Pombo-torcaz-dos-açores
O pombo-torcaz-dos-açores (Columba palumbus azorica) é uma subespécie de pombo-torcaz endémica do arquipélago dos Açores.[1] O táxon está protegido no âmbito da Convenção de Berna e da Directiva Aves. Essa subespécie é frequente, em particular nas ilhas do Grupo Central, sendo importante na disseminação de sementes da laurissilva açoriana.[2] A subespécie foi descrita pelo ornitólogo alemão Ernst Hartert em 1905.
Pombo-torcaz-dos-açores | |||||||||||||||||
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Estado de conservação | |||||||||||||||||
Vulnerável | |||||||||||||||||
Classificação científica | |||||||||||||||||
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Nome trinomial | |||||||||||||||||
Columba palumbus azorica Hartert, 1905 |
Descrição
editarAve visivelmente maior que o pombo-das-rochas, espécie de que se distingue, para além do tamanho, pela presença de uma extensa mancha branca no pescoço e de barras brancas transversais nas asas. Também a cauda difere, com uma cauda quadrada e mais comprida no pombo-torcaz.
A plumagem é essencialmente cinzenta nas partes superiores, com a garganta e o abdómen cinzentos. A plumagem do peito é rosa-arroxeado, com reflexos metálicos. Apresenta marcas brancas na plumagem do pescoço manchas iridescentes verdes e roxas no pescoço e peito. As penas do pescoço elevam-se ligeiramente para formar manchas brancas nas zonas laterais do pescoço, com maior extensão do que no pombo-comum europeu, mas semelhante à da subespécie Columba palumbus casiotis. A parte posterior do pescoço, a nuca, apresenta uma área de intensa iridescência esverdeada.
O bico é curto e fino, entre o laranja e o amarelo, com laivos avermelhados e coloração mais pálida na ponta. Os olhos são amarelos pálidos. As patas são curtas e avermelhadas.
É uma subespécie residente, endémica, que ocorre em todo o arquipélago, embora sendo rara no Grupo Ocidental. A maior abundância verifica-se no Grupo Central, sobretudo nas ilhas do Pico e Terceira, onde forma bandos numerosos que se alimentar em pastagens e campos agrícolas. Nessas ilhas são frequentas as queixas de que as aves causam danos em culturas hortícolas e fruteiras.
A espécie apresenta grande semelhança morfológica com as subespécies de pombo-torcaz do norte de África, em especial com a subespécie Columba palumbus excelsa. Distingue-se da subespécie europeia (Columba palumbus palumbus) por apresentar plumagem mais escura e conspícua, com um brilho ligeiramente maior, especialmente na parte dorsal e sob as asas.
Ecologia
editarA subespécie está presente com relativa abundância em sete das nove ilhas do arquipélago dos Açores, havendo notícia da sua presença na ilha das Flores em tempos remotos e do seu aparecimento ocasional em tempos recentes. Está ausente da ilha do Corvo. Prefere habitats arborizados, sendo mais frequente nas margens de áreas florestadas e nas clareiras.
Há notícia de que partilhava o habitat com o pombo-da-serra, ou pombo-negro, um pombo de coloração escura das áreas montanhosas das ilhas atualmente extinto. Apesar da subespécie não ser tão dócil como seria o pombo-da-serra, ainda assim tem sofrido considerável redução de efetivos pelo efeito combinado da caça e da desflorestação e consequente perda de habitat. Tal como a subespécie próxima, a Columba palumbus maderensis da ilha da Madeira, é considerada como espécie vulnerável e por isso sujeita a medidas de proteção, as quais incluíram a sua remoção da lista das espécies cinegéticas dos Açores.
O maior número de membros reprodutores são encontrados em março, período de início da época reprodutora. Como ocorrem com outras subespécies insulares de pombo-torcaz e com algumas espécies da Macaronésia e com as espécies de pombos das florestas das ilhas do Pacífico, o pombo-trocaz-dos-açores apresenta baixa taxa de reprodução, muito inferior à do pombo-comum. O pombo-torcaz-dos-açores põe apenas um ovo, de casca branca, por postura.
Em 2003, em sete das nove ilhas dos Açores foram realizados estudos visando determinar a densidade das populações de pombo-torcaz. Os resultados permitem estimativas de densidade de variam de 14,52 aves/km2 na ilha Terceira e 5,14 aves/km2 nas outras seis ilhas.[3] Estas densidades eram muito mais baixas do que as da subespécie do pombo-torcaz comum na Europa continental.
A baixa densidade das populações de pombos-torcazes nos Açores pode ser resultado da limitada disponibilidade de habitat de reprodução e da fraca disponibilidade de alimento durante o inverno. A maior abundância nas ilhas Terceira e Pico, ilhas onde existem maiores áreas florestadas com vegetação natural do arquipélago, parece confirmar a perda de habitat como a principal causa de declínio das populações, o que também explicaria as grandes diferenças entre a abundância pombo-torcaz entras as diferentes ilhas do arquipélago, nomeadamente com densidades na ilha Terceira maiores do que em qualquer das outras ilhas.
A informação histórica permite afirmar que o efetivo populacional caiu drasticamente após a colonização humana dos Açores, tendo mesmo desaparecido por completo de algumas das ilhas, nomeadamente das Flores e Corvo. A principal causa do seu declínio populacional foi a perda de habitat resultante do desmatamento, mas a caça e a predação por espécies introduzidas, como os ratos, também foram importantes fatores contributivos. O rato preto, uma espécie que sobe às árvores em busca de alimento e assalta ninhos de aves, causa grandes danos, com o abandono de ovos e a perda da estação de reprodução.
O pombo-torcaz desempenha nos Açores um papel ecológico importante, pois é a única ave selvagem existente no arquipélago capaz de comer as grandes drupas da espécie Laurus azorica, uma das espécie mais emblemáticas e estruturantes da laurissilva açoriana, e dispersar as sementes.
Notas
editar- ↑ David Gibbs, Eustace Barnes & John Cox (2000). Pigeons and Doves: a Guide to the Pigeons and Doves of the World. [S.l.]: Pica Press. p. 175. ISBN 1-873403-60-7
- ↑ Dickens, Megan - Neves, Verónica C., "Post-breeding density and habitat preferences of the Azores Woodpigeon, Columba palumbus azorica: an inter-island comparison". Arquipélago: Ciências Biológicas e Marinhas, n.º 22A (2005): 61-69 (ISSN 0873-4704).
- ↑ Arquipélago