Dario I
Dario I (em latim: Dārīus; em grego: Δαρεῖος; romaniz.: Dareîos; em persa antigo: 𐎭𐎠𐎼𐎹𐎢𐏁; romaniz.: Dārayauš; 550 a.C. — 486 a.C.), cognominado o Grande, foi o terceiro xainxá do Império Aquemênida, reinando de 522 até sua morte em 486 a.C.. Governou o império em seu auge territorial, quando incluía grande parte da Ásia Ocidental, partes dos Bálcãs (Trácia-Macedônia e Peônia) e o Cáucaso, a maioria das regiões costeiras do mar Negro, Ásia Central, o vale do Indo no extremo leste e partes do norte e nordeste da África, incluindo Egito (Mudraia), leste da Líbia e litoral do atual Sudão. Dario é mencionado nos livros de Ageu, Zacarias, Daniel e Esdras-Neemias do Antigo Testamento.
Dario I | |||||||||||||||||||||||||||
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Rei dos Reis Grande Rei Rei da Pérsia Rei da Babilônia Faraó do Egito Rei das Terras | |||||||||||||||||||||||||||
Rei dos Reis do Império Aquemênida | |||||||||||||||||||||||||||
Reinado | 29 de setembro de 522 a.C. – outubro de 486 a.C. | ||||||||||||||||||||||||||
Coroação | Pasárgada | ||||||||||||||||||||||||||
Antecessor(a) | Esmérdis | ||||||||||||||||||||||||||
Sucessor(a) | Xerxes I | ||||||||||||||||||||||||||
Faraó do Egito | |||||||||||||||||||||||||||
Reinado | 29 de setembro de 522 a.C. – outubro de 486 a.C. | ||||||||||||||||||||||||||
Predecessor(a) | Esmérdis | ||||||||||||||||||||||||||
Sucessor(a) | Xerxes I | ||||||||||||||||||||||||||
Nascimento | 550 a.C. | ||||||||||||||||||||||||||
Morte | outubro de 486 a.C. (64 anos) | ||||||||||||||||||||||||||
Naqsh-i Rustam | |||||||||||||||||||||||||||
Nome completo | |||||||||||||||||||||||||||
Dārayava(h)uš | |||||||||||||||||||||||||||
Cônjuge | |||||||||||||||||||||||||||
Dinastia | aquemênida | ||||||||||||||||||||||||||
Pai | Histaspes | ||||||||||||||||||||||||||
Mãe | Roduguna ou Irdabama | ||||||||||||||||||||||||||
Filho(s) |
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Religião | indo-iraniana (possivelmente zoroastrianismo) | ||||||||||||||||||||||||||
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Dario ascendeu ao trono derrubando o monarca aquemênida Bardia (ou Esmérdis), que alegou ser na verdade um impostor chamado Gaumata. O novo rei enfrentou rebeliões por todo o império, mas reprimiu cada uma delas; um evento importante na vida de Dario foi sua expedição para subjugar a Grécia e punir Atenas e Erétria por sua participação na Revolta Jônica. Embora sua campanha tenha fracassado na Batalha de Maratona, conseguiu resubjugar a Trácia e expandiu o Império Aquemênida por meio de suas conquistas da Macedônia, das Cíclades e da ilha de Naxos.
Dario organizou o império dividindo-o em províncias administrativas, cada uma governada por um sátrapa. Refez a cunhagem aquemênida como um novo sistema monetário uniforme e tornou o aramaico uma língua cooficial do império ao lado do persa. Também colocou o império em melhor posição construindo estradas e introduzindo pesos e medidas padrão. Por meio dessas mudanças, o Império Aquemênida se tornou centralizado e unificado. Dario empreendeu outros projetos de construção em todo o seu reino, concentrando-se principalmente em Susã, Pasárgada, Persépolis, Babilônia e Egito. Mandou esculpir uma inscrição na face de um penhasco do Monte Beistum para registrar suas conquistas, o que mais tarde se tornaria uma evidência importante do persa antigo.
Etimologia
editarDario (Dārīus) e Dareu (Dārēus) são as formas latinas do grego Dareu (Δαρεῖος, Dareîos), e por sua vez do persa antigo Daraiuxe (𐎭𐎠𐎼𐎹𐎢𐏁, Dārayauš), que é uma forma abreviada de Daraiavauxe (𐎭𐎠𐎼𐎹𐎺𐎢𐏁, Dārayavaʰuš). A forma mais longa reflete-se no elamita Dareamauixe (𒆪𒊑𒀀𒈠𒌋𒆜, Dareamauiš), no babilónio (𒁕𒀀𒊑𒅀𒀀𒈲, Dāreyāmuš), nas formas aramaicas Derivevexe (𐡃𐡓𐡉𐡅𐡄𐡅𐡔, drywhwš) e talvez na forma grega mais longa Dereio (Δαρειαῖος, Dareiaîos). O nome na forma nominativa significa "aquele que mantém firme o(s) bem(nes)", o que se pode verificar pela primeira parte dāraya, que significa "titular", e o advérbio vau, que significa "bondade".[2]
Fontes primárias
editarAlgures entre a sua coroação e a sua morte, Dario deixou um relevo monumental trilingue no Monte Beistum, que foi escrito em elamita, persa antigo e babilónico. A inscrição começa com uma breve autobiografia incluindo a sua ascendência e linhagem. Para ajudar na apresentação da sua ascendência, escreveu a sequência de acontecimentos que ocorreram após a morte de Ciro, o Grande.[3][4] Dario refere várias vezes que é o rei legítimo pela graça da divindade suprema Aúra-Masda. Além disso, foram encontrados outros textos e monumentos de Persépolis, bem como uma tábua de argila contendo um antigo cuneiforme persa de Dario de Gherla, Roménia (Harmata) e uma carta de Dario a Gadates, preservada num texto grego do período romano.[5][6][7][8] Nas tábuas de fundação do Palácio de Apadana, Ddescreveu em escrita antiga cuneiforme persa a extensão do seu império em termos geográficos amplos:[9][10]
“ | Dario, o grande rei, rei dos reis, rei dos países, filho de Histaspes, um aqueménida. O rei Dario diz: Este é o reino que eu mantenho, desde os sacas que estão para além de Soguediana até ao Cuxe, e de Sinde (𐏃𐎡𐎭𐎢𐎺, Hidauv; locativo de "Hiduxe", ou seja, "vale do Indo") para Lídia (𐎿𐎱𐎼𐎭, Sparda) - [isto é] o que Aúra-Masda, o maior dos deuses, me concedeu. Que Aúra-Masda me proteja a mim e à minha casa real! | ” |
— Inscrição DPh de Dario I nas fundações do Palácio de Apadana.
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Heródoto, historiador grego e autor das Histórias, forneceu um relato de muitos reis persas e das Guerras Greco-Persas. Escreveu extensivamente sobre Dario, abrangendo metade do Livro 3 juntamente com os Livros 4, 5 e 6. Começa com a remoção do suposto usurpador Gaumata e continua até ao final do reinado de Dario.[5]
Primeiros anos
editarDario era o mais velho dos cinco filhos de Histaspes.[5] A identidade da sua mãe é incerta. Segundo o historiador moderno Alireza Shapour Shahbazi (1994), pensava-se que a mãe de Dario era uma mulher chamada Rodoguna.[5] No entanto, de acordo com Lloyd Llewellyn-Jones (2013), textos recentemente descobertos em Persépolis indicam que a sua mãe era Irdabama, uma rica proprietária de terras descendente de uma família de governantes elamitas locais.[12] Richard Stoneman também se refere a Irdabama como a mãe de Dario.[13] A inscrição de Beistum afirma que o seu pai era sátrapa de Báctria em 522 a.C..[a] Segundo Heródoto (III.139), Dario, antes de tomar o poder e "sem consequências na altura", serviu como lanceiro (doríforo) na campanha egípcia (528–525 a.C.) do xainxá Cambises II;[16] isto é muitas vezes interpretado como sendo ele o porta-lanças pessoal do rei, um papel importante. Histaspes era um oficial do exército de Ciro e um nobre da sua corte.[17]
Antes de Ciro e o seu exército atravessarem o rio Araxes para combater os arménios, empossou o seu filho Cambises II como rei caso este não regressasse da batalha.[18] No entanto, depois de Ciro ter atravessado o rio Araxes, teve uma visão em que Dario tinha asas no topo dos ombros e estava sobre os confins da Europa e da Ásia (o mundo conhecido). Quando Ciro acordou do sonho, inferiu que era um grande perigo para a segurança futura do império, pois significava que Dario um dia governaria o mundo inteiro. No entanto, o seu filho Cambises era o herdeiro do trono, e não Dario, fazendo com que Ciro se questionasse se Dario estaria a formar planos ambiciosos e traiçoeiros. Isto levou Ciro a ordenar a Histaspes que regressasse a Pérsis e vigiasse estritamente o seu filho, até que o próprio Ciro regressasse.[19]
Ascensão
editarExistem diferentes relatos sobre a ascensão de Dario ao trono, tanto do próprio Dario como de historiadores gregos. O relato de Dario, escrito em Beistum, afirma que Cambises II matou o seu próprio irmão Esmérdis, mas que este assassinato não era conhecido entre os iranianos. Um pretenso usurpador chamado Gaumata veio e mentiu ao povo, afirmando que era Esmérdis.[20] Os iranianos revoltaram-se contra o governo de Cambises e, a 11 de março de 522 a.C., uma revolta contra Cambises eclodiu na sua ausência. No dia 1 de julho, os iranianos optaram por ficar sob a liderança de Gaumata, como “Esmérdis”. Nenhum membro da família aqueménida se levantaria contra Gaumata, pois poria em causa a segurança da sua própria vida. Dario, que serviu Cambises como seu lanceiro até à morte do governante deposto, orou pedindo ajuda e, em setembro de 522 a.C., juntamente com Otanes, Intafrenes, Gobrias, Hidarnes, Megabizo e Aspatines, mataram Gaumata na fortaleza de Sicaiauvati.[20]
Heródoto fornece um relato questionável da ascensão de Dario: vários dias após o assassinato de Gaumata, Dario e os outros seis nobres discutiram o destino do império. No início, os sete discutiram a forma de governo: Uma república democrática (isonomia) era fortemente defendida por Otanes, Megabizo defendia uma oligarquia, enquanto Dario fazia pressão para uma monarquia. Depois de afirmar que uma república levaria à corrupção e à luta interna, enquanto uma monarquia permitia uma liderança com uma obstinação impossível noutros governos, Dario conseguiu convencer os outros nobres.[carece de fontes]
Para decidir quem se tornaria o monarca, seis deles decidiram fazer um teste, com a abstenção de Otanes, pois não tinha interesse em ser rei. Deveriam reunir-se fora do palácio, montados nos seus cavalos ao nascer do sol, e o homem cujo cavalo relinchasse primeiro em reconhecimento do sol nascente tornar-se-ia rei. Segundo Heródoto, Dario tinha um escravo, Oebares, que esfregou a mão nos genitais da égua preferida pelo cavalo de Dario. Quando os seis se reuniram, Oebares colocou as mãos junto às narinas do cavalo de Dario, que se excitou com o cheiro e relinchou. Seguiram-se relâmpagos e trovões, levando os outros a desmontarem e ajoelharem perante Dario em reconhecimento da sua aparente providência divina.[24] Neste relato, o próprio Dario afirmou que alcançou o trono não por fraude, mas por astúcia, erguendo até uma estátua de si próprio montado no seu cavalo relinchante com a inscrição: "Dario, filho de Histaspes, obteve a soberania da Pérsia pela sagacidade do seu cavalo e pelo engenhoso artifício de Oebares, seu moço de estrebaria."[25]
De acordo com os relatos dos historiadores gregos, Cambises II tinha deixado Patizeites a cargo do reino quando se dirigiu para o Egito. Mais tarde, enviou Prexaspes para assassinar Bardia. Após o assassinato, Patizeites colocou o seu irmão Gaumata, um mago que se parecia com Bardia, no trono e declarou-o o xainxá. Otanes descobriu que Gaumata era um impostor e, juntamente com outros seis nobres iranianos, incluindo Dario, criou um plano para expulsar o pseudo-Bardia. Depois de matar o impostor juntamente com o seu irmão Patizeites e outros magos, Dario foi coroado rei na manhã seguinte.[5]
Os detalhes sobre a ascensão de Dario ao poder são geralmente reconhecidos como falsificações e foram, na realidade, utilizados como uma ocultação da sua deposição e assassinato do legítimo sucessor de Ciro, Bardia.[26][27][28] Para legitimar o seu governo, Dario teve uma originalidade comum inventada entre ele e Ciro ao designar Aquêmenes como fundador homónimo da sua dinastia.[26] Na realidade, Dario não era da mesma casa que Ciro e os seus antepassados, os governantes de Ansã.[26][29]
Início do reinado
editarPrimeiras revoltas
editarApós a sua coroação em Pasárgada, Dario mudou-se para Ecbátana. Não tardara para perceber que o apoio a Bardia era forte e que as revoltas em Elão e na Babilónia tinham despolotado.[30] Dario pôs fim à revolta elamita quando o líder revolucionário Aschina foi capturado e executado em Susa. Ao fim de três meses, a revolta na Babilónia terminou. Enquanto estava na Babilónia, soube que tinha eclodido uma revolução na Báctria, uma satrapia que sempre foi a favor dele, e inicialmente ofereceu um exército de soldados para reprimir as revoltas. Depois disso, eclodiram revoltas em Pérsis, a terra natal dos persas e de Dario, e depois em Elão e na Babilónia, seguindo-se a Média, Pártia, Assíria e Egito.[31]
Por volta de 522 a.C., ocorreram revoltas contra Dario na maior parte do Império Aqueménida, deixando o império instável. Embora não parecesse ter o apoio da população, tinha um exército leal, liderado por confidentes próximos e nobres (incluindo os seis nobres que o ajudaram a remover Gaumata). Com o seu apoio, conseguiu reprimir todas as revoltas num ano. Em suas palavras, matou um total de nove "reis mentirosos" ao reprimir as revoluções.[32] Dario deixou um relato detalhado destas revoluções na inscrição de Beistum.[32]
Eliminação de Intafernes
editarUm dos acontecimentos significativos do início do reinado de Dario foi o assassinato de Intafernes.[33] Os sete fizeram um acordo em que todos poderiam visitar o novo rei sempre que quisessem, excepto quando este estivesse com uma mulher.[33] Uma noite, Intafernes foi ao palácio para se encontrar com Dario, mas foi travado por dois oficiais que afirmaram que Dario estava com uma mulher.[33] Furioso e sentindo-se insultado, Intafernes desembainhou a espada e cortou as orelhas e o nariz dos dois oficiais.[33] Ao sair do palácio, pegou no freio do seu cavalo e amarrou os dois oficiais.[carece de fontes]
Os oficiais foram ter com o rei e mostraram-lhe o que Intafernes lhes tinha feito. Dario começou a temer pela sua própria segurança; pensou que todos os sete nobres se tinham unido para se revoltarem contra ele e que o ataque contra os seus oficiais era o primeiro sinal de revolta. Enviou um mensageiro a cada um dos nobres, perguntando-lhes se aprovavam as ações de Intafernes. Negaram e repudiaram qualquer ligação com as ações de Intafernes, afirmando que mantinham a sua decisão de nomear Dario como Rei dos Reis. A opção de Dario de perguntar aos nobres indica que ainda não estava completamente certo da sua autoridade.[33]
Precavendo-se contra qualquer resistência, Dario enviou soldados para capturar Intafernes, juntamente com o seu filho, familiares, parentes e quaisquer amigos que fossem capazes de se armar. Dario acreditava que Intafernes estava a planear uma rebelião, mas quando foi levado a tribunal, não havia provas de tal plano. Mesmo assim, Dario matou toda a família de Intafernes, excluindo o irmão e o filho da sua mulher. Ela foi convidada a escolher entre o irmão e o filho. Ela escolheu o seu irmão para viver. O seu raciocínio para o fazer foi que poderia ter outro marido e outro filho, mas teria sempre apenas um irmão. Dario ficou impressionado com a resposta dela e poupou a vida ao irmão e do filho.[34]
Notas e referências
Notas
Referências
- ↑ Jürgen von Beckerath, Handbuch der ägyptischen Königsnamen (= Münchner ägyptologische Studien, vol 46), Mainz am Rhein: Verlag Philipp von Zabern, 1999. ISBN 3-8053-2310-7, pp. 220–21.
- ↑ Schmitt 1994, p. 40.
- ↑ Duncker 1882, p. 192.
- ↑ Egerton 1994, p. 6.
- ↑ a b c d e Shahbazi 1994, pp. 41–50.
- ↑ Kuhrt 2013, p. 197.
- ↑ Frye 1984, p. 103.
- ↑ Schmitt 1994, p. 53.
- ↑ Zournatzi, Antigoni (2003). «The Apadana Coin Hoards, Darius I, and the West». American Journal of Numismatics. 15: 1–28. JSTOR 43580364
- ↑ Persepolis : discovery and afterlife of a world wonder (em inglês). [S.l.: s.n.] 2012. pp. 171–181
- ↑ «Behistun, minor inscriptions - Livius». www.livius.org
- ↑ Llewellyn-Jones 2013, p. 112.
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- ↑ «Darius' seal, photo - Livius». www.livius.org
- ↑ «The Darius Seal». British Museum
- ↑ Poolos 2008, p. 17.
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