Cruzeiro Seixas
Cruzeiro Seixas, de nome completo Artur Manuel Rodrigues do Cruzeiro Seixas GOSE (Amadora, 3 de dezembro de 1920 – Lisboa, 8 de novembro de 2020), foi um "homem que pinta" (a designação de pintor aborrecia-o)[1] e poeta português.
Cruzeiro Seixas | |
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Nome completo | Artur Manuel Rodrigues do Cruzeiro Seixas |
Nascimento | 3 de dezembro de 1920 Amadora |
Morte | 8 de novembro de 2020 (99 anos) |
Nacionalidade | portuguesa |
Área | Pintura, poesia |
Biografia / Obra
editarFrequentou a Escola António Arroio, onde fez amizade com Mário Cesariny, Marcelino Vespeira, Júlio Pomar e Fernando Azevedo.[5]
Em meados da década de 1940 aproxima-se do neorrealismo, de que se afasta quando adere aos princípios do surrealismo. Juntamente com Mário Cesariny, António Maria Lisboa, Carlos Calvet, Pedro Oom e Mário-Henrique Leiria, entre outros, integra o grupo Grupo Surrealista de Lisboa, resultante da cisão do recém formado movimento surrealista português. Participa na exposição desse grupo em 1949 (1ª exposição dos Surrealistas, Lisboa).[5]
Em 1950 alista-se na Marinha Mercante e viaja até África, Índia e Ásia. Em 1951 fixa-se em Angola, desenvolvendo atividade no Museu de Luanda. Data desse tempo o início da sua produção poética.[6] Realiza as primeiras exposições individuais, que levantam um acalorado movimento de opinião (a primeira de desenhos sobre a evocação de Aimé Cesaire, em 1953; a segunda principalmente de «objectos» e «colagens», 1957).[7]
Regressa a Portugal em 1964. Em 1966 é convidado por Natália Correia a ilustrar a célebre obra Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica.[8]
Recebe uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian em 1967. Nesse mesmo ano realiza uma pequena retrospetiva na Galeria Buchholz (com folha volante de Pedro Oom e prefácio de Rui Mário Gonçalves) e expõe na Galeria Divulgação, Porto. Em 1970 expõe individualmente na Galeria de S. Mamede, Lisboa, um conjunto de desenhos "de uma imagética cruel, ilustrações possíveis de Lautréamont".[9] [5]
Trabalha como programador nas Galerias 111 e São Mamede, Lisboa. Viaja pela Europa; entra em contacto com membros do surrealismo internacional. Radica-se no Algarve na década de 1980, trabalhando como programador de diversas galerias. Colabora em revistas internacionais ligadas ao surrealismo, a que sempre se manteve fiel.[5] Apesar de ter vendido muitas obras antes do 25 de Abril, Cruzeiro Seixas foi literalmente espoliado por um dos seus secretários, que se apoderou de grande parte dos seus quadros e do produto das vendas. O pintor relata que o outro lhe dizia: “Ó Cruzeiro Seixas, hoje foi um dia formidável, consegui fazer tanto dinheiro que comprei uma casa para mim no Algarve e comprei um carro em segunda mão para si.”[10]
O traço certeiro de Cruzeiro Seixas, "de limites apurados e atmosferas de vertigem […] edifica um mundo desolador em que a face onírica e literária não esconde a violência do conjunto, destruindo toda a possibilidade de quietude". Mas essa noite primordial e inquietante "soube coexistir com paisagens mais ligeiras e felizes, como algumas das pintadas nos anos de Angola, e com citações plásticas da história da arte, num jogo de grande prazer plástico, bem como com objetos dotados de flagrante poética, na sua simplicidade de materiais, de técnicas e no sobressalto imaginativo".[5]
A 8 de junho de 2009, foi agraciado com o grau de Grande-Oficial da Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, do Mérito Científico, Literário e Artístico.[11]
Em 2012, mudou-se de Lisboa para Vila Nova de Famalicão, para estar perto do seu espólio, guardado no Centro de Estudos do Surrealismo da Fundação Cupertino de Miranda,[12] Fundação essa que o apoiou financeiramente até ao final dos seus dias. No entanto, devido ao isolamento em que se sentia, decidiu regressar a Lisboa, onde viveu os últimos tempos da sua vida na Casa do Artista.[13] Na velhice, sofreu de degenerescência macular, o que o impedia de ler e de trabalhar.
Morreu a 8 de novembro de 2020 no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.[14]
Referências
- ↑ Vladimiro Nunes (entrevistador) (15 de novembro de 2008). «A minha vida foi uma experiência muito bonita». Semanário Sol. Revista Tabu: 40 a 46
- ↑ Horta, Bruno (15 de Outubro de 2016). «Cruzeiro Seixas: "Eu preferia quando não tinha direitos e estava fora da sociedade"». Observador. Consultado em 12 de novembro de 2020
- ↑ Cuzeiro Seixas, Cruzeiro Seixas entrevista (Fevereiro de 2017). «A beleza das pequenas coisas». Expresso.pt. Consultado em 27 de janeiro de 2021
- ↑ http://www.casaldasletras.com/Textos/CRUZEIRO%20SEIXAS.pdf
- ↑ a b c d e Ferreira, Emília – "Cruzeiro Seixas". A.A:V.V. – Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão: Roteiro da coleção. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004, p. 86, 87. ISBN 972-635-155-3
- ↑ A.A:V.V. – Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão: Roteiro da coleção. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004, p. 86. ISBN 972-635-155-3
- ↑ Galeria de S. Mamede. «Cruzeiro Seixas». Consultado em 21 de maio de 2013
- ↑ Santos, Nuno Costa (28 de Dezembro de 2016). «Há 50 anos, a indecência de Natália Correia libertou-nos». Observador
- ↑ França, José Augusto – A arte em Portugal no século XX. Lisboa: Livraria Bertrand, 1991, p. 397.
- ↑ Bruno Horta (23 de outubro de 2016). «Cruzeiro Seixas. "Pergunto-me todos os dias se ainda vale a pena viver"». observador.pt. Consultado em 14 de fevereiro de 2024
- ↑ «Entidades Nacionais Agraciadas com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Artur Manuel Rodrigues do Cruzeiro Seixas". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 10 de novembro de 2020
- ↑ Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão (29 de junho de 2015). «O "famalicense" Cruzeiro Seixas recebe Medalha de Honra do Município». Consultado em 14 de fevereiro de 2024
- ↑ https://observador.pt/2020/11/09/obras-de-cruzeiro-seixas-vao-estar-expostas-em-nova-iorque-paris-e-londres/
- ↑ «Faleceu Artur do Cruzeiro Seixas». Jornal Expresso. Consultado em 9 de novembro de 2020