Emerson Bernardo de Abreu (Rio de Janeiro, 29 de julho de 1974),[1] também conhecido como Tio Emerson, é um roteirista da Mauricio de Sousa Produções conhecido por seu trabalho na Turma da Mônica e a Turma da Mônica Jovem, especialmente a Supersaga do Fim do Mundo.

Emerson Bernardo de Abreu
Conhecido(a) por Turma da Mônica
Turma da Mônica Jovem
Nascimento 29 de julho de 1974 (50 anos)
Rio de Janeiro
Nacionalidade brasileiro
Ocupação roteirista
Página oficial
https://emersonabreu.blogspot.com/

Biografia

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Início de carreira

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Abreu iniciou sua carreira após graduar-se em um curso de quadrinhos, onde fez projetos para um estúdio de publicidade, conteúdos eróticos e pequenas editoras.[2]

Turma da Mônica

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Abreu entrou na Mauricio de Sousa Produções (MSP) em 1996, quando a Turma da Mônica era publicada pela Editora Globo, onde produzia textos e storyboards. Abreu tem o hábito de escrever durante a noite, por home office. Seu estilo único de roteiro na Turma da Mônica fez sucesso entre os fãs e algumas de suas histórias foram direcionadas por Mauricio de Sousa para serem desenhadas pelos melhores desenhistas e ganharam adaptações para desenhos animados.[2] Suas obras foram adaptadas para o Cine Gibi e Uma Aventura no Tempo.[3] Emerson também escreveu para o Mônica 40 Anos.[4]

Ele tornou-se notório pelo desenvolvimento dos personagens secundários Xaveco e Denise. A Denise havia sido criada como um "tapa-buraco" por Rosana Munhoz Silva, mas ganhou visual fixo e personalidade debochada com a utilização do linguajar clubber nas histórias de Abreu, tornando-se muito popular. Ela é debochada e cínica, dizendo sempre o que pensa. Já Xaveco ganhou uma família e virou uma piada por ser irrelevante. Ele servia como conselheiro nas histórias do Cebolinha.[5] Outra personagem popular de Abreu foi a Magali, que começou a abortar temas de magia em suas histórias.[2] Suas histórias do Dudu também tornaram-se populares. Emerson usou a personalidade de garoto mimado e irritante criada por Paulo Back.[5] Ele também foi responsável por criar diversos personagens, como Bruxa Viviane, As Meninas do Bairro das Pitangueiras, Legião dos Leitões Alados, Boneca Tenebrosa, Madame Creuzodete, Jumenta Voadora, Cúmulos, entre outros. Em dezembro de 2005, Abreu passou a escrever histórias que estavam interligadas entre si, criando um "cânon" dentro da Turma da Mônica. As histórias eram compreensíveis individualmente, mas se complementavam.[2]

Turma da Mônica Jovem

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Seu trabalho mais popular foi na Turma da Mônica Jovem, especialmente a Supersaga do Fim do Mundo, composto pelas histórias Umbra, Herdeiros da Terra e A Torre Inversa. A MSP não tinha uma linha editorial fixa para a revista, e Abreu criou histórias de humor e terror, abordando temas considerados tabus no meio infantil, como reencarnação, luto, apocalipse, ocultismo, astrologia, necromancia e citações bíblicas. As histórias também faziam crossover com Chico Bento Moço e grante parte do desenvolvimento dos personagens era feito nas edições tradicionais.[2] A saga iniciou-se em 2012 e durou 14 edições, intercalando com histórias mais leves de outros roteiristas.[6]

Seu trabalho começou contrastar com as políticas internas da MSP, já que a empresa adotou uma linha editorial mais politicamente correta,[2] especialmente após virar signatária dos Princípios de Empoderamento das Mulheres da ONU Mulheres e lançar o Projeto Donas da Rua em 2016.[7] Por vezes, algumas cenas foram ajustadas pela MSP considerá-las forte demais. A Panini chegou a proibir Emerson de produzir mais histórias de terror, mas os fãs fizeram a hashtag #UnidosPeloEmerson viralizar e a editora reconsiderou a decisão. Na história Os Meninos São Todos Iguais, da Turma da Mônica Jovem #5 (2008), Denise utiliza gírias da comunidade LGBTQIA+, o que gerou uma onda de reclamações e parte da fandom passou a chamá-la de "mini-puta" e "mini-drag" no Orkut. As histórias Xaveco também entrou em polêmicas quando seus pais se divorciaram. A abordagem da magia nas histórias da Magali dividiram opiniões, sendo criticadas por cristãos, especialmente católicos, e elogiadas pelos espíritas.[8] Em Turma da Mônica Jovem #78, o storyboard original trazia o vilão Cúmulos infiltrando a banheira da Magali enquanto ela estava tomando banho e tenta lamber seu rosto, mas a MSP pediu para modificar a cena.[2]

Saída da TMJ

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Em 2016, a Supersaga entrou em hiato pelo estresse que Emerson estava sofrendo durante sua produção, e ele passou a focar nas histórias da Turma da Mônica clássica. Em 2020, Abreu escreveu a primeira webcomic da Turma da Mônica, protagonizada pela Denise. A primeira história ganhou mais de 60 mil curtidas no Instagram.[2]

Estilo

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No início da carreira de Abreu, a MSP não creditava seus funcionários, o que rendeu críticas a Mauricio de Sousa. A empresa passou a creditá-los no expediente das revistas, mas em maio de 2015, os roteiristas, desenhistas e arte-finalistas foram devidamente creditados a partir da segunda série de publicações da Panini. Porém, mesmo que suas primeiras histórias não sejam creditadas, o trabalho de Abreu era reconhecido pelos fãs pelas suas características marcantes.[2]

Seu estilo foi importante para a consolidação da linguagem dos quadrinhos nacionais nos anos 90. Emerson acredita que "qualquer coisa pode virar uma história", e dá muita importância para a técnica e o contexto do gibi, além da leitura e absorção de ideias diferentes. Suas histórias são escritas para diversos públicos-alvo e costumavam a ser mais complexas do que o normal com vários elementos surpreendentes, o que as tornavam imprevisíveis. Elas costumavam a ter muitas referências e conexões narrativas, ou demoravam diversas edições para chegarem em suas conclusões. Suas histórias também costumam a dar protagonismo a personagens secundários. Seu humor também é peculiar, utilizando de elementos metalinguísticos e linguagem sarcástica, cínica, irônica e ácida. Seus storyboards costumam a ter o layout exagerado, com seus desenhos marcados pelas expressões faciais caricatas. Muitas vezes, seu traço era "corrigido" pelos outros artistas para se enquadrar ao padrão da MSP, porém com o passar do tempo, outros desenhistas, como José Aparecido Cavalcante, adotaram seu estilo.[2] Abreu via os quadrinhos como "pequenos manuais de comportamento" para crianças, e preocupava-se em deixar lições de moral em suas histórias. Ele ficou conhecido especialmente por seus personagens secundários, e via a Denise como uma "válvula de escape" para as críticas sociais que ele queria expressar.[5]

Internet

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Abreu é um ativista virtual, interagindo com os fãs através do WhatsApp, Facebook, Instagram e o Orkut, onde os incentiva a escrever fanfics e produzir outras obras relativas a Turma da Mônica. As caretas de suas histórias tornaram-se memes em comunidades do Facebook como Monicaposting. Além disso, Abreu postava falsos spoilers, teasers, storyboards e curiosidades nas redes sociais, rendendo-lhe o apelido de "Tio Emerson". Sua popularidade era tão grande que surgiram fanpages como Emersombrios Unidos e Vamos Enaltecer o Tio Emerson.[2]

Referências

  1. Emerson Eduardo de Abreu (23 de maio de 2009). «Papo sério (atualizado)». Blog do Emerson Abreu. Consultado em 19 de outubro de 2024 
  2. a b c d e f g h i j k Paiva, Rodrigo Sérgio Ferreira de; Lins, Aline Maria Grego; Ferreira, Alexandre Figueirôa (8 de setembro de 2021). «RADICALISMO E INOVAÇÃO: AS CONTRIBUIÇÕES CRIATIVAS DE EMERSON ABREU NAS ESTRATÉGIAS NARRATIVAS DO UNIVERSO TURMA DA MÔNICA». Universidade Federal de Pelotas. Caderno de Letras (40): 451–470. ISSN 2358-1409. doi:10.15210/cdl.v0i40.20304. Consultado em 19 de outubro de 2024 
  3. Bezerra, Cláudio; Paiva, Rodrigo Sérgio Ferreira de; Brito, Dario (31 de dezembro de 2020). «Da animação para o live-action: a evolução da metalinguagem no universo audiovisual da Turma da Mônica». Universidade Federal de Goiás. Comunicação & Informação. ISSN 2317-675X. doi:10.5216/ci.v23.66358. Consultado em 20 de outubro de 2024 
  4. Proença, Luísa Inocêncio Borges (14 de dezembro de 2015). «Interdiscursividade e subjetividade em Mônica de Maurício de Sousa». Universidade Federal de Uberlândia. Mestrado em Estudos Linguísticos. doi:10.14393/ufu.di.2015.530. Consultado em 20 de outubro de 2024 
  5. a b c Alvarenga, Márcia Silva de (2010). «O mundo em quadrinhos: como as histórias da Turma da Mônica representam a vida contemporânea». Centro Universitário de Brasília. Tese de Conclusão de Curso em Comunicação Social. Consultado em 20 de outubro de 2024 
  6. Corrêa, Louise Muniz Alves (2021). «Práticas translíngues e discurso em Turma da Mônica jovem (2008-2016)». Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tese de Conclusão de Curso em Letras. Consultado em 20 de outubro de 2024 
  7. Santos, Fernanda Simplício dos; Santos, Maria Andreia dos; Rodrigues, Isadora Meneses (9 de setembro de 2016). «Baixinha, Gordinha e Dentuça: Análise do projeto Donas da Rua da Turma da Mônica». Intercom. XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Consultado em 28 de julho de 2023 
  8. «Roteirista Explica Origens De Gírias Gays Na Turma Da Mônica | A Capa». acapa.com.br. 21 de maio de 2009. Consultado em 24 de outubro de 2024 

Ligações externas

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