Comissão Feminina Pela Pátria
A Comissão Feminina "Pela Pátria" (1914-1916) foi uma associação e movimento de beneficência exclusivamente feminino, criado por iniciativa de várias ativistas republicanas e feministas, ligadas à organização política da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas (LRMP). Tornou-se numa das primeiras instituições organizadas em Portugal com o objetivo de mobilizar as mulheres para o esforço de guerra, através das suas iniciativas que prestavam assistência aos soldados mobilizados para a frente de combate e suas famílias, durante a Primeira Guerra Mundial.
Tipo | associação e movimento de beneficência feminino |
Fundação | 1914 |
Extinção | 1916 |
Propósito | mobilizar as mulheres portuguesas para o esforço de guerra e prestar assistência aos soldados mobilizados para a frente de combate e suas famílias durante a Primeira Grande Guerra |
Sede | Lisboa |
Fundadores | Ana de Castro Osório Ana Augusta de Castilho Antónia Bermudes Maria Benedita Mouzinho de Albuquerque Pinho |
Descrição
editarEm 1914, logo após as primeiras notícias de que uma guerra irrompia na Europa, a activista, jornalista e escritora Ana de Castro Osório, juntamente com as professoras e suas colegas militantes feministas da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, Ana Augusta de Castilho, Antónia Bermudes e Maria Benedita Mouzinho de Albuquerque Pinho [1], sentiram a necessidade de erguer um grupo de mulheres dispostas a fazer algo, caso a guerra chegasse a território nacional ou obrigasse os seus filhos, pais, maridos e irmãos a partir para o combate.[2] Seguindo o exemplo de outras comissões e associações feministas no estrangeiro, criaram a Comissão Feminina Pela Pátria, no prédio onde vivia a família de Ana de Castro Osório, na Rua do Arco do Limoeiro, nº 1, em Lisboa.
O seu principal objetivo era o de prestar assistência às comunidades lesadas e devastadas e auxiliar os soldados portugueses e suas famílias, caso Portugal tomasse oficialmente um partido e fosse declarada guerra. Para tal, contava com a participação não só de mulheres da elite republicana portuguesa como também de operárias, enfermeiras, costureiras, e outras voluntárias de diferentes meios e classes, que prestavam o seu serviço, recolhendo donativos e alguns bens como agasalhos ou outras matérias-primas[3] para enviar para a frente de combate na Europa e nas colónias portuguesas em África, que começavam a ser ameaçadas pelas forças germânicas.[1]
Distribuíram panfletos de modo a divulgar a sua causa por todo o país. Escreveram diversos artigos em jornais e revistas da época, apelando ao público e às altas instâncias do governo por ajuda, assim como ainda publicaram discursos, manifestos, livros de contos e outras histórias para angariar dinheiro para a comissão.
No primeiro número da revista feminista "A Semeadora" (1915-1918), Ana de Castro Osório escreveu no manifesto “A Questão Atual – As mulheres e a guerra” que «o futuro está nas mãos das mulheres» e, como tal, para além de contribuírem na construção de um mundo melhor, era necessário que o governo também valorizasse o desempenho e potencial que estas prestavam em serviço da Pátria, sendo elas, sobretudo no esforço de guerra, as responsáveis por exercer alguns dos papeis mais vitais no país, com o seu contributo na agricultura, na indústria, no comércio, na saúde, na educação, na assistência social e até nos serviços de apoio militar, entre tantas outras áreas.
«Nos países em que a guerra chamou os homens à defesa da Pátria, as mulheres têm-se esforçado por substituí-los nos trabalhos, ainda os mais difíceis, com uma serenidade e uma inteligência admiráveis. Esperamos que as mulheres portuguesas igualmente saibam cumprir o seu dever de patriotas, começando por nos auxiliarem no trabalho de dar aos soldados que partem para a guerra a maior soma de conforto que seja possível. De todas as mulheres esperamos o concurso: porque umas nos podem enviar donativos, outras o seu trabalho, para o qual fornecemos o material, outras tão somente a sua propaganda. Tudo é útil neste momento. Seja o que for que nos enviem, tudo se torna em benefício para os soldados portugueses que longe da sua terra vão erguer a bandeira da Pátria e fazê-la respeitar pelo inimigo.»[4] A Semeadora, nº 1 (Lisboa, 8 de Fevereiro de 1915)
Em pouco tempo, a comissão recebeu todo o apoio da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas (LRMP) e da Associação de Propaganda Feminista (APF)[5], ambas organizações e movimentos activistas republicanos e feministas das quais as suas fundadoras presidiam e faziam parte.
Em 1916, com a participação oficial das forças militares portuguesas na Primeira Grande Guerra, Elzira Dantas Machado, ao tempo Primeira Dama, viria a remodelar a comissão e fundar a Cruzada das Mulheres Portuguesas[6], um movimento de beneficência que prestava assistência aos soldados mobilizados para integrar o Corpo Expedicionário Português, e outros serviços às suas famílias, no ramo da educação, formação, saúde e apoio doméstico e social.
Referências
- ↑ «Comissão Feminina "Pela Pátria"». Portugal 1914-1918
- ↑ Cova, Anne. «As mulheres foram activistas na guerra, depois voltaram ao lar». PÚBLICO
- ↑ «O Papel das Associações de Solidariedade: As Associações Femininas». Momentos de História
- ↑ Esteves, João (31 de janeiro de 2016). «Silêncios e Memórias: [1326.] COMISSÃO FEMININA "PELA PÁTRIA" [IV] || 08/02/1915». Silêncios e Memórias
- ↑ «Cruzada das Mulheres Portuguesas». Biblioteca Nacional de Portugal
- ↑ Esteves, João (13 de março de 2016). «Silêncios e Memórias: [1399.] CRUZADA DAS MULHERES PORTUGUESAS [XI]». Silêncios e Memórias