Cris Miró

uma atriz, bailarina e vedete argentina

Cris Miró (Belgrano, 16 de setembro de 1965 - Flores, 1º de junho de 1999) foi uma atriz, bailarina, vedete e personalidade midiática argentina que teve uma breve porém influente carreira como vedete de primeiro nível na cena do teatro de revista de Buenos Aires de meados ao final da década de 1990. Miró começou sua carreira como atriz no princípio da década de 1990 em diversas obras de teatro marginal e rapidamente conquistou a fama de vedete no Teatro Maipo em 1995.[1]

Cris Miró
Cris Miró
Nascimento 10 de setembro de 1965
Morte 1 de junho de 1999 (33 anos)
Ocupação
Atividade 1991-1999

Durante anos ocultou da imprensa sua condição de soropositiva com HIV até sua morte em 1º de junho de 1999, devido a um linfoma relacionado com a Aids.[2]

Como a primeira celebridade travesti na Argentina,[3] causou sensação nos meios de comunicação[1][4] e abriu caminho para a visibilidade da comunidade transgênero na sociedade local.[5] No entanto, sua figura foi inicialmente questionada por alguns membros do crescente movimento de ativismo travesti, que se ressentia do trato desigual que recebia em comparação à maioria das pessoas trans.[2] Hoje em dia, é considerada um símbolo da década de 1990 na Argentina.[6][7]

Biografia

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Infância e juventude

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Cris Miró nasceu em 16 de setembro de 1965, no bairro de Belgrano, localizado na cidade de Buenos Aires, Argentina.[8][9] Seus pais eram Esteban Virgues e Hilda de Virgues, e tinha um irmão mais velho chamado Esteban.[10] Desde pequena, Miró apresentava traços de feminilidade. [11]

Carreira no teatro

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No final da década de 1980, Miró conheceu a diretora de teatro, Jorgelina Belardo, do Bunker, um popular clube gay em Buenos Aires. Ela pediu que Miró se juntasse ao grupo de produção teatral que Belardo tinha com Juanito Belmonte.[12] Belardo virou amiga íntima e diretora artística de Miró, enquanto Belmonte trabalhava como seu assessor de imprensa.[12] Trabalhando com eles, Miró fez seu debut no teatro alternativo com as obras Fragmentos del infierno — baseada no texto de Antonin Artaud [13] — e Orgasmo apocalíptico, que se centrava em temas de sexualidade de maneira mais explícita.[12][14] Antes de sua carreira como vedete, Miró apareceu nos filmes Dios los cría (1991) de Fernando Ayala e La peste (1992) de Luis Puenzo, baseado no livro de mesmo nome de Albert Camus.[15]

Em 1994, Miró participou de uma audição no Teatro Maipo, um dos lugares mais importantes da cena do teatro de revista de Buenos Aires, que era um gênero muito popular nessa época.[16] Se apresentou apenas uma vez, realizando um strip-tease com uma música da Madonna.[16] O produtor Lino Patalano imediatamente a elegeu como vedete para seu espectáculo Viva la revista en el Maipo, que estreou em 1995 e rapidamente converteu Miró em uma celebridade.[16][17] Miró apareceu no famoso programa de televisão de Mirtha Legrand, no qual os convidados almoçam com ela e são entrevistados.[18] Essa transmissão é agora mal vista pelas perguntas incômodas que Legrand fez a Miró, como seu nome morto ou se "a incomoda que as pessoas saibam que na verdade é um homem".[18] Perguntas como estas eram comuns para os convidados transgênero na televisão, mas são avaliadas negativamente em retrospectiva.[19]

Em 20 de maio de 1999, Miró foi hospitalizada na clínica Santa Isabel no bairro Flores em Buenos Aires, onde faleceu no dia 1 de junho do mesmo ano.[20][21][22] Depois de sua morte, o assistente pessoal de Miró, Jorge García, e sua amiga, Sandra Sily, informaram que ela morreu devido a uma infecção pulmonar.[23] Mais tarde no mesmo dia, o assessor de Miró, Juanito Belmonte, confirmou que a causa de sua morte foi cancer linfático.[21][23][21]

Impacto e legado

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Após ganhar popularidade como vedete, Miró se converteu em uma sensação mediática nacional pela transgressão de gênero de sua imagem, e é considerada um símbolo da era pós-moderna na Argentina.[24][25][26][27][28] Como a primeira travesti argentina a se converter em uma celebridade nacional, tem sido considerada o primeiro "ícone trans do país".[27][29][30] A presença de Miró significou uma mudança no mundo do espetáculo argentino da época e popularizou os atos travestis e cross-dressing na cena teatral de revista de Buenos Aires.[31] Como tal, ela é considera um símbolo da sociedade argentina dos anos 1990 e um ícone da década.[28][27][29][32] Abriu o caminho para que outras travestis e mulheres trans argentinas ganhassem popularidade como vedetes, sobretudo Flor do V, quem a descreveu em 2021 como a "primeira pessoa trans que o público reconheceu como artista" e uma "estrela fugaz que durou pouco tempo na terra [mas] seguirá iluminando o caminho para sempre".[30][25][33]

Referências

  1. a b Jiménez, Paula (20 de julho de 2012). «La vida sin Cris». Consultado em 7 de março de 2022 
  2. a b «Cuando la diferencia sale a escena». Consultado em 7 de março de 2022 
  3. «Vida, muerte y leyenda de Cris Miró: marcó un camino y triunfó como vedette en la Argentina». Consultado em 7 de março de 2022 
  4. «De la vida marginal al glamour de los teatros». Consultado em 7 de março de 2022 
  5. «"Cris Miró les abrió las puertas a todas las que siguieron"». Consultado em 7 de março de 2022 
  6. «Mirando a Miró». Consultado em 7 de março de 2022 
  7. «Cris Miró - Íconos Argentinos». Consultado em 7 de março de 2022 
  8. «Cris Miró | Argentina.gob.ar». argentina.gob.ar. 6 de junho de 2021. Consultado em 23 de julho de 2024. Cópia arquivada em 6 de junho de 2021 
  9. Lamazares, Silvina (1 de julho de 2024). «La serie sobre Cris Miró, con la española Mina Serrano: crudo y emotivo retrato sobre ser trans en los '90 y derribar prejuicios». Clarín (em espanhol). Consultado em 23 de julho de 2024 
  10. «Murió Cris Miró, una figura de la revista». Clarín (periódico). 2 de junho de 1999. Consultado em 23 de julho de 2024. Cópia arquivada em 18 de julho de 2010 
  11. Torchia, Franco (5 de junho de 2019). «Todo sobre mi hermana | A veinte años de la muerte de Cris Miro, un reportaje exclusivo con su hermano, Esteban Virguez.». PAGINA12 (em espanhol). Consultado em 23 de julho de 2024 
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  16. a b c Cruz, Alejandro (27 de dezembro de 2016). «Cris Miró, o el retrato de una "Cenicienta trans"». La Nación. Consultado em 6 de junho de 2021 
  17. Firpo, Hernán (23 de janeiro de 2017). «'Cris Miró fue un prólogo para la ley de Identidad de Género'». Clarín. Consultado em 7 de março de 2022 
  18. a b Torchia, Franco (5 de junho de 2019). «Todo sobre mi hermana | A veinte años de la muerte de Cris Miro, un reportaje exclusivo con su hermano, Esteban Virguez.». PAGINA12 (em espanhol). Consultado em 23 de julho de 2024 
  19. Hadad, Camila (31 de enero de 2017). «"Si Mirtha Legrand le hiciera hoy las mismas preguntas a Cris Miró en su programa sería rechazada"». Infobae. Consultado em 7 de junio de 2021  Verifique data em: |acessodata=, |data= (ajuda)
  20. Alarcón, Cristian (2 de junho de 1999). «Cuando la diferencia sale a escena». Página/12. Consultado em 7 de março de 2022 
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  31. «Decime Cris». Clarín. 4 de junho de 1999. Consultado em 8 de junho de 2021 
  32. Soto, Facu (25 de novembro de 2016). «Mirando a Miró | mi mundo». PAGINA12 (em espanhol). Consultado em 23 de julho de 2024 
  33. Flor de la V (5 de junio de 2020). «Cris Miró, por siempre fabulosa». Página/12. Consultado em 6 de junio de 2021  Verifique data em: |acessodata=, |data= (ajuda)