Conde (Roma Antiga)
Comes,[1][2] plural comites,[3] por vezes traduzido para conde[4][5] (em latim: comes; em grego: κόμης; romaniz.: kómes; lit. "companheiro"; plural: comites) foi um termo de origem latina empregado para designar o conselheiro pessoal ou retentor de um imperador ou rei bárbaro. Durante o reinado de Constantino (r. 306–337), mais precisamente a partir de 312, o termo adquiriu um sentido técnico, sendo inicialmente referido como "conde dos nossos domínios" (comes domini nostri) ou "conde dos domínios do Augusto" (comes Augustorum nostrorum).[6]
Roma Antiga | |
---|---|
Este artigo é parte da série: Política e governo da Roma Antiga | |
Períodos | |
Reino de Roma 753 a.C. – 509 a.C. República Romana | |
Constituição romana | |
Constituição do Reino Constituição da República | |
Assembleias | |
Senado | |
Magistrado romano Cursus honorum | |
Magistrados Ordinários
Magistrados extraordinários | |
Funcionários impériais | |
Títulos e Honras | |
Imperator
Honras | |
Precedente e Lei | |
Direito romano * Conflito das Ordens | |
Prefeituras | |
Modificar |
O termo foi empregado para oficiais de diferentes posições (ordines). Como um título honorífico, foi outorgado para alguns dos mais altos funcionários do Estado, tais como o mestre dos ofícios (magister officiorum) e questor, e com o tempo tornou-se parte das denominações burocráticas, nas formas de conde das sagradas liberalidades (comes sacrarum largitionum) ou conde da fortuna privada (comes rerum privatarum). Estes, por se tratarem do alto-escalão dos oficiais, eram genericamente designados condes consistorianos (comites consistoriani), havendo, como contraste, alguns condes que não foram membros do consistório.[7]
Havia também os condes designados para administrarem as províncias imperiais, como o conde da África (comes Africae) ou o conde do Egito (comes Aegypti), enquanto outros desempenhavam funções fiscais ou econômicas ou atuavam como guardiões ou superintendentes. Mais adiante, durante o Império Bizantino, o título de conde continuou a existir em sua forma grega (komes) e foi empregado para designar oficiais incumbidos com várias funções, como o conde das águas (komes hydaton), o conde da tenda (komes tes kortes), etc. O termo conde também foi empregado neste momento para oficiais subalternos das unidades do exército e da marinha.[7]
Oficiais administrativos no Império Romano Tardio
editarEntre os oficiais administrativos, havia:
- Conde à disposição (Comes dispositione);
- Conde dos domésticos (Comes domesticorum);
- Conde dos tesouros privados (Comes privatae largitionis);
- Conde da fortuna privada (Comes rerum privatarum);
- Conde das sagradas liberalidades (comes sacrarum largitionum), que tinha sob sua autoridade:
- Conde do ouro (comes auri)
- Conde das vestes sagradas (Comes sacrae vestis)
- três condes dos tesouros (Comites largitionum) pela Itália, África e Ilírico
- um conde do comércio (comes commerciorum) para o Ilírico
- Conde do Oriente (Comes Orientis)
Condes militares ao tempo da Notitia Dignitatum
editarEntre os oficiais militares, na época de Notitia Dignitatum havia no Império Romano do Ocidente:[8]
- um conde da Itália (Comes Italiae) a cargo do exército da Itália (Numerus intra Italiam);
- um Conde da Ilíria (Comes Illyrici), a cargo do exército da Ilíria (Numerus intra Illyricum);
- um Conde da Hispânia (Comes Hispaniae), a cargo do exército da Hispânia (Numerus intra Hispanias);[9]
- um Conde de Argentorato (Comes Argentoratensis) sob o mestre da cavalaria da Gália (Magister equitum per Gallias);
- um Conde da Tingitana (Comes Tingitaniae) a cargo do exército da Tingitana (Numerus intra Tingitaniam);
- um conde da África (comes Africae) no exército da África (Numerus intra Africam);
- um Conde da Britânia (Comes Britanniarum) e um conde do litoral saxão da Britânia (Comes litoris Saxonici per Britannias) no Exército romano da Britânia (Numerus intra Britannias).
Já no Império Romano do Oriente havia os seguintes oficiais:[8]
- um Conde do limite do Egito (Comes limitis Aegypti) dependente do mestre dos soldados na presença I (Magister militum praesentalis I);[10]
- e um Conde da Isáuria (Comes per Isauriam) dependente do mestre dos soldados na presença II ( Magister militum praesentalis II).[10]
Derivações etimológicas do termo latino comes
editarLíngua | Título masculino | Título feminino / Esposa | Território |
---|---|---|---|
Catalão | Comte | Comtessa | Comtat |
English | Count (aplica-se ao título outorgado por outras monarquias que não a britânica, onde aplica-se o termo Earl) | Countess (mesmo onde aplica-se Earl) | Earldom para um Earl; Countship ou county (condado) para um conde, mas Condado é também, em países falantes de inglês, um distrito administrativo |
Espanhol | Conde | Condesa | Condado |
Francês | Comte | Comtesse | Comté |
Grego | Κόμης (Kómēs) | Κόμησσα (Kómēssa) | Κομητεία (Komēteía); nas Ilhas Jônicas os respectivos termos Italiano Kóntes, Kontéssa eram usados |
Inglês | Count (aplica-se ao título outorgado por outras monarquias que não a britânica, onde aplica-se o termo Earl) | Countess (mesmo onde aplica-se Earl) | Earldom para um Earl; Countship ou county (condado) para um conde, mas Condado é também, em países falantes de inglês, um distrito administrativo |
Italiano | Conte | Contessa | Contea, Contado, Comitato |
Latim (vulgar, não clássico) |
Comes | Comitissa | Comitatus |
Português | Conde | Condessa | Condado |
Romanche | Cont | Contessa | |
Romeno | Conte | Contesă | Comitat |
Referências
- ↑ Ana Teresa Marques Gonçalves, As Festas Imperiais Na Roma Antiga: Os Decennalia e os Jogos Seculares de Septímio Severo Arquivado em 3 de setembro de 2014, no Wayback Machine.. Mneme - Revista de Humanidades. Centro de Ensino Superior do Seridó, Departamento de História e Geografia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, v. 3, nº 6, out./nov. de 2002. ISSN ‐1518‐3394; disponível em www.cerescaico.ufrn.br/mneme.
- ↑ Helton Augusto Piotrowski, Roma Victor! Um Estudo sobre o Exército Romano Republicano e Imperial. Congresso Internacional de História, Maringá, Paraná, Brasil. 9-11 de setembro de 2009. ISSN 2175-4446, DOI: 10.4025/4cih.pphuem.035
- ↑ Rosalina Corrêa de Araújo (2004). O estado e o poder judiciário no Brasil. [S.l.]: Lumen Juris. p. 32
- ↑ Filho 1999, p. 63.
- ↑ Monteiro, p. 89.
- ↑ Kazhdan 1991, p. 484-485.
- ↑ a b Kazhdan 1991, p. 485.
- ↑ a b «Notitia Dignitatum - Comes» (em inglês). Consultado em 11 de agosto de 2014
- ↑ González 2001, p. 530.
- ↑ a b Notitia Dignitatum, Oriente I.
Bibliografia
editar- Filho, Ives Gandra da Silva Martins (1999). 500 anos de história do Brasil: resumo esquemático. [S.l.]: LTr
- González, Rodríguez (2001). Historia de las legiones Romanas. [S.l.]: Signifer Libros
- Kazhdan, Alexander Petrovich (1991). The Oxford Dictionary of Byzantium. Nova Iorque e Oxford: Oxford University Press. ISBN 0-19-504652-8
- Monteiro, João Gouveia (2009). Vegécio. Compêndio da Arte Militar. [S.l.]: Imprensa da Univ. de Coimbra. ISBN 9898074876