Comando do Norte da RAAF
O Comando do Norte foi um dos vários comandos de característica geográfica criados pela Real Força Aérea Australiana (RAAF) durante a Segunda Guerra Mundial. Estabelecido em abril de 1944, evoluiu a partir do Grupo Operacional N.º 9, que havia sido a principal formação móvel da RAAF no teatro do Sudoeste do Pacífico desde setembro de 1942, mas que depois acabou por se tornar numa força de guarnição na Nova Guiné. O Comando do Norte teve a sua sede inicialmente na Baía Milne e depois, a partir de agosto de 1944, em Madang. Conduziu operações na Nova Guiné, Nova Bretanha e Bougainville até ao final da guerra. Renomeado Área do Norte em dezembro de 1945, ficou sediado em Port Moresby a partir de março de 1946 e foi dissolvido menos de um ano depois, em fevereiro de 1947.
Comando do Norte da RAAF | |
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Comandos de Área da RAAF em 1944; apesar de nesta imagem de 1944 já aparecer designado como Comando do Norte, este só recebeu essa designação no final de 1945.
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País | Austrália |
Corporação | Real Força Aérea Australiana |
Missão | Defesa aérea Reconhecimento aéreo Protecção da orla costeira e comboios |
Período de atividade | 1944–47 |
História | |
Guerras/batalhas | Segunda Guerra Mundial |
Comando | |
Comandantes notáveis |
Frank Lukis (1944–45) Allan Walters (1945–46) |
Sede | |
Quartel-general | Baía Milne (1944) Madang (1944–46) Porto Moresby (1946–47) |
História
editarAntes da Segunda Guerra Mundial começar, a Real Força Aérea Australiana (RAAF) era pequena o suficiente para que todos os seus elementos fossem controlados directamente pelo quartel-general da RAAF em Melbourne. Quando a guerra estourou a RAAF começou a descentralizar a sua estrutura de comando, uma medida proporcional aos aumentos esperados em efectivos e unidades.[1][2] Entre março de 1940 e maio de 1941, Austrália e Papua foram divididas em quatro zonas de comando e controlo de componente geografica: o Comando Central, o Comando do Sul, o Comando Ocidental e o Comando do Norte.[3] As funções dos comandos eram a defesa aérea, a protecção das rotas marítimas adjacentes, das orlas costeiras e reconhecimento aéreo. Cada um dos comandos era liderado por um Air Officer Commanding (AOC) que controlava a administração e as operações das bases aéreas e unidades dentro dos seus limites geográficos.[2][3] Em meados de 1942 o Comando Central foi dissolvido, o Comando do Norte foi dividido em dois (Comando Nordeste e Comando Noroeste), e o Comando Oriental foi criado, perfazendo um total de cinco comandos.[4][5]
O sistema de Comando de Área estático era adequado para a defesa, mas o mesmo não era verdade para uma postura ofensiva. Em setembro de 1942, portanto, a Força Aérea criou uma grande formação móvel conhecida como Grupo Operacional N.º 9 para actuar como uma força aérea táctica autónoma que seria capaz de acompanhar os avanços dos Aliados no teatro do Sudoeste do Pacífico. Em setembro de 1943, o Grupo Operacional N.º 9 tinha-se tornado numa força de guarnição estática na Nova Guiné, semelhante aos comandos na Austrália continental, e um novo grupo móvel era necessário para apoiar o avanço para o norte em direcção às Filipinas e ao Japão. Este novo grupo foi formado em novembro de 1943, sendo denominado Grupo Operacional N.º 10 (posteriormente Primeira Força Aérea Tática Australiana), que inicialmente estava sob o comando do Grupo Operacional N.º 9. Para que não houvesse dúvidas sobre a componente do Grupo Operacional N.º 9 o chefe do Comando da RAAF, o vice-marechal do ar William Bostock, recomendou renomear aquele grupo para Área do Norte. A sede da RAAF não concordou com isso no início, mas no dia 11 de abril de 1944 decidiu chamá-lo de Comando do Norte, sob o mesmo AOC que comandava o Grupo Operacional N.º 9, o comodoro Frank Lukis.[6][7] No momento da sua formação o comando ficou sediado na Baía Milne.[8]
Em julho de 1944, a posição do Grupo Operacional N.º 10 no oeste da Nova Guiné estava a complicar os esforços do Comando do Norte para abastecê-lo, e o grupo tornou-se independente do Comando.[9] No mês seguinte, o quartel-general do Comando do Norte foi transferido para Madang.[8] Em setembro, a Asa Nº 71 foi transferida do Grupo Operacional N.º 10 para o Comando do Norte, que havia recebido a missão de prestar apoio à 6.ª Divisão Australiana na campanha de Aitape–Wewak. Sediada em Tadji, no norte da Nova Guiné, a Asa N.º 71 era composta pelo Esquadrão N.º 7, Esquadrão N.º 8 e Esquadrão N.º 100 que operavam aviões Bristol Beaufort, apoiados por uma esquadrilha de aeronaves CAC Boomerang do Esquadrão N.º 4 (Cooperação com o Exército).[8][10] A Asa N.º 74, formada em agosto de 1943 e estava sediada em Port Moresby, também ficou sob a égide do Comando do Norte.[8][11] A outra formação operacional importante do Comando era a Asa N.º 84 (Cooperação com o Exército), que começou a ser transferida da Austrália para Torokina, em Bougainville, em outubro de 1944.[11][12] Nessa época o Comando do Norte controlava seis esquadrões na área da Nova Guiné. A Asa N.º 79, equipada com bombardeiros B-25 Mitchell, foi designada para transferência do Comando da Área Noroeste para o Comando do Norte com o objectivo de realizar operações na Nova Bretanha, mas o facto de o seu aeródromo proposto não estar pronto fez com que a formação fosse transferida para a Primeira Força Aérea Táctica em Labuan.[13][14]
O comodoro Allan Walters assumiu o Comando do Norte de Lukis em fevereiro de 1945.[15][16] Walters dirigiu operações na Nova Guiné, Nova Bretanha e Bougainville até ao fim das hostilidades,[17][18] e o capitão de grupo Val Hancock assumiu o comando da Asa N.º 71 em abril. Para maximizar o apoio às tropas terrestres australianas na preparação para o ataque final a Wewak, os três esquadrões Beaufort da asa foram acompanhados por mais dois, os esquadrões N.º 6 e N.º 15. Aproximadamente sessenta aviões Beaufort e Boomerang atacaram posições japonesas atrás da Baía Dove antes de desembarques anfíbios no dia 11 de maio para impedir a retirada das tropas inimigas. Durante todo o mês a asa lançou mais de 1200 toneladas de bombas e voou mais de 1400 missões; por outro lado, a asa sofreu com escassez de combustível e munições, e a certa altura os seus esquadrões tiveram de carregar os seus bombardeiros com bombas capturadas dos japoneses.[19] A Asa N.º 84, comandada pelo capitão de grupo Bill Hely e que tinha sob a sua alçada o Esquadrão N.º 5 que voava principalmente aeronaves Boomerang, juntamente com outras duas unidades de reconhecimento e transporte, também sofria com a escassez de equipamentos e de pilotos. Reforçada por um destacamento do Esquadrão N.º 36, que operava aviões C-47 Dakota, as suas aeronaves realizaram mais de 4000 missões durante a campanha de Bougainville até ao final de junho de 1945.[20] Naquele mês o Comando do Norte foi encarregado de actuar na reserva para a Operação Oboe Six, a invasão de Labuan.[21] Em julho o Grupo N.º 11 foi formado como um "comando estático" com sede em Morotai, nas Índias Orientais Holandesas, usando elementos do Comando do Norte e da Primeira Força Aérea Táctica; isso libertou esta última de deveres de guarnição enquanto as suas unidades de combate avançavam em direcção a Bornéu.[22][23]
A Asa N.º 71 continuou as operações até ao último dia da Guerra do Pacífico, realizando a sua última missão, que envolveu trinta aeronaves Beaufort, apenas horas antes de chegar a notícia da vitória dos Aliados a 15 de agosto de 1945.[19] A Asa N.º 74 foi dissolvida em Port Moresby no mesmo dia.[8] Os esquadrões da Asa N.º 71 lançaram panfletos nas áreas remanescentes da resistência japonesa, alertando-os sobre a rendição; a asa foi dissolvida em Tadji em janeiro de 1946.[8][19] A Asa N.º 74 sofreu com baixa moral após o fim da guerra devido à inactividade e às incertezas da desmobilização; como resultado, o oficial comandante da asa enviou ao quartel-general do Comando do Norte um relatório franco, cujo tom valeu-lhe uma repreensão de Walters.[20][24] A Asa N.º 84 deixou Bougainville em fevereiro de 1946 e foi dissolvida em Melbourne no mês seguinte.[8]
O Comando do Norte foi redesignado como Área do Norte no dia 1 de dezembro de 1945 e a sua sede transferida para Port Moresby em março do ano seguinte.[8] Walters entregou o comando em junho de 1946.[18][25] No dia 27 de fevereiro de 1947, a sede da área foi dissolvida em Port Moresby.[8]
Notas
- Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Northern Command (RAAF)», especificamente desta versão.
Referências
- ↑ Stephens, The Royal Australian Air Force, pp. 111–112
- ↑ a b «Organising for War: The RAAF Air Campaigns in the Pacific». Pathfinder. Air Power Development Centre. Outubro de 2009. Consultado em 10 de julho de 2015. Cópia arquivada em 13 de julho de 2015
- ↑ a b Gillison, Royal Australian Air Force, pp. 91–92 Arquivado em 2016-03-04 no Wayback Machine
- ↑ Ashworth, How Not to Run an Air Force, pp. xx–xxi
- ↑ Gillison, Royal Australian Air Force, p. 478 Arquivado em 2016-03-04 no Wayback Machine
- ↑ Stephens, The Royal Australian Air Force, pp. 144, 168
- ↑ Odgers, Air War Against Japan, pp. 182, 200
- ↑ a b c d e f g h i «Order of Battle – Air Force – Headquarters». Department of Veterans' Affairs. Consultado em 2 de maio de 2016. Cópia arquivada em 5 de agosto de 2017
- ↑ Odgers, Air War Against Japan, p. 242
- ↑ Odgers, Air War Against Japan, pp. 335–338
- ↑ a b «Governor will lead march». The Sydney Morning Herald. Sydney. 22 de abril de 1950. p. 3. Consultado em 2 de maio de 2016 – via National Library of Australia
- ↑ Odgers, Air War Against Japan, p. 318
- ↑ Odgers, Air War Against Japan, p. 299
- ↑ Odgers, Air War Against Japan, p. 334
- ↑ Ashworth, How Not to Run an Air Force!, p. 295
- ↑ «Awards for Victorians in RAAF». The Argus. Melbourne. 27 de junho de 1946. p. 6. Consultado em 2 de maio de 2016 – via National Library of Australia
- ↑ Ashworth, How Not to Run an Air Force!, p. 304
- ↑ a b Funnell, Ray. «Walters, Allan Leslie (1905–1968)». Australian Dictionary of Biography. Consultado em 2 de maio de 2016
- ↑ a b c Odgers, Air War Against Japan, pp. 342–348
- ↑ a b Odgers, Air War Against Japan, p. 326
- ↑ Waters, Oboe, p.74
- ↑ Odgers, Air War Against Japan, p. 478
- ↑ Ashworth, How Not to Run an Air Force, p. xxiii
- ↑ No. 84 (Army Co-operation) Wing. «Operations record book». National Archives of Australia. pp. 21–23. Consultado em 2 de maio de 2016
- ↑ «High RAAF appointment». The Forbes Advocate. Forbes, New South Wales. 2 de abril de 1948. p. 7. Consultado em 2 de maio de 2016 – via National Library of Australia
Bibliografia
editar- Ashworth, Norman (2000). How Not to Run an Air Force. Camberra: RAAF Air Power Studies Centre. ISBN 064226550X
- Gillison, Douglas (1962). Australia in the War of 1939–1945: Series Three (Air) Volume I – Royal Australian Air Force 1939–1942. Camberra: Australian War Memorial. OCLC 2000369
- Odgers, George (1968) [1957]. Australia in the War of 1939–1945: Series Three (Air) Volume II – Air War Against Japan 1943–1945. Camberra: Australian War Memorial. OCLC 1990609
- Stephens, Alan (2006) [2001]. The Royal Australian Air Force: A History. Londres: Oxford University Press. ISBN 0-19-555541-4
- Waters, Gary (1995). Oboe – Air Operations Over Borneo 1945. Camberra: Air Power Studies Centre. ISBN 0-642-22590-7