Edgar Varèse
Edgar(d) Victor Achille Charles Varèse (Paris, 22 de dezembro de 1883 — Nova Iorque, em 6 de novembro de 1965) foi um compositor francês naturalizado estadunidense.
Edgar Varèse | |
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portrait of Edgar Varèse by John French Sloan | |
Nascimento | 22 de dezembro de 1883 Paris |
Morte | 6 de novembro de 1965 (81 anos) Nova Iorque |
Cidadania | França |
Cônjuge | Louise Varèse |
Alma mater |
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Ocupação | compositor, musicólogo, maestro |
Movimento estético | vanguarda, Neue Musik |
Religião | ateísmo |
Ele estudou com Vincent d'Indy na Schola Cantorum, de 1903 a 1905, e com Charles-Marie Widor no Conservatório de Paris, de 1905 a 1907; depois, ele se deslocou a Berlim, onde encontrou Richard Strauss e Ferruccio Busoni. Em 1913, regressou a Paris, mas em 1915, decepcionado pelos novos meios oferecidos aos compositores, decidiu emigrar para os Estados Unidos, e estabeleceu-se em Nova Iorque.
Passou seus primeiros anos nos Estados Unidos a encontrar-se com os principais autores da música norte-americana, promovendo sua visão de novos instrumentos de música eletrônica, dirigindo orquestras, e criando a New Symphony Orchestra. Foi cerca desse período que Varèse começou a trabalhar em Amériques, que terminou em 1921. Nessa obra, Varèse mostra-se particularmente atento em dar corpo à matéria sonora proteiforme, palavra criada a partir da entidade mitológica grega Proteu, divindade com o poder de se metamorfosear: ele transforma as massas sonoras em cores de timbres, jogos de interações recíprocas, liberadas do jugo de um sistema. Necessitou integrar, para essa empreitada, novos conceitos de sonoridade, que transformam os parâmetros clássicos da música em categorias mais amplas, portanto em campos, noção móvel, mas mais em consonância com as pesquisas desenvolvidas pelas ciências físicas de hoje. Com efeito, na teoria quântica de campos, derivada dos trabalhos sobre o eletromagnetismo, os resultados exatos são raros, e deve-se habitualmente valer-se de métodos de aproximações sucessivas (também chamada de teoria das perturbações). Notar-se-á igualmente a concordância da composição Amériques com a publicação da teoria da relatividade geral de Albert Einstein (1915).
Foi depois de terminada a mencionada obra que Varèse fundou a International Composers' Guild, (inglês para: Associação Internacional de Compositores), dedicada à interpretação de novas obras de compositores norte-americanos e europeus, e para a qual compôs quantidade de peças para instrumentos de orquestra e voz, como Offrandes, em 1922, Hyperprism, em 1923, Octandre, em 1924, e Intégrales, em 1925.
Em 1928, Varèse retornou a Paris para modificar certas partes de Amériques, nela incluindo o instrumento ondas Martenot, criado, na década de 1920, por Maurice Martenot, inventor e músico francês. Compôs em 1931 sua mais célebre obra não eletrônica, intitulada Ionisation. Ela é freqüentemente apresentada como a primeira peça escrita unicamente para instrumentos de percussão: mas há erro nessa afirmação, insidiosamente criada e divulgada pelo próprio Varèse (conferir em Alejo Carpentier). Se fizermos abstração de um Interlúdio escrito por Dmitri Shostakovich para a ópera Le Nez (O Nariz), a primeira obra exclusiva para instrumentos de percussão da música erudita ocidental é Rítmica V (1929), do compositor nascido em 1900, em Cuba, Amadeo Roldán. Ainda que escrita para os instrumentos existentes, Ionisation foi concebida como uma pesquisa de novos sons e de novos métodos para os criar. Em 1933, quando Varèse ainda estava em Paris, escreveu à Fundação Guggenheim e aos Laboratórios Bell na esperança de obter fundos para desenvolver um studio de música eletrônica.
Sua composição seguinte, Ecuatorial, terminada em 1934, continha partes para teremins, e Varèse, antecipando uma resposta favorável ao seu pedido de fundos, retorna aos Estados Unidos para lá criar sua música eletrônica. Varèse escreveu Ecuatorial para dois teremins, registro (voz) de baixo, instrumentos de sopro e de percussão, no início dos anos 1930. A obra foi executada no dia 15 de abril de 1934, sob a direção de Nicolas Slonimsky. Em seguida, Varèse deixa Nova Iorque, onde vivia desde 1915, e vive em Santa Fé, São Francisco e Los Angeles. Quando Varèse retorna à França, em 1938, Léon Theremin havia regressado à Rússia. Esse fa(c)to desesperou Varèse, que havia esperado trabalhar com Theremin em um aperfeiçoamento do instrumento. Varèse havia também apresentado o teremim por ocasião de suas viagens ao Leste estadunidense, e havia feito uma demonstração do instrumento em 12 de novembro de 1936, em uma conferência na Universidade do Novo México, em Albuquerque.
Quando, perto do fim da década de 1950, Varèse foi contactado por um editor para publicar Ecuatorial, restavam apenas uns poucos teremins, e ele decidiu então reescrever essa peça para ondas Martenot. A nova versão foi criada em 1961.
Estética
editarVarèse havia definido muito cedo os parâmetros de uma nova ética da pesquisa musical. Ele queria que o rigor da pesquisa mantivesse uma firmeza artística desligada de qualquer teoria apriorística. Seu propósito é frequentemente citado, pois ficou famoso por ser visionário, que a ele somente se refere o estado de inquietude no qual foram jogados desde então os compositores:
Música, que deve viver e vibrar necessita de novos meios de expressão e somente a ciência consegue impregná-la com ímpeto juvenil… eu sonho com instrumentos que obedeçam ao pensamento e que, apoiados por uma torrente de timbres ainda não sonhados, servirão para qualquer combinação que eu lhe escolha impor e se submeterão às exigências de meu ritmo interior.
Em 1958, o Concret PH (Parabole – Hyperbole), de Iannis Xenakis, peça curta de dez minutos, serviu de interlúdio durante o concerto no Pavilhão Philips, da Exposição Universal de Bruxelas: ele preparava os ouvintes para o Poème Électronique, de Edgar Varèse. O espaço sonoro redistribuído cumpria então um papel bem mais importante do que um simples meio, que um substrato para a obra: ele eleva-se ao nível de parâmetro da composição. Desde Hyperprism (1923), Varèse começou a criar uma música que integra o componente espacial a uma nova dimensão da representação, a uma música espacializada.
Obras
editar- Un grand sommeil noir (1906), para soprano e piano (uma versão orquestral foi realizada por Antony Beaumont).
- Amériques (1921), para grande orquestra.
- Offrandes (1921), para soprano e orquestra de câmara.
- Hyperprism (1922-23), para pequena orquestra e percussão.
- Octandre (1924), para sete instrumentos de sopro e contrabaixo.
- Intégrales (1924-25), para pequena orquestra e percussão.
- Arcana (1926-27), para grande orquestra.
- Ionisation (1931), para 13 percussionistas. Ao menos duas versões para 6 percussionistas foram propostas: a primeira, por Georges Van Gucht, para Les Percussions de Strasbourg, a quem Varèse deu sua permissão, e a segunda, em 2002, por Georges Boeuf, para 'Symblêma', sobre a qual o maestro Frédéric Daumas escreveu em 8 de julho de 2003: "Esta última versão é igualmente para 6 percussionistas. Ela respeita escrupulosamente a partitura original e foi concebida de maneira a conservar a espacialiazação do som da versão para 13.
- Ecuatorial (1934), para coro, trompetes, trombones, piano, órgão, 2 ondas Martenot e percussão.
- Densité 21,5 (1947), para flauta solo.
- Déserts (1954), para instrumentos de sopro, de percussão e fita magnética.
- Poème Électronique, para fita magnética (1958).
- Nocturnal (1959-61) para soprano, coro e orquestra (inacabada).
- Nuit, calcada em poema de Henri Michaux, para soprano, instrumentos de sopro, contrabaixo e percussão (inacabada).
Bibliografia
editar- Fernand Ouellette, Edgard Varèse, Paris, Christian Bourgois, coll. Musique/Passé/Présent, 1989, 337 p. ISBN 2-26700810-6, em francês.