Charles D. B. King

Charles Dunbar Burgess King (Monróvia, 12 de março de 1875 - Monróvia, 4 de setembro de 1961) foi um político liberiano que atuou como o 17º presidente da Libéria, de 1920 a 1930. King era descendente de américo-liberianos e crioulos da Serra Leoa. Foi membro do Partido True Whig, que governou a Libéria de 1878 até 1980.

Charles D. B. King
Charles D. B. King
King em 1927
17º Presidente da Libéria
Período 5 de janeiro de 1920 a 3 de dezembro de 1930
vice-presidentes Samuel Alfred Ross (1920–1924)

Henry Too Wesley (1924–1928)
Allen Yancy (1928–1930)

Antecessor(a) Daniel E. Howard
Sucessor(a) Edwin Barclay
Dados pessoais
Nascimento 12 de março de 1875
Morte 4 de setembro de 1961 (86 anos)
Nacionalidade Monróvia,  Libéria
Cônjuge Cecelia Adeline Cooper
Partido True Whig

King foi procurador-geral de 1904 a 1912 e secretário de Estado da Libéria de 1912 até sua eleição a presidente em 1919. Como secretário, participou da Conferência de Paz de Paris de 1919 e no Primeiro Congresso Pan-Africano

O mandato de King foi marcado por diversos escândalos. Sua agenda econômica e seu plano de desenvolvimento ficaram constantemente abaixo do esperado. Embora as taxas de alfabetização tenham aumentado de forma constante devido ao acesso facilitado à educação pública, ele não conseguiu evitar que a crise política na Libéria prejudicasse ainda mais o crescimento econômico.

Em 1927, foi o vencedor das eleições presidenciais com um total de quase 17 vezes mais votos do que o número de eleitores registrados, causando preocupações pela eleição extremamente fraudulenta e corrupta, mas um escândalo de trabalho forçado e escravatura forçou a sua renúncia em 1930. Charles King deixou o cargo com má fama e se absteve de cargos superiores até sua morte. Sua presidência foi marcada pela corrupção extrema, nepotismo na contratação de funcionários e pela falta de transparência nas decisões que seu governo tomava em relação ao bem-estar do povo e a utilização de trabalho escravo.

Presidência (1920–1930)

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King se tornou presidente da Libéria em 1920 e permaneceu 10 anos do cargo. Embora fosse um defensor moderado da reforma, mostrou-se a apoiar a máquina de clientelismo e o domínio corrupto do Partido True Whig. Na presidência, ajudou a estabelecer o Instituto Agrícola e Industrial Booker Washington em Kakata em 1929.[1]

Negociação de um empréstimo dos Estados Unidos

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No começo da década de 1920, a crise financeira na Libéria se agravou ao ponto do Presidente King comandar uma comissão que viajou para os Estados Unidos para buscar a reorganização da impressionante dívida do país.[2] Eles chegaram nos EUA em 6 de março de 1921, após a posse do presidente Warren G. Harding.[3] O Congresso dos EUA havia suspendido todo crédito estrangeiro e a concessão de empréstimos estrangeiros, mesmo que o Departamento de Estado fosse favorável à aprovação do pedido da delegação liberiana.[4] Em julho, o Secretário de Estado americano Charles Evans Hughes disse que era um dever moral conceder o empréstimo solicitado pela Libéria devido a um acordo de 1918 entre os dois países.[5] No mês seguinte, Harding disse ao Congresso que concordava com o secretário.[5] As negociações continuaram até outubro, quando o Departamento de Estado finalmente concedeu à Libéria um empréstimo de 5 milhões de dólares (próximo a 86 milhões em valores convertidos para 2023).

O governo Harding propôs novamente (após uma tentativa feita durante a Primeira Guerra Mundial pelo presidente da Libéria a época de obter um empréstimo da gestão Woodrow Wilson) ao Congresso um empréstimo de US$ 5 milhões de dólares à Libéria. A Câmara dos Representantes aprovou a concessão com uma votação de 148–139, mas o Senado votou 42–32 contra a concessão.[6][7] Isso causou uma grande decepção e um sentimento de desespero entre os representantes liberianos, que temiam que as influências britânicas e francesas sobre o país pudessem se tornar imparáveis. A Libéria foi membro-fundados da Sociedade das Nações em 1919, com o governo liberiano determinado a preservar sua soberania.

Firestone Rubber Company

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Em 1925, Firestone Rubber Company concordou com um arrendamento de 4 000 km² de terra por 99 anos na Libéria para cultivar borracha.[8] A Firestone começou a exportar borracha da Libéria em 1934. A economia do país rapidamente passou a depender dessas exportações. A subsidiária da Firestone, Finance Corporation of America, emprestou 5 milhões de dólares ao governo da Libéria, que pretendia utilizar para quitar dívidas e financiar melhorias públicas.[9] Nos termos do empréstimo, o Presidente dos EUA nomeou um consultor financeiro para a Libéria, que tinha o poder de aprovar e desaprovar todas as despesas do governo.[9] O governo liberiano também foi obrigado a utilizar 2,5 milhões do montante do empréstimo para comprar títulos do tesouro americano a 10% de margem.[9] Do restante, mais de 1,1 milhão foi destinado ao pagamento de um empréstimo de 1912 dos EUA[9] Como resultado, pouco valor dos rendimentos do empréstimo de 1934 estava disponível para ajudar o país.[9] Entretanto, os reembolsos do empréstimo constituíram 40% do rendimento anual do governo da libéria.[9]

Eleição presidencial de 1927

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King e sua comitiva nas escadas do Palácio da Paz em Haia (1927)

King enfrentou Thomas Faulkner nas eleições presidenciais de 1927. Conforme o comunicado oficial, King recebeu 234 mil votos.[10] Porém, a Libéria tinha apenas cerca 15 000 eleitores aptos. Assim, King foi posteriormente listado no Guiness Book pela eleição mais fraudulenta de todos os tempos.[11]

Escândalo do trabalho forçado e escravidão

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Após ser derrotado na eleição para King, Thomas Faulkner acusou diversos membros do governo do Partido True Whig de recrutar e vender mão-de-obra contratada como escravos. Apesar das negativas da Libéria e da recusa em cooperar, a Liga das Nações criou uma comissão liderada pelo zoólogo Cuthbert Christy para determinar a situação do trabalho forçado e da escravidão ainda praticados na Libéria. O presidente dos EUA, Herbert Hoover, suspendeu temporariamente as relações para pressionar Monróvia a colaborar.

Em 1930, a Liga das Nações publicou o relatório do estudo, chamado de 'Relatório Christy' em homenagem ao líder do Comitê. O relatório endossou várias alegações de Faulkner e implicou sobre muitos funcionários do governo, incluindo o vice-presidente Allen Yancy. Foi constatado que o trabalho forçado foi utilizado para o desenvolvimento de determinadas obras públicas, como estradas no interior. E certas tribos ainda praticavam a servidão doméstica que poderia ser considerada como escravidão.

O relatório descobriu:

  1. “Para suprimir o nativo, impedi-lo de realizar as suas realizações e limitações e impedi-lo de se afirmar de qualquer maneira, em benefício da raça colonizadora e dominante, apesar de originalmente serem da mesma linhagem africana que eles, uma política de grosseira a intimidação e a repressão têm sido sistematicamente promovidas e encorajadas há anos e são a palavra-chave da política nativa do Governo;" e
  2. que, "...o Vice-Presidente Yancy e outros funcionários de alto escalão do Governo da Libéria, bem como os superintendentes e comissários distritais, deram a sua sanção para o recrutamento obrigatório de mão-de-obra para a construção de estradas, para envio para fora do país e outros trabalhos, com a ajudada Força da Fronteira da Libéria; e toleraram a utilização desta força para fins de coação física na construção de estradas, para a intimidação dos aldeões, para a humilhação e degradação dos chefes, dos nativos capturados na costa, guardando-os até ao momento do embarque [para Fernando Pó (atual Bioco) e São Tomé.]"[12]

Após isso, King e o vice Yancy, além de outros líderes implicados, renunciaram.

Pós-presidência

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King foi representante nos Estados Unidos de 24 de julho de 1947 a 25 de julho de 1947, quando a função de representante foi transformada em embaixada. King continuou como embaixador até 1952.[13]

Vida pessoal

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King se casou pela primeira vez com Janie E. Scott, tendo um filho e duas filhas.[14] Se casou pela segunda vez com Cecelia Adeline Cooper, com quem teve um filho.[14] Em 1919, King e sua esposa foram convidados do presidente Woodrow Wilson nos Estados Unidos.[14]

Ver também

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Referências

  1. Weiner, Tim (1 de setembro de 2003). «Kakata Journal; An Army of Educators Saves a Liberian College» [Jornal de Kakata; Grupo de educadores salvam colégio liberiano]. The New York Times (em inglês). Consultado em 12 de fevereiro de 2014 
  2. "Presidente da Libéria está vindo". The New York Times. 19 de fevereiro de 1921. p. 2.
  3. "Comitiva da Libéria chega aos EUA". The Washington Post. 7 de março de 1921. p. 1.
  4. "Departmento de estado é favorável ao empréstimo à Libéria". Afro-American. 8 de julho de 1921. p. 1.
  5. a b "Libéria declarada apta para empréstimo". The New York Times. 2 de agosto de 1921. p. 8.
  6. "Empréstimo liberiano passa após dura batalha". The Washington Post. 11 de maio de 1922. p. 1
  7. Le Count Chestnut, J. (2 de dezembro de 1922). "Senado mata empréstimo liberiano". The Chicago Defender. p. 1.
  8. "Magnata dos pneus começa a batalha pelo controle da borracha". Associated Press. The Baltimore Sun. p. 1.
  9. a b c d e f "Libéria paga 7% de juros em grande empréstimo". Afro-American. 5 de maio de 1928. p. 5.
  10. Blundell, Nigel (1995). The World's Greatest Mistakes. New York: Bounty Books. ISBN 0-600-57232-3 
  11. Guinness Book of World Records 1982. [S.l.: s.n.] 1981. ISBN 0-8069-0225-6 
  12. Report of the International Commission of Inquiry into The Existence of Slavery and Forced Labor in the Republic of Liberia. Washington: U.S. Government Printing Office. 1931 
  13. «Diplomatic Representation for Republic of Liberia». United States Department of State. 17 de março de 2008. Consultado em 14 de julho de 2022 
  14. a b c «Ex-President King of Liberia Is Dead» [Morre ex-presidente da Libéria]. The Afro-American (em inglês). 16 de setembro de 1961. Consultado em 30 de março de 2023 

Ligações externas

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