Manuel Ernesto da Conceição
Manuel Ernesto da Conceição (Piracicaba, São Paulo, 1850 - antes de 1935) foi um grande fazendeiro e plantador de café brasileiro, agraciado com o título de Conde de Serra Negra pela Santa Sé.[1]
Manuel Ernesto da Conceição | |
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Conhecido(a) por | Grande promotor do café brasileiro na Europa |
Nascimento | Piracicaba, São Paulo |
Morte | São Paulo,capital |
Nacionalidade | brasileiro(a) |
Progenitores | Mãe: Gertrudes Eufrosina da Rocha Pai: Francisco José da Conceição, Barão de Serra Negra |
Cônjuge | Maria Justina de Sousa Resende |
Ocupação | Fazendeiro e plantador de café |
Título | Conde Romano de Serra Negra Chevalier du Mérite Agricole, recebido em 1909 |
Envolveu-se ativamente na propaganda e divulgação do café paulista na Europa, gastando grande fortuna na divulgação deste produto brasileiro, destacando-se o grande estabelecimento de torrefação de café que instalou no centro de Paris, o "Café São Paulo", com diversas filiais nas províncias. Neste sentido convidou em 1900 o pintor Antonio Ferrigno a participar num projeto inédito de criação de obras de arte destinadas a servir de propaganda a um produto comercial brasileiro, encomendando-lhe doze quadros retratando a sua Fazenda Victória e os processos de cultivo e produção do café, para decorarem os seus stands nas exposições internacionais em que participava, de modo a que os visitantes pudessem saber de onde provinha a bebida das xícaras que estavam tomando. Em 1909 foi-lhe concedida pelo governo francês a comenda de Chevalier du Mérite Agricole, em recompensa dos serviços prestados à divulgação do café brasileiro.[2]
Genealogia
editarEra filho de Francisco José da Conceição, Barão de Serra Negra e de Gertrudes Eufrosina da Rocha; neto paterno de Antônio José da Conceição e de Rita Morato de Carvalho e neto materno do capitão Manuel da Rocha Garcia e de Ana Joaquina do Amaral Rocha.[3]
Casou em 1893[4] com Maria Justina de Sousa Resende, filha de Pedro Ribeiro de Sousa Resende, Barão de Valença e de Justina Emerich,[nota 1] deixando descendência.[3]
Em 1997, o advogado botucatuense Armando Moraes Delmanto publicou no número 6 da revista Peabiru o artigo "O legendário Lawrence da Arábia - Um Brasileiro Nascido na Cuesta de Botucatu", no qual defende a hipótese do Conde de Serra Negra ser o pai biológico de T. E. Lawrence, popularizado como Lawrence da Arábia.[5]
Propaganda do café paulista na Europa
editarO Conde de Serra Negra interessou-se ativamente pela propaganda e divulgação do café paulista na Europa, tendo gasto grande fortuna na divulgação deste produto brasileiro, sustentando por dezesseis anos, um grande estabelecimento de torrefação de café no centro de Paris, o "Café São Paulo", com diversas filiais nas províncias.[3] Também na Alemanha abriu cafés para a venda direta da bebida produzida em São Paulo.[6]
Em 1900, ao notar que se iniciava uma crise na cafeicultura devido à superprodução, teve a ideia de fazer uma campanha de propaganda do café brasileiro na Europa, convidando para a sua Fazenda Victória o pintor salernitano Antonio Ferrigno, conhecido como o pintor do café por ter retratado as fazendas dos orgulhosos proprietários que as queriam fixar. Por volta de 1900 encomendou ao pintor um total de doze telas representando o cultivo do café e a vida e costumes do interior paulista, num projeto inédito de criação de obras de arte destinadas a servir de propaganda a um produto comercial brasileiro. As pinturas foram apresentadas na Exposição Universal de 1900 em Paris, e depois em diversas capitais europeias, em exposições para divulgação do café paulista. Tudo isto contribuiu para que, nas exposições do café feitas na Europa, o café do Conde de Serra Negra ganhasse os mais altos prémios.[7][8] Com o retorno dos condes de Serra Negra ao Brasil, voltaram também os quadros de Ferrigno, alguns dos quais permanecem ainda hoje na família.[9]
Em 1902 abriu em Paris uma casa comercial, mais tarde chamada "Café São Paulo", sendo considerado o mais importante de quantos se abriram na Europa para comerciar e difundir o café brasileiro.[10] o Café localizava-se no faubourg de Montmartre, n. 43, dali saindo diariamente milhares de quilos de café para serem distribuídos naquela capital e demais províncias.[2] Decorava esta loja de exportação uma tela de Antonio Ferrigno, encomendada por Manuel Ernesto da Conceição, representando a sua fazenda Bom Jardim, para mostrar aos potenciais clientes de onde provinha o café.[11]
Em abril de 1908 mandou construir na Exposição Internacional de Alimentação e Higiene, realizada nos Jardins das Tulherias, um artístico pavilhão onde foram expostos produtos relacionados ao Brasil, especialmente café e mate, que incluía a distribuição gratuita dessas bebidas, tendo-lhe sido atribuído pelo júri da Exposição uma medalha de ouro.[12]
Em setembro de 1909, a revista ilustrada parisiense La Vie Heureuse, no seu número nove, tratando da Exposição de Nancy, teceu grandes elogios à secção do “café São Paulo”, montado por Manuel Ernesto da Conceição, num artigo ilustrado com os retratos do Conde e Condessa de Serra Nova, assim como a vista dos cafezais da importante propriedade agrícola que possuía em Botucatu.[2]
A Condessa de Serra Negra participava ativamente na luta contra a crise do café. Apesar de ser mãe de nove filhos, foi ela quem levou o café de São Paulo para as grandes exposições do café realizadas nas capitais europeias, em Paris, Londres e Gant, encarregando-se pessoalmente da distribuição aos visitantes milhares de xícaras de café paulista.[8] Em todas estas exposições levava as obras de Ferrigno para decorar o seu estande e ensinar aos visitantes de onde vinha o café que estavam tomando.[9] Mulher culta e inteligente, após voltar da Europa manteve a postura ativa escrevendo regularmente artigos para O Estado de S. Paulo.[8]
Estas campanhas terminariam somente com a Primeira Guerra Mundial, em 1914, quando o café que estava no porto do Havre foi requisitado pelo governo francês, obrigando a família a voltar para o Brasil pouco depois. Os prejuízos dessa campanha foram enormes, abalando a fortuna da família, sem que o conde se tivesse, no entanto, arrependido, pois acreditava que uma propaganda inteligente, levada a cabo no exterior, salvaria o Brasil da crise do café. Nesse sentido, aconselhava a montagem de boas casas de torrefação e estabelecimentos de venda de café em xícaras, e que se ensinasse os estrangeiros a beber o café puro, sem misturas de chicórias e outras farinhas torradas. Nessa época, entre os europeus, era costume aproveitar o pó já usado, o "marco", colocando apenas uma pequena quantidade de café fresco. Para o conde, todos esses subterfúgios resultavam na superprodução, que poderia ser combatida se todos tomassem café puro.[8]
Propriedades e legado póstumo
editarFoi grande produtor de café, possuindo quinze propriedades nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, com dois milhões de pés de café,[3] sendo considerado um dos mais ricos produtores de café paulistas.[13]
Em fins do século XIX[nota 2] adquiriu a fazenda Villa Victória, em Botucatu, hoje conhecida como 'Fazenda do Conde de Serra Negra', com uma extensão de 1 093 alqueires, contendo 60 000 cafeeiros, vinte e quatro alqueires de cana-de-açúcar, dois mil pés de eucalipto, cem casas de colono em tijolo e cobertas de telha, casa da sede, pomar, eletricidade própria, maquinaria de beneficiar café e arroz, engenho de moer cana e outras benfeitorias.[14]
Em 1910 Manuel Ernesto da Conceição produzia na sua fazenda de Villa Victoria 300 000 pés de café.[15] A mesma quantidade de produção na propriedade foi registrada em 1935, ano em que já havia falecido, estando a propriedade na posse da Condessa de Serra Negra e seus filhos.[16] Após a morte do Conde de Serra Negra, metade da Fazenda ficou para a viúva e, a outra metade foi dividida entre seus sete filhos, que foram vendendo suas partes para várias pessoas ocorrendo um retalhamento da fazenda. A maior parte dela, após passar por diversos proprietários, pertence hoje à Usina São Manuel.[14]
Em 1908 a fazenda produzia 435 000 pés de café. Nessa data a produção total das fazendas na posse da família Conceição no município de Botucatu ascendia aos 1 380 000 pés, em terras que compreendiam as atuais fazendas Lajeado, Edgardia, Belém da Vala e várias outras, menores, na faixa serrana de terra roxa.[2]
Em outubro de 1912 existia naquela fazenda a Banda Villa Victoria, regida pelo professor Andrelino Vieira. Segundo as palavras d'O Botucatuense, em artigo da época, “Essa magnifica banda musical, que se acha competentemente uniformizada, é composta exclusivamente de elementos da importante fazenda Villa Victoria, do sr. Manoel Ernesto da Conceição”.[17]
Por volta do virar do século comprou o Palacete do Barão do Rio Pardo, na alameda Ribeiro da Silva, São Paulo, que mais tarde alugou para que ali fosse instalado um internato de rapazes, o colégio Sílvio Almeida. Este internato funcionou de 1908 a 1913, data em que passou a abrigar o 4º Batalhão de Caçadores.[18]
A avenida Conde de Serra Negra, em Botucatu, é assim nomeada em sua homenagem.[19] Por volta de 1940 existiam também em Botucatu o clube de futebol Serra Negra F. C.[20] e o Grupo Escolar Conde de Serra Negra.[21]
Obra publicada
editar- Valorisation du café du Brésil, Imp. F. Payen et N. Chatelain, 1907, 13 páginas
- Producção, commercio e defesa do café, Imp. P. Jouet, 1907, 12 páginas
Notas
- ↑ A sua genealogia e árvore de costados é descrita na Revista Genealógica Brasileira, nº5, p. 201.
- ↑ No Relatório Agicola é apontada a data de 1929, o que só pode ser gralha, pois esta propriedade está documentada na sua posse em data anterior a 1900, quando encomendou a série de doze quadros retratando a propriedade a Antonio Ferrigno.
Referências
- ↑ Carlos Eduardo de Almeida Barata. «Subsídios para um Catálogo dos Títulos de Nobreza concedidos pela Santa Sé aos Brasileiros». Colégio Brasileiro de Genealogia - Arquivos Genealógicos. Consultado em 21 de junho de 2010. Arquivado do original em 11 de Outubro de 2010
- ↑ a b c d Figueiredo Pupo 2001a, p. 284
- ↑ a b c d «A Província - Estudos Piracicabanos - Conceição e Rezende - Os Barões». www.aprovincia.com. Consultado em 21 de junho de 2010[ligação inativa]
- ↑ Instituto Genealógico Brasileiro (1946), Anuário genealógico brasileiro, p. 278
- ↑ «Armando Moraes Delmanto». www.armandomoraesdelmanto.com.br. Consultado em 22 de junho de 2010
- ↑ Anais da Câmara dos Deputados, Congresso Nacional. Câmara dos Deputados., 1958
- ↑ «Ferrigno, Antônio (1863 - 1940)». Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais. Consultado em 21 de junho de 2010
- ↑ a b c d Tarasantchi 2005, p. 25
- ↑ a b Tarasantchi 2005, p. 26
- ↑ Figueiredo Pupo 2001a, p. 166
- ↑ Araújo, Emanoel (2000), O café: exposição realizada na Praça do Banco Real, São Paulo, 28 de agosto a 20 de outubro de 2000, São Paulo: Banco Real
- ↑ Relatório Apresentado ao Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil pelo Ministro de Estado da Indústria, Viação e Obras Públicas, Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1909, p. 194
- ↑ «.:: INSIEME - Aberta a exposição do pintor Antonio Ferrigno na Pinacoteca de São Paulo». www.insieme.com.br. Consultado em 21 de junho de 2010[ligação inativa]
- ↑ a b Associação Brasileira de Reforma Agrária (1977), Reforma Agrária, p. 11
- ↑ Figueiredo Pupo 2001a, p. 291
- ↑ Figueiredo Pupo 2001b, p. 236
- ↑ Figueiredo Pupo 2001a, p. 359
- ↑ «São Paulo Abandonada & Antiga » Arquivo » Palacete do Barão do Rio Pardo». saopauloabandonada.com.br. Consultado em 21 de junho de 2010
- ↑ «Guia de rua: Av Conde De Serra Negra, S/N , Botucatu, SP - Apontador.com». www.apontador.com.br. Consultado em 21 de junho de 2010
- ↑ Figueiredo Pupo 2001b, p. 316
- ↑ Figueiredo Pupo 2001b, p. 341
Bibliografia
editar- Figueiredo Pupo, Trajano Carlos de (2001a), Botucatu Antigamente 1 (das Origens até 1917), ISBN 85-7464-010-7, Itu (SP): Ottoni[ligação inativa]
- Figueiredo Pupo, Trajano Carlos de (2001b), Botucatu Antigamente 2 (de 1918 a 1948), ISBN 85-7464-010-7, Itu (SP): Ottoni[ligação inativa]
- Tarasantchi, Ruth Sprung (2005), Antonio Ferrigno: 100 anos depois, Pinacoteca
Bibliografia adicional
editar- "Centenário do nascimento do Conde de Serra Negra", Diário de São Paulo, 29 de outubro de 1950.
- "Condessa de Serra Negra", O Estado de S. Paulo, 11 de abril de 1956.
Ligações externas
editar- «A Província - Gente Nossa - Manoel Conceição». www.aprovincia.com. Consultado em 22 de junho de 2010[ligação inativa]
- «Fazenda Conde de Serra Negra». www.botucatu.sp.gov.br. Consultado em 21 de junho de 2010. Arquivado do original em 17 de fevereiro de 2009
- Fotos da Fazenda do Conde de Serra Negra