Classe Zenta
A Classe Zenta foi uma classe de cruzadores protegidos operada pela Marinha Austro-Húngara, composta pelo SMS Zenta, SMS Aspern e SMS Szigetvár. Suas construções começaram entre 1896 e 1899 no Arsenal Naval de Pola, sendo lançados ao mar entre 1897 e 1900 e comissionados na frota austro-húngara entre 1899 e 1901. As embarcações foram encomendadas em meados de 1895 com o objetivo de serem pequenas e atuarem na escolta de couraçados, protegendo-os de ataques de barcos torpedeiros. A maior prioridade do projeto foi uma velocidade máxima elevada, com diferentes tipos de caldeiras sendo consideradas e um novo arranjo do sistema de propulsão implementado.
Classe Zenta | |
---|---|
O SMS Aspern, a segunda embarcação da classe
| |
Visão geral Áustria-Hungria | |
Operador(es) | Marinha Austro-Húngara |
Construtor(es) | Arsenal Naval de Pola |
Predecessora | Classe Kaiser Franz Joseph I |
Período de construção | 1896–1901 |
Em serviço | 1899–1918 |
Construídos | 3 |
Características gerais | |
Tipo | Cruzador protegido |
Deslocamento | 2 543 a 2 602 t (carregado) |
Comprimento | 96,88 a 97,47 m |
Boca | 11,73 m |
Calado | 4,24 m |
Propulsão | 2 mastros a velas 2 hélices 2 motores de tripla-expansão 8 caldeiras |
Velocidade | 20 nós (37 km/h) |
Autonomia | 3 800 milhas náuticas a 12 nós (5 900 km a 22 km/h) |
Armamento | 8 canhões de 120 mm 10 canhões de 47 mm 2 metralhadoras de 8 mm 2 tubos de torpedo de 450 mm |
Blindagem | Convés: 25 a 50 mm Torre de comando: 50 mm Casamatas: 35 mm |
Tripulação | 308 |
Os cruzadores da Classe Zenta eram armados com uma bateria principal composta por oito canhões de 120 milímetros montados em montagens abertas e casamatas. Tinham um comprimento de fora a fora de 96 metros, boca de onze metros, calado de quatro metros e um deslocamento carregado de mais de duas mil toneladas. Seus sistemas de propulsão eram compostos por dois mastros a vela e oito caldeiras a carvão que alimentavam dois motores de tripla-expansão, que por sua vez giravam duas hélices até uma velocidade máxima de vinte nós (37 quilômetros por hora). Os navios também tinham um fino convés blindado que ficava entre 25 e cinquenta milímetros de espessura.
O Zenta e o Aspern se envolveram na supressão do Levante dos Boxers na China entre 1899 e 1900 pouco depois de entrarem em serviço. As embarcações pela década seguinte passaram a maior parte de seu tempo junto com a frota principal realizando exercícios de treinamento. Na Primeira Guerra Mundial, o Zenta foi afundado logo no primeiro mês por couraçados franceses na Batalha de Antivari. Por sua vez, o Aspern e o Szigetvár participaram de várias operações pelo restante do conflito no Mar Adriático. Ambos foram tirados de serviço em 1918 e transformados em alojamentos flutuantes em Pola. Eles foram entregues ao Reino Unido como prêmios de guerra e desmontados em 1920.
Desenvolvimento
editarA Marinha Austro-Húngara decidiu em janeiro de 1895 construir dois tipos de cruzadores: cruzadores blindados de aproximadamente 5,9 mil toneladas e embarcações menores de por volta de 1,7 mil toneladas. Estas tinham a intenção de escoltar couraçados da frota principal, fazer reconhecimento de navios inimigos e proteger barcos torpedeiros de ataques, além de atuarem no estrangeiro. O comando naval emitiu especificações básicas para o cruzador menor durante uma reunião preliminar realizada em 22 de janeiro. Seu comprimento deveria ser de 94 metros e carregar um armamento de doze canhões de 120 milímetros e dezesseis canhões de 47 milímetros. O arquiteto naval Josef Kuchinka preparou um projeto inicial a partir dessas especificações, com sua proposta tendo uma velocidade máxima de 21 nós (39 quilômetros por hora) e uma autonomia de 3,8 mil milhas náuticas (5,9 mil quilômetros) a doze nós (22 quilômetros por hora). O engenheiro naval Jakob Fassl realizou uma avaliação em fevereiro para determinar as melhores caldeiras a serem instaladas no navio, pois a velocidade era a principal prioridade. Várias caldeiras foram consideradas, incluindo modelos White-Forster, Thornycroft e Locomotiva.[1]
A construção do primeiro navio começou em agosto de 1896, porém os trabalhos de projeto só foram finalizados nove meses depois. Várias mudanças ocorreram durante o longo processo de projeto. Os tubos de torpedo originalmente seriam instalados em lançadores no convés, mas acabaram transferidos para o casco acima da linha d'água. A marinha escolheu usar caldeiras Yarrow, pois elas permitiam uma economia de 57 toneladas em relação às outras opções. Motores de tripla-expansão foram escolhidos, porém foram instalados "de ponta cabeça", com o cilindro de baixa pressão na frente dos cilindros de alta pressão, a fim de alcançar a velocidade desejada. A equipe de projeto incluiu mastros a vela com uma área de 586 metros quadrados já que esperava-se que as embarcações atuassem internacionalmente. O segundo membro da classe recebeu uma camada de metal Muntz sobre uma camada de teca a fim de proteger seu casco em viagens longas. Várias outras marinhas experimentaram com revestimentos dos cascos de seus cruzadores, sem produzir os resultados desejados. O deslocamento das embarcações tinha crescido até aproximadamente 2 390 toneladas na época da finalização dos trabalhos de projeto. O rápido desenvolvimento tecnológico da virada para o século XX fez com que a Classe Zenta rapidamente ficasse obsoleta, já necessitando de substituição em 1910.[2]
Características
editarO Zenta e o Szigetvár tinham 96 metros de comprimento da linha de flutuação e 96,88 metros de comprimento de fora a fora, já o Aspern era ligeiramente maior, tendo 96,4 metros de comprimento da linha de flutuação e 97,47 metros de comprimento de fora a fora. A boca dos navios era de 11,73 metros e o calado de 4,24 metros. O deslocamento normal do Zenta e o Szigetvár era de 2 350 toneladas, enquanto o Aspern era de 2 456 toneladas, já o deslocamento carregado podia chegar a 2 543 toneladas no Zenta, 2 562 toneladas no Aspern e 2 602 toneladas no Szigetvár.[3] A tripulação dos três navios era composta por 308 oficiais e marinheiros. O sistema de propulsão tinha dois motores de tripla-expansão, cada um girando uma hélice usando o vapor oriundo de oito caldeiras Yarrow a carvão.[4][5] Seus motores tinham uma potência indicada de 7,2 mil cavalos-vapor (5,3 mil quilowatts) para uma velocidade máxima de 21 nós (39 quilômetros por hora), mas apenas o Zenta conseguiu alcançar essa velocidade durante seus testes marítimos, fazendo 21,87 nós (40,5 quilômetros por hora) a partir de 8 584 cavalos-vapor (6 310 quilowatts); tanto o Aspern quanto o Szigetvár alcançaram apenas vinte nós (37 quilômetros por hora) com sua potência indicada. Os navios carregavam carvão suficiente para uma autonomia de 3,8 mil milhas náuticas (5,9 mil quilômetros) a uma velocidade de doze nós (22 quilômetros por hora). Foram equipado com um arranjo de velas bergantim em dois mastros com 585,8 metros quadrados a fim de ampliar sua autonomia.[6]
A bateria principal consistia em oito canhões Škoda de disparo rápido calibre 40 de 120 milímetros. Dois ficavam montados no convés superior na proa e popa e seis ficavam em casamatas no casco. A bateria secundária tinha oito canhões Škoda calibre 44 de 47 milímetros e dois canhões Hotchkiss calibre 33 de 47 milímetros para defesa contra barcos torpedeiros. Estas armas foram montadas individualmente, com quatro na superestrutura e o resto em casamatas no casco. Também eram equipados com duas metralhadoras Salvator-Dormus M1893 de 8 milímetros. Por fim, tinham dois tubos de torpedo de 450 milímetros instalados no casco acima da linha d'água.[4][6][7] Os três cruzadores protegidos da Classe Zenta foram os primeiros grandes navios de guerra da Marinha Austro-Húngara a serem equipados com armas produzidas em sua totalidade pela Škoda.[8]
O convés blindado consistia em duas camadas de aço de 12,5 milímetros de espessura na proa e popa, dobrando de espessura a meia-nau com duas camadas de 25 milímetros onde protegiam as salas de máquinas. As casamatas dos canhões principais tinham laterais de 35 milímetros e a torre de comando recebeu duas camadas de 25 milímetros nas laterais.[4][7] Os canhões de 120 milímetros de proa e popa tinham um escudo de 45 milímetros, mas que não era grande o bastante para proteger os artilheiros.[6]
Navios
editarNavio | Construtor[9] | Homônimo[4] | Batimento[4] | Lançamento[4] | Comissionamento[4] | Destino[4] |
---|---|---|---|---|---|---|
Zenta | Arsenal Naval de Pola | Batalha de Zenta | 8 de agosto de 1896 | 18 de agosto de 1897 | 15 de maio de 1899 | Afundado em 16 de agosto de 1914 |
Aspern | Batalha de Aspern-Essling | 4 de outubro de 1897 | 3 de maio de 1899 | 25 de maio de 1900 | Desmontados em 1920 | |
Szigetvár | Cerco de Szigetvár | 25 de maio de 1899 | 29 de outubro de 1900 | 30 de setembro de 1901 |
História
editarO Zenta foi enviado para a China pouco depois de entrar em serviço a fim de substituir o cruzador protegido SMS Kaiserin Elisabeth, chegando em janeiro de 1900. Juntou-se em junho à frota internacional da Aliança das Oito Nações para combater o Levante dos Boxers, enviando uma equipe de desembarque para proteger embaixadas no Bairro Diplomático de Xangai e outra para atacar os Fortes de Taku.[10][11] O Aspern chegou na região em agosto para reforçar o contingente austro-húngaro, porém nesse momento as lutas já tinham diminuído.[12] Os dois patrulharam portos chineses e visitaram países vizinhos pelo meses seguintes e passaram por manutenção no Japão,[11][12] com o Aspern nesse período colidindo com um navio civil britânico e temporariamente perdendo o rostro de sua proa.[12] O Zenta voltou para casa em outubro de 1901,[11] enquanto o Aspern só retornou para a Áustria-Hungria em março de 1902.[12]
O Szigetvár foi enviado em uma viagem internacional a partir de outubro de 1901, passando por países como Haiti, México, Estados Unidos, Canadá, Alemanha e Rússia, retornando apenas em setembro do ano seguinte.[13] O Zenta partiu um mês depois para um cruzeiro de treinamento pela África e América do Sul, retornando em outubro de 1903 após passar por Moçambique, Cabo, Congo, Brasil, Uruguai e Argentina, entre outros.[14] Enquanto isso, o Aspern foi enviado de volta para a China, servindo na região sem grandes incidentes e visitando vários portos na área entre setembro de 1903 e novembro de 1904, quando voltou para casa.[15] Os três depois disso atuaram principalmente em casa, participando regularmente dos exercícios anuais de verão da Marinha Austro-Húngara e periodicamente permanecendo tempos estendidos na reserva naval.[16] O Szigetvár nesse período serviu algumas vezes no Império Otomano,[17] enquanto o Zenta e o Aspern fizeram parte em 1913 de uma frota internacional que bloqueou Montenegro durante a Primeira Guerra Balcânica.[18]
A Primeira Guerra Mundial começou em julho de 1914 e os três cruzadores foram designados para servirem na I Divisão de Cruzadores, junto com os três cruzadores blindados da frota.[19] O Zenta foi afundado logo no início de agosto na Batalha de Antivari, próximo do litoral de Montenegro, depois de encontrar a principal frota de couraçados franceses no Mar Adriático.[20] O Aspern e o Szigetvár passaram o resto da guerra principalmente realizando deveres de patrulha, mas também envolveram-se em ações ofensivas. O Szigetvár bombardeou posições montenegrinas em setembro de 1914 e em maio do ano seguinte participou do Bombardeio de Ancona, atacando vários alvos no litoral italiano.[21] O Aspern, por sua vez, deu suporte de artilharia para um ataque do Exército Austro-Húngaro contra o Monte Lovćen em Montenegro em janeiro de 1916.[22] Os dois navios foram descomissionados em março de 1918 para liberar suas tripulações para designações mercantes no Mar Negro, sendo desarmados e convertidos em alojamentos flutuantes em Pola. A Áustria-Hungria foi derrotada em novembro e ambos foram entregues ao Reino Unido como prêmios de guerra, sendo desmontados na Itália em 1920.[4][23][24]
Referências
editar- ↑ Sieche 2002, p. 104
- ↑ Sieche 2002, pp. 104–105
- ↑ Freivogel 2017, pp. 123–124
- ↑ a b c d e f g h i Sieche & Bilzer 1979, p. 278
- ↑ Sieche 2002, p. 105
- ↑ a b c Freivogel 2017, p. 115
- ↑ a b Bilzer 1981, pp. 23–24
- ↑ Sondhaus 1994, p. 130
- ↑ Freivogel 2017, pp. 113–114
- ↑ Freivogel 2017, p. 117
- ↑ a b c Sieche 2002, p. 110
- ↑ a b c d Sieche 2002, p. 118
- ↑ Sieche 2002, p. 125
- ↑ Sieche 2002, p. 111
- ↑ Sieche 2002, pp. 118–119
- ↑ Sieche 2002, pp. 111–112, 119–120, 125–126
- ↑ Sieche 2002, pp. 125–126
- ↑ Sieche 2002, pp. 112, 120
- ↑ Sondhaus 1994, p. 257
- ↑ Sieche 2002, p. 112
- ↑ Sieche 2002, pp. 126–127
- ↑ Sieche 2002, p. 120
- ↑ Sieche 2002, p. 120, 127
- ↑ Halpern 1987, p. 450
Bibliografia
editar- Bilzer, Franz F. (1981). «Austrian Light Cruiser Zenta». Akron: F. P. D. S. F. P. D. S. Newsletter. IX (3). OCLC 41554533
- Freivogel, Zvonimir (2017). Austro-Hungarian Cruisers in World War One. Zagreb: Despot Infinitus. ISBN 978-953-7892-85-2
- Halpern, Paul G. (1987). The Naval War in the Mediterranean 1914–1918. Annapolis: Naval Institute Press. ISBN 978-0-87021-448-6
- Sieche, Erwin F. (2002). Kreuzer und Kreuzerprojekte der k.u.k. Kriegsmarine 1889–1918. Hamburgo: [s.n.] ISBN 978-3-8132-0766-8
- Sieche, Erwin; Bilzer, Ferdinand (1979). «Austria-Hungary». In: Gardiner, Robert; Chesneau, Roger & Kolesnik, Eugene M. Conway's All the World's Fighting Ships: 1860–1905. Londres: Conway Maritime Press. ISBN 0-85177-133-5
- Sondhaus, Lawrence (1994). The Naval Policy of Austria-Hungary, 1867–1918: Navalism, Industrial Development, and the Politics of Dualism. West Lafayette: Purdue University Press. ISBN 978-1-55753-034-9
Ligações externas
editar- Media relacionados com Classe Zenta no Wikimedia Commons