Danos ao patrimônio resultantes dos ataques de 8 de janeiro em Brasília
Danos ao patrimônio resultantes das ataques de 8 de janeiro em Brasília foram verificados nas sedes do Supremo Tribunal Federal, do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto, e foram generalizados. Uma série de espaços importantes dos três prédios invadidos foi extensamente depredada e saqueada, incluindo o Salão Nobre e o Plenário do STF, os salões Verde, Azul e Negro do Congresso, e o saguão, o Salão Nobre e o gabinete da Primeira Dama no Planalto. Muitas outras áreas, como corredores, salas e gabinetes, também foram vandalizadas, danificando grande quantidade de móveis, equipamentos e objetos diversos. Vários espaços foram completamente destruídos.[1][2][3][4][5] De acordo com um funcionário, os invasores destruíram hidrantes, numa tentativa de impedir o combate aos focos de incêndio que existiam em diversos pontos da invasão.[6]
Na invasão, muitas obras de arte e objetos históricos foram danificados ou destruídos, incluindo todo o acervo do Salão Nobre do STF,[7] um vaso da dinastia Shang, datado de cerca de 1500 antes de Cristo, A Bailarina, de Victor Brecheret, um raríssimo relógio feito por Balthazar Martinot no século XVIII,[8] a grande pintura As Mulatas, de Di Cavalcanti, e o vitral Araguaia, de Marianne Peretti no Congresso.[9][10] No Palácio do Planalto, praticamente todas as mais de cem obras de arte do acervo foram danificadas.[5] O curador dos palácios presidenciais, Rogério Carvalho, assinalou que o valor histórico do acervo destruído é incalculável, mas considerou que a maioria das peças poderá ser recuperada.[11]
Lista parcial de danos
editarDentre as obras e objetos furtados ou danificados, constam:
- Acervos e coleções
- Acervo do Salão Nobre do STF, com muitas peças do século XIX e início do século XX, incluindo mobiliário entalhado e dourado, lustres, espelhos de cristal com moldura de jacarandá entalhada, vasos de porcelana decorada e estatuetas de bronze;[12][7]
- Coleção artística do Palácio do Planalto.[5]
- Galeria de fotos dos presidentes da República, no Palácio do Planalto;[13]
- Cinco pinturas dos ex-presidentes, de Urbano Villela, no Museu do Senado;[14]
- Presentes de autoridades estrangeiras e celebridades foram saqueados.
- Danos estruturais
- Nas vidraças das edificações da Praça dos Três Poderes, estas tombadas no ano de 2007 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).[6]
- Nos gabinetes do Partido dos Trabalhadores (PT) e do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB);[15]
- Mobiliário e tapeçaria
- Cadeira da presidente do STF Rosa Weber, concebida pelo designer Jorge Zalszupin;[6]
- Mesa-vitrine do designer Sérgio Rodrigues;
- Mesa de trabalho que pertenceu ao ex-presidente Juscelino Kubitschek;[11]
- Mesa de centro, mesa de trabalho e cadeira vindas do Palácio Monroe;[14]
- Mesas, portas e cadeiras diversas, incluindo porta do armário de togas do STF;[16]
- Tapeçaria de autoria do paisagista e arquiteto Roberto Burle Marx, exposta no Salão Negro do Congresso Nacional;
- Tapete que pertenceu à Princesa Isabel;[17]
- Tapete persa decoração do dispositivo de receptivo dos chefes de estado[14]
- Tapetes e carpetes diversos inundados pelo sistema contra incêndios[18]
- Objetos
- Armas, munições e documentos do Gabinete de Segurança Institucional, que estavam no Palácio do Planalto;[19][20]
- Diversos aparelhos eletrônicos, como televisões, impressoras, Iphones e Macbooks;[21][16]
- Lente fotográfica da Imprensa Nacional avaliada em R$ 40 mil;[21]
- Brasão da República que estava localizado no plenário do STF;[16]
- Crucifixo do Supremo Tribunal Federal;[6]
- Equipamentos eletrônicos, incluindo televisões, computadores e impressoras;[16]
- Réplica do exemplar original da Constituição Federal de 1988;[22]
- Bola de futebol autografada por Neymar, presente da Delegação de Jogadores do Santos Futebol Clube;[23]
- Pérola e concha dourada, presente do ministro das Relações Exteriores e vice-primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman Al-Thani;[23]
- Objeto decorativo em forma de ovo de avestruz, presente do deputado Ahmed Ibrahim El-Tahir, presidente da Assembleia Nacional do Sudão;[23]
- Dois vasos de porcelana; um deles foi um presente do deputado Lászlo Kövér, presidente da Assembleia Nacional da Hungria, o outro vaso foi um presente do parlamentar Wang Zhaoguo, vice-presidente do Comitê Permanente da Assembleia Nacional Popular da China;[23]
- Tinteiro de bronze da época do império.[14]
- Obras de arte individuais
- A Justiça, escultura de autoria de Alfredo Ceschiatti, criada em 1961;[6]
- Anjo, outra escultura de autoria de Alfredo Ceschiatti;
- Araguaia, um vitral de Marianne Peretti produzido em 1977, que fica no salão verde da Câmara dos Deputados;[6]
- As Mulatas, painel pintado em 1962 por Di Cavalcanti;[6]
- Ato de assinatura do Projeto da 1ª Constituição, de Gustavo Hastoy[14]
- Bailarina, escultura de Victor Brecheret;[24]
- Bandeira do Brasil, pintura acrílica sobre MDF do artista Jorge Eduardo, de 1995[25]
- Busto de Rui Barbosa, responsável pela criação do STF no modelo atual, em 1890[17]
- Evolução, escultura de Haroldo Barroso
- Galhos e Sombras, obra de Frans Krajcberg estimada em R$ 300 mil;[11]
- Maria, Maria, escultura de Sônia Ebling
- Ntma, obra de 2003;
- O Flautista, de Bruno Giorgi, escultura em bronze encontrada completamente destruída. Está avaliada em R$ 250 mil;[11]
- Painel Vermelho, de Athos Bulcão;
- Painel de Athos Bulcão, outro painel do mesmo autor, este presente na Câmara dos Deputados
- Pássaro, escultura de Marianne Peretti
- Quadro de Guido Mondin[14]
- Relógio de mesa dado a Dom João VI, um relógio de mesa em bronze dourado com partes escultóricas, dado de presente a Dom João VI pela corte francesa e exposto no Palácio do Planalto, obra projetada por André-Charles Boulle e construída por Balthazar Martinot, relojoeiro de Luís XIV, uma das duas únicas peças remanescentes deste artífice.[11][26]
- Retrato de José Bonifácio, de autoria desconhecida;
- Retrato de Marechal Rondon, obra de 1953 do pintor do W. L. Techmeier;
- Sem título, muro escultórico produzido em 1976 pelo artista Athos Bulcão;
- Vênus Apocalíptica, da artista argentina Marta Minujín;
-
A Justiça, obra de Alfredo Ceschiatti, que foi pichada durante a invasão
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Escultura Pássaro de Marianne Peretti, com parte quebrada
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Quadro e mobília danificados no Congresso Nacional
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Cadeiras concebidas por Jorge Zalszupin que foram arrancadas do plenário do STF
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Exemplar original da Constituição Federal de 1988, então em exibição no STF
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Equipamentos destruídos no Congresso
-
Início das obras de recuperação estrutural do prédio do Congresso
Restauro
editarO plano de restauro foi traçado pelo Serviço de Gestão de Acervo Museológico (Segam),[14] com execução, por determinação da Ministra da Cultura Margareth Menezes, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram),[27] e parceria da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco).[28]
No dia 11 de janeiro, a Bailarina, de Victor Brecheret, voltou a ser exibida na Câmara dos Deputados.[29]
Um ano após o início dos trabalhos, os danos custaram R$ 21,1 milhões ao governo. O maior prejuizo foi ao STF, estimado em R$ 12 milhões. Até o dia 6 de janeiro de 2024, 116 itens do STF e 21 obras no Senado e 80% do acervo do Congresso foram restauradas. 53 peças, ou quase um quarto do total, não conseguiram ser reparadas por completo e algumas ainda aguardam o processo para os trabalhos serem iniciado.[30]
Em 6 de novembro de 2024, o Palácio do Planalto concluiu o restauro da galeria de fotografias de ex-presidentes da República e incluiu uma imagem extra da destruição da galeria.[31]
Em 6 de janeiro de 2025, o Palácio do Planalto começou a receber a parte das obras de arte, que eram vandalizadas durante os atos antidemocráticos de 2023 e foram restauradas por profissionais da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). No dia seguinte, o relógio Balthasar Martinot Boulle, destruído pelos invasores, foi levado para o palácio. A peça foi consertada na Suíça após um acordo entre o governo brasileiro e a embaixada do país europeu. No dia 8 do mesmo mês, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) também receberam as novas obras de arte que marcaram a reconstrução da sede da Corte destruída pelos ataques golpistas.[32][33]
Em 8 de janeiro de 2025, todas as 21 obras de arte restauradas foram reintegradas ao acervo da Presidência da República.[34]
Ver também
editar- Invasões na Praça dos Três Poderes em 2023
- Invasão do Capitólio dos Estados Unidos em 2021
- Terrorismo de direita
Referências
- ↑ "Grupo de vândalos deixa rastro de destruição, com cadeiras arrancadas e pichações". UOL, 09/01/2023
- ↑ Andrade, Ranyelle et al. "Bolsonaristas deixam rastro de destruição no STF: veja antes e depois". Metrópoles, 08/01/2023
- ↑ Lago, Rudolfo & Matos, Caio. "Veja as imagens dos palácios de Brasília depredados por golpistas". Congresso em Foco, 08/01/2023
- ↑ "Veja imagens da depredação do prédio da Câmara dos Deputados". DM Anápolis, 09/01/2023
- ↑ a b c "Funcionários encontram Planalto depredado e acham rastro de sangue: 'chorei'". UOL, 09/01/21023
- ↑ a b c d e f g «Invasão aos Três Poderes danifica vitral no Congresso e mural de Di Cavalcanti; veja». Folha de S.Paulo. 8 de janeiro de 2023. Consultado em 9 de janeiro de 2023
- ↑ a b "Antes e depois do salão nobre do STF - uma perda inestimável". STF em Foco, 09/01'/2023
- ↑ Froner, Mariana & Pretto, Nicholas. "A história de obras e objetos depredados nas invasões golpistas". Nexo Jornal, 12/01/2023
- ↑ «Pintura de Di Cavalcanti e Brasão da República: veja o que foi destruído em invasão no DF». InfoMoney. 8 de janeiro de 2023. Consultado em 8 de janeiro de 2023
- ↑ «Pintura de Di Cavalcanti e brasão da República: O que foi danificado com o terrorismo em Brasília». Aventuras na História. 8 de janeiro de 2023. Consultado em 8 de janeiro de 2023
- ↑ a b c d e "Vândalos destruíram acervo que representa a história da República e das artes brasileiras". Palácio do Planalto, 09/01/2023
- ↑ Robson Bonin (8 de janeiro de 2023). «Exemplar original da Constituição não foi roubado por golpistas, diz STF | Radar». VEJA. Consultado em 9 de janeiro de 2023
- ↑ Dhiego (8 de janeiro de 2023). «Pintura de Di Cavalcanti e Brasão da República: veja o que foi destruído em invasão no DF». InfoMoney. Consultado em 9 de janeiro de 2023
- ↑ a b c d e f g «Museu traça plano de restauração e reposição de peças atingidas na invasão». Senado Notícias. 10 de janeiro de 2023. Consultado em 12 de janeiro de 2023. Cópia arquivada em 12 de janeiro de 2023
- ↑ Mariana Carneiro (9 de janeiro de 2023). «Escritórios do PT e do PSDB na Câmara ficaram destruídos». Estadão. Consultado em 9 de janeiro de 2023. Cópia arquivada em 11 de janeiro de 2023
- ↑ a b c d «Veja lista de objetos depredados nas três sedes do poder, em Brasília». G1. 8 de janeiro de 2023. Consultado em 9 de janeiro de 2023
- ↑ a b "Busto de Rui Barbosa e tapete da Princesa Isabel: terroristas destroem patrimônio histórico". Folha de Pernambuco, 08/01/2023
- ↑ «Tapete histórico e busto de Rui Barbosa foram vandalizados no STF». noticias.uol.com.br. Consultado em 10 de janeiro de 2023
- ↑ «VÍDEO: Ministro da Secretaria de Comunicação diz que armas e munições do GSI foram roubadas». G1. 8 de janeiro de 2023. Consultado em 9 de janeiro de 2023
- ↑ «Armas letais e documentos foram roubados do GSI durante ataque em Brasilia». Band. 8 de janeiro de 2023. Consultado em 9 de janeiro de 2023
- ↑ a b Guilherme Amado e Natália Portinari (9 de janeiro de 2023). «Bolsonaristas roubaram iPhones, Macbooks, armas e lente de R$ 40 mil». Metrópoles. Consultado em 12 de janeiro de 2023. Cópia arquivada em 12 de janeiro de 2023
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- ↑ «Após depredação e restauro, 'Bailarina', de Brecheret, volta à Câmara». Estado de Minas. 11 de janeiro de 2023. Consultado em 12 de janeiro de 2023. Cópia arquivada em 12 de janeiro de 2023
- ↑ «Recuperação do acervo dos Três Poderes depredado por golpistas já custou R$ 21,1 milhões aos cofres públicos». Brasil de Fato. 6 de janeiro de 2024. Consultado em 7 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 7 de janeiro de 2024
- ↑ Guilherme Mazui (6 de novembro de 2024). «Quase dois anos após o 8 de janeiro, Planalto conclui restauro de galeria de ex-presidentes destruída por vândalos». G1. Consultado em 6 de novembro de 2024
- ↑ Guilherme Mazui e Márcio Falcão (6 de janeiro de 2025). «Planalto começa a receber obras de arte restauradas dois anos após ataques golpistas; veja vídeo». G1. Consultado em 9 de janeiro de 2025
- ↑ Gustavo Foster (8 de janeiro de 2025). «Vaso em 180 pedaços, quadro de R$ 8 mi de Di Cavalcanti: saiba como foi restauro de obras vandalizadas em 8/1 que voltam hoje a Brasília». G1. Consultado em 9 de janeiro de 2025
- ↑ Guilherme Mazui e Kevin Lima (8 de janeiro de 2025). «Dois anos do 8/1: Governo reintegra ao acervo da Presidência obras de arte vandalizadas nos atos golpistas». G1. Consultado em 9 de janeiro de 2025