Dolavira
Dolavira é um sítio arqueológico de uma antiga cidade da civilização harapeana, datada do período entre 3 000 e 1 500 a.C. Abrange uma área de 103 hectares e está localizada na ilha Cadir, no distrito de Cacheche, no estado de Guzerate, na Índia. É uma das maiores escavações da Civilização do Vale do Indo ou da cultura Harapeana na Índia. Possui um dos primeiros e bem planejados sistema de drenagem e armazenamento de água do mundo e entrou para a lista de Patrimônio Mundial, tombado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) no ano de 2021.[1][2]
Dolavira: uma cidade harapeana ★
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Tipo | cultural |
Critérios | iii e iv |
Referência | 1645 en fr es |
Região ♦ | Ásia-Pacífico |
País | Índia |
Coordenadas | |
Histórico de inscrição | |
Inscrição | 2021 |
★ Nome usado na lista do Património Mundial ♦ Região segundo a classificação pela UNESCO |
Intervenções arqueológicas
editarDolavira foi descoberta por Jagat Pati Joshi, no ano de 1967, durante sua exploração pelo distrito de Cacheche através da Archaeological Survey of India (ASI). Joshi identificou oito sítios Harapeanos e dois montes, um com a cidadela e o outro com a cidade baixa. Foram descobertos fortificações, bastiões, portões e artefatos harapeanos espalhados por toda a área.[1][3]
Entre os anos de 1984 e 1985 as ruínas foram reexaminadas e descobriram uma cidadela, uma cidade média e uma cidade baixa, todo os três complexos dentro de uma fortificação com várias entradas em intervalos regulares.[1]
Entre os anos de 1989 e 1990 foram feitas escavações de trincheiras de 50 centímetros de profundidade, onde identificaram as características arquitetônicas da fortificação e o layout da cidade. Através de uma sondagem profunda, foi feita uma completa documentação estratigráfica dos três complexos.[1]
Entre os anos de 1990 e 2005, os estudos em Dolavira foram comandados pelo arqueólogo especialista Ravindra Singh Bisht, através da Archeological Survey of India (ASI), e as intervenções foram constantes neste período. Foram encontrados cerâmicas em terracota, miçangass, ornamentos de ouro e cobre, anzóis, estatuetas, ferramentas e armass. Foi encontrada também, uma inscrição de 3 metros com dez sinais do script do Indus e um fragmento de uma grande laje com inscrições de três sinais. Foram feitos estudos mais aprofundados dos três complexos, onde descobriram um grande sistema subterrâneo de drenagem de água e um sistema de reserva de água pluvial, dois estádios de multiplas funções e cemitérios.[1][3][4]
Cronologia da ocupação
editar- Fase I - 3000 a.C. a 2900 a.C. - Cultura Dolavira - Harapeana inicial[1]
- Fase II - 2900 a.C. a 2800 a.C. - Cultura Dolavira - Harapeana inicial[1]
- Fase III - 2800 a.C. a 2500 a.C. - Cultura Dolavira - Harapeana inicial[1]
- Fase IV - 2500 a.C. a 2100 a.C. - Harapeana[1]
- Fase V - 2100 a.C. a 2000 a.C. - Harapeana[1]
- Fase VI - 1950 a.C. a 1800 a.C. - Harapeana tardia[1]
- Fase VII - 1500 a.C. a 1450 a.C. - Harapeana pós-urbano[1]
Expansão e declínio da cidade
editarOs estudos mostraram que a ocupação da área começou nos anos de 3000 a.C. com a construção de uma pequena fortaleza e, a partir dos anos de 2900 a.C., a cidade começos a expandir para o lado norte. No final da fase II a região foi atingida por um terremoto. Na fase III, a fortaleza foi transformada em castelo e anexaram um bailey fortificado ao castelo. No castelo vivia a elite e a autoridade máxima da cidade. No final da fase III, mais uma vez a cidade foi atingida por um terremoto de grande intensidade e precisou de reparos. Ainda no final da fase III, a cidade continuou se expandindo, e foi criada a Cidade Baixa. A cidade atingiu seu auge na fase IV. Por volta dos anos 2000 a.C., a cidade foi abandonada por algumas décadas. No início da fase VI, a cidade voltou a ser ocupada, mas não em sua totalidade. Construíram casas em disposições diferentes das gerações anteriores e ocuparam somente a Cidadela e a Cidade Média. Mais uma vez a cidade foi abandonada, dessa vez por alguns séculos. No início da fase VII, houve o retorno da ocupação, mas sem grandes planejamentos urbanos das antigas gerações. As casas eram espalhadas e construídas em formato circular e de um povo simples e abandonaram a cidade de vez por volta de 1450 a.C.[5]
Estruturas do sítio
editarCidadela
editarA cidadela está localizada na parte sudeste do sítio e possui 300 metros de largura, 140 a 160 metros de profundidade e de 15 a 18 metros de altura. Consiste no castelo e no bailey fortificados separadamente. [1]
Castelo
editarO castelo possui 114 metros de largura e 94 metros de profundidade. A habitação nesta região começou no início dos anos de 3000 a.C. Foi descoberta uma rua central com 11 metros de largura e ruas secundárias que facilitavam a movimentação em todas as regiões internas da fortificação. Também descobriram portões e drenos de águas pluviais. Na região norte do castelo, encontraram um conjunto de casas de plantas retangulares, construídas com blocos pedras e com vários cômodos, pertencentes a fase VI. Também encontraram casas circulares, datadas da fase VII que utilizaram muitos blocos de pedras do período anterior para a construção. Essas casas circulares possuíam somente um cômodo circular e uma antecâmara elíptica.[1]
Bailey
editarO bailey possui 123 metros quadrados e está interligado ao castelo por um portal simples através da muralha do leste. No lado leste foram encontradas habitações da fase IV a fase VII. O lado oeste e sudoeste foram deixadas vazias. Há evidências de ter funcionado uma área de trabalho com grãos na parede norte do bailey.[1]
Cidade Média
editarA Cidade Média está localizada ao norte da cidadela e a oeste da Cidade Baixa. Possui 340 metros de largura e 242 metros de profundidade e está cercada por uma muralha de fortificação com baluartes e portões em intervalos regulares.[1]
Cidade Baixa
editarA Cidade Baixa está localizada ao nordeste da cidadela e a leste da Cidade Média. Possui 300 metros de largura e 330 metros de profundidade e não possui sua própria muralha de fortificação. Os estudos mostram que a Cidade Baixa começou a surgir durante a fase III e durou até a fase V.[1]
Muralhas de fortificação
editarA muralha exterior, que cerca todos os três complexos, foi construída com tijolos de barro, onde o lado externo era revestido com pedregulhos e pedras e o lado interno recebiam reboco de argila fina e nas partes mais frágeis e perto dos portões, recebia revestimento de pedras. Foi construída durante a fase III e utilizada até a fase V. O lado norte possui 781 metros de comprimento, o lado oeste possui 630,50 metros, o lado sul mede 600 metros e o lado leste mede 210 metros. Foram instalados onze baluartes no lado norte e nove baluartes no lado oeste, com uma distância entre 50 e 52 metros entre elas.[1]
A muralha do castelo foi construída durante a fase I. Possui 11,1 metros de largura e 4 metros de altura. A muralha foi reforçada, na parte interna, com uma parede de tijolos com 2,80 metros de espessura e foi rebocada com uma massa de argila fina de tonalidade branco e rosa.[1]
Portões
editarForam descobertos dezessete portões ao todo. Sendo cinco portões na muralha externa, dois portões no bailey, quatro portões nos estádios, um na Cidade Média e cinco no castelo.[4]
O castelo possuía dois portões no lado leste, um portão no oeste, um portão no lado sul e um portão no lado norte. O portão norte do castelo dava acesso ao estádio, a Cidade Média e a Cidade Baixa. O aceso ao portão norte se dava através de uma passagem rebaixada, ladeada por duas câmaras elevadas e na extremidade interna da passagem, foi descoberto uma soleira feita de pedra calcária ladeada com soquetes de pilastras sobre blocos de calcário. Provavelmente os soquetes sustentavam grandes colunas de pedra. Na câmara do lado oeste da passagem foi descoberto dez grandes inscrições que ainda se encontram in situ. No extremo oposto da soleira, havia uma escada em L, sendo um lance de dez degraus, um patamar e mais um lance de treze degraus. O portão sul dava acesso ao reservatório escavado na rocha e foi fechado durante a fase V. O portão oeste dava acesso ao bailey, tinha 9 metros de comprimento e 2,2 metros de largura. O portão principal do leste era acessado através de uma passagem rebaixada com uma câmara elevada na lateral. Na extremidade interna da passagem, havia uma soleira de grandes lajes de pedra calcária na parte externa e um lance de escada com quatorze degraus.[1]
Sistema de armazenamento e drenagem de água
editarO sistema de coleta e armazenamento de água pluvial consistia em barragens, poços, cisternas e reservatórios, que no total comportavam até 325 mil metros cúbicos de água. Os reservatórios estavam ligados a poços que enchiam as cisternas com águas para beber e banhar-se.[6]
No canto sudoeste do castelo foi descoberto um poço com 4,25 metros de diâmetro e 13,60 metros de profundidade. Próximo ao poço, há dois tanques paralelos, com uma distância de 4,70 metros entre eles. Ambos os tanques possuem uma escada interna, sendo que em um tanque a escada só chega até a metade da profundidade. Toda essa estrutura foi construída durante a fase IV e utilizada até a fase VI. Até o momento, forram escavados mais de dezesseis reservatórios de água, de diversos tamanhos. O maior reservatório está localizado no lado leste da cidade. No topo possui 73,50 metros de comprimento e 29,30 metros de largura, e no piso possui 70 metros de comprimento e 27,70 metros de largura e 7,50 metros de profundidade.[1]
Foi descoberto um sistema subterrâneo extenso de drenagem de água pluvial, com drenos de diversos tamanhos, alguns chegando a uma altura que permite um adulto andar com facilidade por ele. Foi descoberto que somente na fase VI uma casa descarregava o ralo residencial no dreno pluvial. Os drenos foram construídos com pisos lisos, paredes laterais, cobertura com tampos de pedra e bueiros em intervalos.[1]
Cemitério
editarFoi descoberto sepulcros funerários ao norte, leste e oeste, afastados da cidade. O cemitério à oeste abrange uma área de 50 hectares. Há sepulcros de diversas formas, tamanhos, estilos arquitetônicos e técnicas de construção. O cemitério foi muito danificado pela passagem do tempo, intempéries e vandalismo. Nenhum dos sepulcros possuem restos mortais e sim oferendas como cerâmicas, contas de pedras semipreciosas e ouro. Até o momento foi verificado sepulcros da fase III, IV e V. A maioria dos sepulcros encontrados são feitas de pedra no formato retangular e enterradas no solo e possuem tamanhos médios a pequenos. Descobriram dois sepulcros feitos de calcário de boa qualidade e de coloração amarela e faixas púrpura, que os pesquisadores denominaram "Túmulo 6" e "Túmulo 5". O Túmulo 6 possui 2,90 metros de comprimento, 1,96 metro de largura e 1,12 metro de profundidade. Dentro do sepulcro, encontraram um caixão feito de argila de grão fino e coloração cinza, em formato antropomórfico, medindo 1,84 metro de comprimento, 68 centímetros de largura nos ombros e 73 centímetros de profundidade. O caixão estava apoiado em vasos e pedras. O Túmulo 5 possui 3,18 metros de comprimento, 1,65 metro de largura e 1,60 metro de profundidade. Ambos os túmulos foram enterrados com terra e cobertos por laje. Também foram encontrados sepulcros em formato de câmaras retangulares cortadas nas rochas, tanto rasas como profundas, e seis sepulcros em formato hemisférico, nos quais dois deles foram bem estudados, e os pesquisadores o denominaram "Túmulo 1" e "Túmulo 2". Os Túmulos 1 e 2 são câmaras amplas e profundas cortadas na rocha, com muro circular de duas camadas de tijolos de barro construído sobre o solo. As câmaras foram cobertas por terra, areia e pedaços de pedra. O Túmulo 2 possui uma cobertura com altura de 3,35 metros e um diâmetro de 22 metros e a sua câmara possui 4,60 metros de largura, 3,04 metros de comprimento e 1,80 metro de profundidade. O Túmulo 2 possui uma cobertura com altura de 2,90 metros e um diâmetro de 33 metros.[1]
Foi encontrado, no lado sul da Cidade Média, um único enterro fracionado, com um dente e fragmentos pequenos de ossos humano em uma cova rasa, e marcado por uma pedra vertical em cada extremidade, Não foi possível, ainda, definir a qual fase esse sepulcro pertence. Sepulturas com ossos humanos, pertencentes as fases posteriores a V, foram encontradas em quase toda a parte do povoado.[1]
Galeria de fotos
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Ruínas de Dolavira
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Ruínas de Dolavira
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Reservatório de água
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Bases de pilastras
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Mapa do sítio arqueológico
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Inscrições encontradas na cidadela
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Artefato encontrado do período Harapeano Maduro
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Artefato encontrado do período Harapeano Maduro
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Artefato encontrado do período Harapeano Maduro
Referências
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x «Dholavira: a Harappan City». Nomination Text Document. UNESCO World Heritage Centre (em inglês)
- ↑ «Incredible India | Dholavira». Ministério do Turismo da Índia
- ↑ a b «Dholavira- An Iconic Site in Budget 2020». Stellar IAS Academy (em inglês). 24 de abril de 2020
- ↑ a b «Excavation Site - Dholavira - Archaeological Survey of India». web.archive.org. 3 de setembro de 2011
- ↑ «The rise and fall of a Harappan city». The Archaeology News Network. Consultado em 13 de maio de 2022
- ↑ «Aqua Dholavira - Archaeology Magazine Archive». archive.archaeology.org