Colombo (encouraçado)
O Colombo foi um navio de guerra do tipo corveta encouraçada ou, simplesmente, encouraçado, operado pela Armada Imperial Brasileira entre anos de 1866 e 1875. A embarcação foi construída no estaleiro em Greenwich, Inglaterra, da empresa britânica J. and G. Rennie, juntamente com com seu navio-irmão Cabral. Foi lançado ao mar em 1865 e incorporado à armada em 4 de julho de 1866. O encouraçado era inteiramente construído de ferro, deslocava 1 069 toneladas. Possuía dois motores a vapor que desenvolviam até 750 cavalos de potência, impulsionando a embarcação a cerca de 20 quilômetros por hora. Sua estrutura compreendia uma casamata dupla com oito bocas de fogo. A marinha teve grandes dificuldades com este navio, que era de difícil navegabilidade, e, devido ao modelo da casamata, deixava uma parte desprotegida, vulnerável à projéteis mergulhantes.
Colombo | |
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O encouraçado Colombo | |
Brasil | |
Operador | Armada Imperial Brasileira |
Fabricante | J. and G. Rennie |
Homônimo | Cristóvão Colombo |
Lançamento | 1865 |
Comissionamento | 4 de julho de 1866 |
Descomissionamento | 4 de fevereiro de 1875 |
Número de registro | 13 |
Estado | Desmanchado |
Características gerais | |
Tipo de navio | Encouraçado |
Classe | Cabral |
Deslocamento | 1,069 t (2 360 lb) |
Comprimento | 48,76 m (160 ft) |
Boca | 10,6 m (34,8 ft) |
Pontal | 3,05 m (10,0 ft) |
Calado | 3,23 m (10,6 ft) |
Propulsão | 2 eixos de hélice 2 motores a vapor de 750 hp (559 kW) |
Velocidade | 10,5 nós (19,4 km/h) |
Armamento | 8 canhões Whitworth de 70 libras e 68 libras |
Tripulação | 125 homens |
Após alguns meses de sua chegada ao Brasil, o Colombo foi enviado ao combate na Guerra do Paraguai. O primeiro obstáculo foi a Fortaleza de Curupaiti, que, em conjunto com diversos navios da esquadra imperial, bombardeou intensamente em 2 de fevereiro de 1867. No dia 15 de agosto, o Colombo forçou com sucesso a passagem deste forte, manobra que durou cerca de duas horas. No mês de julho de 1868, o Colombo participou no bombardeio da Fortaleza de Humaitá. Em 5 de outubro, o Colombo procedeu um agressivo reconhecimento da Fortaleza de Angostura.
Nos últimos anos da guerra, o encouraçado já não era mais requisitado, e este retornou para o Rio de Janeiro, onde passou por obras de reparo. Em 1873, foi designado para a terceira divisão naval, com a missão de patrulhar a costa brasileira entre Mossoró, no Rio Grande do Norte, até os limites com a Guiana Francesa. A marinha o descomissionou em 4 de fevereiro de 1875.
Características
editarO encouraçado Colombo foi construído em Greenwich, Inglaterra, pela empresa J. and G. Rennie, em 1865. Em 4 de julho de 1866, foi incorporado à Armada Imperial Brasileira, passando por Mostra de Armamento em 7 de julho, quando recebeu o distintivo número 13. Foi batizado de Colombo em homenagem ao navegante genovês Cristóvão Colombo. O Colombo foi designado como corveta encouraçada e pertencia a classe Cabral.[1]
O navio era couraçado a ferro, tinha um deslocamento de 1 069 toneladas, 48,76 metros de comprimento, 10,6 metros de boca, 3,05 metros de pontal e 3,23 metros de calado. Suas máquinas consistiam de dois motores a vapor que desenvolviam 240 cavalos-vapor, segundo a marinha, ou 750 cavalos, segundo o escritor naval Gardiner, que movimentavam duas hélices e impulsionavam o vaso de guerra a 10,5 nós (19,44 quilômetros por hora). O navio tinha duas chaminés, leme, um pequeno mastro para sinais, casamata e era artilhado por oito canhões de calibres 68 e 70. Sua tripulação era composta por 125 praças e oficiais. A marinha o considerava um navio com péssimas qualidades náuticas, e até perigosas. A isto, somava-se o fato do navio ter sido construído com um sistema de casamatas duplas que deixava, à meia nau, uma área desprotegida sobre as caldeiras, vulnerável a disparos mergulhantes. O Colombo chegou ao Brasil em 25 de junho de 1866.[1][2][3]
História
editarAções em Curupaití
editarNo mês de agosto de 1866, o Colombo foi enviado para frente de batalha na Guerra do Paraguai, e atracou no dia 2 de setembro em Desterro, atual Florianópolis. No dia 2 de fevereiro de 1867, já em território paraguaio, o Colombo e outros navios efetuaram o bombardeio da Fortaleza de Curupaiti, que ficava às margens do rio Paraguai.[4] Na ocasião, o encouraçado compunha a frota formada pelos também encouraçados Bahia, Barroso, Cabral (seu navio-irmão), Herval, Mariz e Barros, Silvado e Tamandaré, corvetas Parnaíba e Beberibe, bombardeira Forte de Coimbra e duas chatas artilhadas, sob comando do Vice-almirante Joaquim José Ignácio.[5]
Esta frota bombardeou a fortaleza em conjunto com a bateria do Forte de Curuzu, já tomado pelos brasileiros, os atiradores do 48.º Batalhão de Voluntários da Pátria e com a frota do chefe Elisiário dos Santos, a qual incluía as canhoneiras Araguari e Iguatemi, vapor Lindóia, bombardeira Pedro Afonso, chata Mercedes e o lanchão João das Botas. Foram disparadas um total de 874 bombas sobre o forte com a morte de inúmeros paraguaios, além de ferir gravemente seu comandante, o general Díaz. Do lado brasileiro, somaram cerca de 14 baixas, incluindo a morte do comandante do Silvado.[5][1]
A marinha imperial estudava uma forma de forçar a passagem desta fortaleza, mas considerava o feito praticamente impossível.[6] Curupaiti era um conjunto de fortificações e trincheiras que fazia parte do complexo defensivo de Humaitá.[7] Possuía 35 peças de artilharia apontadas para o rio,[7] e incluía o canhão El Cristiano de calibre 80,[8] um dos maiores fabricados no século XIX.[9] Ainda assim, a marinha optou por forçar a passagem, escolhendo o dia 15 de agosto para a ação. Antes, porém, a fortaleza seria bombardeada nos dias 29 de maio e 5 de agosto.[5]
No dia 15 de agosto, o Colombo forçou a passagem de Curupaití, rebocando a chata Cuevas. Segundo certo historiador brasileiro, “Curupaiti resistia com todas as potências do desespero, enchendo os ares de medonho estrondo, e não podendo reter com enfiadas de balas os galhardos navios que seguiam o seu destino. Nem os projeteis de espingardas julgaram conveniente dispensar. Eram eles arremessados de volta com enormes bombas e balas rasas de 68, que faziam mossa, sendo poucas as que realmente causaram dano”. O Colombo, encouraçado Brasil, monitor Lima Barros e outros sete encouraçados da frota que havia bombardeado a fortaleza no dia 2 de fevereiro, levaram cerca de duas horas para atravessarem o passo, com poucas avarias para o Colombo, que acusou ter recebido apenas um impacto.[4][10][5][11][12]
Ações em Humaitá, Angostura e Manduvirá
editarO alto comando naval aliado decidiu transpor Humaitá novamente com o objetivo de fortalecer a posição dos navios que já haviam ultrapassado o forte, em 19 de fevereiro, e para aumentar a força naval que atuaria na região de Tebiquarí, onde já se sabia de outra fortificação paraguaia.[13] Para realizar esta passagem foram designados três encouraçados, Cabral, Silvado e Piauí, que forçariam o passo, e dois que agiriam na proteção destes, Lima Barros e Brasil.[14] O Colombo, Herval, Lima Barros e Mariz e Barros atuariam como fogo de apoio. A transposição ocorreu na madrugada do dia 21 de julho de 1868, com alguns problemas causados pela má governabilidade do Cabral. Após a passagem, Humaitá seria abandonada pelos paraguaios dias depois.[15]
Ao longo do mês de outubro de 1868, os couraçados Tamandaré, Bahia, Silvado, Barroso, Brasil, Alagoas, Lima Barros e Rio Grande do Norte, nesta ordem, forçaram a passagem de Angostura, uma fortaleza no rio Paraguai fortemente defendida por várias baterias. No dia 5, o Colombo, sob comando de Marques Guimarães, procedeu um agressivo reconhecimento das baterias que protegiam o forte. No dia 28, o Cabral e o Piauí iniciaram um longo e forte bombardeio dessas baterias. No dia 19 de novembro, o forte voltaria a ser violentamente bombardeada pela mesma esquadra com o apoio do Colombo, Herval e Mariz e Barros, com o capitão Mamede Simões orientando os tiros.[16] Uma semana depois, o Brasil, Cabral, Piauí e o vapor Triunfo, realizaram a passagem de Angostura, forte que continuaria a ser bombardeada ao longo do mês de dezembro, até a sua completa rendição no dia 30.[17][18]
Em 16 de abril de 1869, o Colombo foi destacado pelo novo comandante naval brasileiro, Chefe de Esquadra Elisiário Antônio dos Santos, para compor a esquadra que realizaria a segunda expedição no rio Manduvirá com o objetivo de perseguir os navios paraguaios que encontravam-se lá. A missão do encouraçado, em conjunto com a corveta Belmonte, era bloquear o rio. A segunda expedição terminou no dia 30.[19] Em 17 de maio, o Colombo serviu como navio de transporte das tropas do general José Antônio Correia da Câmara, que estava no encalço do marechal Solano López, até a vila do Rosário.[4]
Últimos anos
editarDesde a conquista de Assunção, em 1 de janeiro de 1869, os já desgastados encouraçados de grande porte, como o Colombo, não tinham mais tanta utilidade no conflito, com os combates navais ocorrendo, a partir de então, em pequenos arroios muito estreitos, permanecendo em Assunção apenas o Tamandaré e os seis monitores encouraçados da classe Pará. O Colombo ainda participou de algumas missões no início daquele ano, porém, este e outros encouraçados foram chamados de volta para o Rio de Janeiro, onde passaram por grandes obras de reparo. Em 1870, o comando naval imperial começou a distribuir os encouraçados para os vários distritos navais de defesa de portos do Brasil.[20][19][4] Neste ano, em uma salva de tiros, um dos canhões acabou por explodir e matou um imperial marinheiro e feriu outro.[4]
No primeiro distrito, que ia do extremo sul do país até a divisa do Rio de Janeiro com Espírito Santo, foram alocados os encouraçados Brasil, Lima Barros, Silvado e Bahia. No segundo, que começava nos limites do primeiro até a cidade de Mossoró, Rio Grande do Norte, fundearam o Herval e Mariz de Barros. Por fim, em meados de 1873, o Colombo e seu navio-irmão Cabral, foram designados para o terceiro distrito, que ia de Mossoró até a Guiana Francesa.[21]
Por Aviso de 20 de fevereiro de 1874, foi lhe passada a mostra de meio armamento; por outro, de 5 de janeiro de 1875, o Colombo passou por mostra de desarmamento para entrar em reparos no Arsenal do Rio de Janeiro. No dia 4 de fevereiro de 1875, a marinha deu baixa de serviço ao encouraçado, com o casco sendo entregue para ser desmanchado em 26 de junho de 1880.[4]
Ver também
editarReferências
- ↑ a b c Marinha do Brasil-A, p. 1.
- ↑ Gardiner 1979, p. 406.
- ↑ Martini 2014, pp. 127-128.
- ↑ a b c d e f Marinha do Brasil-A, p. 2.
- ↑ a b c d Donato 1996, p. 276.
- ↑ Maestri 2017, p. 357.
- ↑ a b Fragoso 1956, p. 212.
- ↑ Donato 1996, p. 277.
- ↑ Santos 2018, p. 5.
- ↑ Marinha do Brasil-B, pp. 1-2.
- ↑ Rio Branco 2012, p. 463.
- ↑ Costa 1870, p. 305.
- ↑ Barros 2018, p. 48.
- ↑ Barros 2018, p. 50.
- ↑ Donato 1996, p. 307.
- ↑ Donato 1996, pp. 185-186.
- ↑ Marinha do Brasil-B, p. 2.
- ↑ Donato 1996, pp. 186-187.
- ↑ a b Barros 2016, pp. 78, 79, 84.
- ↑ Martini 2014, pp. 148-149.
- ↑ Martini 2014, p. 149.
Bibliografia
editar- Barros, Aldeir Isael Faxina (2016). «A Marinha Imperial Brasileira no Manduvirá» (PDF). Revista Marítima Brasileira. 136 (04/06). ISSN 0034-9860
- Barros, Aldeir Isael Faxina (2018). «A Segunda Passagem de Humaitá» (PDF). Navigator. 14 (27): 45-57. ISSN 0100-1248
- Costa, Francisco Felix Pereira da (1870). Historia da guerra do Brasil contra as Republicas do Uruguay e Paraguay. 3. Rio de Janeiro: Livraria de A.G. Guimãraes & C
- Donato, Hernâni (1996). Dicionário das Batalhas Brasileiras 2ª ed. São Paulo: Instituição Brasileira de Difusão Cultural. ISBN 8534800340. OCLC 36768251
- Gardiner, Robert (1979). Conway's all the world's fighting ships, 1860-1905. New York: Mayflower Books. ISBN 0-8317-0302-4
- Maestri, Mário (2017). Guerra Sem Fim 1 ed. Brasil: Clube de Autores. ISBN 8567542162
- Marinha do Brasil-A. «Colombo Corveta» (PDF). Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha
- Marinha do Brasil-B. «Cabral Corveta» (PDF). Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha
- Martini, Fernando Ribas de (2014). «Construir navios é preciso, persistir não é preciso: a construção naval militar no Brasil entre 1850 e 1910, na esteira da Revolução Industrial» (PDF). Universidade de São Paulo. Biblioteca Digital USP. doi:10.11606/D.8.2014.tde-23012015-103524
- Rio Branco, Barão do (2012). Obras do Barão do Rio Branco: Efemérides Brasileiras. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão. ISBN 978-85-7631-357-1. OCLC 842885255
- Santos, Wellington Corlet dos (2018). «A questão do canhão El Cristiano: Reflexões» (PDF). AHIMTB/RS (264)