Crise na Coreia do Norte em 2017–2018
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A Crise nas Coreias em 2017–2018 é uma crise diplomática iniciada no supracitado ano, quando a República Popular Democrática da Coreia (Coreia do Norte) realizou uma série de testes de mísseis e testes nucleares que demonstraram a capacidade do país de lançar mísseis balísticos além de sua região imediata e que sugeriram que a capacidade de armas nucleares da Coreia do Norte estava se desenvolvendo a um ritmo mais rápido do que foi avaliado pela Comunidade de Inteligência dos Estados Unidos.[3][4][5] Isto, juntamente com um exercício militar regular entre os Estados Unidos e a Coreia do Sul realizado em agosto, bem como as ameaças de retaliação dos EUA, aumentaram as tensões internacionais na região e além.[6]
Crise na Coreia do Norte em 2017–2018 | |||
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Parte do Conflito coreano e das batalhas pós-armistício da Guerra da Coreia | |||
Data | 05 de abril de 2017 - 12 de junho de 2018 | ||
Local | Península da Coreia Mar do Japão (Mar do Leste) Oceano Pacífico Norte | ||
Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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Antecedentes
editarPrograma nuclear norte-coreano
editarEm seu discurso de Ano Novo, em 2 de janeiro de 2017, o líder norte-coreano Kim Jong-un afirmou que o país encontrava-se em "estágio final" de preparação para um teste balístico intercontinental.[7][8]
Em 3 de maio, a Coreia do Norte emitiu uma crítica à sua aliada República Popular da China, afirmando que "devem entender claramente que o acesso da Coreia do Norte às armas nucleares não pode ser alterado ou abatido" e que o país "jamais pagará pela manutenção de uma amizade com a China arriscando seu programa nuclear, que é precioso como sua própria existência, não importando o quão valiosa seja a amizade". No pronunciamento escrito, o governo norte-coreano também se dirigiu à imprensa chinesa - amplamente controlada pelo governo -, acusando-a de ser influenciada pelos Estados Unidos.[9]
No início de agosto de 2017, o jornal estadunidense Washington Post publicou um relatório da Agência de Inteligência da Defesa assegurando que a Coreia do Norte havia desenvolvido mísseis capazes de alcançar o território contíguo dos Estados Unidos.[10][11][12]
Sanções contra a Coreia do Norte
editarDesde a realização do primeiro teste nuclear em 2006, o Conselho de Segurança das Nações Unidas têm aprovado uma série de sanções contra a Coreia do Norte, incluindo restrições à atividade econômica do país.[13][14] Entretanto, o produto interno bruto coreano registrou crescimento de 3,9 por cento em 2016, o equivalente a 28 bilhões de dólares, sendo o maior crescimento em 17 anos. O progresso é atribuído ao comércio constante com a China, responsável por mais de 90% das exportações da Coreia do Norte.[15][16]
Em fevereiro de 2017, após testes com o míssil Pukkuksong-2,[17][18] o governo chinês alegou que suas relações comerciais com a Coreia do Norte e as tensões diplomáticas deste país com os Estados Unidos não estão relacionados.[19][20] Na mesma ocasião, Pequim afirmou seu compromisso com a Resolução 2321 do Conselho de Segurança das Nações Unidas e suspendeu a importação do carvão norte-coreano.[21] Meses mais tarde, o governo chinês voltou atrás da medida e informou que havia ampliado suas relações comerciais com a Coreia do Norte, apesar da sanção sobre o carvão reduzir as importações em mais de 10%.[22][23]
Em 2017, a Coreia do Norte recebeu diversas sanções do Conselho de Segurança, sendo que as mais recentes foram aprovadas em 22 de dezembro. De acordo com esta última resolução, o país não deverá receber suprimento de combustíveis, enquanto imigrantes norte-coreanos deveriam ser deportados em até 24 meses.[24][25] A China se opôs às sanções recentes contra a Coreia do Norte, afirmando que tais medidas seriam prejudiciais aos interesses chineses no país.[26]
Prisão de estadunidenses
editarO estudante estadunidense Otto Warmbier foi libertado pelo governo norte-coreano em junho de 2017, permanecendo em estado de coma durante mais de 18 meses de prisão.[27] Em 19 de junho, dias após sua libertação e retorno ao país natal, Warmbier morreu sem recobrar consciência.[28] Porta-vozes do governo estadunidense alegaram que a morte do estudante seria resultado de maus tratamentos sofridos durante a prisão na Coreia do Norte. Em julho de 2017, o Secretário de Estado Rex Tillerson implementou uma "restrição geográfica" aos cidadãos estadunidenses de ingressarem no território norte-coreano.[29]
Prolongamento da crise
editarExercícios militares estadunidenses
editarApós o ataque à base militar de Shayrat em resposta ao ataque químico de Khan Shaykhun, os Estados Unidos ampliaram suas tensões diplomáticas com a Coreia do Norte, que interpretou os ataques contra Síria como uma provocação ao seu programa nuclear. Após os testes militares norte-coreanos no porto de Sinpo, em 5 de abril, quatro meses após os testes realizados no Mar do Japão, o Presidente Donald Trump declarou estar "preparado para agir sozinho sobre a ameaça nuclear da Coreia do Norte". Em 9 de abril, a Marinha dos Estados Unidos anunciou o envio de um grupo tático liderado pelo USS Carl Vinson ao Pacífico, porém devido à problemas de comunicação interna do governo norte-americano, o exercício naval foi movido para a Península da Coreia.
Em 8 de abril, o governo norte-americano desmentiu as alegações de que sua movimentação militar havia sido afetada por problemas de comunicação interna. Em 17 de abril, o vice-embaixador da Coreia do Norte para as Nações Unidas acusou os Estados Unidos de transformarem a Península da Coreia na "zona mais crítica do mundo", enquanto o governo de seu país afirmou "sua prontidão em declarar guerra contra os Estados Unidos se suas forças fossem atacadas". No dia seguinte, o porta-aviões USS Carl Vinson esteve a 3.500 milhas da costa norte-coreana durante uma medida previamente combinada com a Marinha Real Australiana no Oceano Índico. Em 24 de abril, a Força Marítima de Autodefesa do Japão enviou dois destroyers para um exercício militar conjunto com a Marinha norte-americana próximo às Filipinas; em resposta, a Coreia do Norte ameaçou atacar os navios. O USS Carl Vinson esteve estacionado no Mar do Sul da China em 2015 e novamente ao longo de 2017 para manobras de "patrulha". Em abril de 2017, Trump afirmou que haviam chances "dos Estados Unidos entrarem em um conflito aberto com a Coreia do Norte".
Testes com o Hwasong-14
editarEm 4 de julho, a Coreia do Norte realizou o primeiro teste aberto de seu míssil Hwasong-14, planejado para coincidir com as celebrações da Independência dos Estados Unidos. O teste teve um alcance alegado de 933 km (580 milhas) adentro do Mar do Japão e atingiu altitude de 2.800 km durante um voo de 39 minutos. Especialistas do governo estadunidense classificaram o lançamento como um passo decisivo de Pyongyang na busca por uma arma que alcance a América. A Coreia do Norte, por sua vez, declarou-se como "uma potência nuclear que possui um dos mais poderosos mísseis balísticos intercontinentais capazes de atingir qualquer parte do mundo".
No mesmo dia, o comando das Forças Armadas Americanas da Coreia afirmou que a 8ª Armada dos Estados Unidos e a República da Coreia conduziram "exercícios militares combinados" com finalidade de "conter as ações desestabilizadas e ilegais da Coreia do Norte". Durante o treinamento, foram lançados mísseis Hyunmoo e MGM-140 ATACMS.
Discurso de Trump às Nações Unidas
editarEm 19 de setembro, Donald Trump, realizou seu primeiro discurso à Assembleia Geral das Nações Unidas, declarando que "se forem forçados a se defender ou a defender seus aliados, não teremos outra escolha a não ser destruir totalmente a Coreia do Norte. O homem do foguete está em missão suicida contra si mesmo e seu regime. Os Estados Unidos estão preparados, dispostos e capazes, mas esperançosos de que isso não seja necessário."[30][31] Ainda, sem mencionar de maneira específica, Trump criticou a China por manter relações diplomáticas com a Coreia do Norte, chamando de "abuso que algumas outras nações não somente comercializem com tal regime, como também iriam armá-lo, supri-lo e apoiar financeiramente um país que arrisca o mundo em um conflito nuclear".[32][30]
No dia seguinte ao discurso, Trump assinou uma ordem executiva que intensificou as sanções contra a Coreia do Norte: o Departamento do Tesouro foi autorizado a investigar empresas e instituições financeiras com investimentos no país asiático, por exemplo.[33][34] Sobre a ordem executiva, o Secretário do Tesouro Steven Mnuchin disse que "instituições financeiras estrangeiras estão agora alertadas de que podem escolher negociar com os Estados Unidos ou a Coreia do Norte, mas não com ambos."[35][36]
Em 21 de setembro, respondendo diretamente ao discurso pela primeira vez, o líder norte-coreano Kim Jong-un classificou Donald Trump como "um perturbado mental americano" e conclamou "o mais alto nível de contra-medidas na história".[37][38] Seu ministro do exterior, Ri Yong-ho, referiu-se a Trump como "um cachorro latindo"[39] e destacou que a Coreia do Norte poderia estar considerando o maior teste com bombas de hidrogênio já realizado no Oceano Pacífico,[38] que constituiria o primeiro teste nuclear atmosférico desde 1980.[40]
Em 25 de setembro, Ri Yong-Ho acusou de Trump de declarar guerra contra seu país, referindo-se a uma publicação recente do presidente estadunidense que dizia que "a Coreia do Norte não irá muito longe". A Casa Branca respondeu às acusações esclarecendo que o comentário não descrevia uma declaração de guerra.
Em 30 de setembro, o Secretário de Estado Rex Tillerson afirmou, durante uma viagem à China, que os Estados Unidos e a Coreia do Norte estavam em "contato direto". "Nós temos linhas de comunicação com Pyongyang, não estamos em estado de obscuridade". Tillerson acrescentou que os Estados Unidos buscam a possibilidade de negociações diretas. Entretanto, no dia seguinte, Trump publicou diversas mensagens em suas redes sociais que pareciam ir contra as declarações do Departamento de Estado, afirmando que Tillerson estava "perdendo tempo tentando negociar com a Coreia do Norte" e que seu governo faria "o que precisa ser feito".
Ver também
editarReferências
- ↑ «North Korea threatens Australia with nuclear strike over US allegiance». News.com.au. 24 de abril de 2017. Consultado em 25 de setembro de 2017. Cópia arquivada em 15 de setembro de 2017
- ↑ http://www.news.com.au/world/asia/north-korea-threatens-australia-with-nuclear-strike-over-us-allegiance/news-story/fa28ccb9eaaff6c02f5c12bdc19bc227
- ↑ Intelligence Agencies Say North Korean Missile Could Reach U.S. in a Year NYT, 25 de julho de 2017.
- ↑ Warrick, Joby (8 de agosto de 2017). «North Korea now making missile-ready nuclear weapons, U.S. analysts say». The Washington Post. Consultado em 9 de agosto de 2017
- ↑ Three things to know about North Korea's missile tests: With advances in its long-range missile programme, here are three technical milestones and why they matter. Aljazeera, 3 de setembro de 2017.
- ↑ North Korea’s Potential Targets: Guam, South Korea and Japan NYT, 9 de agosto de 2017.
- ↑ «Kim Jong Un's 2017 New Year's Address (KCNA – speech full text)». Korean Central News Agency. 2 de janeiro de 2017. Consultado em 30 de janeiro de 2018
- ↑ «Kim says Pyongyang close to testing ICBM, breaks tradition with New Year's address». Japan Times. 2 de janeiro de 2017
- ↑ «North Korean Media, in Rare Critique of China, Says Nuclear Program Will Continue». The New York Times. 4 de maio de 2017. Consultado em 30 de janeiro de 2018
- ↑ Warrick, Joby (8 de agosto de 2017). «North Korea now making missile-ready nuclear weapons, U.S. analysts say». Washington Post. Consultado em 30 de janeiro de 2018
- ↑ «New missile test shows North Korea capable of hitting all of US mainland». CNN. 28 de novembro de 2017. Consultado em 30 de janeiro de 2018
- ↑ «North Korea says new missile puts all of US in striking range». BBC News. 29 de novembro de 2017. Consultado em 30 de janeiro de 2018
- ↑ «Corée du Nord: le Conseil de sécurité de l'ONU adopte à l'unanimité une 8e série de sanctions». Huffington Post. 11 de setembro de 2017. Consultado em 30 de janeiro de 2018
- ↑ «Corée du Nord : réunion du Conseil de sécurité de l'ONU jeudi». Le Monde. 16 de setembro de 2017. Consultado em 30 de janeiro de 2018
- ↑ «North Korea's Secret Weapon? Economic Growth. Rising living standards will limit the effect of sanctions». Bloomerg. 14 de setembro de 2017. Consultado em 30 de janeiro de 2018
- ↑ «China imposes import bans on North Korean iron, coal and seafood». BBC News. 15 de agosto de 2017. Consultado em 30 de janeiro de 2018
- ↑ «North Korea Fires Ballistic Missile a Day Before U.S.-China Summit». The New York Times. 4 de abril de 2017. Consultado em 30 de janeiro de 2018
- ↑ «North Korea says test of new nuclear-capable Pukguksong-2 missile a success»
- ↑ «China has nothing to gain baning North Korea». Forbes. 13 de agosto de 2017. Consultado em 30 de janeiro de 2018
- ↑ «United Nations Security Council: Resolution 2321 (2016)» (PDF). CSNU. 30 de novembro de 2016
- ↑ «China bans coal imports from North Korea». CNN. 19 de fevereiro de 2017
- ↑ «China Says Its Trade With North Korea Has Increased». The New York Times. 13 de abril de 2017
- ↑ «China July trade with North Korea slows from June as coal ban bite». Reuters. 13 de julho de 2017. Consultado em 30 de janeiro de 2018
- ↑ «UN adopts tough new resolutions on North Korea». CNN. 22 de dezembro de 2017. Consultado em 30 de janeiro de 2018
- ↑ «Conselho de Segurança da ONU impõe novas sanções à Coreia do Norte». 26 de dezembro de 2017. Consultado em 30 de janeiro de 2018
- ↑ «Exclusive: U.S. prepares new sanctions on Chinese firms over North Korea ties - officials». Reuters. 13 de julho de 2017. Consultado em 30 de janeiro de 2018
- ↑ «Coma-stricken student released from North Korea arrives back in US». ABC News. 20 de junho de 2017
- ↑ «Otto Warmbier dies days after release from North Korean detainment». Washington Post. 19 de junho de 2017. Consultado em 30 de janeiro de 2018
- ↑ Torbati, Yeganeh; Lee, Se Young (21 de julho de 2017). «U.S. State Department to clamp ban on travel to North Korea». Reuters. Consultado em 30 de janeiro de 2018
- ↑ a b «Remarks by President Trump to the 72nd Session of the United Nations General Assembly». Casa Branca. 19 de setembro de 2017
- ↑ «Trump Vows Totally Destroy North Korea». The New York Times. 19 de setembro de 2017. Consultado em 5 de fevereiro de 2018
- ↑ «Leia a íntegra do discurso de Donald Trump na ONU». Folha de S. Paulo. 19 de setembro de 2017. Consultado em 30 de janeiro de 2018
- ↑ «Presidential Executive Order on Imposing Additional Sanctions with Respect to North Korea». Casa Branca. 21 de setembro de 2017
- ↑ «North Korea: Trump signs new order to widen sanctions». BBC News. 22 de setembro de 2017. Consultado em 5 de fevereiro de 2018
- ↑ «Remarks by Secretary Mnuchin on President Trump's Executive Order on North Korea». Departamento do Tesouro. 22 de setembro de 2017
- ↑ «Treasury puts foreign institutions 'on notice' over business with North Korea». The Washington Examiner. 21 de setembro de 2017
- ↑ «Líder da Coreia do Norte diz que Trump é 'um perturbado mental'». tvi24. 22 de setembro de 2017. Consultado em 5 de fevereiro de 2018
- ↑ a b «Kim's Rejoinder to Trump's Rocket Man: 'Mentally Deranged U.S. Dotard'». The New York Times. 21 de setembro de 2017. Consultado em 5 de fevereiro de 2018
- ↑ «North Korea says Trump speech is 'a barking dog'». BBC News. 21 de setembro de 2017. Consultado em 5 de fevereiro de 2018
- ↑ Panda, Ankit (22 de setembro de 2017). «Decoding Kim's speech and Pacific threat». BBC News