Charles Cosac
Charles Cosac (Rio de Janeiro, 1964) é um acadêmico, colecionador de arte, editor literário e empresário brasileiro do setor editorial. Em 1997, fundou em São Paulo, ao lado de seu cunhado Michael Naify, a editora Cosac & Naify[1][2][3][4], e esteve à frente do negócio até o encerramento das atividades da empresa, em 2015.[5]
Charles Cosac | |
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Nascimento | 1964 (59–60 anos) Rio de Janeiro |
Nacionalidade | brasileiro |
Parentesco | Simone Cosac Naify (irmã) |
Ocupação | Empresário Editor |
Religião | Igreja Ortodoxa Síria |
Biografia
editarFamília e criação
editarNascido no Rio de Janeiro, em uma família de origem síria radicada no Brasil desde os anos 1940, que construiu fortuna no ramo da mineração, Charles Cosac é filho dos imigrantes Mustafá Cosac e de Hend (rebatizada Vitória) Cosac, os quais eram primos-irmãos que haviam sido prometidos em casamento um ao outro. Charles possui uma irmã mais velha, a empresária, escritora e artista Simone Cosac Naify, e também uma meia-irmã mais velha, a socialite Beth Winston, fruto do primeiro casamento de Vitória com um norte-americano judeu, que durou nove anos antes de seu eventual divórcio.
A família Cosac havia fugido da miséria extrema do vilarejo de Kafroun, na Síria, e chegou ao Brasil por "engano". O avô de Charles acabou pegando um navio com o intuinto de ir a Nova Iorque, onde havia parentes imigrantes, porém acabou desembarcando em Santos, permanecendo no Brasil.[6] Os descendentes se instalaram em Goiás, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro.
No Rio, Charles foi criado em um grande casarão da Urca, entre vários tios e primos, onde havia um grande respeito pela matriarca, sua avó paterna, bem como um ambiente de muita religiosidade e rigidez, além de um distanciamento da cultura brasileira. No entanto, a mãe de Charles, Vitória, era uma tida como uma mulher mais moderna, uma vez que "dirigia, fumava, usava maquiagem e calça comprida", além de incentivar os filhos a estudar no exterior. Também na Urca, Charles frequentou uma escola particular que era dirigida por sua tia, Rana Cosac, a qual o protegia dos colegas que o atormentavam por conta de sua homossexualidade.[7]
Charles passou grande parte da juventude na cidade serrana de Petrópolis, onde morou até os dezesseis anos, por volta de 1980.[8]
Anos de formação
editarApós estudar inglês na Inglaterra por um ano, Charles convenceu os pais a estudar Matemática naquele país, como pretexto para ir morar naquele país, onde passou quinze anos[9]. Depois de se formar, Cosac aprofundou estudos de teoria e história da arte na Universidade de Essex, residindo em Colchester.
Um renomado colecionador de obras contemporâneas e de arte sacra, principalmente peças barrocas do século XVIII, Cosac se tornou mestre em história e teoria das artes pela Universidade de Essex – onde também fundou a primeira coleção pública de arte latino-americana da Europa, a Ueclaa (University of Essex Collection of Latin American Art) com obras vindas de seu acervo particular.
Após o mestrado, iniciou doutorado também em história e teoria da arte em Essex, sobre o artista russo Kazimir Malevich, o que o levou a fazer pesquisas em russo na Universidade de São Petersburgo, na Rússia.
Fundação da Cosac & Naify e reconhecimento pelo mercado editorial
editarRetornou ao Brasil em 1996, radicando-se na cidade de São Paulo. Na editora Cosac & Naify – tornada a partir dos anos 2000 referência no mercado brasileiro em termos de excelência editorial – além de presidente, atuou também como editor de livros de arte, tendo trabalhado com artistas como Tunga, José Resende e Waltércio Caldas. Em 2001, editou uma monografia de formato inovador sobre o estilista brasileiro Alexandre Herchcovitch.
Em 2005, com exposição itinerante sobre a obra do artista Farnese de Andrade, foi laureado pelas associações paulista e brasileira de críticos de arte (APCA e ABCA) pela "melhor curadoria do ano". Ainda em 2005, recebeu o primeiro Prêmio Bravo, como personalidade cultural do ano pelo conjunto de suas atividades, o prêmio Gente Que Faz do jornal O Globo e a comenda da Ordem das Artes e Letras, condecoração dada pelo Ministério da Cultura da França.
Fechamento da Cosac & Naify e período na Biblioteca Mário de Andrade
editarEm 30 de novembro de 2015, Charles Cosac anunciou o encerramento das atividades da editora. A partir da data, o estoque remanescente ficou disponível na Amazon do Brasil. Dentre as causas do fechamento da Cosac & Naify, Cosac citou a crise econômica brasileira, a alta do dólar, o aumento da inflação, a complicada legislação tributária do país e a política de vendas, desejando encerrar suas atividades da mesma forma que começou, ao invés de descaracterizar o seu trabalho.[10] Em janeiro de 2017, foi escolhido pelo então secretário de cultura de São Paulo, André Sturm, para ocupar a função de diretor da Biblioteca Mário de Andrade – com ironia, Cosac apontou que aquela seria a primeira vez que ele teria um emprego[11]. Em seu primeiro despacho oficial, declarou que considerava a instituição como falida[12], e pediu demissão do cargo pouco mais de dois anos após assumi-lo[13]. Após deixar seu posto como diretor da Biblioteca, Cosac teria morado por dois anos no Rio de Janeiro, período que definiu como tendo sido "miserável".
Ressurgimento da Cosac
editarOito anos depois o encerramento das atividades da Cosac & Naify, Charles Cosac, radicado novamente em São Paulo, reativou o CNPJ de sua extinta editora e a reformulou sob o nome "Cosac" – Michael Naify, seu sócio original, deixou o mercado editorial e voltou-se a uma carreira como fotógrafo. Em entrevista publicada no dia 22 de novembro de 2023 pela Folha de S.Paulo, ele declarou que a nova editora operará em menor escopo, com foco majoritariamente voltado para livros fotográficos sobre joias, artes plásticas e publicações de cunho acadêmico.
O primeiro lançamento da nova empreitada é um livro do artista plástico Siron Franco, e entre os demais projetos em andamento estão uma caixa com dois volumes de livros fotográficos que exploram a temática da joalheria afro-brasileira na Bahia dos séculos XVIII e XIX, com foco no trabalho de Florinda Anna do Nascimento, alforriada que tornou-se uma reconhecida ourives. Entre os planos, estão eventuais reedições de trabalhos originalmente publicados pela antiga Cosac & Naify, como coletâneas de ensaios de Ismail Xavier. Na entrevista à Folha, Cosac ressaltou que a nova editora não participará de eventos literários de maior porte, e apontou que a distribuição dos novos lançamentos será restrita a um número seleto de livrarias e ao varejo digital, em uma abordagem que busca distância do mercado editorial tradicional.[14]
Referências
- ↑ Revista Veja
- ↑ Revista IstoÉ
- ↑ Amigo dos Livros
- ↑ Estadão
- ↑ «O triste fim da Cosac Naify». epoca.globo.com. Consultado em 23 de novembro de 2023
- ↑ [https://www1.folha.uol.com.br/fsp/serafina/sr0806200803.htm Folha UOL - Preto no branco por Helio Hara. 8 de junho de 2008.]
- ↑ Valor Econômico - Um personagem à procura de seus autores. 20 de janeiro de 2012.
- ↑ Folah de S.Paulo - Família se dedicou à mineração, por Celso Fioravante. 06 de outubro de 1997.
- ↑ GZH Donna - Charles Cosac: matemático das letras. 3 de março de 2013.
- ↑ «Dono da Cosac Naify explica os motivos para o fechamento da editora». Globo. Consultado em 3 de dezembro de 2015
- ↑ «Análise: Charles Cosac terá em biblioteca o seu primeiro emprego da vida - 07/01/2017 - Ilustrada». Folha de S.Paulo. 22 de novembro de 2023. Consultado em 23 de novembro de 2023
- ↑ «Charles Cosac decreta falência da Biblioteca Mário de Andrade». revista piauí. Consultado em 23 de novembro de 2023
- ↑ «Charles Cosac deixa a direção da Biblioteca Mário de Andrade». Estadão. Consultado em 23 de novembro de 2023
- ↑ «Editora Cosac Naify renasce como Cosac oito anos depois de fechar e chocar mercado». Folha de S.Paulo. 22 de novembro de 2023. Consultado em 23 de novembro de 2023
Ligações externas
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