vídeos do ataque em uma escola estadual na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo, no último dia 27 de março".[25] | ” |
Políticas públicas
editarO Governo Federal, liderado por Luiz Inácio Lula da Silva, anunciou imediatamente a criação de um Grupo de Trabalho interministerial, que receberia 150 milhões em recursos, a serem destinados aos estados e municípios, por meio do Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP), para implementação de ações imediatas na tentativa de controlar este tipo de ataque. Entre as ações previstas estavam o fortalecimento da ronda escolar e monitoramento virtual de ameaças feitas em redes sociais.[26]
Investigações, prisão e pena
editarApós cometer o crime, Luiz se entregou e foi preso, tendo inicialmente dito aos policiais que tinha sofrido um surto psicótico. Uma outra linha de investigação apurou se ele havia cometeu o ataque como parte de um desafio em um jogo de video game na internet. [27][28]
Em 29 de agosto de 2024, Luiz foi julgado e condenado a 220 anos de prisão em regime inicialmente fechado. Ele não terá o direito a recorrer em liberdade. "A sentença foi lida por volta das 19h, após uma sessão do Tribunal do Júri que se estendeu por 11 horas na comarca de Blumenau", reportou o TJSC em seu portal. [4] [29]
O criminoso foi condenado por quatro homicídios e cinco tentativas de homicídio, com as qualificadoras de motivo torpe, meio cruel, uso de recurso que dificultou a defesa das vítimas e crime contra menores de 14 anos.[4] [29]
Ver também
editarReferências
- ↑ a b c «Quatro crianças são mortas em ataque a creche em Blumenau; homem foi preso». G1. 5 de abril de 2023. Consultado em 5 de abril de 2023. Cópia arquivada em 5 de abril de 2023
- ↑ a b Mariana Costa (5 de abril de 2023). «Massacre em creche de Blumenau é "tragédia inaceitável", diz Lula». Metrópolis. Consultado em 5 de abril de 2023. Cópia arquivada em 5 de abril de 2023
- ↑ Vanessa Buschschlüter (5 de abril de 2023). «Brazil kindergarten attack: Man kills four children in Blumenau» (em inglês). BBC News. Consultado em 5 de abril de 2023. Cópia arquivada em 5 de abril de 2023
- ↑ a b c «Autor de ataque a creche em Blumenau é condenado a 220 anos de prisão». G1. 29 de agosto de 2024. Consultado em 30 de agosto de 2024
- ↑ a b «Crianças sobreviventes do ataque a creche em Blumenau recebem alta». CNN Brasil. 6 de abril de 2023. Consultado em 6 de abril de 2023
- ↑ «Vídeo: Saiba quem é o suspeito de cometer massacre na creche em Blumenau». Radar Amazônico. 5 de abril de 2023. Consultado em 7 de abril de 2023. Cópia arquivada em 7 de abril de 2023
- ↑ «Quem é o homem que diz ter atacado creche em Santa Catarina». R7. 5 de abril de 2023. Consultado em 29 de agosto de 2024
- ↑ «Autor de ataque a creche de Blumenau já esfaqueou padrasto e cachorro, diz polícia | ND Mais». ndmais.com.br. 5 de abril de 2023. Consultado em 6 de abril de 2023
- ↑ «Ataque a creche em Blumenau: veja quem são as vítimas». G1. Consultado em 5 de abril de 2023
- ↑ «Crianças que morreram após ataque a creche são veladas em Blumenau». G1. Consultado em 6 de abril de 2023
- ↑ Ana Luiza Basilio (10 de abril de 2023). «Professor de Santa Catarina é investigado por fazer apologia ao ataque à creche em Blumenau». CartaCapital. Consultado em 10 de julho de 2024. Cópia arquivada em 10 de julho de 2024
- ↑ a b Talita de Souza (7 de abril de 2023). «Secretaria de SC apura denúncia sobre professor que apoiou ataque a creche». Correio Braziliense. Consultado em 10 de julho de 2024. Cópia arquivada em 10 de julho de 2024
- ↑ «Professor de Joinville que teria feito apologia à ataque em creche de Blumenau é afastado». ND+. 10 de abril de 2023. Consultado em 10 de julho de 2024. Cópia arquivada em 10 de julho de 2024
- ↑ Gabriel Andrade (9 de abril de 2023). «Professor que enalteceu ataque em Blumenau terá que usar tornozeleira eletrônica». ND+. Consultado em 10 de julho de 2024. Cópia arquivada em 10 de julho de 2024
- ↑ Iara Vidal (7 de abril de 2023). «Professor de Joinville apoiou ataque a creche de Blumenau e será intimado a depor». Revista Fórum. Consultado em 10 de julho de 2024. Cópia arquivada em 10 de julho de 2024
- ↑ «Professor que apoiou ataque em Blumenau é alvo de mais 4 denúncias». Metrópoles. 10 de abril de 2023. Consultado em 10 de julho de 2024. Cópia arquivada em 10 de julho de 2024 – via NSC Total
- ↑ «Creche em Blumenau: publicar imagem de agressor potencializa 'efeito contágio' para novos ataques, alerta especialista». BBC. 5 de abril de 2023. Consultado em 5 de abril de 2023
- ↑ «Adolescente é esfaqueado na escola Palmira Gabriel, em Belém». G1. Consultado em 11 de abril de 2023
- ↑ «Adolescente armado é apreendido após tentativa de ataque em escola no AM». noticias.uol.com.br. Consultado em 11 de abril de 2023
- ↑ «Adolescente agride com faca duas colegas e professora de escola em Manaus». Folha de S.Paulo. 10 de abril de 2023. Consultado em 11 de abril de 2023
- ↑ «Ataque a colégio de Santa Tereza de Goiás deixa 3 alunos feridos, diz polícia». G1. Consultado em 11 de abril de 2023
- ↑ Penaforte, José Vítor Camilo e Raquel (10 de abril de 2023). «Ameaça de massacre leva à debandada de alunos e até remarcação de prova em BH | O TEMPO». www.otempo.com.br. Consultado em 11 de abril de 2023
- ↑ «IFPA Belém suspende aulas após ameaça de ataque; Polícia Federal investiga». G1. Consultado em 11 de abril de 2023
- ↑ «Grupo Globo muda política sobre cobertura de massacres». G1. 5 de abril de 2023. Consultado em 6 de abril de 2023
- ↑ «Ataque a creche em Blumenau: 'Só sobrou a mochila do meu filho', diz pai de vítima». Estadão. 5 de abril de 2023. Consultado em 5 de abril de 2023
- ↑ «Governo anuncia R$ 150 milhões para combate à violência nas escolas». Planalto. 5 de abril de 2023. Consultado em 6 de abril de 2023
- ↑ «Autor de ataque em creche de Blumenau sofreu surto psicótico, diz polícia». O TEMPO. 5 de abril de 2023. Consultado em 6 de abril de 2023
- ↑ «Blumenau: assassino tem 25 anos e agiu sozinho, diz polícia». BT Brasil. 5 de abril de 2023. Consultado em 7 de abril de 2023
- ↑ a b Imprensa. «Acusado de ataque a creche de Blumenau é condenado a 220 anos de prisão». PJSC. Consultado em 30 de agosto de 2024