Diogo Bernardes
Diogo Bernardes (Ponte da Barca, c. 1530 − ? c. 1594[1] [nota 1], foi um poeta português.[2]
Diogo Bernardes | |
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Nascimento | 1530 Ponte da Barca |
Morte | ? c. 1594 |
Cidadania | Reino de Portugal |
Irmão(ã)(s) | Agostinho Pimenta |
Ocupação | poeta, escritor |
Movimento estético | renascimento |
Biografia
editarSegundo Diogo Barbosa Machado, Diogo Bernardes, ao qual o catálogo chamado da Academia acrescenta Pimenta por ser nome do seu pai, nasceu em Ponte da Barca. Contudo Inocêncio Francisco da Silva que o dá como cavaleiro da Ordem de Cristo ("consta de documento existente no arquivo") o diz nascido em Ponte do Lima, fundando-se sobre a "declaração exarada no rosto do seu livro das Rimas ao Bom Jesus".
Sobre a sua data de nascimento Inocêncio situa-a "entre os anos 1530[2] e 1540, e com certeza antes deste último, por ser o do nascimento de seu irmão mais moço Fr. Agostinho da Cruz", nascido Agostinho Pimenta, poeta também.
Parece que muito novo Diogo foi viver para Lisboa, tendo regressado a Ponte da Barca, onde foi tabelião. Além disso exerceu vários cargos nas cortes de D. Sebastião e de Filipe II, e foi incumbido pelo primeiro de cantar os seus projectados factos heróicos na expedição africana[2]. Por isso acompanhou-o a Alcácer Quibir, onde ficou prisioneiro[2] e onde veio então a compor, ao contrário do previsto, lamentações elegíacas em recordação do desastre marroquino. "Temperamento brando, nem mesmo as agruras da derrota e do cativeiro lhe provocaram mais do que um queixume ténue e formular." [3]
Diogo Bernardes e Luís de Camões
editarDiz Inocêncio: "Os poetas contemporâneos de Bernardes, especialmente António Ferreira e Sá de Miranda, falam dele com os maiores elogios. O P. António Pereira de Figueiredo dá-lhe o oitavo lugar entre os clássicos da língua, colocando-o imediato a Camões."
Quanto a Manuel de Faria e Sousa acrescenta o mesmo que:
«não só deprime o seu carácter moral, acusando-o de ter roubado a Camões não menos de cinco eclogas, o poema a Santa Ursula e outros versos que imprimiu como próprios, mas abertamente o qualifica de poeta medíocre, e falto d'ingenho. Á parte porém o plagiato, de que não serei eu quem ouse absolvel-o, em vista dos fortes argumentos que n'este pleito se tem produzido contra ele, parece-me que há, no que é inegavelmente seu, mérito suficiente para assegurar-lhe um logar distinto entre os poetas da eschola italiana a que pertenceu, e com especialidade entre os bucólicos. Ninguém poderá desconhecer nas suas poesias pureza de linguagem, suavidade de metrificação, e certa natural simplicidade de ideias e conceitos, que lhe conquistam a affeição dos leitores.»
Estas conclusões de Inocêncio a propósito do "plagiato", de que não parece têr a menor dúvida, até lhe servem para "provar" falsas edições : falando da edição das Várias rimas ao bom Jesus diz : "António Ribeiro dos Santos (...) acusa uma edição destas Rimas anterior a todas as referidas, a qual diz ser feita em Lisboa, por Simão Lopes 1577(...) Nunca a vi, nem creio que exista. Como poderia conter poesias, cuja maior parte Bernardes só escreveu durante o seu cativeiro nos annos de 1578 e seguintes ? Como entrariam ahi as oitavas, ou poema a Sancta Ursula, que se diz roubado a Camões, achando-se aínda vivo, e por conseguinte nos termos de reclamar contra o furto que se lhe fazia?" [4]
Hoje portanto, entre as atribuções falsas, notavelmente de Faria e Sousa, para quem todo bom poema era do "seu" poeta, Camões, vários eruditos, a começar por Carolina Michaëlis, e mais recentemente Álvaro J. Da Costa Pimpão, meteram em dúvida essa severidade de julgamento. Falam estes, de poemas "supostamente furtados" por Diogo Bernardes, e denigrem sobretudo o trabalho de Faria.
A Obra
editar"Os seus temas típicos, diz a "História da Literatura portuguesa", são um enamoramento espiritualizado com todo o recheio de paradoxos petraquistas ; uma saudade, ou seja, o gosto de uma nostalgia indefinida, na intimidade a sós com a espessura viridente do seu alto Minho rural, com as penedias e, principalmente, com o derivar das águas nascentes ou fluviais, que tanto evocam as lágrimas como o curso irreversível do tempo [ sendo notáveis as suas éclogas inspiradas na beleza serena das margens do Lima[2], sem dúvida o seu rio privilegiado ("águas que de mistura/convosco minhas lágrimas levais") ]; e, nos últimos anos, o desengano de todas as esperanças terrenas e um fervor religioso de reconciliação sem notas originais."[3]
Muitos investigadores atribuem-lhe hoje (é sempre por outros atribuído a Camões, e mesmo a outros poetas maneirista do século XVI), o muito célebre soneto sobre a mudança, que aparece nas Flores do Lima; é um pouco diferente do atribuído a Camões por Faria e Sousa, dizendo-o furtado por Bernardes:
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Obras
editar- O Lima, em o qual se contém as suas eglogas e cartas. Dirigido por elle ao excellente principe e serenissimo sr. D. Alvaro d'Alemcastro, Duque d'Aveiro, etc. Lisboa, por Simão Lopes, 1596. − ibi, por Antonio Vicente da Silva 1761. - ibi, na Typ. Rollandiana 1820. Ibi, com prefacio e notas de Marques Braga, Lisboa, Sa da Costa, 1946.
- Varias Rimas ao bom Jesus, e à Virgem gloriosa sua mãe, e a varios Sanctos particulares. Com outras mais de honesta e proveitosa lição. Lisboa por Simão Lopes 1594. - Ibi, por Jorge Rodrigues 1601. − Ibi, 1608. − Ibi, por Pedro Craesbeeck 1616. − Ibi, por Antonio Alvares 1622. − Ibi, por Miguel Rodrigues 1770. Ibi, com prefacio e notas de Marques Braga, Lisboa, Sa da Costa, 1946.
- Rimas varias, Flores do Lima. Lisboa, por Manuel de Lyra 1596. − Ibi, por Lourenço Craesbeeck 1633. − Ibi, por Miguel Rodrigues 1770. Ibi, com prefacio e notas de Marques Braga, Lisboa, Sa da Costa, 1945.
Referências
- ↑ Aguiar e Silva, Vítor (2011). Dicionário de Luís de Camões. Alfragide: Editorial Caminho. 1005 páginas. ISBN 978-972-21-2146-0
- ↑ a b c d e Infopédia. «Diogo Bernardes - Infopédia». Infopédia - Porto Editora. Consultado em 27 de abril de 2022
- ↑ a b António José Saraiva e Oscar Lópes : História da literatura portuguesa, Porto Editora, 1972
- ↑ Inocêncio Francisco da Silva : Dicionário Bibliográfico Português"
Notas
- ↑ De acordo com a historiadora, Ana Filipa Gomes Ferreira, citada na obra «Dicionário de Luís de Camões», Diogo Bernardes terá morrido entre 1593 e 1597.